domingo, 7 de novembro de 2010

XENOFÓBIA, IGNORÂNCIA E POLÍTICA I

As eleições para presidente deste ano significou mais do que a escolha de um representante do poder executivo Federal. Significou a grande queda das mascaras e a exposição de quem realmente somos ou pretendemos ser. Este realmente foi o grande ano das revelações, e isto não poderia vir de um lugar mais do que democrático como o nicho Político? Ora a polarização dos candidatos e a falta de proposta deles não foi a principal revelação. Poderíamos dizer que foi o teor machista e chauvinistas que preconizou o maior apelo ao brio masculino, os convocando a dizer que a candidata "não vai dá conta" de administrar um país como o nosso, sem esquecer, porém, que o mesmo foi dito de nosso atual presidente que chegaram a chamá-lo de analfabeto e sem poder de tomar uma decisão independente de José Dirceu e Palocci. De fato, não foi isso que deveríamos constatar com esta eleição. Os dados e a forma como ela se desenrolou e os caminhos que tomou falam muito mais do que a bi polarização centrada nos candidatos a presidência da República. Ela foi, antes, "Um apelo ao Nordeste e Norte para a tomada de uma decisão serissima em termos de postura frente a crescente antipatia e perseguição que vitima a parte pobre e historicamente esquecida do país" por aqueles que se põem como baluartes da sustentação de um país e que acham que o resto são apenas parasitas que os sugam sem nada dá em troca.

De fato as eleições deste ano nos revelou mais do que números e projeções de quem vai assumir tal cargo e onde. Finalmente descobrimos ou melhor constatamos o que o resto do País e outras regiões acham dos primos pobres do Brasil, a saber, o Norte e o Nordeste. As constatações não são nada animadoras, para os nossos colegas do sul, o nordestino é acima de tudo preguiçoso, desqualificado, incapaz, pedinte, enganador, parasita entre muitos outros termos que não seria adequado por aqui, o mesmo é o que eles acham do Norte. Esta constatação enseja a pensarmos que nós devemos dá um tempo e credito a eles, pois ainda estão sobre o efeito da derrota na eleição. De fato, muitas vezes, para não dizer a maioria das vezes nós somos guiados por nossas emoções e nossas atitudes na maior parte, não são pautadas por uma reflexão e pela civilidade. Não obstante, somos reflexo do que pensamos e agimos e, é isso que fica marcado em nossas atitudes e vida. Quando dizemos ou pensamos algo devemos fazê-lo com bastante convicção, principalmente, quando revelamos isso ao público. Mas na maior parte das vezes isso não acontece e passamos a revelar e mostrarmos o lado mais obscuro que existe em nós. Isso é algo muito parecido o que aconteceu recentemente após o pleito eleitoral na internet. Recentemente, chegou a meu e-mail um comentário de uma amiga do curso de Francês chamada Ligia Mychelle que ficou indignada com a quantidade de posts no facebook e twitter com conteúdo xenofóbico que de grosso modo podemos traduzir como sendo "o ato de ter preconceito e descriminação com pessoas de pele, região, nacionalidade, cultura e valores religiosos ou não diferentes". A palavra tem seu radical na língua Grega Xenos (gente, pessoa) e phobos (medo), então podemos traduzir como medo de determinada classe social em relação a determinadas pessoas ou classes, sociais, estados, região e etc.

O que indignou Ligia nada mais foi do que constatar a concretude da realidade e a pura mostra da "Fragmentação" exposta em nosso país, não só a nível religioso, Político, de raça, cultural, mas da forma mais negativa que esta poderia eclodir que é o puro preconceito com o outro. O estopim desta indignação nada mais foi do que uma página pessoal do facebook na internet que atendia pelo nome de Mayara Petruso, mas poderia ser qualquer outro meio de comunicação como já cansamos de ver demonstrado. O agravante não é as pessoas virem e irem dizendo coisas sem pensar e expor seus preconceitos e decepções políticas ou não, mas constatar que um país que vive um verniz enganoso de tolerância e acolhimento do outro passe uma imagem falsa e hipócrita de que é justamente o contrário disso que aparece assim tão profundamente. Esta então, foi a melhor coisa que aconteceu até agora neste país. Finalmente as mascaras caíram e o show pode continuar. A maquiagem foi tirada, a face foi exposta e finalmente os atores passaram a representar seus papeis. O sul/sudeste , não todos os que moram lá, pois existem muitos do sul/sudeste que são pessoas muito boas e que não tem preconceito nenhum com ninguém e os poucos ignorantes que se acham a cereja do bolo, porque os pobre infelizes acham que são raça pura, mas mau sabe eles que são tão vira lata quanto os nordestinos, se isso existir.

Todavia, não gosto de vê apenas um lado da historia, pois nordestino que sou isso poderia mexer comigo e até me indignar fazendo com que minha análise fosse tendênciosa e pecasse pelo sentimentalismo, por isso decidi consultar alguém que tivesse uma outra visão do assunto e que fosse um autentico representante do sul. O que gostaria de saber era a opinião de um verdadeiro paulista que convive conosco e que viveu e conheceu vários outros habitantes desse nosso Brasil. Para isso falei com um velho e conhecido meu Isidro Brito paulistano, descendente de espanhole o entrevistei sobre o assunto. Eu comecei mostrando qual era o tema da reportagem e em seguida comecei a falar sobre a personagem que motivou este artigo. Iniciamos a conversa falando o que ele pensava sobre o assunto e em suas palavras "Estas pessoas que dizem isso nunca saíram de São Paulo e tem uma visão distorcida e desatualizada do nordeste", ele diz que sabe disso pois onde viveu (na Penha) um lugar onde ficava a classe média-baixa existiam muitos nordestinos, principalmente baianos. O mesmo observa que o preconceito contra os nordestinos está ligada a um total desconhecimento do próprio nordeste que tem uma imagem, geralmente, vinculada a pobreza e miséria análoga esta ao evento das secas. O outro fator por ele alencado que contribui para esta visão negativa do nordeste e consequentemente o desdém de determinada classe, rica, do sul/sudeste é a má formação educacional recebida em casa porque eles são herdeiros desta carga de exclusão que existe sobre maneira em determinadas famílias tradicionais da capital e que são repassadas pelos seus pais. Ele que já andou por várias partes do pais, observou que o preconceito é algo em desuso e que não leva a lugar algum. Em suas palavras "As pessoas possuidoras desse tipo de ideia tem uma mente fechada para o mundo".

Brito continuou dizendo que o preconceito pode ter sua origem justamente no medo que determinados setores do sul/sudeste tem pela questão do emprego. Ora nada mais atual do que se procurar emprego nos grandes pólos como São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O que dá mais medo no paulistano de uma classe mais abastada é justamente a concorrência com uma mão de obra nordestina que se especializa cada vez mais a cada dia. O preconceito, portanto, surge não só da exclusão e do ódio em si, mas da pura forma como a economia de um pais age e necessita uma melhor distribuição de renda. Para isso os empregos não tem fronteiras e nem nações, ganha quem esta mais preparado. E o argumento daqueles que defendem a inferioridade intelectual do Norte/Nordeste perante os habitantes do sul, por causa da baixa qualidade da educação não justifica a sua superioridade em relação a estes. Pelo contrário, isso só mostra que eles constataram finalmente que esta parte pobre já não é subserviente a estes que dizem sermos nós os parasitas, quando na verdade, eles sempre nos sugaram e ainda sugam nosso trabalho tanto braçal quanto intelectual e que sem nós as suas cidades nada mais seriam do que grandes regiões de interiores atrasados e improdutivos perante todo o país.

Podemos dizer, por fim, que um dos maiores símbolos de separação de uma nação que foi o muro de Berlim, que separava a Alemanha. Ainda não caiu definitivamente, pois o seu símbolo continua vivo em todo o mundo. Basta para isso olhar o nosso país e constatar as várias declarações xenofóbicas que encontramos no youtube sobre nós, nordestinos, que postulam até a criação de um "muro" que separe a região sul/sudeste do Norte/Nordeste. Pois seria segundo dizem "um alivio nos livrarmos destes FDP, sujos e parasitas que não servem para nada. Faço aqui as minhas palavras através das de Brito "As muralhas não estão nos olhos, mas na mente de quem pensa" e acrescento parece que a queda do muro de Berlim enseja a construção de muitos outros muros pelo mundo e, isso inclui o Brasil. E encerro com a frase de Euclides da Cunha quando diz "o nordestino, antes de tudo é um forte" graças, graças que assim seja....

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