O MÁGICO

Confira essa nova animação do diretor de Bicicletas de Belleville.

BALADA DO AMOR E ÓDIO

Confira nossa crítica sobre o mais novo filme do cineasta espanhol Álex de la Iglesia.

FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS

O projeto de extensão “cores” nos convida inicialmente a um espetáculo sobre a vida da artista plástica, mexicana, Frida Kahlo.

ARTEROTISMO - UM CONVITE

Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...

"A CULPA É DA SOCIEDADE"

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Matemática da depressão


Dividimos, despesas, espaço, o quarto, angustias, aflições, confusões, expectativas, frustrações, derrotas, conquistas, o carrinho de compras, o caixa eletrônico, os copos de requeijão, a novela, o filme dramático, a música de fossa, os créditos do celular, o jornal, a
revista, os livros usados, a internet, o computador quebrado, as aulas chatas, os textos desinteressantes, paciência...
Somamos sorrisos, lágrimas, afetos, cumplicidade, loucuras, tédio, gargalhadas, vícios, dor de cotovelo, inseguranças, a sobremesa, as contas do mês, dívidas, sono, fome, recalque, moedas, alegria, tristeza, verdades, dias, noites, lembranças, esquecimento e esperanças...
Multiplicamos memória, desespero, esquisitices, erros, acertos, companheirismo, papéis, textos, opiniões, delírios, amizade, desejos, ânsias, SMSs, mensagens inbox, posts no Facebook, embalagens vazias, fofocas, virtudes, defeitos, novos projetos e a falta deles...
Subtraímos solidão, ausência, abandono, dor? Talvez... Como se subtrai? Fazer menos, sentir menos, ouvir menos, falar menos, ser menos, existir menos, (-).
Fechamos a conta, passamos a régua, aplicamos a prova dos nove. As formulas não se aplicam, quando viver é errar nos cálculos e achar resultados aleatórios (+/-).
Uma exatidão tardia e invariável, intensa e sem coeficiente ou denominador comum.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

H.G. WELLS, A ILHA DO DOUTRO MOREAU: UMA CRITICA CONTEMPORÂNEA A DESUMANIZAÇÃO



Nos caminhos que faço pelos ambientes (pseudo) intelectuais e, em conversas com medonhos prosadores que se intitulam eruditos sejam de filmes, livros e de obras de arte, o que constato é que seu conhecimento é semelhante a um ICEBERG que mostra, apenas, a ponta superior e que não possui nenhuma profundidade em suas leituras ou mesmo na observação de uma película. Estendo essas considerações a aqueles jovens que por terem seus 5.000 seguidores ou mais são constantemente assediados como fortes indicadores do mercado de livros que podem ser comprado. Eles são os indicadores contemporâneo de formação de opinião e critica de literatura que se resumem a obras tipo ICEBERG como eclipse, A cabana, 5o tons de Cinza e etc, ou seja, obras que se limitam a pura diversão e não ousam tratar de algum assunto mais profundo, tipico da geração contemporânea. De fato, o que hoje constato é que algumas editoras consultam esses jovens que mormente servem de termômetro para o mercado e por isso respondem pelo que devem ou não ser vendido.  Penso que esses jovens, autênticos representantes da "tendência" literária atual são mais fruto de uma sociedade em que tudo é descartável e fugaz em que nada é duradouro e isso inclui as opiniões a respeito das obras atuais.

Contudo, é notório que o público leitor, não só de nosso pais, mas também de todo o mundo, culturalmente  não lê criticamente, claro guardadas as devidas proporções e etc, a Europa ainda é o berço e fonte de toda a cultura erudita do mundo e ainda se critica o que se lê. Enquanto, o nosso pobre Brasil ainda tem em seu bojo cerca de mais de dois milhões que não sabe ler e outros tantos que não conseguem ler o que escreveu. Existe ainda uma elite de intelectuais de carteirinha que leem, mas que se limitam a penas a seu mundo particular.  Apesar desses últimos terem uma formação literária, os mesmos não é o que o mercado precisa, por que o que constatamos é a busca pelo pico do ICEBERG e não pela profundidade analítica de seus livros. Os futuros leitores são assim aniquilados por uma opinião que apenas observa "superfícies" e deixa de lado o conteúdo motriz que esta subjacente a obra e que parece servir, antes, de empecilho do que de  estimulo a leitura.

Nesse sentido, dispensa-se a consulta a obras fundamentais tanto brasileira como estrangeira como ferramenta apoiadora de uma educação literária. Entretanto, não há nenhuma promessa futura de melhora ou um horizonte possível de se realizar algo de elevado, como a melhoria da leitura nos jovens brasileiro, quanto mais servirem de pedra de toque para formar um publico leitor já que não há como haver leitores capazes de ler e interpretar adequadamente e com profundidade o que jaz em obras mais profundas e importantissima para qualquer leitor.

Dito isso, imagino que um lançamento de uma obra como "A Ilha do Doutor Moreau" pela Editora Alfaguara, 2012, há tanto tempo fora de catalogo passaria desapercebido pela mídia literária "idiotizada" e nem seria mencionada pelos jovens "ICEBERG". Desse modo, a analise que irei fazer não é para aqueles que igual a uma geleira só observam sua superfície e com medo da água fria evitam investigar suas entranas nas profundezas do vasto oceano das belas letras. Mas são para aqueles que não se satisfazem tão somente com uma bela historia e seu enredo bonitinho, mas procuram o que levou a aquela obra a ser como ela é e não ser diferente de como foi concebida.  

Quais os motivos que levaram a essa obra a ser considerada tão importante e relevante? Por que o escritor escolheu esse assunto e não outro? O livro tinha um publico alvo ou simplesmente é fruto da aspiração do mero contar? As perguntas são muitas e infindáveis e só podem serem respondidas pelo contexto em que foram escritas e pelos assuntos que levará o autor a abordar daquele jeito e não de outra forma. O contexto em que  H.G.Wells  escreve essa obra esta inserida naqueles velhos dilemas vitorianos entre ciência e moral, humanismo e religião, colonialismo e soberania, entre outros pensamentos que se mostram antiteses uns dos outros.  Penso, e isso é apenas uma impressão da leitura que fiz na época há muito tempo atrás e, que tantos anos depois me espantam a relevância desse livro e que se mostra tão atual, como por exemplo, o problema da manipulação do Genoma, a clonagem, a nanotecnologia e muitos outros pontos que essa obra converge para um diálogo tão profundo e fantástico que sua atualidade me espanta.

A ilha é apenas a forma figurativa da solidão e sigilo que representa a maioria das grandes conquistas humanas.  Os experimentos feitos pelo Doutor Moreau, que combinavam vários animais e propunham uma reinvenção da criação darwiniana nos apontam um declínio ético e moral, além de psicológico muito parecido com o personagem Coronel Kurz de Joseph Conrad de seu incrível livro "No coração das Trevas".  Entretanto, os objetivos de Wells por mais que se mostrem semelhantes aos de Conrad, a saber, denunciar o colonialismo e a violência em que o império inglês submete os seus conquistados é apenas mais um atrativo a sua obra. As ambições de Wells são maiores, ele quer mostrar que os limites tanto religiosos quanto cientificos são tênues e, em dado momento, uma pode ser entendida ou confundida com a outra. Os ditos monstros também podem ser interpretados como cada um de nós, que despersonalizados de nossa essência, deixamos nossa humanidade de lado em prol do Status quo em uma sociedade homogenizada. Podemos considerar também que o próprio Doutro Moreau, torna-se o próprio juiz e representante da ordem presente na Ilha. É ele que responde, com o seu desdém, as suas criações que aos poucos começam a questionar suas atitudes e decisões. Por conseguinte, os limites estreitos da ilha, podem ser considerados como nossa limitada capacidade de reconhecer que o conhecimento tem limite e o desdém pode ser chave para a origem da insatisfação e assim para a violência. 

De fato, os limites de uma obra literária, que objetiva não só servir de atrativo por algumas horas, também pode ser mais profunda e explicar nuances mais sérios e complicadores da natureza humana. A literatura clássica torna-se muito mais relevante, devido conter os primeiros fundamentos intelectuais em que o noviço deve passar, semelhante aos ritos iniciáticos, como o órfismo ou o xamanismo que leva o aprendiz a negar-se ou morrer para em seguida reviver. Nesse sentido, morrer significa sair da sua ignorância e ascender para um grau mais elevado de conhecimento que poucos "escolhidos" possuem. Desse modo, penso que a democratização do conhecimento é um grande engodo na medida em que o mesmo conhecimento continua e permanece nas "mãos" de poucos. Uma boa obra leva o leitor a se tornar também um construtor, além de mostra-lo que os horizontes de conhecimento podem ser mais elásticos e possível de vislumbre menos enevoado.

Temo, desse modo, pelo futuro de gerações que tem nesses jovens ICEBERG tem sua inspiração de leitura e não passam necessariamente pelo crivo de uma obra clássica, por que elas são chatas e não condiz com o tempo presente. Assim, cresce um público ignóbil e superficial, em que as leituras estão somente fundamentadas no puro divertimento e na leitura compulsiva de palavras destituídas de qualquer reflexão. Esse descuido, entendo, pode vir a fazer naufragar qualquer tentativa de aprofundamento futuro com alguma coisa que exija reflexão e maturidade interpretativa. Espero que as coisas mudem, mas o horizonte que vejo a se avizinhar não é propicio.



AGRADECIDO

R.M.J