O MÁGICO

Confira essa nova animação do diretor de Bicicletas de Belleville.

BALADA DO AMOR E ÓDIO

Confira nossa crítica sobre o mais novo filme do cineasta espanhol Álex de la Iglesia.

FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS

O projeto de extensão “cores” nos convida inicialmente a um espetáculo sobre a vida da artista plástica, mexicana, Frida Kahlo.

ARTEROTISMO - UM CONVITE

Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...

"A CULPA É DA SOCIEDADE"

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

ROTEIRO EM FOCO: A DESCONHECIDA PRODUÇÃO DE UMA PROFISSÃO

Muitas comics consagradas já foram escritas e grandes nomes dos roteiros elevaram essa arte aos píncaros da arte. Grandes artistas das letras como Alan Moore, Nail Gaiman, Warren Ellis, Garth Ennis, Grant Morrison e muitos outros transformaram os quadrinhos em uma expressão artística que influência outras mídias e mostra que o caminho de se contar uma boa historia passa necessariamente pela criatividade da imaginação humana com uma mistura de sua verve literária e experiência subjetiva.  Desse modo, muito desses roteiristas foram responsáveis por criar um tipo de quadrinhos chamado de "adulto" que pressuponha ter surgido a partir da década de 80 com o Monstro do Pantano do Inglês Alan Moore. Isso levou os roteiristas, a inovadora na forma de se contar e abordar historias no mundo das comics sejam elas de super horeis ou de outra forma qualquer, de modo adulto e depois se concentrando em outros tipos de historias que fugissem a essa temática. Mas essa transição não se deu de maneira aparente e clara, pois no inicio, os roteiros nas comics primavam por um tom inocente e despretensioso no começo de sua gênese, os roteiristas procuravam mesmo era apenas "descrever" uma historia, que se possuía um tom moral, era muito superficial. Os personagens eram fantásticos com poderes descomunais e conseguiam fazer feitos sem precedentes. Mesmo àqueles que não os tinham, necessitavam de um ambiente fantástico e ficcional capaz de atrair publico para suas historias, e é precisamente nesse sentido que gostaria de me deter.


Imaginem só como é difícil para um roteirista de quadrinhos partir do princípio de que o seu personagem é comum, finito e destituído de qualquer poder ou forma de interferir na historia nos moldes "assombrosos" que podemos encontrar nos heróis como Superman, Thor, Capitão America, Flash, Homem Aranha, Mulher Maravilha e etc. Imagine se ele não tem ferramentas tecnológicas ou dinheiro para comprar e mesmo, fabricar algum mecanismo que o faça se sobressair aos meros mortais. Ele só tem para atrair o leitor o seu universo e suas atitudes "Humanas". De fato, isso parecia exigir desses "mágicos" dos roteiros uma imaginação plástica que os fizessem se desdobrar nas mais mirabolantes elaborações de historia que fossem capazes de atrair o publico para esse universo, já que não tinha o aspecto "super" nas suas historias. Desse modo, suas historias tinham de ser realmente envolventes e atrair pela trama, que em sua maioria buscavam acrescentar o fantástico e explorar o inusitado, o diferente, explorando outros mundos e outras formas de narrativa dentro das hqs. Esses "heróis" são justamente por sua mortalidade que se diferenciam de seus privilegiados super heróis, até mesmo a queles que são considerados normais, se diferenciam dos pobres mortais seja pela inteligência, seja pela forma atlética que beira a perfeição, é a personificação do herói grego belo e bom elevado a decima potência.

 Realmente, para que o roteirista consiga se diferenciar e atrair a atenção do publico para esses personagens tão humanos seria necessário criar todo o tipo de mecanismos imaginativos e utilizar todo o poder e informação colhidas no mundo real para poder criar suas historias que essas informações viessem da ciência, da literatura, ou de outra forma qualquer. Observe que temos muitos exemplos que apoiavam essa ideia, como por exemplo, Flash Gordon, Tarzan, Dick Trace, As Inimigo, Sargento Rock, John Constantine, Magico Vento, Dilan Dog, e muitos outros que pautaram suas aventuras tendo como ponto de partida o mundo real e seu repertorio de informações. Existem ainda, aqueles personagem que mesmo possuindo poderes e aparatos mágicos, por possuirem muito de suas historias algo de fantástico e por não se enquadrarem necessariamente como "super herois" exigiram por parte de seus criadores uma incrivel capacidade de formulação e sintese de seus pressupostos que os transformaram em personagens tão marcantes quanto os existentes no universo super heroico, um bom caso desses é Sandman de Neil Gaiman.

No entanto, isso é apenas uma amostra do poder de criação dos roteiristas que  vinham paulatinamente começando a descobrir que os limites das historias em quadrinhos eram bem mais elásticos do que supunham já que contar historias a partir de seres humanos normais que se envolvem com fenômenos ou situações que vão além de suas possibilidades e que lhes testam tanto o corpo como a mente se fazia necessário o uso de outros estratagemas que não aqueles encontrados nos quadrinhos comuns. Desse modo, o roteirista de HQ começou a vislumbrar a possibilidade, nas margens da industria das comics, de se puder resgatar aquelas historias surgidas nas decadas de 20, 30 e 40 em que humanos e seus conflitos poderiam se destacar e atrair novamente a atenção dos homens, mas para isso seria necessário abordar os temas de outra forma sem recorrer àquilo que já era utilizado por tanto tempo nas comics, a saber, as hqs desses personagens deveriam, ou melhor, exigiam a maturidade, a busca por sua liberdade criativa e a liberação em alguma medida dos comics code.


Nesse sentido, o objetivo com essa explanação é chamar a atenção e mostrar como é difícil e trabalhoso se produzir um roteiro que tenha a pretenção de dizer mais do que apenas descrever e relatar uma historia. Um roteirista de verdade procura sempre expor problemas e conflitos existente nos personagens que muitas vezes refletem pensamentos e emoções que espelham os sentimentos do leitor. O roteiro de quadrinho também é capaz de ensinar de passar considerações importantes e refletir sobre a vida e condição humanas. O autor assim como o leitor de quadrinhos não estão isolados na leitura assim como a ilustração é capaz de transmitir algo de mágico a essa relação textual que aparentemente, em um rápido vislumbre não notamos. Por essas características e outras é que desejamos discutir em quatro artigos abordados aqui como se  se iniciou essa fase considerada "Adulta" das hqs nos roteiros e como isso foi se construindo a partir da utilização desses personagens tão humanos e sem o glamour que existe no mundo dos heróis coloridos. Mais adiante falaremos de alguns roteiristas, não muito conhecidos, mas que são tão interessantes quanto os que conhecemos, buscaremos, então, suas historias e criações procurando sempre mostrar os aspectos fortes e surpreendentes de seus roteiros.



Muito agradecido


R.M.J

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ninfomaníaca: uma possível trilogia. (part 1)



Há várias formas de começar um texto. Começarei este pelos números que envolveram os últimos acontecimentos até o fenômeno que lotou as salas de cinema cult nesse mês, o filme "Ninfomaníaca". Farei esse texto dividido em duas partes. A primeira, esta que você lê agora, prima pela experiencia do filme em si, de vê-lo pela metade... sem ironias. Mas também diante da repercussão que ele teve nas mídias e as reações que acompanhei pós sessão de cinema. Essa primeira parte, será como uma reflexão quantitativa, que acaba por levantar hipóteses que justifiquem a aparente tediosa parte 1 do filme Ninfomaníaca até (quem sabe) chegarmos ao "ponto G", um orgasmo, ou não. 

De 2000 a 2013 o diretor dinamarquês Lars Von Trier dirigiu pelo menos 6 longa metragens de ficção tendo mulheres e seus transtornos como protagonistas. Desses, 3 parecem ter uma ligação "intuitiva", pelo menos. A suposta trilogia de Trier começa com Anticristo (2009), dividido em 4 capítulos (luto, dor, desespero e os três mendigos), mais um prólogo e um epílogo. Charlotte Gainsbourg encorpora a angustiada mãe em luto e seus estágios à caminho do caos. Em 2011, o filme Melancolia se apresentou na forma de um drama apocalíptico composto de prólogo e 2 capítulos (Justine e Claire ou respectivamente, melancolia e luto),  trazendo Kirsten Dunst na pele da noiva trágica, Justine. E mais uma vez Charlotte Gainsbourg, dessa vez no papel de sua irmã. Finalmente 2013 e o tão esperado Ninfomaníaca, com suas mais de 4 horas, foi dividido em 2 partes principais, sendo a primeira reconfigurada em 8 capítulos, que contam a trajetória (infancia e juventude) por uma ninfomaníaca protagonizada, já adulta, por ninguém menos que a própria, Charlotte Gainsbourg. Antes disso, Trier ficaria famoso com Dogville (2003) e Manderlay (2005) que compartilhavam da mesma estética cenográfica, única na história do cinema. Ainda antes um pouco ganhou reconhecimento pelo drama/musical estrelado pela cantora Bjork (2000). Todos esses, seguindo o padrão de capítulos e tendo mulheres em papel principal. 
O cinema de Lars von Trier é arquitetado com muita erudição e domínio pleno da arte cinematográfica. As referências filosóficas, literárias e culturais de seus filmes não nos deixam mentir. Imbuído de deboche, sarcasmo, um certo niilismo moral e uma poética trágica, o cineasta busca algum sentido pra essa coisa toda, que é estar vivo. Deixando o pudor de lado para expor a animalidade humana na sua forma mais didática. Tendo na fragilidade da figura feminina o portal para o abismo que nos rodeia. 

Onde estou querendo chegar com essa ladainha "retrospectiva" toda? Talvez, apenas suscitar uma questão aos pouco avisados ou totalmente desavisados. O que é Ninfomaníaca no jogo do bicho e o que justifica tanto alarde? Um filme erótico? Pornô? 
O fato é que esse filme faz parte de um trabalho grande, que vem evoluindo com  a linguagem do cinema e a mente doentia do polêmico/ gênio cineasta Lars Von Trier. 
Reconheço que cada filme é uma obra em si, e não é necessário fazer um curso de cinema dinamarquês para que exista fruição diante do filme. Por isso vocês podem desconsiderar tudo o que eu digo. Como diria Benjamin, "convencer é infecundo". Mas, confesso que uma obra "pela metade", como é o caso de Ninfomaníaca - parte 1, e sua forma bela e inteligente de abordar sexo, dor e a vida como um todo, merece ainda mais uma justificativa para existir, em nós. E seu passado, realmente o condena. 

Em seus anos de produção, trouxe uma divulgação escandalosa e o óbvio esteriótipo de uma mero filme de "putaria". E é ai que alguns se enganam e se decepcionam ou se sensibilizam. Alguns dizem que para ver Ninfomaníaca é necessário se despir de moral e preconceitos. Eu digo o contrário. Se não pudermos vestir todas as carapuças moralistas durante o filme, não terá valido de nada a experiência. O filme é sensação ou a falta dela, do começo ao não fim. Não defenderei aqui o filme como bom ou ruim, apenas uma experiencia.

Depois de ver Ninfomaníaca, vem sempre aquele mutismo. Um quase aceno de concordância com a cabeça. E a busca pela palavra que descreve esse cinema. E eis que lendo de Fernando Pessoa vem a palavra: Desassossego. 

"Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objetividade ao prazer subjetivo da leitura." (Livro do Desassossego - Fernando Pessoa)



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Porque "eu te amo" é muito mainstream





Ela manda SMS: Um desabafo solitário de quem não tem alguém "presente" para confessar um desejo simples. A mensagem diz:

"Vontade de fumar um cigarro;"
Sem esperar resposta, larga o telefone de lado, dá play no poema do velho safado, acende um incenso e deita na rede. Algum tempo depois o telefone toca. Ela levanta e atende sonolenta. A cobrar... Desliga e retorna.
- Tô levando seu cigarro...
Nem escuta mais nada. Breve, desliga e pensa sorrindo. Isso é uma boa forma de dizer "eu te amo". 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

TURMA DA TRIBO: UMA HQ QUE ENCANTA E ACALENTA A ALMA DO LEITOR



É um fato inegável que os quadrinhos brasileiros que possuam temáticas totalmente voltadas para a nossa cultura e "jeito" de ver o mundo é escassa, e quando existe pouco divulgada. Imagina saber que existe quadrinhos feitos aqui que são de ótima qualidade e muitas das vezes melhores do que os quadrinhos encontrados no mercado atual. Nesse sentido é com grata surpresa que li recentemente uma hq do grande Gian Dantons  (Pseudônimo de Ivan Carlos  Andrade de Oliveira) e do talentoso Ilustrador Ricardo Manhães chamada Turma da Tribo. Essa hq me fez sentir imensa satisfação com sua leitura, pois me fez lembrar com sua narrativa que mistura  humor e critica de forma inteligente que podemos produzir historias em quadrinhos sem necessariamente apelar para o senso comum. O impresso me surpreendeu em dois sentidos específicos, a saber, primeiro mostrou a grande maturidade com que os autores (quando falo de autores me refiro ao ilustrador e ao roteirista) produziu e conduziu a narrativa gráfica. As apresentações dos personagens dá-se logo no inicio, mas sem perder o foco da historia, cada um vai se apresentando conforme sua entrada se faz necessária. A historia é enxuta e direta, não perde tempo com solilóquios ou mera retórica busca a exatidão por que a mesma tem um tema a explorar que é a denuncia do desmatamento e do conflito entre civilização de um lado, e a resistência da cultura indígena de outro lado. Também podemos encontrar outra analise válida nas entrelinhas da historia em quadrinhos que é a denuncia do desmatamento em prol da riqueza ilícita e irresponsável em que sempre esta associada a violência. Entretanto, o roteiro trata dos temas de forma bem humorada e leve, mas isso não quer dizer que não leva à sério os conflitos que envolve os dois lados. O segundo sentido é a responsabilidade e cuidado em produzir uma narrativa que foque, justamente naquilo que os personagens propõe a denunciar um determinado conflito de maneira lúdica e divertida sem se preocupar com o humor panfletário que se instaurou em algumas mídias. Nesse sentido, Gian Danton e Ricardo Manhães estão de parabéns.

    O roteirista Gian Danton sabe bem disso, pois toda a historia denuncia o descaso das autoridades com a questão indígena e a sua cegueira para a guerra que acontece entre extratores de madeira ilegal e índios.  A escolha da narrativa bem humorada ao mesmo tempo delicada veio mostrar que o roteirista Gian Danton, domina como ninguém a arte do roteiro ( considerado um dos maiores roteiristas do Pais em atividade); o texto dele mostra que temas delicados em nosso país pode ser explorado de maneira prazerosa e lúdica, mas sem perder o tom critico e analítico das situações em conflito. Já o grande Ilustrador Ricardo Manhães me surpreendeu positivamente na medida em que me fez lembrar o grande Uderzo ilustrador do Asterix, com seu traço estiloso e competente consegue nos trazer a leveza e seriedade do tema escapando de qualquer estereotipo que possamos encontrar em mãos menos competentes. Sua arte consegue nos alegrar e passar todo o sentimento de humor que a historia se propõe, por isso dou os meus parabéns ao Ricardo Manhães, gratíssima surpresa.


Claro que essa competência dos autores nos leva a simpatizarmos logo de cara com os s personagens da turma da Tribo, que são aliás uma outra atração à parte. Cada um deles possui  uma personalidade e características próprias. Por exemplo temos o chefe da tribo, o Abaeté que é um homem honrado e de palavra, temos o Baquara o menino mais criativo da tribo, e o pequeno Poti  herói da tribo e a sua igualmente pequena Jaciara, existe ainda Toró que é o personagem adulto e que também é o índio mais forte da tribo e amigo de poti e assim por diante. Até mesmo os vilões da historia são cativantes e engraçados como por exemplo o inescrupuloso madeireiro doutor "Malino", e seus rapazes   Desse modo,  Gian Danton vai apresentando tantos outros personagens da tribo cativantes e fantásticos que se perderia um dia inteiro falando deles. Nesse sentido, posteriormente, a medida em que avançamos na historia notamos que cada personagem possui uma habilidade característica que se encaixa perfeitamente com as habilidades dos demais e que só funciona quando utilizada juntamente com os outros personagens. Desse modo, encontramos através da leitura da turma da tribo a mensagem de que só podemos enfrentar determinada situações em união e fraternidade algo muito em desuso hoje em dia diante de tanto individualismo e egoísmo extremo em que o homem civilizado (?) vive.
Toda a historia como é de se esperar passa no ambiente da selva fechada, onde os personagens da Tribo vivem em comunhão com a natureza. A historia se inicia como um dia qualquer na rotina dos habitantes da tribo, isso até ser abalada por um estranho acontecimento, descobre-se uma clareira no meio da selva e que madeireiros inescrupulosos estão derrubando arvores de forma indiscriminada próxima da aldeia, não é preciso muita imaginação para se adivinhar que os índios da Tribo vão lutar para fazê-los parar. E nesse clima de comedia vai-se desenrolar o conflito e as aventuras dessa agradável e maravilhosa historia em quadrinhos provando mais uma vez que a competência dos autores conseguem transformar e maravilhar qualquer leitor, seja adulto (pois eu já sou adulto há muito tempo) como crianças, os temas são tratados de maneira lúdica e serena e é recomendável a leitores de todas as idades.


Por fim, termino recomendando essa hq, que já em seu primeiro número nos faz esperar pelo próximo e mostra a força da produção nacional despontando cada vez mais forte e penso que sua vida será longeva, dado a competência e a historia divertida do primeiro número. Valeu aos autores Gian Danton e ao Ricardo Manhães por essa maravilhosa publicação. Parabéns a todos os que participaram dessa edição;



Grato pela leitura e na espera de mais uma edição da Turma da Tribo


Renato Medeiros 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Me diga quem tu lês e eu te escrevo por linhas tortas





A impossibilidade de dominar a sensatez diante do absurdo ao qual o homem nasce inserido, fez dele um exímio fazedor de afogamentos espaço/temporais (o que alguns podem chamar de criação). A arte parece ser a fissura pela qual se arrasta a vida, a fim de forçar a passagem, rasga-se a pele, deixa-se em carne viva e se produz violentamente "algo" novo (o quê ainda não se sabe, e ainda estar por vir). Um olhar.?

Pausa para o delírio... Ao relacionar sinestesicamente escrita à cores, surge imagens mentais suscitadas pelas mãos de um espectador emancipado: As imagens mentais de Vitor Hugo em seus Random Shots é performance escrita. (Ins)piração!!!



As palavras ganham novos sentidos e os disparos atemporais viajam incertos e desmedidos, em direções aleatórias. Nos encontram certeiramente, desestabilizando friamente cada frágil certeza que poderíamos ter tido algum dia. Cada palavra é descuidada e (des)proposital, o que traz aos textos-performance uma autoralidade inconfundível, engatilhadas na ficção. No devaneio, na loucura. 
Um tédio caótico, alguns filósofos, uns copos, uns corpos, uma mente barulhenta. Vida. Um blog como válvula de escape. O fenômeno dos textos de internet cresce assustadoramente, assim como os fotoartistas e os críticos, que aqui vos fala... todos são escritores, poetas visionários, disparadores de circunstância, enquadradores de moral, reprodutores passivos. Mas só os loucos não temem disparar aleatoriamente aos falsos pudores, regras da abnt e gramáticas do segundo grau. Assim como na arte, na academia, nos corpos nus e nos copos de conhaque.
Sem noção, sem cultura, sem lei, sem ordem, sem mais, nem menos, expressa com precisão nas poucas linhas imaginárias da pauta virtual que estamos diante do absurdo. Cômico e melancólico, ao mesmo tempo, não me pergunte como. 
Um performer da escrita, encena e finaliza seu ato sem que ao menos as luzes tenham sido acesas e as cortinas abertas. Ele dispara palavras com sabor amargo (das angustias mais profundas), destila o mais puro e doce veneno, contorce os sentidos, transfigura verdades, inventa associações entre ímpares, desenvolve sentimentos inexplorados, obscenos e invariavelmente destemidos: ama e odeia com a mesma força. Desconforta, abusa, envolve. A palavra nos "randomshots" é ilógica; disposta em contextos cotidianos ela perverte a coerência, deforma versos, ricocheteia poesia. Numa simplicidade friamente sensível, Vitor Hugo te come o rabo e te beija a testa. Tudo ao mesmo tempo. Não me pergunte como. 
Goze.



link do blog: Random Shots