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FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS

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ARTEROTISMO - UM CONVITE

Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...

"A CULPA É DA SOCIEDADE"

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...

sábado, 25 de abril de 2015

ENTREVISTAS COM ROTEIRISTAS POTIGUARES




EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.

Mini biográfia de Leonardo Feitoza:

O Contador de Lorotas é uma revista em quadrinhos composta por duas histórias contendo humor, aventura e um ligeiro acréscimo de sensualidade, além de incluir elementos estéticos e narrativos inspirados nos quadrinhos japoneses, os mangás. Esta HQ também é a primeira publicação de Leo Feitoza, que já foi técnico em informática e arte-finalista para agências de propaganda em Natal, Rio Grande do Norte. Atualmente, ele é um historiador não-praticante e ilustrador em tempo integral contratado pela Fundação Norte-Riograndense de Pesquisa e Cultura (FUNPEC) para o setor de editoração de materiais didáticos da Secretaria de Educação a Distância - SEDIS-UFRN. Quando consegue abrir mão de algumas horas de sono, Leo Feitoza encontra tempo para fazer suas histórias em quadrinhos.

fonte: http://4stand.blogspot.com.br/2011/11/essa-nao-e-lorota-leo-feitosa-e-o.html

ENTREVISTA 

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

Leio quadrinhos desde criança, então, desde aquela época, eu já escrevia e desenhava minhas próprias HQs, geralmente inspiradas (quando não decalcadas mesmo) em minhas obras preferidas.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

Comecei a ler quadrinhos com revistas da Turma da Mônica e da Disney (minhas preferidas então). Por influência de meu irmão mais velho, conheci o mundo dos comics de super herois, como Batman, Graphic Novels diversas e X-Men (a franquia dos personagens mutantes se tornariam a minha preferida nas HQs por vários anos). Apenas no final da adolescência foi que eu pude ter contato com os quadrinhos japoneses, os mangás, o que não impediu que eles viessem a se transformar nas minhas principais influências na escrita e no desenho.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Quadrinhos de aventura e humor, que são os gêneros com os quais possuo maior familiaridade.

4 – Muito bem,  você poderia falar um pouco sobre a forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?

Desenvolvo uma ideia básica, com começo, meio e fim compreendidos em um páragrafo. A partir daí, desenvolvo o roteiro mais detalhado, com descrições de situações e acontecimentos alternadas aos diálogos, de modo semelhante a um roteiro elaborado para encenações em teatro. Minha terceira e última etapa de roteirização envolve a elaboração de um storyboard a fim de delimitar a narrativa visual, mesmo nas ocasiões em que eu próprio faço os desenhos.
Não creio ter abordado algum tema muito polêmico em minha única HQ publicada há alguns anos (O Contador de Lorotas), mas atualmente eu seria bem mais duro em descrever condutas negativas.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Quando eu voltar a roteirizar HQs regularmente, gostaria de desenvolver gradualmente uma narrativa textual que fizesse com que o leitor, mesmo sem saber de minha autoria, pudesse identificar o meu estilo em poucas páginas.

 6 – Essa pergunta é capciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Independente, pois ainda que eu nunca tenha tido um ritmo de produção digno de um profissional das HQs (o autor comercial), não chego a ter como objetivo a exploração dos limites da linguagem quadrinística, como ocorre com os autores alternativos.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina, em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

Vejo um cenário promissor. No final dos anos 1990, não havia publicação regular de quadrinhos potiguares. Mas, nessa época, houve uma profusão de novos artistas que vieram a se conhecer em espaços culturais e através de eventos de cultura pop. A troca de ideias que surgiu desses encontros fez aparecer uma nova geração de quadrinistas que conseguiram publicar suas revistas durante alguns anos, conforme ocorreu com o selo Reverbo de quadrinhos.
 Após um novo hiato em meados dos anos 2000, iniciativas culturais como a revista Maturi e o projeto Nona Arte trouxeram às bancas e livrarias uma gama bastante diversificada de roteiros e desenhos para quadrinhos. Ao mesmo tempo, sites como a República dos Quadrinhos e a GHQ realizavam a divulgação dos autores locais e suas HQs.
O cenário do quadrinho potiguar vem melhorando continuamente desde então: o retorno de lojas especializadas, selos de quadrinhos como a K-Ótica e a MBP com um ritmo constante de lançamentos, divulgação das HQs em eventos nacionais e internacionais... Acredito que a tendência é sempre termos publicações de autores potiguares a cada ano, sem contar com os quadrinistas locais que publicam online e/ou no exterior.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?

O Evangelho segundo o sangue, de Marcos Guerra e Leander Moura; Natal Terra de Ninguém, de Wendell Cavalcanti e Miguel Rude; A Jornada de Julia, de Gabriel Andrade Jr.; Mapinguari, de Deuslir U. Cabral; e Cajun o bom franjou, de DiorgeTrindade e Wendell Cavalcanti.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

Deuslir U. Cabral – conseguiu aliar com habilidade temas folclóricos a uma história infantil de aventura como poucos autores conseguem fazer;

Marcos Guerra – seu texto, em conjunto com as imagens lúgubres de Leander Moura, produziu um cenário de horror inédito em terras potiguares;

Miguel Rude – os cenários de seus roteiros de aventura retratam uma extrapolação dos problemas urbanos que os habitantes das maiores cidades do RN conhecem bem.

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?


Por força de compromissos de minha profissão e formação acadêmica, não prossegui com a produção de quadrinhos. Como ainda não realizei a transição exitosa que alguns dos meus colegas quadrinistas fizeram para viver exclusivamente de sua produção de HQs, acho que devem se passar uns cinco anos até que eu volte a roteirizar e, quem sabe, desenhar quadrinhos. Mas parar de ler HQs, isso nunca passou pela minha cabeça.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

ENTREVISTAS COM ROTEIRISTAS POTIGUARES DE HQS




EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.
ônia e compreensão de sua parte e saibam que tenho respeito a todos. Muito agradecido por tudo.

Mini biográfia

Milena Azevedo nasceu em Natal, no dia 29 de Janeiro de 1977. É historiadora (com mestrado na mesma área pela UNISSINOS/RS), poeta, contista, roteirista e letreirista de histórias em quadrinhos. Trocou a catedra de História pelo Universo das histórias em quadrinhos, pois sabe que esta fazendo historia de qualquer jeito.  Atualmente se divide entre a escrita de roteiros, letreiramento e diagramação de HQs, e a organização de eventos de cultura pop em Natal.





ENTREVISTA COM MILENA AZEVEDO

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

      Escrevi meu primeiro “roteiro” aos onze anos de idade. Tive a ousadia de tentar criar uma trama para o jogo Jungle Hunt (do saudoso Atari). Ainda tenho guardado esse “roteiro”, que foi datilografado em 1988. E como eu gostava (e gosto) bastante de cinema, escrevi mais uns outros três até 1990. Na escola, eu adorava as aulas de teatro e também cheguei a escrever umas peças e a dirigi-las. Ao chegar à faculdade, me voltei à escrita de poemas e de contos. E após muitos anos dedicados aos estudos acadêmicos (sou formada em História, com mestrado na mesma área) e à docência, eu resolvi jogar tudo pra cima e deixar a sala de aula para abrir uma comic shop (a Garagem Hermética Quadrinhos - GHQ). Foi justamente nesse período que me veio a vontade de voltar a escrever roteiros, mas agora roteiros para quadrinhos. No início, eu me recusava a seguir os ditos “manuais” de roteiro (nunca consegui gostar muito de Syd Field), mas após ler Story, do Robert McKee, tudo mudou. Ele me abriu os olhos para a necessidade de o roteirista ter total domínio sobre tudo o que está escrevendo, não apenas trama, sub-tramas e personagens, mas saber elaborar bons pontos de virada e conflitos fortes, manter o ritmo, alternar os valores de abertura e fechamento das cenas, pensar em bons elementos de transição entre as cenas/sequências... enfim, toda a parte técnica. Após estudar McKee eu aprendi a ver como faz diferença um roteiro bem escrito. E aconselho a todos os aspirantes a roteiristas (até mesmo desenhistas que também escrevem) que estudem McKee e Doc Comparato. Hoje, tenho mais de vinte roteiros escritos (sem contar os 41 roteiros curtos que fiz para o Visualizando Citações - vols.1 e 2 – sim, o vol.2 deverá sair em 2015), alguns já publicados em coletâneas locais (Maturi #3 e #4), nacionais (Subversos, Monotipia) e internacionais (Zona Gráfica #3 e BDLP #4), e outros ainda à espera do desenhista certo.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

     Um dos primeiros quadrinhos que mexeu comigo pra valer foi X-men – O conflito de uma raça (escrito por Chris Claremont e desenhado por Brent Anderson), primeira graphic novel publicada pela editora Abril, em 1988, quando eu tinha 11 anos. Senti a dor daqueles personagens, entendi as razões pelas quais Magneto tem ojeriza aos seres humanos e sua revolta aos atos conciliatórios entre mutantes e humanos que Xavier tanto almeja.  A partir daí, passei a adorar os X-men e a me importar mais com os conflitos dos personagens do que com as sequencias de ação e as tramas mirabolantes das HQs de super-heróis. Essa mesma coleção também me fez conhecer Will Eisner (O Edifício) e Alan Moore (A piada mortal), duas grandes influências para meu trabalho.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

     Confesso que ficção científica é minha praia, mas tenho um enorme prazer em escrever tramas e diálogos nos quais a ironia se faça presente, focando em comédia, drama e tragicomédia, como mostram meus trabalhos O Teste, Black ET Blanc, A fã, O Guarda-vidas.  

4 – Muito bem, gostaria de saber como é sua forma de escrever roteiros que abordem os mais diversos temas, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceito pelo grande público leitor?

     Acredito que até agora, Black ET Blanc tenha sido a trama mais delicada que já elaborei, pois envolve a questão do grande preconceito étnico que existe principalmente no Sul nos Estados Unidos. E a trama se passa no início da década de 1960, antes das discussões sobre os direitos civis e a igualdade étnica, levantados pelo Martin Luther King. Ainda há um elemento “surpresa” (que não posso revelar para não dar spoiler) que “acalora” um pouco as coisas.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

     Como mencionei anteriormente, gosto de trabalhar a ironia, então posso dizer que ela é meio que minha “marca registrada”. No entanto, experimentar sempre é bom. Sair da zona de conforto expande os horizontes e nos torna roteiristas melhores.

 6 – Essa pergunta é capciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

      Bom, eu me considero “independente”, mas não tenho problema se precisar ser “comercial” ou “alternativa” quando me for solicitado. No “comercial”, você esqueceu de mencionar que há a figura do editor, pois está ligado a editoras (sejam elas pequenas ou grandes), cujo objetivo é publicar algo com alto potencial de venda. Tive uma experiência recente com a vertente “comercial”, e foi preciso ter jogo de cintura para empregar algumas mudanças sugeridas e conduzir a trama de uma forma que não ficasse tão distante do que eu havia imaginado.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

     Quando situações adversas nos batem à porta, cruzar os braços não nos levará a lugar algum. Então, ao invés de reclamar e se acomodar, aos poucos os nordestinos estão mostrando que sabem fazer quadrinhos tão bons quanto os paulistas/paulistanos, gaúchos e mineiros. A gente pode não ter tantas oportunidades e nem o poder aquisitivo da porção Sul do país, mas temos dois grandes nomes dos quadrinhos de super-heróis do mercado norte-americano (Mike Deodato e Ed Benes), temos eventos que estão crescendo quantitativa e qualitativamente (Sana, Super-Con, FLiQ), incentivando, assim, mais pessoas e grupos a produzir e a estudar para produzir mais e melhores quadrinhos, preocupando-se também com a qualidade gráfica dos mesmos, botando o amadorismo para escanteio. Eu acompanho o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte) desde 2007, e tento a cada ano estar presente em algum evento de quadrinhos e cultura pop Brasil a fora (já fui ao Multiverso/Porto Alegre, Rio Comicon, Anima Mundi, HQPB, Quanta Con/SP e Comic Con Experience/SP). O que venho notando de uns cinco anos pra cá, mais ou menos, é o aumento de público para o quadrinho nacional. Aqui em nosso estado, a maior parte desse público não é formada por aquele leitor “tradicional”, mas por pessoas que compram HQs feitas por amigos, familiares ou pelo “hype” do título. O ideal é que esse leitor “ocasional” se contagie pela arte sequencial e passe a ler o que é produzido no estado, no país, e não apenas o trabalho do “amigo”. E cabe a nós, quadrinistas, não sermos “fominhas” e apresentarmos a esses “leitores em potencial” tudo o que está sendo produzido de bom por aqui, pois só assim a gente vai conseguir quebrar o preconceito que ainda há em relação aos quadrinhos e criar um mercado local real para nossas produções.  

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido esse ou em outros anos?

     Quando eu estava à frente da GHQ, conheci muitos quadrinistas (de Natal e do interior do RN). Um deles foi Wanderline Freitas. Aquele “baixinho” de São Rafael tem ideias incríveis e não para de criar. Foi uma surpresa conhecer seus personagens Urubu Man e Eni Guimá (até dei alguns “pitacos” na HQ Eni Guimá e o Diamante Vale Ouro). E gostei bastante da quadrinização que ele fez do meu conto Fracassos Falsos. Naquela época (dez anos atrás), também tive contato com Wendell Cavalcanti, Diorge Thomas, Gabriel Andrade Jr., Victor “Estivador” Negreiro, Guerra, Miguel Rude, Joseniz, Tati Viana, Giovana Leandro, Fernando Paiva, Lula Borges, Carlos Alberto (o “Galego”) e todo o pessoal do GRUPEHQ, e fiquei sabendo que havia muita coisa boa (e algumas nem tanto, pois é preciso falar a verdade) produzida em nosso estado, bem como projetos que estavam tomando forma. Como uns projetos se materializaram e outros ainda não, prefiro não falar em “obras”, mas em potencial criativo. E desses nomes todos que citei, o de Gabriel Andrade Jr. foi o que me chamou mais atenção (principalmente quando ele revelou que estava fazendo um longa-animado na raça: escrevendo, desenhando, colorindo, animando, editando e fazendo a trilha sonora), pois era um músico, que desenhava por hobby, e hoje é o segundo brasileiro a ter a honra de desenhar um roteiro do Alan Moore. Ele merece o sucesso e o reconhecimento, principalmente por manter a humildade.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

     Então, vamos nos restringir a três roteiristas conforme nos foi solicitado. São eles: Beto Potyguara, Marcos Guerra e Diorge Thomas Trindade (que agora é Jamal Singh). Beto Potyguara descobriu como casar História e humor de uma forma bem bacana, fazendo um primoroso trabalho com Os Notáveis (que é uma espécie de Liga Extraordinária com personalidades da História do Brasil) e com Carcará: cabra pió num há. Guerra sabe trabalhar muito bem os conflitos dos personagens e os elementos simbólicos nas tramas, com destaque para Titanocracia e O Evangelho segundo o sangue. E Jamal é um profundo conhecedor do western (com ênfase na vertente europeia) e da ficção científica, e também domina a ficção histórica. Sua parceria com Wendell Cavalcanti ainda promete muitas coisas boas no futuro. Até o momento, Cajun é o seu trabalho de maior destaque.

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?

     Tento ser eclética, e o único gênero que realmente sinto desconforto em escrever é o terror, pois nunca fui muito fã do mesmo.  Em 2015, irei participar de duas coletâneas nacionais: Máquina Zero – vol.2 (com a HQ “A fã”, que é tragicômica) e Imaginários em Quadrinhos – vol.4 (com a HQ “Ennya”, uma ficção científica). Tenho duas séries que pretendo reelaborar para o formato graphic novel: Força Verde (uma aventura ecológica infanto-juvenil), projeto que venho desenvolvendo com o desenhista e artista plástico pernambucano Quihoma Isaac, e que tem o aval da atriz e ativista ecológica Daryl Hannah, e Loquazes (que deverá mudar de nome), um drama do cotidiano com personagens de vinte e poucos anos. Entre 2013 e 2014, fui contratada para adaptar uma peça para quadrinhos e para escrever meus primeiros roteiros “sérios” para cinema (um drama de longa-metragem e uma comédia de humor negro em curta-metragem) – infelizmente não tenho a menor ideia de quando algum deles vai sair do papel, pois depende da boa vontade do meu contratante em finalizar os projetos de ambos e inseri-los em alguma lei de fomento. Atualmente, estou escrevendo o roteiro de minha primeira graphic novel, uma ficção científica com estética steampunk, que será desenhada pelo paulista Ichirou, que fez um trabalho incrível para o Visualizando Citações – vol.2.


sexta-feira, 10 de abril de 2015

REPORTAGENS COM ROTEIRISTAS POTIGUARES DE HQS




EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.



                                                                                                                                                                  
 MINI BIOGRAFIA:

Ivan Cabral, nasceu em Areia Branca/RN. Publica charges na imprensa do Rio Grande do Norte desde 1983. Foi chargista do Diário de Natal(Diários Associados) durante 21 anos. Hoje publica no Novo Jornal. Também é membro do Grupehq - Grupo de Pesquisa de História em Quadrinhos, entidade fundada em 1971 e em plena atividade, responsável pela publicação da revista de quadrinhos Maturi, da qual Ivan participa desde a década de 1980. Ivan é autor do personagem Mosca Zezé e já produziu ilustrações para publicidade e diversos livros. Suas charges têm sido utilizadas em livros didáticos de editoras como FTD, Saraiva, Positivo, Escala Educacional, Scipione, Opet, Fundação Padre Anchieta, Kroton Educacional, SEDIS/UFRN, COC, Poliedro, etc.
 Ivan já foi premidado em diversos salões de humor no Brasil, entre eles: UnaconDF-1997(1º lugar), Volta Redonda/RJ-1997(1º lugar), Volta Redonda/RJ-1998(1º lugar), Natal/RN-1999-(2º lugar), e diversas menções honrosas.
Ivan é Mestre em Educação pela UFRN, pesquisando a relação entre o humor gráfico e a formação do leitor. Já publicou 2 livros: Já era Collor (1991), em parceria com Cláudio Oliveira, Edmar Viana e Emanoel Amaral, e Humor Diário(2005).
Atualmente, chefia o setor de Criação e Arte da Superintendência de Comunicação da UFRN e realiza charges ao vivo durante o programa de debates Grandes Temas, da TVU/UFRN.

Fonte: http://www.ivancabral.com/p/ivan-cabral-nasceu-em-areia-brancarn.html

ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

Antes de tudo, quadrinhos não é a atividade mais presente em minhas produções. Produzo quadrinhos desde a adolescência mas profissionalmente meu enfoque é o humor gráfico, em particular a charge. Mas a linguagem da charge tem um laço umbilica com os quadrinhos, em especial os quadrinhos de humor. Minhas primeiras histórias, inclusive, foram de humor. Comecei fazendo tiras e pequenas histórias, às vezes de uma página. Nunca produzi histórias médias ou longas. Como no início (falo do início da década de 1980) não havia formação técnica para roteiristas, tudo acontecia de forma autodidata. A gente lia quadrinhos e sabia desenhar. Sempre fiz roteiro e desenhos. Lia muita HQ e aquela formação informal me levava a produzir minhas próprias histórias. O convívio com a turma do Grupehq (Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos) trouxe aperfeiçoamento técnico e a troca de experiências influenciou uma maturação no traço e roteiro.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

 Naquela época os americanos reinavam soberanamente. Disney, Hana Barbera, heróis e super-herois eram o prato do dia, da semana, do mês... da vida. Mickey, Pateta, Tio Patinhas, Pato Donald e seus respectivos inimigos Mancha Negra, Bafo de Onça, Os irmãos Metralha, Maga Patalógica, e demais personagens marcaram minha geração. Tinha os que não permaneceram no auge do sucesso como Miudinho, Fantasma Lelo, Riquinho, Morcego Vermelho (pra mim um dos melhores), Brasinha e outros esquecidos. No desenho clássico impossível não citar os também clássicos Fantasma, Tarzan, Mandrake, Zorro, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Capitão América, Demolidor, Namor, Thor e outros.
Os brasileiros que heroicamente conseguiram marcar seu nome e que mais se destacaram ou repercutiram foram o Ziraldo com a Turma do Saci e o Maurício. Certamente outros artistas deram sua contribuição, mas cito esses a partir do acesso que eu tinha a seus materiais e não como uma análise mercadológica precisa.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Histórias que fizessem pensar, mesmo usando o humor. Não sou contra super-herois, por exemplo. Apenas acho que eles tem que dizer algo mais além de derreter aço com raios que saem dos olhos. Também não se trata de fazer cartilhinhas didáticas e moralistas, mas produzir algo que leve a pessoas a se questionarem. Já seria um bom começo.

4 – Muito bem,  você poderia falar um pouco sobre a forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?

            Como falei, minhas histórias são curtas. Talvez pela influência de produzir charges, que por natureza são extremamente condensadas, sintéticas. Geralmente tenho um tema central, uma problematização qualquer, e a partir dele construo o ambiente que cerca essa questão, desenvolvo os personagens envolvidos e a trama, dando uma atenção para o desfecho. Faço isso intuitivamente e não a partir de um esboço ou esqueleto temático. Tudo começa com a ideia principal. Naturalmente a concatenação com as outras partes vai surgindo, vai sendo costurada e ajustada até se constituir uma história com um começo atraente, um desenvolvimento dinâmico e um desfecho que leve a possibilidades de reflexão sobre o que se leu.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Essa questão da estética própria é fruto da experiência. A maneira como você constroi um história reflete como você é. Mesmo que seja uma ficção acho que o autor se coloca na trama. A seleção do que dizer e como deve ser dito é muito pessoal. Quando o autor do roteiro é o próprio desenhista isso é mais fácil, embora trabalhar em parceria produza coisas interessantes, pois existe a leitura que o desenhista faz do roteiro e ele pode surpreender, enriquecendo muito o produto final. Como os quadrinhos são constituidos de uma linguagem híbrida (textos verbal e imagético) creio que seus elementos constitutivos precisam dialogar e contribuir de forma eficaz para a construção de uma boa história.

 6 – Essa pergunta é capciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Indentifico-me mais com o Alternativo. Não penso em fazer sucesso com quadrinhos, mas me sentiria feliz se soubesse que pessoas que leram meus quadrinhos foram de alguma forma impactadas.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

Sinceramente, tenho dificuldade em responder. O mercado de quadrinhos nacionais não é lá essas coisas. Existem experimentos nos grandes centros e em cidades do nordeste que revelam a força e o talento de nossos desenhistas, mas penso que falta motivação, organização e apoio. A falta de um elemento desse tripé compromente o todo. Mas não sou um grande conhecedor da realidade mercadologica da imprensa nacional para emitir uma opinião mais confiável. Mas nem tudo está perdido e a arte dos quadrinhos teima em não morrer!

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?

No passado não dá pra ignorar o pioneirismo da Maturi (que teve um destaque recente com o projeto apoiado pela Fundação José Augusto que gerou seis edições da revista em um novo formato, inclusive com cores). Não podesmos esquecer do Edmar Viana e seu Pivete. Recentemente tivemos a belíssima Guerreiro das Dunas, de Emanoel Amaral. Nossos arte-finalistas potiguares têm produzido coisas bonitas para a Brado Retumbante. Tem o humor joia do Kovalevsky com o The Negão.  Recentemente o Gabriel tá publicando nos EUA. Claro, é coisa de gringo, mas o talento é da terrinha.
E tem o Brum, carioca radicalizado aqui, que tem feito muita coisas boa na área do quadrinho de humor. É aquela coisa: depois da esperança morrer ainda tem os quadrinhos.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

- Emanoel Amaral – esse é um pioneiro, um guerreiro dos lápis e pincéis. Sua experiência garante a qualidade de sua produção. A temática indígena e do cangaço está bem representada em  suas obras.

- Márcio Coelho – Outro cabra experiente. Uma amostra do reconhecimento do seu talento foi sua convocação para publicar em uma das ediçoes especiais dos estúdios Maurício de Sousa.

- Gilvan Lira – Uma excelente cabeça, um artista maravilhoso e competente. Lê muita coisa de todo lugar. Outro cuja experiência produziu um artista maduro. O cara é muito versátil;  desenha e escreve ficção, humor, aventura e história com a mesma desenvoltura.

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?


- Tenho uma ou outra história engavetada. Não sobra muito tempo para desenvolvê-las e por enquanto resta apenas a ideia central delas.  

sexta-feira, 3 de abril de 2015

REPORTAGEM COM ROTEIRISTAS POTIGUARES




EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.


BIOGRAFIA:

Historiador em formação e roteirista de quadrinhos. Seu primeiro trabalho junto com o desenhista Wendell Cavalcanti, a história curta “Lembranças amargas” com o personagem Cajum foi publicada na Prismarte № 55, e recebeu o Troféu P.A.D.A. de melhor historia em 2012. Participou da coletânea internacional Máquina Zero (indicada a dois prêmios HQ MIX em 2014), capitaneada pelo coletivo Quadro – a –Quadro, com a história Kaur, estrelada pela guerreira Sikh Naara Kaur. Atualmente escreve quadrinhos institucionais enquanto cria outros projetos com Wendell Cavalcanti e outros colaboradores.



ENTREVISTA:


1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

    Paixão. Me alfabetizei lendo quadrinhos, ler quadrinhos é uma paixão. Colecionar uma tara. Escreve-los um tesão. Devo ser um dos seus poucos entrevistados (talvez o único) que não escreve crônicas, críticas, poesia, roteiros para cinema e peças teatrais. Eu mantinha antigamente um blog onde fazia criticas sobre filmes, HQ, livros, e o parei para exclusivamente escrever Quadrinhos.

     Apesar de há anos manter um projeto pessoal, um romance de fantasia que talvez nunca publique, toda a minha dedicação além dele vai para ser roteirista de quadrinhos, em vez de ser “um escritor de verdade” (já ouvi essa triste afirmação até no nosso meio).

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

     Li muitos quadrinhos infantis em que hoje só lembro dos personagens, como “A turma do Gordo”, “Bolinha”, “Luluzinha”, “A turma do Arrepio”, “Agente Cãofidencial” e os trapalhões da Abril. Na infância, as primeiras HQs que me marcaram foram uma TEX (“o homem serpente”, nº 245, GLOBO), um Albúm do Rango do Edgar Vasques (L&PM, saíram 7, não sei qual deles que li) e uma SUPERAVENTURAS MARVEL (nº 49, ABRIL) em que o Demolidor tem uma noite de cão e os X-men enfrentam o Arcade.

     Na adolescência continuei lendo quadrinho de super-heróis, faroeste e nacional, mas acabei me tornando também um aficcionado por terror devido as saudosas locadoras de VHS. Como comprava muito em sebo por não ter muito dinheiro acabei tendo ótimas descobertas que enriqueceram ainda mais minha Gibiteca: Calafrio, Chiclete com banana, DC 2000 (com o homem Animal de Grant Morrison, o Xeque-Mate de Paul Kuppeberg e  a L.E.G.I.Ã.O. do Bill Mantlo e Keith Giffen), A espada selvagem de Conan, Fantasma, Geraldão, O Homem-Aranha,  O incrível Hulk, Ken Parker, Kripta, Liga da Justiça (que eu comprava só por causa do Esquadrão Suicida), Monstro do pântano, Mister No, Novos Titãs, Piratas do Tietê, A teia do Aranha, Zagor.  

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

     Foi só na juventude que eu comecei a ler o tipo de quadrinho que eu prefiro escrever hoje, as novelas gráficas (Graphic novels). Na adolescência eu achava que ia escrever grandes sagas intermináveis (e escrevia em meu caderno) como as que lia. Hoje eu não tenho paciência para isso, nem confio em quem tenha! O que eu desejo escrever são justamente o que você me perguntou: Histórias. Não tenho a pretensão de ser um artista dos quadrinhos ou um poeta. Sou roteirista de quadrinhos.

      Quando alguém me mostra um quadrinho que produziu e diz “não sou um quadrinista, sou escritor” ou “não sou desenhista de quadrinhos, sou artista plástico” nem me dou ao trabalho de conferir o seu material. Acho um pedantismo canalha desnecessário ao meio. Quero contar uma história. O que me interessa é se minha história tocou alguém de algum modo, se o que eu escrevi entreteu o leitor.

       Gostaria de futuramente poder trabalhar a sexualidade dos personagens, discutir sobre os papéis de gênero, e questionar os mitos sobre a paternidade, familia e amizade. Temas que só pude tratar bem por cima no que já escrevi.

4 – Muito bem, gostaria de saber como é sua forma de escrever roteiros que abordem os mais diversos temas, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceito pelo grande público leitor?

     Eu basicamento vou anotando diálogos que eu tenho e idéias que vão surgindo. Dessa colcha de retalhos as vezes sai uma história. Acho que certos dialogos e certas narrativas vão bem em qualquer gênero. Não tem essa de enquadramento tal não serve para Terror, ou pose tal só serve para Faroeste! Meu argumento é geralmente bem bagunçado, e eu mexo muito nele até depois que ele vira roteiro e vai para a mão do desenhista.

     Com relação a temas delicados eu tento ter tato, pois as vezes o que você escreve como uma crítica (ao preconceito, a desigualdade social, etc), acaba sendo interpretado como apologia ou homenagem quando o autor não tem a devida sensibilidade ao elaborar a idéia.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

     Não, não possuo tal pretensão. As vezes o “como” se conta a história é o diferencial, mas de modo geral o que me interessa na HQ são os personagens, nem tanto a arte ou o design dela.

 6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

     Não acredito nesses rótulos. O Alan Moore consegue fazer um trabalho dito “alternativo” com a tiragem de uma obra comercial. Ser independente só significa, principalmente no Brasil, que você tem tiragem baixa e rala para conseguir vender seu material. Eu acho que um artista só tem uma liberdade de criação completa quando ele escreve, edita e publica tudo do próprio bolso, se não sempre haverá censura, as vezes do próprio autor. E se a pessoa realmente não quer um público consumidor, acho que ele não deve nem ter o trabalho de escrever nada.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

     Se não for um quadrinho institucional, não tenho nenhuma perspectiva. Não temos muitas editoras aqui no nordeste (e no Brasil) interessadas em lançar quadrinhos nacionais, e basicamente fora os quadrinhos institucionais você só tem como lançar algo se não for do próprio bolso via editais. E escrever bem um quadrinho não te habilita a escrever bem um edital, e vice-versa, o que gera algumas aberrações saindo por leis de incentivo a cultura.
     Quanto ao mercado de quadrinhos potiguares ele é inexistente. Aqui. Com exceçãos de alguns dinossauros da minha geração, o leitor de quadrinhos médio potiguar só tem interesse por super-heróis e/ou mangá. Há até um público novo que lê quadrinho nacional, mas só compra material HYPE escrito por essa nova onda de publicitários que acha que sabe fazer quadrinho. Já vendi mais meus trabalhos autorais em eventos fora daqui e por correio do que em eventos dentro do estado.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido esse ou em outros anos?

     O que realmente me surpreendeu e continua a me surpreender são o Rodrigo Brum e o Mario Rasec,  com trabalhos bem diferentes. Mas incluo ambos nas melhores tiras feitas atualmente no país.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

     Bem, vou considerar apenas os roteiristas que fizeram histórias com começo, meio e fim, se não repetiria nomes  da outra pergunta, e vou ficar com quem realmente eu li e me empolguei recentemente.

Joseniz Guimarães – Se ele usasse fotonovelas em vez de desenhar saia do mesmo jeito. Gosto do que ele escreve, apesar da arte, como ele humildemente assume, não ser das melhores.

Wagner Michael – Assim como o Jozeniz, ele melhora a cada novo trabalho. Apesar de ele ser bem melodrámatico, gosto de como ele trabalha o saudosismo e a nossa Nata, a cidade do sol, em suas histórias.

Milena Azevedo – Mais melodramática ainda que Wagner, os textos de milena são de querer cortar os pulsos. Mas há beleza até na tristeza, coisa que a maioria das pessoas prefere negar.

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?

     No momento estou trabalhando com Wendell Cavalcanti, meu parceiro de velha data num albúm sobre A boca do Lixo. A histórias se passa nos anos sessenta, quando “a saída do artista potiguar era a rodoviária”, e acompanha três jovens potiguares tentando a sorte em São Paulo, na época a capital do cinema e aonde ficavam as principais editoras de quadrinhos do país. O albúm é focado na amizade e amadurecimento dos personagens durante os eventos e fatos que mudaram o país: O cinema novo e o cinema marginal, as leis de incentivo ao quadrinho e ao cinema nacional, a ditadura, etc.
     Estou desenvolvendo também o roteiro sobre uma Patrulha Estelar bem semelhante a Legião Estrangeira francesa que se passa séculos no futuro, uma ficção cientifica com uma pegada Belle Epoque (só para contrariar os babaovos do Steampunk) aonde os humanos são apenas uma raça subdesenvolvida da periferia. Nesse albúm estou trabalhando sobre temas mais delicados do jeito que só a ficção cientifica permite, como já bem disse o Gene Rodenberry (criador de star Trek).