O MÁGICO

Confira essa nova animação do diretor de Bicicletas de Belleville.

BALADA DO AMOR E ÓDIO

Confira nossa crítica sobre o mais novo filme do cineasta espanhol Álex de la Iglesia.

FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS

O projeto de extensão “cores” nos convida inicialmente a um espetáculo sobre a vida da artista plástica, mexicana, Frida Kahlo.

ARTEROTISMO - UM CONVITE

Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...

"A CULPA É DA SOCIEDADE"

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...

sexta-feira, 27 de março de 2015

ENTREVISTA COM ROTEIRISTAS POTIGUARES



EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.


Mini biografia 

Formado em Marketing pela UnP, começou sua carreira nos anos 80 como ilustrador de publicidade. Atuando em várias agências de Natal. Nos quadrinho, ingressou na Maturi onde teve  diversas histórias publicadas. Criou o heroi Asa Psiquê que teve suas aventuras editadas na revista Epopéia Potiguar (do próprio Carlos Alberto), que chegou a contar quatro números. Ilustrou livros como "Uma feira livre" da escritora Elizabeth Rose de Macêdo Gomes; "Matrix e administração Transpessoal" de Júlio F. D. Resende; "A Turma da casa do Telhado Branco - A história das Minhocas", das autoras Gilka da Mata e Marize Duarte e foi o autor do livro "As sátiras em quadrinhos de Zé Areia".

ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

Bom, na verdade não sou um roteirista, embora tenha feito alguma coisa nessa área. No início de minha “carreira” como desenhista de quadrinhos, era extremamente difícil contar com os roteiristas. Poderia até dizer que não existia roteirista, pois todo aquele que queria fazer quadrinhos tinha que se virar para criar suas próprias histórias. Eu, porém, na ausência destes, resolvia recorrer às histórias bíblicas, por estar mais à “disposição” e por propiciar um cenário farto de detalhes pitorescos da época antiga.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

Eu curtia desenhistas antigos como Alex Raymond, Harold Foster e Burne Hogarth. Mas minha forte influência dos quadrinhos americanos aconteceu no fim dos anos 70 e começo dos 80, especialmente os desenhos do Jonh Buscema/Alfredo Alcala, Frank Miller até conhecer a francesa Metal Hurlant e o estilo artístico europeu.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Eu procuro ser o mais versátil possível. Deste ficção/aventura.. regional... me coloco à disposição para qualquer projeto. Mas eu gostaria de tentar uma ficção fantasia.

4 – Muito bem,  você poderia falar um pouco sobre a forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?

O roteiro, quando eu faço, é de maneira intuitiva. A partir de uma ideia inicial é que vou desenvolvendo toda o enredo. Quanto aos temas delicados, eu procuro sempre me certificar se realmente é válido trabalhar com o referido tema, pois já sofri algumas críticas ao tentar algo, como por exemplo, na área de sexo.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Sim. Uma abordagem em que a fantasia surreal seja o elemento predominante.

 6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

De fato é uma pergunta intrigante, pois tenho feito muitos trabalhos com apelos comerciais, mas também tenho feito bastante coisa para um determinado tipo de público, no caso, cartilhas e revistas cuja abordagem é primordialmente educativa. Mas fiz algumas coisas no circuito underground, portanto, sou bastante eclético.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

Mercado de quadrinhos não existe no Nordeste. Mas Existe alguns estúdios que conseguem com muita persistência e determinação estabelecer o sonho de trabalhar com quadrinhos. O pessoal da Paraíba e Recife dão bons exemplos nesse sentido.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?

Das hqs que marcaram eu cito o Ataque de Lampião a Mossoró, de Emanuel Amaral/ Aucides Sales, Os episódios do cangaceiro Labareda, cujo roteiro e desenhos são do Luíz Elson, e a série Trombstone City (publicados na revista Maturí) de Aucides Sales.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

O próprio Emanuel Amaral é um dos que figuram na minha lista. Dois trabalhos dele: O ataque de Lampião a Mossoró e Os guerreiros das Dunas mostram a desenvoltura deste artista. Porém, nos últimos tempos ví surgir gente boa que vem pra ficar. Entre esses, eu destaco o brilhante trabalho do Marcos Guerra em Parnamirim, contruindo uma história! Temos também um ótimo roteirista/desenhista que nos chega com uma forma bem pessoal de pensar e desenhar... estou falando de Mário Rasec e o que falo pode ser conferido nas páginas de Os Black. Há ainda um outro nome que também começa “bem tranquilo” a mostrar suas qualidades, não só como roteirista, mas também um excelente desenhista. Seu nome: Renato Medeiros. Uma obra? Tempestade mental!

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?


Bom, eu tenho me repetido em dizer que tenho vontade de desenhar histórias com tematicas fantasiosas, e talvez algo numa linha surrealista à la Moebious, pois como trabalho numa linha muito próxima ao acadêmico, considero o estilo de arte surrealista europeu um desafio interessante a se realizar. Vamos pra frente!!

sexta-feira, 20 de março de 2015

ENTREVISTAS COM ROTEIRISTAS POTIGUARES



EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.





MIGUEL RUDE

 Mini biografia
Natural da maternidade Januário de Natal mesmo. Produção:Reverbo : Bio47 #2 a #8; Revistas infantis como Team Kids e GACC- RN; Natal: Terra de Ninguém; Maturi n° 5 - hq a alma pede carona. Coletânea Máquina Zero - hq acordo;Diversos Pornôs para sites gringos.



ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

A incapacidade de escrever livros. Tentei muito na pré-adolescência, adolescência e por fim, quando adulto, percebi que me perdia demais ao escrever livro.
Quadrinho esquematizei de um jeito que fluía mais fácil. Com livro não consegui até hoje.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

Na verdade não foram hqs em si, mas personagens, seja na hq ou em outras mídias. Quando criança curtia muito personalidades fortes, assistia desenho animado da Mulher-Aranha, o seriado do Hulk do Lou Ferrigno e Bill Bixby e folheava aqueles albuns do Tarzam que eram deitados, sem saber ler ainda. Então desde criança onde tivesse personalidades fortes eu estava lá de camarote observando.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Magia. Não ficar viajando na batatinha como Doutor estranho porque acho isso estranho (sompbras de shogot, umbral de mendabot , sei la...). Nem coisas bobas como zatanna e deixar o personagem suave quando ele começa a adquirir fama como mudar "hellblazer" para 'Constantine'. Magia mesmo, adulta, séria e desbravando o mito e o misticismo, os rituais e as crenças mundiais. Poder do Mito, de Joseph Campbell já desbravou o homem como corpo físico , carnal e pretenso a aventura , e desbravar o mundo físico. Com magia voltáriamos para dentro de si mesmos e enxergaríamos novas formas de ver os fatos.

4 – Muito bem,  você poderia falar um pouco sobre a forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?

A forma varia, se é paga , se é "inspiração" , se é parceria com amigos. Depende também de quem é o desenhista. O Roteiro de Natal: Terra de ninguém, foi entregue numa folha de caderno escrita a lápis e o Wendell me devolveu mais de 25 páginas desenhadas e arte finalizadas para eu "inventar" balões. Quando é pago faço no estilo texto em "t" , quadro com ação do personagens e quadro com diálogos dos personagens , qualquer bronca se resolve mostrando as provas do roteiro. Não sei qual tema seria delicado, quem seria afetado ? Leio Garth Ennis há muito tempo, Jamie Delano e outros e eles me mostram a direção que devo seguir, do que o que deveria me doutrinar. a facilidade de qualquer coisa vem da sua paixão por ela, já vi quadrinhos europeus de humor sobre motos que você fica maravilhado, mesmo eu nem sabendo andar de moto.

Acho que esse politicamente correto atual deixou pessoas muito afetadinhas e burras, é burras mesmo, as coisas estão tão certinhas que você nem pode ofender alguém de burro mesmo ela sendo um completo tapado nas redes sociais. E essa de "grande público" é relativo, quando postei os quadrinhos de Clarisse - 7 , um cara comentou no orkut na época que eu deveria tirar os palavrões se quizesse que ela fosse aceita em alguma editora. Ah faça me o favor! Tem palavrão em seriado hoje, em game , e quadrinhos sempre teve. E não estou desesperado nem nunca estive pra ser aceito por grandes editoras, só faço algo se tenho algo a dizer, se não tiver eu fico calado. Editora e grande público não interfere nesse processo.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Já tenho... Com muito caderno escrito a lápis, muito caderno inédito de poesia, muito roteiro pornô pra gringas, muito roteiro que desistimos por falta de desenhistas, muito arquivo de computador perdido a ser formatado... Consegui. Pessoal já reconhece minha escrita, como reconhecem os traços de artistas ...(mas livro que é bom até agora nada)

6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Os  três. Porque fiz e faço os três. Não achei capciosa.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

A gente nunca teve carência de nada, sempre nos fizemos de coitado. Já recebi esboço em papel com texto impresso atras porque desenhista tem pena de gastar papel branco esperando usa-lo em 'ocasiões especiais' , temos pena de gastar material, temos pena de entregar no prazo e se sentir bem e damos desculpas. Por isso que gosto de trabalhos de artistas como Fernando Paiva e Sandro Freitas, que mergulha com o que tiver e gasta o que não tem. Carência temos de responsabilidades e de avançar pra estágios maiores.


8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?


Gosto de qualquer coisa feita pelo mestre Laércio Eugênio, qualquer coisa mesmo ! Uma vez parei o que tava fazendo em Mossoró e corri pra ver uma mini-oficina ministrada por ele de quadrinhos. Acho que o boneco a Hq do Wagner Oliveira que foi  feito no projeto 1° primeira edição também me chamou atenção. Essa Hq, o Boneco, e outra feita pelo Deuslir Cabral que só conseguiu publicar Mapinguari, também pelo mesmo projeto. Li muita coisa dele (Deuslir) que não foi publicado infelizmente, e confesso que atualmente ele é o melhor. Os atuais ainda estão verdes para chegar no patamar dele. Falta se desprenderem dessa de quererem ser "o artista", "o escritor".... são nada, somos nada, ninguém aqui é, ninguém vive da escrita e principalmente de produzir seus próprio textos, vamos ser mais humildes e deixar fluir. Seja sendo, fazendo e produzindo. Não se intitulando e produzindo pouco (e produzir não foi publicar que quis dizer).


9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

vixi, me empolguei  e respondi na oito. O cara que fez o boneco (Wagner Oliveira), Deuslir  ( que fez Mapinguari) e o chargista/cartunista Laércio Eugênio.


10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?


hahaha bagunçou legal...

ok. Desenho animado. Vejo Elson elogiar demais os alunos da UNP , mas até agora só vi trabalho obrigado a fechar o curso, pomposo pra tirar nota. Desenho animado, cadê, que preste, feito a ferro e fogo, de madrugadas fazendo clean up, trilha sonora, edição... Não tem. Que preste mesmo, tem não. Gostaria de ver desenho sobre algo medieval, ficção cientifica e porque não cangaço, desde que seja bem construida qualquer coisa é válida.
Na verdade , já escrevi mangás... Mas preciso voltar a escrever, não mangá comum , algo como All you Nedd is kill, algo que as pessoas perguntem e peçam continuação como me perguntaram e pediram quando natal: terra de ninguém esgotou a tiragem. Lógico. preciso escrever um livro. E manuais de desenho, mas isso será em conjunto com colegas artistas (não posso nem revelar o peso dos nomes, droga). 

Agradecido o convite e desculpe a demora pra responder, sem word em casa e preguiça de ir em lan house responder por lá. :p


PS: Este articulista agradece e muito a entrevista sincera e o esforço de grande Miguel Rude, por que mesmo sem Word e as dificuldades do pouco tempo que teve (um sintoma da contemporaneidade) nos privilegiou com suas opiniões e analises sobre o modo próprio de fazer roteiros e, mais especificamente do universo dos Quadrinhos.





sexta-feira, 13 de março de 2015

ENTREVISTA COM ROTEIRISTAS POTIGUARES




EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.


MINI BIOGRAFIA:

Joseniz Guimarães de Moura nasceu em Natal/RN em 1983, é formado em Educação Artística - Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio grande do Norte (UFRN). Trabalha no Teatro, Quadrinhos, Cinema e Educação. É o fundador do Blog Luz nas Trevas onde faz várias atividades em torno dos Quadrinhos cinema, Hqs e teatro.



ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

Gosto de contar histórias e a linguagem dos quadrinhos é uma das maneiras que utilizo para contá-las.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

Crise nas Infinitas Terras de Marv Wolfman e George Pérez publicada na década de 80 pela DC foi a principal influência e a grande motivação em ler e decidir trabalhar com quadrinhos. É uma grande história envolvendo centenas de personagens e mundos diferentes. Ao longo dos anos tive outras influências como Henfil, Angeli, Glauco, Laerte, Katsuhiro Otomo, Kazuo Koike, Moebius, Neil Gaiman, Paul Dini, Frank Miller, Alan Moore, Garth Ennis, Sérgio Aragonés, Grant Morrison, Will Eisner, Scott McCloud (vou parar por aqui pois a lista é grande e olha que só listei autores de quadrinhos)... Também tenho amigos que também são artistas que me inspiram e me ajudam a seguir em frente. Mas se eu não tivesse entrado em contato com Crise nas Infinitas Terras eu provavelmente estaria fazendo outra coisa que não envolvesse arte sequencial. O mais legal é que tive a oportunidade de conhecer o George Pérez em 2013 durante o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte) onde fui de Cosplay de Pirata Psíquico. Mais do que a personificação de minha infância estar presente ali eu vi um grande ser humano. Um ser humano bem maior que o artista. Milazzo é do mesmo jeito! Não tem como não se inspirar diante de pessoas assim.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Tudo depende da história que quero contar. Sempre adapto meu traço ao tipo da história para favorecer a narrativa. No meu traço as histórias são sempre em sua maioria sombrias ou cômicas (ou as duas coisas) pois é o tipo de história que tenho prazer em fazer no meu traço (claro que isso não me impede de contar outro tipo de história as vezes). Mas quando realizo um trabalho em parceria as possibilidades são maiores pois a minha escrita é um pouco mais ampla que meus desenhos e me permitem explorar qualquer tipo de gênero ou história que eu quero contar juntamente com o artista. Tudo depende da história e em se tratando de quadrinhos eu não consigo visualizar a escrita e a arte sem que elas se complementem em sua narrativa. Não estou preso a um gênero em específico. A pergunta que me faço é esta: Que tipo de história eu quero contar? A maneira de contar a história, traço e narrativa vão surgindo a partir daí. Claro que isso não é regra fechada posso escrever a história a partir de uma arte pronta, um personagem ou um sonho por exemplo.

4 – Muito bem, gostaria de saber como é sua forma de escrever roteiros que abordem os mais diversos temas, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceito pelo grande público leitor?

Sempre tenho alguma coisa a dizer sobre as histórias que conto. A minha preocupação é se o público consegue captar bem aquilo que quero passar. Se vai  ser aceito ou não pelo público depende do ponto de vista de cada um diante da história e da abordagem que escolhi. E eu gosto de apresentar vários tipos de abrordagens e pontos de vista sobre o mesmo tema.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Existe muito a se experimentar na estética dos quadrinhos seja escolha dos momentos, palavras, imagens, enquadramento, fluxo de leitura, personagens, trama.... Mesmo em minhas tiras que possuem um ar mais cômico elas possuem estéticas bem distintas entre si. O Reinado da Borboleta Monarca é sobre corrupção e uso um traço livre e simples; Psycho: Cereal Killer e Heather Lee Curtiskamp são a minha forma de dizer que o mundo é mais assustador que filmes de terror e utilizo as cores preto, branco e vermelho; Vida de Nerda é sobre o dia a dia nerd com um traço que mistura cartum com realismo; Carpe Diem é uma tira filosófica em que utilizo fotografias que trabalho digitalmente e o Autor em crise são reflexões pessoais em que experimento tudo isso e outras coisinhas. Quando uso algo em comum nas HQs como o uso de fotografias,ou a mesma temática, ou fluxo de leitura inverso, elas apresentam identidade própria e se distanciam uma da outra. Eu vejo os quadrinhos como uma linguagem única e quero sempre experimentar possibilidades diferentes.

 6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Sou do tipo que conta histórias. Quando escrevo algo, espero que o que escrevi seja lido pelas pessoas. Sempre procuro experimentar e me expressar livremente na arte que escrevo. Uma vez com a história finalizada eu a conto. Como vou contar sempre depende da história. Se ela atinge um determinado público ou um público mais amplo vai depender de como ele reage diante daquela história. É claro que espero sempre que meu trabalho seja reconhecido e divulgado, venda bem para bancar outras publicações e eu possa me manter apenas fazendo arte.
Uma história que ilustra bem o que quero dizer ocorreu em 2011. A História Contos da Caixa de Cereal: O Cão, publicada na revista Luz nas Trevas: Autor em Crise, narra a história real de uma menina atacada por um cão raivoso de forma tragicômica. A menina hoje em dia já é avó e ficou muito emocionada ao ver a sua história contada na forma de uma história em quadrinhos. A edição rodou de mão em mão por toda cidade onde o fato ocorreu. Tive uma boa recepção da revista que esgotou sua tiragem de 500 edições e vendeu bem. Este retorno humano diante da história naquela cidadezinha no interior e a reação da dona Ana valem muito mais pra mim do que vender as 500 edições. Quando você está trabalhando com arte, você trabalha com muitas coisas intangíveis que não podem ser quantificadas ou qualificadas como se faz com uma revista impressa. E a história que você contou na revista não é a única história existente pois tem a história de produção da revista, da consequência daquela história e a história dos leitores ao conhecer aquela história. Todas estas histórias são importantes.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

É um bom momento. Tenho três décadas de vida e estou caminhando para a quarta. Durante este período vi o crescimento não só da quantidade de artistas e de publicações. Mas outros pontos importantes como os quadrinhos sendo discutidos nas universidades e escolas com TCC’s, publicações acadêmicas, teses de mestrado... Surgimento de escolas, cursos, estúdios de quadrinhos e disciplinas desta arte em universidades. O crescimento de eventos ligados ao tema e exposições com um intercâmbio maior entre os artistas. Com artistas de outros estados e países visitando e os artistas nordestinos fazendo o mesmo. Eventos mesclando outras artes e ciências. Uma imprensa procurando ser mais bem esclarecida sobre o assunto. E um público cada vez mais por dentro da linguagem e interessado em ler histórias seja de outros países ou do Brasil.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido esse ou em outros anos?

Existem trabalhos que curto bastante no RN como os do Wagner Michael (com o Depois de tudo apresentando histórias do dia-a-dia fantásticas), Brum (que manda bem tanto na arte como nos textos de humor), Renato Medeiros (com histórias sci-fi), Gabriel Andrade (um roteirista tão bom quanto o desenhista que ele é), Wanderline Freitas (um artista completo de quadrinhos com histórias bem humoradas, histórias noir e love storys), Cristiane Cavalcanti (que só li uma página de história mas que achei muito foda), a arte sombria do Leander Moura, o humor sarcástico da Analu, o humor negro e filosofias nas histórias do Mario Rasec, a evolução da arte fodona do Wendell Cavalcanti (principalmente com o trabalho que está fazendo com o Jamal), o trabalho do GRUPEHQ décadas atrás com o Henfil e Edmar Viana (ou a abordagem mais cultural e educativa de agora)... Admiro cada um destes e de outros autores seja pelo trabalho, seja pelas pessoas maravilhosas que são e irei aguardar ansiosamente por novas histórias. Eu realmente acompanho com gosto a evolução do trabalho de cada um e tenho tido surpresas agradáveis a cada novo trabalho que eles apresentam. Ser amigo de boa parte deles me torna suspeito mas sou do tipo que quando vejo algo que não agrada falo na cara todos os pontos da HQ a serem trabalhados de forma bem pontual e crítica.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

Milena Azevedo, Marcos Guerra e Jamal Singh.

Milena Azevedo já tinha um trabalho bem legal, mas foi o Visualizando Citações que ela me surpreendeu por vários pontos. Acredito que o primeiro deles foi ela ter publicado inicialmente de maneira online no formato webcomic. Já tinha lido várias hqs neste formato mas a organização editorial foi a mais clean que já vi. Outro ponto importante foi a experimentação mesclando quadrinhos e literatura nas histórias contadas (ótimas histórias por sinal) cada uma com um artista com o traço certo para ela.  Por último gostaria de destacar que o Visualizando Citações as consequencias que surgiram com a publicação online que foi indicada ao HQ Mix duas vezes seja como webcomic ou publicação impressa, a campanha feita através do catarse, os eventos em que ela foi sem falar que serviu como base para o projeto Fronteira Livre que já ganhou sua publicação impressa através do financiamento colaborativo. Falando nisso, preciso ler o Fronteira Livre!
Marcos Guerra com a Graphic O Evangelho Segundo o Sangue fez algo único no estado misturando história do RN com fantasia e terror. Claro que já teve uma Graphic da Maturi dos Guerreiros das Dunas (que até hoje não foi concluída) e aliás o pessoal da Maturi já trabalha há um bom tempo com isso. Quando falo de único falo na forma que a história foi contada sem se tornar didática demais quase como um livro ilustrado e trabalhando de maneira excelente a linguagem dos quadrinhos unindo roteiro e arte perfeitamente. O trabalho também teve repercussão no meio acadêmico com o TCC de Leandro que obteve aprovação com nota máxima com um grande público presente. Eu considero este o ápice do Marcos Guerra (e do Leandro também) e fico no aguardo de algo novo que me surpreenda tão agradávelmente quanto este trabalho.
Jamal Singh teve três trabalhos publicados. O primeiro trabalho Cajun (Faroeste Espagueti puro) foi premiado em recife com o PADA, o segundo Kaur fez parte do álbum Máquina Zero indicado ao HQ Mix e o terceiro apresentou a primeira parte de uma boa história do Cajun que estou no aguardo de sua conclusão . Todos três em parceria  com o Wendell Cavalcanti e todos os três apresentando boas histórias. Dos três trabalhos realizados eu vejo o Kaur como o mais pessoal do Jamal pois faz uma abordagem contextualizada históricamente lançando um olhar claro, aventureiro, fantasioso e não estereótipado sobre os Siques. O Jamal é Sique e é interessante ele mostrar um novo olhar, o seu olhar pessoal, sobre o siquismo em suas histórias. E o melhor: sem ser didático e contando com uma boa narrativa de quadrinhos.

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?

Luz nas Trevas é a grande história em Quadrinhos que estou trabalhando. É uma grande história sombria e iluminada ao mesmo tempo. A história é composta por uma série de histórias fechadas aparentemente sem conexão entre seus personagens, mas no decorrer da série irão ocorrer ligações entre as histórias e personagens. A história não é focada em um personagem fixo, mas alguns personagens podem aparecer em mais de uma história, não necessariamente a história seguinte. Sou livre pra fazer o que quiser sem ficar preso a personagens ou gênero. É o trabalho que uma vez iniciado só pretendo parar de trabalhar nele quando estiver morto ou não tiver mais histórias para contar (e com 100 histórias escritas até o momento e muitas idéias aguardando acho difícil de acontecer).
Vou continuar dando andamento a algumas hqs, como o Vida de Nerda e a tudo que estou fazendo atualmente. Quanto ao gênero tudo vai depender de que histórias tenho pra contar e ainda tenho muitas histórias pela frente (e nem todas serão contadas com a linguagem dos quadrinhos). Além disso vocês podem me acompanhar no meu blog pessoal e nele, além de divulgar meus trabalhos artísticos, eu falo sobre o que eu achar interessante falar e às vezes eu escrevo nada de interessante também (ou então não escrevo nada). Ele tem um foco muito grande em arte (quadrinhos, teatro, cinema, fotografia, música, dança...), coisas nerds, minha vida e outras coisitas mais.  www.cavaleirodastrevasedaluz.blogspot.com.br

Namastê!

sexta-feira, 6 de março de 2015

ENTREVISTAS COM ROTEIRISTAS POTIGUARES LULA BORGES






EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.

                                                                  MINI BIOGRÁFIA:

Lula Borges é desenhista, artefinalista, colorista e editor de quadrinhos, desenvolve roteiros desde 11 (1980) anos e atualmente se dedica a educação junto a arte e tecnologia como professor de artes no estado do RN, além de ser músico, cineasta, animador e empresário do setor de animação em Natal/RN, o qual trabalha desde 2002. A partir de 2010 trabalha com produção de filmes de ficção e documentários, além de desenvolver serviços específicos de modelagem 3D e efeitos especiais para produções audiovisual.


ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

Eu que agradeço o espaço cedido, especialmente pelo fato de que normalmente se entrevista desenhistas, deixando os criadores das histórias sempre de fora,  tirando um ou outro grande nome, normalmente mundial. Comecei a criar roteiros a partir dos meus 11 anos, acredito, faz muito tempo, a idade do herói. Nunca fui um aluno muito extrovertido, tinha meus amigos, mas poucos e sempre andava sozinho. Lia muita revista em quadrinho da editora Abril, quase não conhecia as da Ebal, esta com muitas histórias de herois, como super-homem, Batman, Flash, pela Abril, normalmente eram revistas em quadrinhos de humor, como Pato Donald, Luluzinha, Scoobydoo, entre outras, mas tinha uma que me chamava atenção e passei a colecionar elas por alguns números. A Astos HB, uma coletânea da Hanaa Barbera com vários personagens, de todo tipo do mais zoomórfico, como Dom Pixote ao mais anatomicamente proporcional como o Homem pássaro ou Flash Gordon, eu adorava aquela revista. Ao ir a aula de educação física, no mês de setembro de 1982 criei meu primeiro personagem, o Superveloz, dai pra cá não parei mais.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

O primeiro exemplo está ai, na primeira pergunta, no entanto, devo salientar que o primeiro incentivador foi o desenho Super Amigos, que passava na TV Globo pela manha, era o Globo Cor Especial e esse desenho me fez criar histórias surpreendentes e ingênuas também, no entanto, nunca parei de fazer esse tipo de história. Pois está no cerne dos leitores. Quando eu me proponho a ler ou ver alguma história eu crio um acordo com o que vou ler ou ver. O acordo é que a mesma seja verossímil para mim, independente de ser uma história espacial, religiosa, pré-histórica ou de ratos falantes. Eu sempre soube dessa peculiaridade em fazer histórias e o faço até hoje. Uma outra influência foram os filmes de Super Cine, das noites de sábado da também Globo. Falo assim da Globo pois, para nós seres midiáticos dos anos 1980, ou você assistia a Globo ou a TV Universitária, não existindo outra TV além das duas aqui em Natal. Bem, os filmes de Super Cine eram normalmente filmes Noar, o qual não existiam fins, não aqueles fins holliwoodianos ou mesmo fins que não eram comuns em filmes de outras sessões como tela quente ou sessão da tarde normalmente. Aos 14, 15 anos entrei numa escola de artes aqui em Natal, o Atelier Central que tinha um grupo de quadrinhos o GRUPEHQ e lá eu tive todo o aprendizado a fazer as histórias com os benditos começo, meio e fim que até aquela data eu sofria muito a fazer e também os grandes artistas que para mim foi uma porrada na cara, como João Antonio, Marcio José (hoje Marcio Coelho) e Gilvan Lira, mas principalmente o Carlos Alberto (galego), ele tinha um pensamento próximo ao meu enquanto os outros ou eram regionais demais ou eram ficcionistas demais, o qual não me ganhavam por certa arrogância e desmerecimento do meu trabalho, o qual queria trabalhar com super herois, enquanto todos, especialmente pela passagem política daquela época, ou queriam fazer algo muito ligado a nossa cultura, ou queriam fazer histórias espaciais, mas certamente contra os heróis típicos dos estados unidos. Nessa época também conheci a revista Heavy Metal e compreendi o que muitos deles queriam: uma Heavy Metal Tupininquim, mas na minha cabeça eu pensava: se eu sou um vendido ao império por ler e querer fazer super herois, eles são vendidos por lerem e quererem fazer essa Heavy Metal também e nunca parei de fazer meus personagens. Essas duas influências foram meu guia por um bom tempo e hoje ainda busco um meio termo entre as duas: histórias ingênuas que busquem algo diferente ao público.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Interessante essa pergunta, pois para quadrinhos quero continuar criando histórias de heróis, sempre, mesmo com o pouco tempo que tenho hoje, mas quando fala-se de histórias para filmes ou desenhos animados eu penso em algo totalmente diferente, falar do cotidiano, falar de pessoas, falar de magia, mas algo real, ligado ao dia a dia dos moradores de nossas ruas, dos pais e filhos que vão a escola; histórias para se emocionar, ter raiva, rir, sentir o coração pequeno em certas situações. Se algum dia surgir alguma ideia de filme de heróis, posso fazer em filmes, mas minha intenção disso é apenas para quadrinhos.

4 – Muito bem,  você poderia falar um pouco sobre a forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito fáceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?

Eu normalmente começo uma história pelo fim ou com algum fim, a ultima que criei foi sobre o descarte de lixo em uma animação de 12 minutos. Sabendo o tema, acho os personagens mais direcionados para o que vou escrever e começo. Nas minhas histórias é comum não haver vilões, ou ao menos inimigos muito fortes, necessitando do protagonista usar a inteligência para resolver ou a didática para tal. Isso pode parecer enfadonho lendo por aqui, mas vendo a história você vai dormir kkkkkkkkk . Só existiu um episódio o qual fui bastante criticado: o meu suicídio virtual, onde em protesto contra a fundação José Algusto e a Capitania das Artes eu fiz o papel de suicida e atirei na minha cabeça, não foi uma história muito bem elaborada, logo por que eu próprio era o ator também, mas por não avisar ninguém (nem podia), ao verem o vídeo, todos que eu conhecia no Brasil, se comoveram, outros se indignaram comigo, outros com o sistema, enfim, foi uma performance que acabou influenciando as opiniões do povo todo, no outro dia informei que era um ato de protesto de minha parte contra o sistema cultural do Rio Grande do Norte e acabei por criar inimigos que até hoje não falam comigo e amigos que nunca me deixaram na mão. O vídeo está no youtube https://www.youtube.com/watch?v=uYVTx8Z1FEU e pode ser assistido a qualquer hora. O ápice é depois dos 9 minutos quando finalmente puxo o gatilho e “morro” . Existem outras histórias a contar, mas essa foi a mais forte. Fora isso minhas histórias são sempre, como falei acima, ingênuas e fáceis de “beber”

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

A estética é um desenvolvimento que só o tempo vai definindo. A cada história criada, um pedaço do artista fica na mesma e experimentar é a máxima em toda história. Acredito que venho fazendo um trabalho contínuo, desenvolvendo histórias que acabam por ser um pouco de mim e ao mesmo tempo falar um pouco do outro. Quero ainda fazer muitas histórias, assim o mundo saberá quem sou ao mesmo tempo que falo do próprio mundo.

 6 – Essa pergunta é capciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Comercial, com certeza, mas todas essas especificações acabam por ser uma só. Você é comercial seja onde for. O alternativo (underground) afirmado na pergunta tem seu nicho, com o segmento quem compre, então é comercial de qualquer forma. No entanto o que respondi é que quero fazer histórias para a massa, consequentemente, conforme os românticos do século dezenove, tenho que ganhar meu público a cada história, enquanto vou tentando, acabo por ter que fazer tudo as minhas custas, sendo um independente, no final das contas.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há décadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

Até algum tempo atrás eu não via muito futuro no quadrinho regional ou potiguar histórias muito parecidas, desenhistas preguiçosos, falta de estrutura de vendas, que é o mais importante, no entanto com a entrada das feiras de quadrinhos, de cosplay, lojas específicas, acredito, hoje que tenhamos futuro, ao menos por algum tempo. Devemos investir em roteiristas cada vez mais pois é a partir deles que surgem as histórias, as lendas, os mitos e, claro , o comércio, as vendas, o lucro. Acredito que possamos ainda viver tranquilamente por algum tempo com essa expectativa, inclusive com artistas fazendo trabalho para outros estados e países. Isso dá um gás a mais na produção e consequentemente consumo.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?

Certamente a Maturi foi a minha primeira referencia quanto a quadrinhos no RN, a revista igapó, Tabefe, Gibizine, entre tantas outras que me somem da memoria, mas a maior influencia mesmo foi a Epopéia potiguar, criada por Galego e Luiz Elson, com histórias de super herois e sátiras aos mesmos. De minha parte, no final dos anos 90 finalmente criei minha própria publicação junto a Miguel Everaldo, a Bio 47, nos moldes da Epopéia, mas surgiram  outras publicações criadas por nós como The Negão, de Eduardo Kowalewski e também Portal do Infinito, que teve apenas uma edição e era voltada ao terror, suspense, mas não houve novas histórias para dar continuidade. Além da premiada Brado Retumbante, certamente uma referencia para publicadores futuros. Falei dessas publicações, pois possivelmente poucos conhecem, mas que no futuro, de alguma forma possa fazer parte de referencias de novos quadrinistas.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

Emanuel Amaral (guerreiro das dunas), Francinildo Sena (criador do Crânio e, acredito, o maior roteirista do RN, tanto pela quantidade quanto qualidade dos roteiros) e o imortal Edmar Viana (pivete). Existem outros que gostaria de expor, mas a quantidade pedida, faz uma peneira aparecer no nosso pensamento.

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?

Além de quadrinhos, eu sempre trabalhei com animação, desde 2002 e filmagens de ficção e documentários, a partir de 2010. Acredito que esse é o caminho natural dos roteiristas de quadrinhos. No meu caso já tenho vários curtas metragens e estou desenvolvendo alguns roteiros de longas metragens tanto em animação quanto em live action. Dois deles já estão desenvolvidos, necessitando apenas ajustes pontuais, um sobre parte da minha vida e outro uma aventura histórica, fora isso tenho vários roteiros de filmes de longa de ficção científica que gostaria de desenvolver, mas com mais calma, falando necessariamente do início de destino da raça humana. Não trabalho muito com ficção científica, mas temos nossas ideias sempre não é isso?

Agradeço novamente o espaço dado para que eu pudesse deixar algum registro para a posteridade.
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