O MÁGICO

Confira essa nova animação do diretor de Bicicletas de Belleville.

BALADA DO AMOR E ÓDIO

Confira nossa crítica sobre o mais novo filme do cineasta espanhol Álex de la Iglesia.

FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS

O projeto de extensão “cores” nos convida inicialmente a um espetáculo sobre a vida da artista plástica, mexicana, Frida Kahlo.

ARTEROTISMO - UM CONVITE

Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...

"A CULPA É DA SOCIEDADE"

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A LITERATURA PULP DE H. P. LOVECRAFT E SEUS MUNDOS POSSÍVEIS

       


      
No inicio do século 20 surgirá um gênero de literatura para o grande publico que, a princípio, por ser impressa em papel de péssima qualidade e por abordar temas pouco honroso e serio, excluiu naquele momento, qualquer tentativa de ser vista como uma literatura significativa. Os temas abordados também não ajudavam, já que primavam pela fantasia e imaginação, abordando temas muito dispares da realidade dos homens comuns. Parece que não víamos nenhum nexo entre o que escrevia e o que era a realidade, talvez pela tendência que a literatura Modernista  hegemonica naquele momento fazia com que o público leitor não considerasse aquele tipo de leitura significativa.

        Muitos autores geniais de revistas Pulp do começo do século 20 surgiram nesse meio de divulgação e de entretenimento. Mas era um período difícil e bastante duro para esse tipo de escritor, pois pagava-se pouco e era tida como uma sub arte no meio literário. Alguns autore
s de grande envergadura surgiram nesse período, como por exemplo, Henry Rider Haggard, Talbot Mundy e Edgar Rice Burroughs, Isacc Asimov e H.P. Lovecraft. Em relação a este último, durante muito tempo Lovecraft ficou esquecido pelo público . Isso, talvez, tenha se devido aos filmes, também, Pulp, que tomaram como base sua obra como foco, o que não ajudou muito, devido o baixo orçamento e desses serem considerados de segundo escalão. Nesse sentido, a filmografia de baixo orçamento feito por autores obscuros, antes de ajudar a dar credibilidade a obra lovecrafteana, faziam o contrário, aumentavam a sensação de infantilidade e descrédito da obra. 

        A obra lovecrafteana começou a ganhar aos poucos notoriedade, com o grande público, pela divulgação através de três mídias que tiveram sua origem também nas revistas Pulp. Os escritos de Lovecraft assim,  começaram a ser recebidos como obra relevante e importantes por outras mídias como as HQs, RPG e Musica que dentro de seus leitores e ouvintes começaram a chamar atenção para a escrita do seu autor e de sua obra. Lovecraft passou a ser, finalmente, reconhecido como um dos maiores escritores do século vinte.

Contudo, se verificarmos a literatura especializada sobre o autor, notaremos a total ausência de livros de especialistas e biografia sobre sua obra e sua vida. No Brasil, a literatura nesse sentido é praticamente inexistente salvo uma ou outra monográfica e tese feita por estudantes de literatura, o que existe em questão de livro sobre o autor e sua obra é insuficiente para se entender o significado e o impacto da obra de Lovecraft na literatura de terror e de ficção científica. Sua obra tornou-se fonte de inspiração para muitos e o que encontramos hoje é um crescente interesse pela literatura lovecrafteana.

  Penso que essa ausência de uma pesquisa mais profunda sobre a literatura e vida de Lovecraft faz-se urgente, já que não se justifica esperar a produção de um filme ou coisa parecida para poder termos alguma coisa ou comentário sobre sua literatura e sobre o autor. Em minhas poucas pesquisas, observei que a falta dessa literatura a respeito de Lovecraft talvez seja ainda, ecos da falta da credibilidade que ainda esta vinculada ao autor por sua origem nas revistas Pulp, o que acho uma tremenda besteira haja vista que a clareza na escrita e a incrível forma narrativa utilizada pelo autor o põe certamente como um grande expoente da literatura universal. Espero que em um futuro próximo, seja saneada essa falta, já que um autor como Lovecraft e sua relevância, deve e possui relevância ímpar na literatura e, por isso, se faz necessário uma melhor abordagem do assunto. Nesse sentido, talvez, se não haver nada nesse tempo que seja seriamente produzido nesse sentido, que aborde esse tema, farei um pequeno ensaio que fale brevemente da obra e da vida do autor, se tiver fôlego e saúde uma analise por menorizada de sua literatura. Mas como disse, se não houver nada feito até então.



Agradecido a quem leu essa pequena missiva.

R.M.J



domingo, 14 de julho de 2013

A TRISTE LUTA DOS VENCIDOS EM UMA COMPETIÇÃO QUE SÓ OS DE "FORA" GANHAM OS LOUROS: Um relato do submundo dos quadrinhos alternativos.

        


Já faz mais de duas décadas que venho acompanhando o mercado interno de quadrinhos em Natal e no Brasil. Principalmente, aqueles ditos alternativos. Venho com o decorrer do tempo constatando uma triste realidade, a saber, autores de quadrinhos alternativo nunca tem ou terão valor para aqueles que lê quadrinhos seja em Natal ou no Brasil, haja vista a própria valorização que damos pelos chamados desenhistas e roteiristas estrangeiros em detrimento daqueles que a duras penas produzem hqs muito boas em território nacional. Não adianta discutirmos aqui a falta de distribuição, de uma forma que represente adequadamente o nosso produto, da falta de incentivo financeiro e editorial, do amadorismo de muitos autores e etc., isso todos nós sabemos! Contudo, a dificuldade maior no meu modo de ver esta na falta de reconhecimento até mesmo daqueles que trabalham e convivem conosco. Basta ver isso nos eventos e na quantidade de pessoas que comparecem as palestras desses autores que é mínima para não dizer irrisória, uma pena, realmente. Além disso, sabemos que não há como sobreviver somente de quadrinho em Natal assim como no Brasil e isso é um fato. O que dizer, então, quando se compete com as super estrelas que residem no país, mas trabalham para fora. Principalmente, com os super heróis americanos e agora o manga! Mesmo possuindo ótimos trabalhos, em que o material desses autores alternativos não deixa nada a desejar para qualquer autor que trabalhe para fora. Pois bem, entre nós do meio alternativo, há o adágio de que se queres ser reconhecido e ter o tratamento igual aos autores que trabalham para fora tens de produzir para fora também, pois só assim terás salas cheias e reconhecimento, do contrário, continuaríamos a nos rastejar pelas sobras do anonimato e continuar vendendo nas feiras e para parentes e colegas nossos desqualificados quadrinhos underground.

Certa vez, em um evento aqui em Natal, estava lá eu com outros três na mesma mesa que "grandes" ilustradores de comics de fora estavam e que nos antecederam, quero reiterar que não tenho nada contra ninguém e nem contra eles, aliás admiro muito deles, mas o que me chamou a atenção foi simplesmente por que os mesmos por trabalham para fora possuem tratamento diferenciado, além de ter gente em pé assistindo sua palestra enquanto que, quem trabalha com HQs alternativas no país são completamente ignorados pelo leitores e por isso de termos minguadas 08 pessoas . Foi impossível de fazer uma comparação da presença massiva que nossos antecessores tinham enquanto no nosso debate tinham de 40 lugares apenas 08 cadeiras ocupadas. Não tínhamos grandes autores trabalhando para grandes, médias, pequenas ou seja o que for  Editoras de fora, pois essas são mais importante do que os autores locais e seus simplórios trabalhos. Nesse sentido seremos eternamente colonizados por nossa descriminação patente por aquilo que é produzido internamente no pais. Sei que existem exceções como a "Turma da Mônica" e etc, mas como se diz são exceções e não a considero quadrinho alternativo, por que ela já possui parâmetros parecidos com o que encontramos no mercado externo como distribuição, linha definida de títulos e etc. Ainda mais por que vende até mesmo mais do que os quadrinhos estrangeiros, nesse ponto me sinto orgulhoso de ter essa fonte de resistência, mas o que sinto falta é alternativas de leituras além dessa!

        Fico muito surpreendido quando vejo o anuncio de um evento de quadrinho e escuto e observo nomes conhecido do mercado exterior e o mais completo silêncio sobre os quadrinhos alternativos e seus autores nacionais, apesar, deles serem mencionados na programação. Fico pensando que de fato não vale a pena pô-los em destaque mesmo que produzam historias que mencionem a cidade do evento ou a cultura do seu país, pois eles não são famosos e seu quadrinho deve ser considerado tanto materialmente como narrativamente inferior graficamente.  Constato, tristemente,  que nossa leitura sempre foi subserviente ao olhar estrangeiro do outro em vez de voltarmos a olhar para nossos próprios relatos e crônicas.


      Uma outra coisa que observo nos eventos que participei é que não podemos por dois autores de HQs que trabalhem em mercados diferentes, a saber, um ilustrador que trabalha para fora e um ilustrador que trabalha internamente para dá autográfos, por que, com certeza, este último esta fadado a ficar pacientemente esperando algum incauto que não saiba que ali, do outro lado da feira, esta fulano ou beltrano que trabalha para a editora fulano de tal, do exterior. Vi algumas vezes isso acontecer!  Ainda temos as entrevistas que só procuram os quadrinistas ditos "alternativos" quando não tem ninguém com nome mais conhecido do que ele ou que nem precise ser mais conhecido, mas que baste trabalhar para uma editora qualquer de fora, que nem precisa ser das médias para logo ganhar relevância sobre um autor local.


Certa vez quando estava na Fliq do ano de 2012 escutei de um autor da Bahia e outro da Paraíba, no Evento do TOP TOP na própria Paraíba, que era muito difícil divulgar  e produzir hq no Brasil, e era um desestimulo o fazê-lo, devido a pouca divulgação e o pouco valor que se dá ao produto nacional, a nossa cultura. Imagina quando você vai a um debate em um evento de HQ e constata na realidade o valor que damos aos autores nacionais de hqs , mostrando isso através da presença do poucos  gatos pingados que vem a esse debate. Então, o que podemos fazer para  melhorar isso, e ao mesmo tempo conseguir algum tipo espaço entre os leitores brasileiros, na mídia e o respeito dos artistas que trabalham para fora. 

      Talvez a saída que encontro é começar a produzir pequenos eventos que tenham a temática apenas de quadrinhos "alternativo" ou "underground", pois poderíamos mostrar também que há alternativas possíveis de leitura que não somente o quadrinho convencional que encontramos no mercado nacional. Penso, que devemos incentivar a leitura e a produção tanto local quanto nacional para produzir hqs que tenham temas ou uma visão sobre assuntos tipicamente nacionais. Entendo, que esse discurso ainda esta no âmbito da utopia mas já é hora de encararmos essa possibilidade de frente e deixarmos de apenas achar o olhar estrangeiro mais atrativo e procurarmos, mesmo sabendo que é mais difícil e que muitas vezes  em vez de ganharmos dinheiro pagamos pela produção de nossa própria hq isso não desmerece em nada nosso trabalho, pelo contrário, nos orgulha fazê-lo e gostaria muito que esse sentimento fosse compartilhado por todos os brasileiros. Também sabemos que muitos de nós temos não trabalhamos diretamente de HQs, ou melhor, vivemos de quadrinhos, mas enquanto os artistas estrangeiros estão submissos a temáticas restritas a cultura daquele país. Imagina, temos muitos ilustradores que desenham os prédios e cenários dos EUA do que mesmo não fez em sua vida uma linha na mesma proporção de lugares e coisas de seu pais. Nisso o autor alternativo tem muito a trabalhar e quem sabe, em um futuro próximo, possa realmente encontrar um mercado mais aberto e favorável a seu olhar. Enquanto isso continuamos a trabalhar ocultamente e incognitamente nos porões dos quadrinhos, enquanto essa consciência não seja tomada.



 Saudações mil desse autor




R.M.J

quinta-feira, 11 de julho de 2013

LICANTROPIA: O CONFLITO ENTRE A RAZÃO E A EMOÇÃO NA CONDENÁVEL VIDA DE GRISWOLD

O lançamento de uma Historia em Quadrinhos é sempre um evento maravilhoso, em que a obra criada e os seus criadores compartilham em cumplicidade com amigos e apreciadores da nona arte de seu nascimento. Parece ser um filho que damos a luz e nos vem reunir os amigos e admiradores a seu redor. Assim o foi com a HQ " A Condenável Vida de Griswold" da qual fiz o prefácio. Nesse momento, penso que novamente a Kótica acertou a mão nesse novo empreendimento. E como não acertaria, com o texto poético e visceral do grande escritor Marcos Guerra, além da arte do Paulo Silva que nos faz sentir um frio na espinha, assim como nos evoca o medo, resgatado das entranhas de nosso subconsciente que achávamos que não havia como algo provocar esse sentimento.

De fato, a Historia parte de um pressuposto brilhante e instigante, a saber, de que o dito Griswold  Übel realmente existiu e foi julgado, admitindo no julgamento sofrer de licantropia e de ter sido realmente o assassino de jovens e crianças do seu vilarejo. A época desse julgamento se situa lá no século XVI e foi  talvez o único documento registrado que menciona alguém  sofrer desse mau. Se considerarmos ao longo da historia humana que a lenda do lobisomem é tão persistente a nossa memória quanto a do vampirismo, logo notaremos que esta se torna fonte de inspiração para tantas mídias e meios de comunicação como, por exemplo, o folclore, a literatura, cinema, rádio, poesia e demais artes.

Se considerarmos o cinema e a literatura, sem levar em consideração as diversas teses e livros de folclore e antropologia que fazem uma reflexão sobre a licantropia, que não são ligados ao entretenimento e ficção da lenda, o que constatamos é sua perversão e por que não dizer degeneração para a violência gratuita e sem sentido. O que vale é o mostrar a violência pela mera violência, contribuindo assim para uma estética da violência sem o vinculo proeminente da reflexão sobre sua natureza selvagem que põe o homem lado a lado com o seu lado negro e cruel, por que não dizer irracional? Nesse sentido, perde-se o foco da lenda sobre o lobisomem e nada de novo podemos encontrar sobre a lenda. O que nos leva a perder a razão em um momento de furia. O que nós faz adorar um belo jantar que em aparência é horrível, mas o olfato nos leva a imaginar que é delicioso.  Por que minto e sinto vontade de arrasar com alguém que não me fez nenhum mau aparentemente? As dúvidas são muitas, mas uma rápida analise da lenda em livros sérios nos leva a observar que o homem não esta assim tão distante da fera quanto os séculos de estudo nos fez e faz imaginar.

Nesse sentido, "A Condenável Vida de Griswold" é uma obra que deve ser considerada da mais extrema
relevância e mais ainda, digna de ser lida, devido o texto seguir uma graciosa métrica entre poesia e relato imagético que são bem equacionado no percurso da historia. Além disso, devemos destacar que apesar de ser uma ficção, possui uma pesquisa bastante aprofundada sobre o caso, mas que teve que ser criada vários subtramas com vista a dá um contexto ao julgamento já que o relato do dito documento sobre o caso esta restrito a penas aos  recônditos de seu julgamento. Esse é o desafio do grande escritor Marcos Guerra, criar uma atmosfera compreensível entre o julgamento que é o final do processo e as ações do personagem que o levaram a cometer o crime. Também existe dentro da historia da "Condenável" uma disputa não implícita ou será que não entre o catolicismo romano e os protestantes, algo já existente no império germânico que o dividia imensamente tanto sobre a égide da religião quanto sobre o âmbito da política. O texto de Guerra, na CONDENÁVEL,  igualmente me faz pensar que o personagem possui acessos a delírios esquizofrênicos que ora o faz escutar vozes de um lado vindas de um cordeiro e de outra vinda de uma voz onipresente e obsessiva. Realmente, o texto da "Condenável Vida de Griswold" vai ao longo das páginas revelando uma trama nada convencional que destoa da maioria das historias de comics e até mesmo de literatura convencional que podemos imaginar. Nesse ponto, demos parabéns ao ilustre escritor.

Outro ponto positivo é a arte fantástica em muitos momentos de Paulo Sergio que dá movimento e credito a narrativa gráfica da historia e compõe equilibradamente com o texto do Marcos Guerra uma magnifica narrativa. Seus tons de cinza assim como a bruma que permeia toda a historia parece sempre levar o leitor a tentar encontrar a narrativa, alguns leitores podem até ter dificuldade na leitura e na compreensão gráfica da historia, principalmente creio por que a impressão não ajudou muito, mas isso antes de atrapalhar, funciona maravilhosamente bem na narrativa por que faz o leitor prestar redobrada atenção na narração e desperta seu interessa na tentativa de descobrir o que esta se passando entre as brumas. Isso o faz também viajar dentro do subconsciente de Griswold além de ver a partir de sua perspectiva a linha de acontecimento que se desenrola na historia. Desse modo aquilo que poderia depor contra a narração se mostra, ao contrário, um estimulo a leitura tanto do texto como da narração gráfica. Por conseguinte, a arte de Paulo Sergio contribui e muito para a narração da Condenável e sua composição narrativa mostra que é possível contar boas historias sem cair na armadilha dos clichês e etc. Nesse sentido, creio que Marcos Guerra e Paulo Sergio conseguiram contar uma bela historia que mistura o tom sombrio e soturno em uma ode a inteligência. Parabéns a seus idealizadores e a toda a equipe da Kótica.



Postado por Renato Medeiros