O MÁGICO

Confira essa nova animação do diretor de Bicicletas de Belleville.

BALADA DO AMOR E ÓDIO

Confira nossa crítica sobre o mais novo filme do cineasta espanhol Álex de la Iglesia.

FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS

O projeto de extensão “cores” nos convida inicialmente a um espetáculo sobre a vida da artista plástica, mexicana, Frida Kahlo.

ARTEROTISMO - UM CONVITE

Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...

"A CULPA É DA SOCIEDADE"

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...

sábado, 25 de janeiro de 2014

Hibiscus



Que saudades profundas do vermelho vivo das flores no quintal da casa de vovô.
Onde brincava... usando calangos como bonecas e retalhos apanhados no quarto de costuras de vovó para vesti-los decentemente. Que saudade dos "alguens" que eu não me tornei e de tantos outros que ensaiei tanto "ser" nas brincadeiras, para errar-na-hora-certa. Que saudade dos meus irmãos, dos meus amigos, meus primos, dos meus pais, dos meus avós, e principalmente da pilha de mamonas que vovô deixava secar ao sol, no terreno da casa vizinha. E serviam de munição nas batalhas mais fantásticas. Sinto uma saudade estranha de quando as pessoas estavam do meu lado não porque precisavam ou porque precisava delas, mas porque estar lá era o lugar delas. Simples assim. Sinto saudades do meu pai me dirigindo nas fotografias e da decepção que era ver a meia dúzia de retratos revelados do filme de 24 poses. Se tenho saudades pra oferecer... foi porque as cultivei debaixo daquele pé-de-hibiscos, inventando histórias com calangos. Tai, só não sinto saudades de inventar histórias, essa saudade eu não tenho. Talvez porque tal "mania" nunca me abandonou. Nunca. Hoje, todas as noites antes de dormir, tomo uma caneca das flores vermelhas que vovô tinha no quintal (não as mesmas flores, o pé já não existe mais, assim como meu avô, meu pai, as viagens pro interior e a pureza nos meus olhos). Imagino como seria minha vida se soubesse naquela época que aquelas flores poderiam servir pra fazer chá (na garrafa de chá sobre a mesa sempre tinha cidreira). Quando criança tinha a certeza que flores só serviam pra enfeitar, e ponto! Igrejas que eram assustadoras por causa dos bonecos de olhos pesarosos e caixões para os mortos que passavam rumo ao cemitério em procissão (saudades de ter certeza). Ah, as flores serviam também pra enfeitar os cabelos das moças bronzeadas nos comerciais da kolynos. Mesmo achando muito estranho as flores nunca caírem, eu admirava.
E sinto saudades. Não sei explicar bem, mas aceito que isso deve ser vida de gente grande: Um monte de flores secas num saquinho pendurado por um barbante, boiando numa caneca grande de água fervente.

sábado, 11 de janeiro de 2014

O ATÉ LOGO, DO PAI DOS QUADRINHOS E DA ARTE....SENTIREMOS SAUDADES DE TI, SENHOR MOACY CIRNE.


Hoje me sinto um pouco mais órfão do que o normal; perdemos o mestre e sábio  Moacy Cirne, um dos maiores pesquisadores e simbolo da luta pelo reconhecimento das HISTORIAS EM QUADRINHOS como arte no Brasil. Sua perda, me trouxe a reflexão sobre a existência e do por que nos sentirmos tão desanparados perante o adeus, sem tempo de volta daqueles a quem amamos e admiramos. Nos últimos tempos tive tantas perdas pessoais que venho me sentindo tragicamente só, apesar de minha família e amigos sempre estarem próximos de mim e de me alegrarem muito; pois eu os amo. Contudo, cada perda sempre evoca uma reflexão particular minha do fantasma da ausência e de nossa limitada existência nesse mundo e de nosso sempre presente  sentimento de saudade. Essa reflexão me levou a crer que o ser humano não passa de um diminuto hiato de existência em um espaço tão vasto de possibilidades que sua brevidade nada deveria significar para as leis físicas. Entretanto, sabemos que existimos, ou melhor, intuímos isso. E desse modo passo, a cada perda, a me perguntar por que continuamos a vivenciar incessantemente esse ciclo, e nos pegamos a questionar qual o motivo dessa lógica absurda que é a vida. 

Os existencialistas observam que a existência precede a essência, isto é, que para pormos nossa marca do
mundo como indivíduos necessariamente devemos existir para, em seguida, nos constituirmos como pessoas e seres existenciais. Penso que isso explicaria alguma coisa sobre o por que somos obrigados a existir e nos constituirmos como seres, acredito que isso é uma possível resposta como tantas outras que procuram entender essa grande quimera. Mas não é ela toda. Por mais que se raciocine sobre o assunto continuamos apenas amontoando as perguntas enquanto as respostas continuam a ser incompletas. A morte ou o morrer nos trás aquele medo de que, por um momento parece absurdo continuar, e pensamos que não vale mais a pena seguir adiante. Estamos sós nesse vácuo deixado, e a primeira vista não há nenhuma forma de preenche-lo, por que essa lacuna é impreenchível. Se seguirmos esse pensamento,como deveríamos reagir diante de afirmativas que dizem de ninguém ser insubstituível. Experimente dizer isso para um filho que perdeu os pais, ou para um irmão que perdeu os seus, ou mais ainda, para alguém que você admira e respeita e saber que ela era, e é tão única que por mais que procurasse por todo o universo nunca acharia alguém igual, mas talvez, apenas, parecido a ela.

Assim, penso que a morte, nesses momentos solitários em que sinto sua presença com mais enfase, não é algo negativo e nem positivo...simplesmente, é a forma natural das coisas acontecerem. De fato, observando a natureza constatei que as arvores morrem e que os pássaros, tigres, elefantes, rios e montanhas também possuem seu fim. A morte sempre é interpretada como um fim em si mesma. Onde as pessoas que não acreditam em deidades ou um deus buscam nessa afirmação a sua explicação para esse suposto fim. Já os religiosos a ligam não a um fim, mas a um novo começo em outra vida que, por sua vez, esta vinculada a uma ética subjetiva que condicionara sua vida eterna ou sua danação e aniquilação. 

Entretanto, o que tenho observado, experimentando na carne, esse processo do viver é que nossa existência assemelha-se a uma vela, com uma chama tênue que balança ao sabor do vento, uma ora para lá outra para cá e que sabe que mais cedo ou mais tarde, devido ao vento ou simplesmente ter chegado ao fim a vela, se findará. O senhor Moacy Cirne certamente poderia me dizer aqui, e até me chamar a atenção, que no cinema temos um exemplo disso que estou escrevendo; e de fato temos! Em Blade Runner perto do final o Replicante Roy Batty, interpretado pelo ator Rutger Hauer, faz uma observação sobre a brevidade da vida e concluiu que a vida deve ser tida como o bem mais importante da existência ou sagrado (se é que posso utilizar essa palavra aqui) que poderíamos ter. Por que mesmo sendo caçado e o seu algoz esta a ponto de perder a sua vida, ele o salva. Não o sauvou por que era humano por fazer aquilo, mas por que era uma vida que iria se perder....como uma lagrima perdida em uma chuva, um hiato na existência, um raio passageiro aniquilado no tempo.

Me pergunto por que ele tinha feito aquilo, essa pergunta fiz quando assisti Blade Runner pela decima quarta vez...e a resposta só veio anos após, depois de ter me formado e ter me sentado para pensar sobre o assunto. Deus sabia que eu ia precisar amadurecer isso para poder encarar o futuro, e foi esse conhecimento em saber que somos uma fagulha perdida na existência que me sustentou durante os momentos de tempestade. Me lembro, hoje que isso foi assunto de um trabalho que fiz para o professor Ramos Coelho na época que ministrou a disciplina Estética filosófica e que ficou impressionado com o trabalho que fiz. Ora, aquele trabalho, me recordo, era na realidade uma grande reflexão daquele meu fatídico encontro indireto com a morte. Naquele momento havia perdido familiares e isso era uma experiência que até então eu não tinha tido. Contudo, hoje me vejo novamente passando por esse encontro indireto, através de alguém tão familiar e admirado como o senhor Moacy Cirne e novamente sou convocado a refletir sobre isso. O resultado final a que cheguei, após toda essa reflexão, como filosofo, pesquisador sobre o assunto, quadrinista e ser humano fadado a existência, É de que levando em consideração a natureza, a religião somos obrigados como seres humanos a seguir postulados parecidos com os da física clássica, a saber, ninguém morre, apenas nos transformamos em alguma outra coisa melhor na existência. E pelo menos isso, para mim,  me trás algum conforto.



Desse modo, me sinto honrado e feliz, não pela morte desse fantástico homem que amou a literatura, poesia, cinema e quadrinhos. Pois nesse sentido, me sinto triste e de luto. Contudo, minha felicidade parte do princípio de saber que o seu legado como pesquisador de cinema, poesia e, principalmente, quadrinhos, continua vivo entre nós e através de seus alunos e quadrinistas. Desse modo, em certo sentido ele vive e esta presente em cada quadrinho produzido no RN e no Brasil. Esse sentimento, também pode ser estendido para o momento em que o conheci e me provocou a sensação de que, a experiência dos anos o melhoraram sumamente de tal forma que aprendi e muito nos encontros que tive com ele. Percebi, através de mister Cirne que a experiência nos qualifica a ter uma opinião solida e feliz, além de mostrar que a vida não deve ser encarada como um fardo, mas como uma alegre canção que deve ser escutada e vivida.

 Para o senhor Moacy Cirne todas as artes, e isso incluía as historias em quadrinhos, eram arte em todo o sentido. Não havia nenhuma separação em sua cabeça dessas artes. Para ele, todas eram irmãs e cúmplices, que se interligavam, ora em um momento, ora em outra. Me tornei seu admirador, e assumimos em determinada medida que somos seus admiradores, sua partida nos deixa tristes, contudo deve ser encarada como aquele pai que em um momento ou outro deve deixar o seu filho seguir em diante enquanto fica a pajear de longe seus rebentos. Estamos, trabalhando, criando, aprendendo e errando, ficando alegres e tristes, mas sumamente, mister Cirne, estamos vivendo a vida, buscando a alegria de criar, imaginar, distender a realidade em prol da fantasia. Estamos seguindo os seus passos e em pisadas largas e firmes. Penso que de agora em diante, a maior parte das obras, na realidade todas elas de uma forma ou de outra é uma homenagem não velada ou velada mesmo, a sua pessoa. Sua presença, no mundo dos quadrinhos, estará sempre viva e a cada lançamento de quadrinhos dos autores Brasileiros e do RN a sua lembrança estará presente. Continuamos trabalhando, mestre Cirne e o senhor, do lugar onde esta, deve esta muito feliz. Até mais mestre, nós do quadrinho continuamos a caminhar e a sonhar.

Assim, no âmbito de minhas atribuições, com o coração em luto me despeço dando um breve; até logo ao mestre e sábio. Esperando quem sabe, algum dia, onde sua pessoa esteja, possamos nos encontrar e bater aquele papo alegre sobre os quadrinhos do Tico tico, cinema, poesia e quem sabe falar do Fluminense, lembrando sempre que sou flamenguista....ah! mas como ele diria, estamos em casa!



Agradecido a todos, por este mui humilde servo


Renato de Medeiros Jota

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A PROFISSÃO MAIS INGRATA E SEM UTILIDADE DO MUNDO....ROTEIRISTA.


Estou na metade do roteiro do meu texto que ilustrarei para a narrativa gráfica LOVENOMICON e, hoje, me pego refletindo como a profissão do escritor, seja ele de novela, cinema e roteirista de Quadrinhos ou comics é ingrata e inglória. Ela só deve significar alguma coisa para quem, à muito custo, nesta última mídia citada anteriormente, pavimentou a sua carreira com um trabalho árduo e consistente. Nomes como Mark Waid, Alan Moore, Chris Claremont, Neil Gaiman, Brian Azzarello e muitos outros, conseguiram fixar o seu nome no imaginário e coração dos leitores (ou melhor, visualizadores de signos que não necessariamente sejam textos, mas belas imagens de mulheres e homens apolíneos em situações que exigem do ilustrador mostrar seu now hall, repertorio mesmo como ilustrador), chamam, sem duvida nenhuma, a atenção de um leitor do que o próprio texto. Senti a diferença inacreditável de tratamento a muitos amigos criadores de texto, quando perante leitores e midia televisivas ou impressas, seja on line ou em papel mesmo. 

Meus amigos de traço podem até discordar, mas pessoal, isso é verdade, pois experimenta deixar de desenhar uma hq para dizer apenas que o texto é seu. Você começará com certeza a ficar em segundo plano na maior moral; alguns que sabem desenhar, para ter um pouco mais de atenção chegam a dizer " olha eu fiz o roteiro, mas também sei desenhar" isso é ridículo, é uma pobreza de espirito dos leitores e pessoal envolvido nessa produção que me deixam deprimido e triste.É como se o roteirista de uma comic fosse o eterno segundo membro, o co adjuvante da historia, pois ela poderia ser contada simplesmente sem seu auxilio. O pior é que tem muito desenhista que se acha um grande roteirista e nem percebe que para fazer um texto competente e profundo (isso se ele se preocupa e tem tempo para ler alguma coisa, pois se não faz um estudo antecipado do assunto e procura também desenvolver a verve de roteirista, pois a maioria, mesmo que não admita, acha que basta desenhar  qualquer porcaria mesmo, que o povo é besta e analfabeto mesmo consome...e tristemente, isso é verdade) o negocio é ver figurinhas e pronto acabou. 

Uma pena, pois narrativa gráfica não é só visual, e as pessoas esquecem que desenhar ou ilustrar foi algo
que veio juntamente com as BELAS LETRAS. Será que as pessoas não encaram fazer uma ilustração como uma forma de escrever, fazer uma grafia. Ora, ambas as profissões de roteirista e ilustrador possuem a mesma raiz que é o simbolo gráfico, a LETRA bem desenhada e estilisticamente bem construída semanticamente possui uma graça e valoriza qualquer desenho. Pode apostar que isso é uma verdade. Experimenta ler um poema do Antônio Bandeira, Ler um Livro do Machado de Assis, Proust, Sartre e etc.  Nesse sentido, observando a valorização de um bom texto, recentemente adquiri Asilo Arkhan da Panini ( ilstração do David Mackean e roteiro de Grant Morrison) e a primeira coisa que me veio foi como era difícil graficamente ler o que estava ali, e olha que as ilustrações era do David Mackean. Foi uma experiência horrível, pois me senti traído pela escolha pouco acertada do diagramador que deveria ser um leitor das figurinhas, por que deixou o texto daquela edição toda recortada por muitas escolhas errôneas que o letrista teve na ocasião e que prejudicou o entendimento do texto. Por outro lado, o tratamento da Abril, na época  em que foi lançada de longe é a melhor diagramação que poderíamos encontrar para aquele clássico.

O que procuro mostrar aqui é que isso não é um problema único e exclusivamente do Brasil, mas do mundo todo. Estamos passando por um declínio cultural sem precedentes a nível mundial, e as HQs estão no olho desse furacão, será que vamos fazer como todo mundo e seguirmos a onda como os demais ou vamos buscar outros caminhos que não esses que vem se mostrando no Horizonte. Pois aqui as pessoas realmente não leem nada, nem bula de remédio. E se leem o fazem erradamente, por que não refletem e tem a profunda e simples preguiça de pensar....isso é cultural nosso, pois a justificativa para isso é que a pessoa esta cheia de problemas do dia a dia e só reflete no final de semana, pessoas que se acham inteligentes me isso e nem se tocam do absurdo que é essa afirmativa. O pior que querem apenas se divertir descompromissadamente com a leitura ou assistindo a um filme. Ora, mas a todo o tempo nós fazemos escolhas e refletimos, não tem como não o fazê-lo, até mesmo a escolha por assistir um filme ou ler um quadrinho sem se preocupar com o conteúdo já é uma escolha. Desse modo, é uma verdadeira mentira implantada em nossa cultura dizer que temos um tempo em que não devemos pensar ou refletir sobre esse ou aquele assunto. Isso foi plantado desde sempre na sociedade...vamos reflitam sobre isso. Qual filme ou revista pseudo descompromissada e feita só para passar o tempo; se fizermos uma reflexão apurada o que não esta a todo o momento passando informações que parecem bobas, mas que não o são. O problema é que pensar doi, ler e refletir sobre o que se lê doi, assistir filmes cabeça doi. Doi, não é por que são complicados, mas por que é um tapa na cara de nossa ignorância e nos humilha por que achamos que sabemos de tudo e mostra que somos mesmo um lixo, um poço de ignorância que tem "PREGUIÇA" atroz para pensar. O que esta escondido na justificativa do divertir-se pelo divertir-se é a preguiças mesmo e não o ócio criativo que nos fazemos e nos divertimos ao mesmo tempo que aprendemos algo sem nos estressar ou emburrecer no percurso. 

 Contudo o casamento perfeito de ilustração e roteiro pode nos proporcionar experiências magnificas que nunca vamos esquecer.  Se considerarmos a enormidade de hqs fora essas excessões o que observamos é que a função do roteirista de quadrinho, aliás como todo aquele que trabalha com o lado das letras, é a função do funcionário invisível que traça e imprime magicamente uma historia, pois não é esforço algum fazer uma, ela aparece magicamente na cabeça dele e basta só imprimir no papel sua historia. Enquanto o ilustrador, é o grande moldador que faz do nada o tudo e é a grande estrela do pedaço. Infelizmente, enquanto isso não mudar, temo pela extinção desses camaradas daqui a uns anos, e então, vamos voltar a pintar as fachadas da caverna e voltar a habitá-las, se já não o fazemos isso. Imagina sair com um sol horrível desse, com o efeito estufa, raios UVA e UVC só dá para sair a noite e olha lá. Minha reflexão para por enquanto por aqui, mas quem sabe faça outras......se ainda estiver vivo até lá.



Graças a todos pela Leitura

R.M.J

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

CHEGA AO FIM EVANGELHO SEGUNDO O SANGUE COM UM BELÍSSIMO ENCADERNADO



Depois de quatro anos de historias em quadrinhos, contando a saga de Hugo Ribeiro, o roteirista Marcos Guerra e o ilustrador Leander Moura nos presenteiam com aquilo que se tornou um clássico
das HQs potiguar. O Evangelho chega ao fim na capitania do Rio Grande com o dever cumprido, a saber, mostrar que é possível e tácita a produção nacional de quadrinhos no Brasil. Desse modo, nesses quatro longos anos de produção da historia, que como Hugo Ribeiro, os autores fizeram um verdadeiro sacrifício para que fosse possível contá-la viabilizando o seu possível final, a mesma veio da melhor forma que poderia ocorrer, em um belíssimo encadernado com a historia do começo ao fim.

A mesma foi o resultado de muito trabalho e obstinação dos autores que  foi permeada de altos e baixos e de muito cuidado para poder dá aos fás do Evangelho o termino digno que teve.  Para os dois autores o fim da saga não poderia terminar melhor o seu ciclo, veio com um encadernado belíssimo.  Contudo, não é por que a historia chegou ao fim que sua repercussão se acabará em si, mas com certza repercutirá por vários e vários anos após entre as próximas gerações de leitores e produtores de arte sequencial mostrando que é possível fazer grandes sagas aqui no RN. Se, por exemplo, me dissessem a cinco anos atrás que em Natal haveria uma historia em quadrinhos que conseguiria reunir fatos históricos com imagéticos, de forma atraente acompanhado de um roteiro sagas e inteligente, possuindo uma ilustração atrativa assim como virtuosa, certamente duvidaria e até mesmo riria de quem afirmasse tal pachorra. Contudo, quatro anos depois, Marcos Guerra e Leander Moura tiveram e tem audácia mais do que suficiente para mostrar que fazer quadrinho, de qualidade e explorando o que há de melhor para ser explorado em terras potiguares é possível.

O encadernado marca bem mais do que o fim de um ciclo, ela mostra que há a possibilidade de se imaginar
historias em quadrinhos em nosso pais que contam e divulgam sua cultura, folclore e historia destoando do que o mercado possui, com os seus super heróis anabolizados e mulheres idem . Basta mostrar que uma serie tão pouco divulgada no nordeste e menos ainda no pais, como essa, conseguiu fãs de outros estados em uma simples campanha de boca a boca entre leitores da obra. Talvez por que o foco central da historia seja algo comum e corriqueiro entre as pessoas, pelo menos para nós filhos do seculo 20, que é um caso de "aparente" traição. Que no decorrer da historia e dos personagens, na medida em que suas relações vão se intensificando e começa-se a remexer na historia de cada um, descobrimos tratar-se de um conflito familiar com ares de sobrenatural, pois estamos em meio a um caso de adulterio com o próprio mal. Assim, Hugo Ribeiro descobre que não só sua esposa deitou-se com o "tinhoso" como sua própria filha e corrompida pelo próprio mal. Até mesmo o padre, que deveria representar o que há de mais santo também esta corrompido. Diante de tal constatação o que Hugo poderia fazer, se ainda ama sua esposa e filha? A solução é que deve seguir o caminho do Evangelho e é justamente nisso que consiste a historia.

Longe de ser uma historia univoca sobre fé ou religiosidade, pura e simplesmente, o Evangelho é carregada pelo terror e pelos sentimentos conflitantes, diria até que, apesar de uma historia de "terror" a mensagem que podemos encontrar na pessoa do Hugo Ribeiro, é o perdão. Em toda a saga, o personagem enfrenta mais o seu demônio interior do que, particularmente, o próprio mau judaico-cristão. O que esta em jogo é bem mais do que a alma de Helena (esposa) e de Ana (sua filha), é sua própria convicção de que o perdão é tudo que nos resta no final. 

O roteiro do Marcos Guerra é poético, assim como profundo, pois nos faz refletir sobre a própria existência de cada um de nós nesse mundo. Nos faz pensar em nossa pequenez como indivíduos na condição de se pensar como criatura vivente e que esta inserida entre tantas outras existências. Seu sacrifício não é uma homenagem a dor, mas ao percurso que devemos fazer diante dos problemas que enfrentamos intimamente e no dia a dia, afinal, quem sabe a dor que se esconde no coração de cada pessoa, somente Deus, ou nós mesmos. Não há aqui uma glorificação ao sacrifício que envolva somente a dor como o declarado por Nietzsche a respeito da religião seja católica ou protestante. Mas o personagem passa a refletir sua existência em seu corpo que como o mangue, seguindo as condições naturais das marés, hora esta cheio e hora vazio, tem de se despir a si próprio (nesse caso esvaziar-se de seu egoísmo) para poder encontrar-se e realizar-se como individuo (ou seja, se encher de novos motivos que dê vazão a sua condição de ser vivente, ou seja, que o motive a continuar caminhando como ser humano e, com isso, se aperfeiçoar). Hugo Ribeiro, assim, segue o fluxo do Rio, deixando-se fluir como o bem diz o filosofo Heráclito de Éfeso.

Do mesmo modo as ilustrações de Leander Moura foram ganhando nitidez e evoluindo constantemente com o decorrer da historia. Torna-se impressionante ver, no inicio, os traços incertos e até imprecisos em alguns momentos de Leander e, depois começar a notar paulatinamente o ganho de confiança e firmeza na caracterização dos personagens. Crescemos com ele e com sua elasticidade gráfica, pois imagino a dificuldade em diagramar quadros tão complexos quanto os imaginados por guerra, em seus simbolismos, que ficamos maravilhados com o resultado final. Outro ponto muito positivo, que podemos notar na narrativa gráfica de Leander é a escolha, acertada, já que se trata de uma temática barroca, pois a historia se passa no século XVIII, onde a temática era muito forte, do preto e branco, exemplo de uma historia noir detetivesca ou mesmo nos fazendo lembrar, em alguns casos do impressionismo e também do expressionismo alemão que valorizou muito a narrativa e impôs o climão de século dezoito a narrativa gráfica. Vale apena observar os quadros em que o mangue se destaca e as passagens belissimas que o Leander fez questão de mostrar e montar para destacar o clima datado, isso me agradou demais, do tema em questão que alguns autores, talvez seguindo escolhas mais econômicas, deixassem limpinhos demais o que daria um tom de falsidade a cena. O Leander, procurou ao contrários preencher na medida certa de tons escuros e mais precisos algumas quadrinhos para mostrar, através da adoção, ousada, de preencher os espaços de nanquim para dá ao Hugo mais profundidade e destacar o peso emocional que o personagem exigia na historia. Nesse sentido, o ilustrador conseguiu uma façanha e tanto, pois o efeito conseguiu, pelo menos para mim, passar esse sentimento que me agradou muito.

Emfim, como todo o projeto que chega ao fim, e tê-lo acompanhado intimamente bem, apesar de ter pego o bonde andando, o resultado final, me deixou bastante orgulhoso de ter acompanhado peça por peça, a montagem dessa enorme narrativa gráfica que recomendo a todos adquirir.  Os autores conseguem uma façanha incrível ao concluir o Evangelho, primeiro por ser a primeira Graphic, se não me engano, do RN e em segundo mostrar que é possível se utilizar de elementos reais e criar uma historia, mesmo imagética, misturando teor histórico com ficcional elevando a HQ a um outro nível que não sabemos onde poderá chegar as próximas que virão. Espero poder me surpreender muito mais com os amigos do traço e dos roteiros, por que sei que eles podem e desejam contar as mais belas historias que podemos imaginar ou não. Seja como for, Marcos Guerra e Leander Moura fecham com chave de ouro a saga, Homerica de Hugo Ribeiro na capitania do Rio Grande ou como é mais conhecida por o EVANGELHO SEGUNDO O SANGUE.
Eis um pequeno RELEASE:

O Evangelho segundo o sangue, história em quadrinhos ambientada em Natal, 1810, época da então Província do Rio Grande, é uma narrativa de terror-histórico. Tratando de diversas licenças poéticas e citações artísticas, o encadernado visita os fantasmas dos Portugueses no Forte, espíritos indígenas no mangue, missas
de mortos na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, e nos conduz a uma via crucis de um Pai de família, enlouquecido pela traição conjugal, a penetrar o seio
místico de uma Noiva do Sol tomada pelo mistério em quadrinhos
do Estado: Terá Elena dormido com o Diabo, ou é tudo um delírio?

  Assim, felicito a todos que venham por acaso adquirir essa obra a depositá-la em sua prateleira de Novelas gráficas, do mesmo jeito que fiz, a própria esta ao lado de grandes clássicos como O edifício de Will Eisner, Liga Extraordinária de Alan Moore, Sin City de Frank Miller, Midnight Nation de J. Michel Strazynski entre muitas outras, por que a mesma merece e vale ser comparada com qualquer uma dessas que mencionei.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

in motion

Quantas vezes dançamos parados? Quando os olhos encontram um movimento único que reflete nosso tempo mais intimo. Quantas vezes dançamos com o vento, com as imagens da nossa mente, com a escuridão das nossas pálpebras fechadas e com a luz delas abertas? Dança da vida. Desequilibra pra achar eixo, avista melodia pra sair do ritmo, improvisa, revive um movimento único infinitamente diferente a cada vez... em corpos memória, que nunca são os mesmos, recriando a linha imaginária entre dança e vida (existente em zonas fluidas). Entre formas absurdas de desfoco e cores fumê. Entre o visto e o dito, o silêncio das palavras mudas e a violência dos corpos contorcendo sua poesia no espaço. Entre o que fala e o que cala. <> o nada se dispõe no tempo desenhando o ar. O tudo dança.