O MÁGICO

Confira essa nova animação do diretor de Bicicletas de Belleville.

BALADA DO AMOR E ÓDIO

Confira nossa crítica sobre o mais novo filme do cineasta espanhol Álex de la Iglesia.

FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS

O projeto de extensão “cores” nos convida inicialmente a um espetáculo sobre a vida da artista plástica, mexicana, Frida Kahlo.

ARTEROTISMO - UM CONVITE

Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...

"A CULPA É DA SOCIEDADE"

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

SEGUNDA HQ ANALISADA VISUALIZANDO CITAÇÕES UM MAGNIFICO MIX DE ARTISTAS


Nós sabemos que geralmente Mix de quadrinho são difíceis de atrair leitores, mas não é o caso dessa magnifica e fascinante obra guiada com maestria pelo roteiro da autora Milena Azevedo.  A elaboração do Visualizando Citações parte da ideia e, das leituras da autora, que procura reinterpretá-las de forma a não só prestar homenagem a obra e aos autores originais como dá sua versão ao trecho lido (a citação escolhida, no caso), o que literalmente não só contribui para o incentivo da leitura como também chama atenção para as comics e seu universo. Como, postado anteriormente, adotarei uma classificação analítica da obra e mostrarei os pontos positivos e negativos de seu conteúdo.
Primeiramente, devo ressaltar que a premissa do Visualizando Citações é muito atrativa já que tem uma
dupla função, incentivar tanto a leitura de livros como também promover e apresentar os quadrinhos como meio atraente para isso. Ainda, existe a grande sagacidade da autora de reunir ilustradores de diversos cantos do pais para auxilia-la nessa magnifica viagem.  A reunião desses talentos ilustrativos e os brilhantes roteiros da escritora e poetiza mostram a versatilidade de uma ávida leitora que sabe do que escreve.

Observando a publicação notamos o esmero e o cuidado com a gramatica e a narrativa gráfica, a Milene
sabe bem que isso faz toda a diferença para uma publicação. Devemos nos lembrar que quando escrevemos estamos sujeitos a sermos avaliados por gente do meio que escreve e ilustra e estão muito preocupados tanto com a semântica como com a narrativa gráfica. Contudo, isso é brilhantemente bem feito e cuidado, ao folhear as páginas do Visualizando Citações percebemos o esmero e cuidado com a obra, nos sentimos bem tratados pelo autor, devido o seu cuidado e atenção. Nesse sentido, encaro positivamente, essa obra.


Contudo, a parte negativa que a meu modo de ver como acontece com todo e qualquer Mix, consiste em existir historias que por serem tão impactantes e bem executadas nos faz sentir aquele gostinho de quero mais e  parecem exigir um "folego" maior, entretanto, esse folego parte antes das escolhas do autor do que do gosto do leitor. Afinal, toda leitura é uma leitura subjetiva e até mesmo escrever aqui sobre isso ao dizer o que é positivo ou negativo sobre uma obra, igualmente, parte de uma escolha subjetiva.



De qualquer forma, o saldo final é positivo já que a obra é uma das mais bem executadas e feitas até hoje e presta uma magnifica homenagem a  cultura da leitura tanto ao universo literário como a arte sequencial que nem podemos medir imediatamente. Reitero meus parabéns e agradecimentos a autora e amiga Milena Azevedo que organizou, fez e faz arte sequencial de primeira linha. Continue assim e que venham mais historias dessa autora talentosa.


Agradecido.


Renato de Medeiros Jota

domingo, 8 de dezembro de 2013

MUITAS E MUITAS NOVIDADES EM 2013




Houve muitos lançamentos esse ano de 2013 que fica difícil definir qual é o melhor, mas uma coisa devemos
observar como toda obra de arte, nas HQs podemos identificar dois tipos de impressão que circunda a mente do leitor atento, a saber, um sentimento positivo e seu contrário, o negativo. Todas as obras possuem essa dualidade em maior ou menor grau mas que se mostra a melhor forma de definir a relevância de cada obra. Pois bem, vou tentar listar uns três lançamentos e procurar mostrar os lados positivos e negativos de cada uma. A primeira que irei analisar, resumidamente, é a fantanstica hq chamada a CONDENÁVEL VIDA DE GRISWOLD com Roteiro de Marcos Guerra e Ilustração de Paulo Silva. 


Primeiramente, o ponto positivo e forte da obra, esta no roteiro magnifico e bem executado de Guerra em que mostra o ambiente do século 16 em uma Alemanha feudal e que salva algumas vezes a narrativa da historia que se mostra muito confusa em algumas partes da historia. Esta, consegue envolver e passar o clima medonho e de terror da historia. A ambiguidade existente na historia, entre o bem e o mau é representado por um Griswold enlouquecido e o bem por uma ovelha que dialoga com este. Também, o roteiro de Guerra consegue prender o leitor com suas sequencias e com a inserção do elemento magico e ritualistico. 



Em outro momento, podemos identificar a presença de um terceiro personagem que se mostra quase onipresente na figura de um ser infernal. Por outro lado, o ponto negativo fica pelas ilustrações que peca pelo uso excessivo de grafite que a primeira vista contribuiria para dá o clima soturno e enevoado a historia, mas que com o uso excessivo torna, em alguns momentos o entendimento da sequencia narrativa confusa e só é salva pela sagacidade do roteiro que nos momentos de dificuldade do leitor o socorre. Apesar das mulheres deslumbrantes, belamente ilustradas por Paulo Sergio e a ambientação bem desenhada, notamos que alguns quadros se tornam ilegíveis, devido a má distribuição dimensional das cenas. Contudo, de modo geral, o conjunto da obra deslumbra o leitor e cria o clima perfeito para o susto e para o horror. A HQ parece ser um anuncio bastante afortunado do florescimento da arte sequencial no Estado e mostra que as comics ainda tem muito a contribuir para o público leitor.

Se consideramos o momento atual das historias em quadrinhos em Natal notaremos que nunca se produziu tanto como agora e isso pode ser explicado pela grande persistência e dedicação dos amantes da arte sequencial que mesmo sem apoio do município e Estado, conseguindo patrocínio ou não publicam suas hqs sejam através da internet ou impresso mesmo. Nesse sentido felicito a todos aqueles que trabalham em favor da criação de um mercado consumidor de hqs. Além de contribuir para a divulgação da arte de cada um trabalham em favor do reconhecimento dessa mídia como arte de qualidade e importância.




Agradecido a todos


R.M.J.   

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Não lugar ou vila das árvores (título provisório II)


Na sombra (título alternativo)

Havia pensado que esse meu relato poderia ser antropologicamente caracterizado como uma proposta etnográfica (ou não), claro, se não fosse o fato de trata-se de árvores. 
Ainda não havia comentado sobre as arvores de cocô. Seus frutos espalhados pelo chão me fizeram ter receio de olhar para cima... Como "presentes" de cachorro na grama, que nos impedem de sentar e aproveitar a sombra em baixo das árvores ou fazer um pique-nique, visto a falta de higiene. Porém, eu os peguei na mão, eram cilindros inofensivos de madeira oca, com uma textura firme e aspera. Isso trás todo um alívio
ao passar em baixo delas das próximas vezes. Mas mudando de assunto, a Caule livrus é a coisa mais imponente no ramo de árvores de porte médio já visto na vila, e não deve-se ao meu gosto por leitura, de certo. Seu caule como o batismo bem informa, é um esplendido calhamaço, exposto num desabrochar (por falta de palavra melhor, que deve existir, mas eu desconheço) de capas e mais capas finas, que trazem um aspecto de folhas de um livro... Certo, poderia ser um jornal, ou uma revista, se não fosse suas páginas amareladas. Depois de apelidar outra espécie de "árvore de pompom", encontrei uma que tem seus frutos também como pompons, mas não com o aspecto de coisinhas fofinhas como rabinho de poodle, mas com aspecto de chacoalhadores de líder de torcida. Então essa árvore ficará sem nome até que minha criatividade produza, ou alguém possa me sugerir, após minha descrição. 
Terei que justificar minha forma de escrita nesses últimos textos sobre a Vila das árvores... Incorporo um personagem inspirado em um autor anônimo. Infelizmente, não poderei contar mais detalhes a respeito, a não ser o fato de que esse autor anônimo não é um "escritor" (assim como eu) e também já passou pela Vila das árvores, mesmo curiosamente nunca tendo escrito a respeito.
A imagem é meramente ilustrativa: essa espécie não é propriamente uma árvore, é o que podemos conhecer como erva daninha e chama-se popularmente de amor-de-homem, e não falarei sobre ela nessa história.

A outra parte da história está no link a abaixo, e pode ser lida fora da ordem sem prejudicar o sentido da narrativa.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Okupando espaços e tempos (sobre silêncio, vazio e o nada)



Venho aqui diante da minha inquietação posta pela distância e a impossibilidade de ver com meus próprios olhos, pensar um pouco junto com vocês que acompanharam a Okupagaden do Departamento de Artes da UFRN. Hoje partindo em retirada, por temerem represália, ou sabe-se lá mais os porquês. Mas também convidar a todos a pensar arte, política e vida flutuando em dimensões que se atravessam. A dimensão afetiva e num campo de flutuação sensível comum ao homem. 














Acompanhei "tudo" pelo Facebook, então é provável que tenha poucos elementos para dialogar. Deixarei claro que não é meu objetivo aqui defender ponto de vista, meu ou de qualquer um envolvido intimamente ou não com esse ato de ocupação do Deart. Li comentários de amigos, artistas com quem trabalhei e tenho amizade, me entristeci com os depoimentos de alguns diante das ações propostas pelo grupo que ocupou não só as dependências do famoso, renegado e polêmico Deart. Mas tomou conta, ainda, da consciência, da vida e do pensamento de muitos sobre arte, espaços da arte e de proliferação de ideias, intervenções, performance, beleza, respeito e tantas outras potências que atravessam aquelas paredes, agora "sujas" de "pixo".  Acompanhei também o blog do Okupagarden e suas defesas poéticas e políticas. A expressão dos anônimos diante da impossibilidade de dizer o que significa essa "ocupação" e todo o universo que construíram frente a realidade hierárquica, administrativa e institucional da academia... Que não se limitam pelas fronteiras, espaços, tempos, culturas, palavras, imagens, corpos... Mas são todas elas, numa fabulação que possibilite dizer de algo que não pode ser dito, ou não deve ser dito, nem feito, nem vivido. Anseia por vir.

Então, me inquietei, pensei muito sobre tudo o que li e vi, pensei sobre o que pensei... Ontem, lendo a carta do professor Camilo Osório sobre esse "assunto", que vai muito além de um problema institucional, e das fronteiras da UFRN, ou do Rio Grande do Norte. Assim como as artes não se restringem aos museus, as paredes e muros... Percebendo a posição confusa de imparcialidade que me impus, não me sentindo no direito de falar sobre algo que não presenciei fisicamente, por não estar em Natal, e em contato direto com os envolvidos e as manifestações que ocorreram. Era tão omissa, ingênua, envergonhada, desorientada e impotente quanto a dos que podiam estar lá e não estiveram, ou os que estiveram e nada fizeram, dos que simplesmente pasmaram, se revoltaram ou ignoraram. Como a atitude confusa de quem vai a uma galeria, museu ou um espetáculo e em vez de contemplar as expressões artísticas, vira de costas e tira um autorretrato com elas de plano de fundo pra postar no instagram.
Talvez, pensar essa distância, sem os aspectos afetivos que me ligam ao lugar, (Deart) provocaram novas formas de dizer um pouco (junto) com essa manipulação e distorção de informações que circula frágil nas redes sociais e a força que elas tem de erguer e de por a baixo qualquer tentativa de ser e estar presente no mundo. Assim mesmo, nunca se viu um espaço tão "democráticos" de circulação de ideias. Eu costumo comentar entre os amigos que a internet democratizou a ignorância, e uma amiga completa: "nem aumentou, nem diminuiu". E isso não tem nada a ver com ser ruim, nem ser bom, ser melhor ou pior. Parece que tem mais a ver com uma espécie de fabulação, ou invenção com essa realidade; com uma infinidade de outras que compartilhamos, tomamos parte, mas desconhecemos, por ser impossível dar conta desse rizoma.
Por isso o movimento que reproduzo aqui hoje, incitada pelo Okupagarden, compartilhado pelo Facebook, é de pensar a dimensão estética e política que essa manifestação artística suscita. E acredito que pensar ainda não é conhecer. Concordo com Borges que "pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair". Continuo ignorante diante das palavras mudas e das imagens pensativas que se apresentam.
Por isso não tem a ver com ser ou não ser arte. Com respeito ou a falta dele. Com fezes, tijolo pendurado no pau, destruição de "obras"... Tem a ver com afeto. O que esse afetamento provoca? Pensar a respeito, ver ambos os lados, ou melhor não ver lado algum. Quem cria os muros? Ficar em cima dele, escolher um lado ou outro... vilão, vândalo, artistas, esteta, "reaça". A discussão não precisa ser essa, precisa? 
Os artistas de "rua" tem consciência da efemeridade de suas obras, senão, as colocariam em lugares fechados e não em paredes, que podem receber uma "mão de cal" por cima a qualquer momento. Eles vão justamente contra essa lógica do mercado da arte. Vide Banksy, Greco, os gêmeos e vários exemplos do filme Cidade Cinza (2013), que trata da política da prefeitura de São Paulo de passar uma tinta cinza por cima dos grafites da cidade. Tem a ver com memória e afeto, quando inquieta a sensibilidade do espectador, de quem fez daquelas artes parte de sua história, do seu cotidiano, de sua vida
Haveria de se gerar transformações através da possibilidade de expressão, que não abarca todos, não é unanime, nem muito menos útil. Mas que é potente quando diz e pensa de (im)possibilidades de vida.
Não se pode mais falar em arte, política, cultura... Essas palavras viraram "tabu" nas rodas de conversa. Quem as exclama é "taxado" de artista, erudito, pseudocult, intelectual. Tudo é subjetivo, é opinião, é blá, blá, blá ou é a certeza absoluta. Cultua-se o obsceno, o medo de experimentar, de falar, de expor, de contar um história, trocar experiências, de conviver, de fazer, de ver e de ouvir. 
Tenho muito carinho pelo Deart e por todos que conheço e que amam aquele lugar. Não defendo lados aqui. Mas convido a quem quiser, conversar, refletir, pensar, expressar não um ponto de vista, mas a derrubada de todos eles, desses muros imaginários que limitam, quando é o esfrega-esfrega (e as distâncias) dos corpos que produzem inquietação, calor, energia, vazios e vida. Vamos sair dos papéis, vamos reescrever a cena, improvisar os diálogos. Vamos arriscar e fracassar. Os dois ao mesmo tempo, fazer parte, tomar parte produzindo tensão e vazios, pra que hajam mudanças. Como diz Arnaldo Antunes "a batalha é o começo da trégua" e "bactéria num meio é cultura".

Lembro muito quando era criança ouvir os adultos dizendo, essa menina é muito "arteira", e até hoje quando penso em arte, tendo para esse sentido de uma criança que arrisca algo novo e desconhecido, que se machuca, que suja, que é inconsequente, imprevisível, improvável. É perturbador o quanto a imagem da arte na contemporaneidade suscita a dúvida e articula um processo emancipatório de nós espectadores e artistas. Então, que o odor da merda, as manchas das paredes, as ofensas, e mesmo o som angustiante do tijolo arrastando no chão, não reproduzam traumas, mas criem memórias e reverberem. Vamos ser crianças, dançar e "fazer arte"! 

Arnaldo Antunes
Cultura 
O girino é o peixinho do sapo
O silêncio é o começo do papo
O bigode é a antena do gato
O cavalo é pasto do carrapato
O cabrito é o cordeiro da cabra
O pecoço é a barriga da cobra
O leitão é um porquinho mais novo
A galinha é um pouquinho do ovo
O desejo é o começo do corpo
Engordar é a tarefa do porco
A cegonha é a girafa do ganso
O cachorro é um lobo mais manso
O escuro é a metade da zebra
As raízes são as veias da seiva
O camelo é um cavalo sem sede
Tartaruga por dentro é parede
O potrinho é o bezerro da égua
A batalha é o começo da trégua
Papagaio é um dragão miniatura
Bactérias num meio é cultura
Jorge Luis Borges, Funes o memorioso:
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/funes.htm

Trailer de Cidade Cinza:
http://vimeo.com/70506598

Blog do Okupagarden:

Obras de Banksy, Alberto Grego e Michel Basquiat.
http://www.banksyny.com/
http://www.albertogreco.com
http://basquiat.com/

Fotografia, os astistas Lucas Fortunato e Mario Rasec, como plano de fundo o painel do Deart de Fernando Paiva e parcerias (2012).

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Copo d'água



Quero poesia
Teoria do tolo
Fantasia do rico
Riqueza do pobre
Ignorância do sábio
Sabedoria do ingênuo
Copo d'água pra toda sede.
Nada a ver com verso
Ver com nada a ver
O inverso
Reverso

domingo, 27 de outubro de 2013

O Não Lugar ou A vila das árvores (título provisório) - Parte 1

Deveria me apresentar e justificar antes de tudo os motivos que me puseram o desejo de tentar narrar os dias que se sucederam durante minha passagem por Não Lugar, que hoje chamo carinhosamente da Vila das árvores. Mas permita-me adentrar na história descrevendo os personagens desse lugar que habita atmosferas onde a palavra não chegou com prioridade discursiva. Por esse motivo, tive eu mesma que nomear todas as coisas ainda desconhecidas por minha curta e reles experiência, e dar sentidos possíveis aos desacontecimentos. Estudando através da metodologia de observação os processos desses seres tão abastados (para não dizer autossuficientes) que são as arvores. Acredito que sou uma das poucas almas humanas que cruzou essa cidade, por isso, me sinto no dever atrevido de usar do meu arcaico instrumento de linguagem para trazer para vocês; a dimensão do silêncio e de uma existência tão complexa e misteriosa quanto as extra-terrestres. 
Todas elas serão devidamente nomeadas e um A. no início do nome abreviará a palavra arvore, condição dos seres que descrevo. Será necessário fazer referência e comparações com algumas coisas, para que consigam visualizar mentalmente as descrições, peço desculpas se isso parecer cansativo, mas tenho objetivo de ser o mais fiel possível nesse trabalho. 

O primeiro personagem que pretendo apresentá-los batizei de Arvore Toni Ramos, também conhecida hoje por Arvore Que Chora. O apelido parece ficar óbvio aos que viveram na era das telenovelas nas quais o galã peludo enchia de suspiros os corações das senhoras donas de casa. Observei pela primeira vez com atenção, A. Toni Ramos, em derradeiros dias de outono, era além de tudo uma habitante comum, de grande porte na cidade, mas que tinha a aparência curiosa por ser coberta por folhas e ramos em seu caule, lhe dando um aspecto "peludo" e justificando o batismo. Ainda possuía folhas pequenas nas extremidades dos galhos, comum a maioria. Mas, o curioso é que acompanhei ela durante as mudanças de estação até a primavera, onde o calor por lá era insuportável. E a nossa personagem além de exibir sua aparência peluda, agora também desenvolveu também o estranho hábito de chorar... Explico. 
Passeava pela rua quando me deparei com poças d'água no chão, e pingos me molhando os ombros e braços. O que era estranho, já que a dias que não chovia e o céu estava tão azul quanto nunca. Mesmo assim, olhei para cima e não entendia. Continuei o caminho, e sempre que avistava uma Toni Ramos, havia poças embaixo dela, a sensação de chuva. Enfim, parei e observei atentamente, A. Toni Ramos não parava de verter uma substância liquida, aparentemente inodora dos seus galhos mais altos. Ela suava, constatei, devido o calor quase insuportável daquela primavera. Fiquei emocionada, mas minhas lágrimas evaporaram no calor.
Outro personagem curioso, cuja a constituição é de porte médio e folhas compridas e espaçadas, cultivava uma característica interessante, seu fruto, que inicialmente aparecia com uma forma cilíndrica como uma banana e verde como um abacate, desabrochava em uma espécie de chumaço flocado com aparência de algodão bruto. Visto que já conhecia um "pé" de algodão, sabia que não se tratava disso. A Arvore de Pompom, como a nomeei, ficava repleta de tufos fofinhos nas extremidades dos seus galhos, e com vento eles se desmanchavam, fazendo do chão ao redor um fofo tapete que lembrava pelagem de ovelha. 


Continua... 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Réquiem à lucidez

Carrego as dores do mundo nesse corpo. Não há nada que cure essa dor nas costas, essa azia no estomago vazio, esse nó na goela. Por não ter a que me prender, escrevo... E essa escrita acabou sendo meu carrasco mais fiel. Se estende além das palavras que nunca dizem nada. Nada permanece. Nas dores enfim sinto algo, sinto vida, e sinto muito, não me orgulho. Não sentir é a morte, por certo. Reconhecer isso é muito cruel. No sono encontrava alívio outro, nas fantasias do inconsciente caótico, brilhante. Meu lar. Onde nunca precisei de óculos escuros. 
Várias noites que vejo passar, dias que não durmo um sono justo... Pesadelos despertos e dormidos. Não adianta. Esse sono que era morrer em vida, meu descanso  (da minha intensidade), hoje também é meu algoz, o mais cruel de todos eles. Exceto o que mora na minha cabeça "lúcida" e que agora invade meus sonhos. Algo se rompeu. 
Dormi com um sapo que lambuzou minha cara. No dia seguinte pari seres monstruosos num banheiro antigo da casa de minha mãe. O que de mais puro há em mim. Eu agradeço.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Primeiro verão

[primo vere]

Ah, os ipês em flor! 

Quão curioso presenciar uma primavera? Ela, a mais efêmera das estações, nos ilude maquiando céu e chão de cores que surgem tão rápido quanto vão. O sol queima, mas o frio também não foi embora. Nem é inverno, nem é verão. Um ritual silencioso de preparação, no qual, daqui em diante os dias serão cada vez mais longos e as noites cada vez mais curtas. Penoso para os notívagos, exceto talvez, àqueles que sempre viveram verões.













quarta-feira, 25 de setembro de 2013

É só mais um dia que não existiu

Hoje foi mais um dia que não existiu. E isso não é um desabafo.
Acordar as 3 da tarde, se sentindo inútil, desalmada, patética, envergonhada perante os que ama. E isso não é tudo, algumas coisas consomem muito mais do que consigo descrever com palavras, ou que faladas, pareceriam falsas e insignificantes. E devem ser. 
Não quero ver ninguém, nem falar, nem comer, nem muito menos pensar. Nada que lembre uma possível existência humana. Ao mesmo tempo daria tudo por um colo (com o qual eu não precise me explicar, que não vai julgar minha fragilidade quando tiver chance). Alguém para passar a mão no meu cabelo e explicar sobre como a química no ar deixa o céu colorido. Ninguém nos ensina a desistir, por isso tenho esperança, me alimento com fastio e durmo muito.
Penso em suicídio quase sempre. - Mas o que eu estaria matando? Penso eu. Um corpo jovem, e uma mente perturbada... A minha insignificância e covardia diante da vida me tira até mesmo o alívio da morte. Veja o quão romantizada... daí vem, provavelmente, a mediocridade da vida. E eu continuo observando. 

As pessoas, no geral, me deixam entediada. São aqueles olhos vazios que quando se olha não se vê nada, nem ninguém. São só carcaças ambulantes ecoando um ruído sem sentido. Enquanto meu corpo pesa uma tonelada, não me sinto digna de arrasta-lo por ai, desperdiçando palavras que custam o olho da cara. E tenho muita preguiça de ser legal. Falta uma respiração bem dada, continuo morrendo um dia de cada vez, como dizem que seria natural. A melancolia me parecia uma condição estética, agora sofro dos seus sintomas descritos pela psiquiatria. As especialidades nos deixaram encurralados. Sou julgada de egoísmo, indiferença, drama, frescura, arrogância, vagabundagem... aos que se deram ao trabalho, agradeço a atenção. É por atenção que clamamos o tempo todo: estamos aqui para receber os "olhos" alheios, e só então se reconhecer como um "alguém". Até que você se perde no meio desses tantos EUs que não pode mais ser um. E sendo tantos e nenhum ao mesmo tempo. No entanto, talvez seja preciso ser apenas um, para então sermos vários. "Essa metamorfose ambulante", ou melhor, ser para quê? É só mais um dia que não existiu...


Desenterrei todos os defuntos nesse dia, e tomei chá com eles. Reparei que não reflito na poça é ela que reflete em mim, posso ver a lama escorrendo. - Será que a gente sabe quando tá ficando louco? (Não poderia ficar louca, minha mãe não entenderia, isso me angustia profundamente. Espero que quando acontecer, alguém explique para ela, pois ao que tudo indica, nessas alturas não estou mais me importando muito). 
Estou perdendo a poesia, como diriam os críticos. E esse poço é fundo. 
Não, eu não vou me matar, mesmo. A loucura vai me pegar primeiro, e a diferença entre viver e morrer não vai fazer sentido, acredito. A razão, por outro lado, faz eu ter medo de não saber a hora de pedir ajuda e morrer acidentalmente, por pura idiotice. A loucura não é de maneira alguma uma coisa ruim, mas "perder a razão"é uma frase engraçada. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

UMA PUBLICAÇÃO IMPERDIVEL PARA AQUELES QUE APOIAM A CULTURA E ADORA HQ


    Financiamento coletivo (crowdfunding) consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na iniciativa. O termo é muitas vezes usado para descrever especificamente ações na internet com o objetivo de arrecadar dinheiro para artistas, jornalismo, cidadão, pequenos negócios e start up, campanhas politicas, iniciativas de , filantropia e ajuda a regiões atingidas por desastres, entre outros. 

     Sabemos a dificuldade que é para um autor de HQ, comic, banda desenhada e etc, tem para publicar seu material, ou pelo menos, torna-lo realidade.  Os incentivos da cultura são poucos e as editoras simplesmente publicam o que é vendável e que lhes garanta o retorno imediato de seus investimento, enquanto os autores e produtores que participaram de sua realização ficam com migalhas, fruto de sua obra, e não tem seu devido reconhecimento pelas próprias editoras. Então, como alguém consegue levar um projeto bacana e bem original, que sabe que tem potencial e pode agradar a boa parte dos leitores, pode fazê-lo se tornar realidade? Isso parece a principio ser impossível, contudo, existe uma luz no fim do túnel, a saber, o  crowdfunding, que  é a concessão de recompensas aos financiadores, em escala proporcional à grandeza do incentivo concedido. As recompensas estão de certa forma associadas ao objetivo final, mas isso não é necessariamente uma obrigação: a captação de recursos para a realização de um filme, por exemplo, pode prever recompensas como fotos das locações nas quais a obra será rodada. Contudo, no caso dos quadrinhos, as recompensas podem ser inúmeras, e são totalmente exclusivas devido incluir artes e páginas originais da obra, pode ser incorporada também pôsteres, artes conceituais e demais brindes para aqueles que participam do crowdfunding. As vantagens são inúmeras e os brindes aumentam conforme o valor seja depositado pela pessoa física, empresa, associação e etc. Um aspecto comum a iniciativas de surgida na internet. 

 
     Entretanto, o beneficio maior, acredito, esta em saber que uma obra de qualidade e que o próprio futuro investidor observou seu desenvolvimento e  acontecimento, foi por ele viabilizado. Além disso, fica o sentimento de dinheiro bem investido e de saber que, até de certo modo, participou da própria concepção da obra. Mesmo não sendo o autor ou escritor, o investidor sabe que de sua contribuição viabilizou a produção de algo criativo e que passou por sua analise e que de certa forma, foi aprovada por ele. Por tudo isso que o crowdfunding é uma ótima forma de viabilizar e de se investir em algo que sabemos que não iremos nos arrepender de ter apostado e contribuído para sua viabilização.
    Uma excelente oportunidade para todos que podem ajudar, através do crowdfunding, em alguma medida a realização da publicação de uma maravilhosa e fantástica HQ, esta no projeto da Milena de Azevedo intitulado Visualizando Citações onde a roteirista e criadora une forças com vários Ilustradores de comic, Historias em quadrinhos, Banda desenhada e etc, e alguns deles, de renome nacional e internacional, para dá uma interpretação original a várias obras literárias, na realidade trechos dessas obras, que as apresentada sobre os textos da Milene e ilustradas por um mestre do traço. Aliás, o projeto visualizando Citações concorreu ao trofeu HQMIX 2013 estando entre os melhores projetos nesse evento.

        Desse modo a respeito das ilustrações, cada ilustrador fica responsável por uma historia especifica. Para prestar, assim, uma homenagem da arte sequencial a arte literária. Recomendo a todos aqueles que em alguma medida gostam do que escrevo, a apostar nessa proposta do visualizando Citações. Os motivos para isso são vários, mas se pudesse resumir em um único motivo lhes diria "Por que é maravilhoso saber que a nona arte pode e deve ser uma forma de diálogo e quem sabe de introdução a literatura em geral". Só essa premissa mostra como o projeto visualizando citações é pertinente e merece ser publicado. Por isso convido a todos que possam contribuir para sua realização façam o quanto antes, sei que não vão se arrepender.  Pois ninguém se arrepende de algo que faz para desenvolver a leitura e a cultura em nosso pais. Além de ganhar com isso, por que eles não estão doando nada de graça, devido ganharem não só a obra como os brindes que as acompanha. O visualizando citações é um projeto que devemos lutar para que venha a ser realizado e que possa nos ajudar a divulgar o gosto pela leitura e pelas artes em geral.
 
muitas das referências sobre Crowdfunding, especificamente as explicações foram tirados do Wikipédia nesse endereço eletrônico:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Financiamento_coletivo.
 
Para mais informações sobre o Visualizando Citações http://ghq.com.br/campanha-para-a-impressao-do-visualizando-citacoes/
 
O endereço para as doações é este: http://catarse.me/pt/provc

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Primavero ausências

...As folhas que não suportaram o frio do inverno estão secas pelo chão. O estalar, quando as piso, provoca um prazer indescritível, e inútil como todos os outros. Passo horas pensando sobre isso, e pisando as folhas, e pisando... Tudo para ser ausência. 
A impossibilidade da distância me consome, estar impotente diz tudo das impossibilidades. Há dias que não falo pessoalmente com um ser humano, e isso é mais frequente do que necessário. Eu os evito, evito as convenções e o agradar por agradar, me recuso a ser educada por educação. 
Ando consumida de ausência. Essa que como diz o poeta, é um "estar em si"... Penso na possibilidade que as vezes não quero "estar em mim". Na verdade, algumas vezes, nem aguento "estar em mim". Eu me sufoco, como se estivesse presa nessa floresta com um assassino em série, que sempre mata a mesma personagem. EU. 
Sou uma natureza condensada preza num corpo que apodrece, se não tomo os devidos hábitos ditos como higiênicos. Nos limpar de nós mesmos e da vida. Porque expelimos unira, merda, suor, sebo... Acumulamos caraca, cera de ouvido, sujeira nas unhas, resto de comida nos dentes... Apodrecemos como as folhas que caíram com o inverno. Enquanto isso, flores nascem, enfeitam, perfumam e colorizam o caos.
É como se essa natureza condensada tivesse suas próprias estações, um ciclo interno de nascimento, desabrochamento, desencantamento e apodrecimento. Me primavero, me veranizo, me outoneio, me inverneço. 
Apenas algumas vezes não precisar ser ausência. Porque, a impossibilidade da distância me corroeu os dedos dos pés e os membros superiores. (Não sei se caminho pra frente ou pra trás). Aguento despedidas, mas não queria aguentá-las. Me destroem os abraços desapegados, os imaginários e os que nunca foram dados, pela simples ausência de braços. Só por isso.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Assim: Poluição

"Clarice, nunca te vi, mas sempre te amei". Foram exatamente essas palavras (paráfrase de um filme) que me vieram a cabeça quando li a frase da folha de rosto do livro "Um sopro de vida (Pulsações)" de Clarice Lispector, que dizia, "Quero escrever movimento puro". Não sabia ainda o sentido da frase, mas tinha certeza, como nunca tive antes, que ela foi escrita para mim. 
Fui a banca de revistas do mercado com uma amiga, afim de mostrar que nessa banca existia um espaço para adquirir livros usados, e segundo o dono da banca, para esses livros daríamos o valor que achássemos que a obra valia. Sobre esse "valor" da obra já havia conversado com ele antes, afirmei ser cruel o que faz com pobres leitores e amantes de literatura, obras que não teriam um "valor" por assim dizer para quem as deixou lá, e ao mesmo tempo todo "valor" do mundo,  mas enfim, fiquei confusa e angustiada com isso... 
Hoje, apenas comentei que havia comprado "Os Pensadores" de Descartes, alguns meses atrás e me arrependi de ter pago 10 reais, deveria ter levado o livro da Clarice. Até agora não sei a causa de levar o Descartes e deixar a Clarice. O amigo que estava comigo no dia, me sugeriu: "Volta lá manhã, paga mais 2 reais (simbolicamente) e leva o da Clarice". Pensei em fazer isso, mas o tempo acabou passando, imaginei que o livro tivesse sido vendido. Até agora, também não sabia porque deixei a Clarice e levei o Descartes, agora quase acho que sei. 
A lua do meu encontro
Chego em casa, vejo e-mails, posts na time line do Facebook, me distraio, mas meu pensamento é tomar um banho e deitar com a Clarice. No banho, fico contando para mim mesma, momentos fantásticos que me aconteceram anos atrás, e pensei que daria um bom livro de cronicas. Ensaiei para mim mesma como seria a narrativa, enquanto me aquecia em baixo d'água. 
Antes de pegar Clarice e ir para cama, imaginei que trilha sonora aquele encontro merecia. Os bons encontros sempre tinham trilha sonora. Coloquei Beethoven, e dei uma ultima olhada na time line, quando vi uma postagem sobre o Doodle de hoje, e era sobre música. O Doodle interativo me sugeriu um play e eu cliquei. Eis que surgiu a trilha do meu encontro, automaticamente, pausei a 9ª sinfonia de Beethoven. Debussy tornou meu encontro ainda mais mágico, cada palavra parecia ser escrita para mim, para esse momento específico da minha vida, onde o tempo escorria como água das minhas mãos, mãos essas culpadas pela escrita que não vinha nunca. 
Clarice fala de tempo e escrita e a escrita no tempo, e o tempo na escrita. E o tempo, e a escrita. Com lápis lilás eu grifo os trechos que me provocam, mas a vontade é grifar o texto inteiro, todas as palavras, virgulas e os espaços entre elas. 
Ainda no início do encontro, mesmo apaixonada a primeira lida, me mantive desconfiada daquela identificação toda, eram muitas. Já havia lido "coisas" da Clarice espalhadas pela net e isso impôs um certo pre-conceito, admito. Até que me deparo com mais uma das histórias que dariam uma crônica. Foi o fim, ou o início, não sei. Talvez os dois, o fim de algo para dar lugar ao início de outro "algo".
No primeiro parágrafo da página 14, do livro "Um sopro de vida (pulsações)" de Clarice Lispector, 6ª
edição da editora Nova Fronteira, de capa rasgada e com carimbos de biblioteca (admiro os ladrões de livros). Eis que leio: "Estou ouvindo música. Debussy usa as espumas do mar morrendo na areia, refluindo e fluindo". Parei de ler imediatamente, sorri e em seguida desabei em lágrimas... Era Clarice, escrevendo sobre mim?
Paguei 5 reais por Clarice e hoje, nessa noite ela vale mais que minha vida inteira. Ela vale esse ato de fruição diante da obra, no jargão esteta dos mais metidos e apropriados. Essa obra vale nada, a não ser cada letra em si mesma, posta sobre o papel amarelado. E vale tudo. Absolutamente, tudo. 

"A alegria absurda é a criação" (Nietzsche)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A LITERATURA PULP DE H. P. LOVECRAFT E SEUS MUNDOS POSSÍVEIS

       


      
No inicio do século 20 surgirá um gênero de literatura para o grande publico que, a princípio, por ser impressa em papel de péssima qualidade e por abordar temas pouco honroso e serio, excluiu naquele momento, qualquer tentativa de ser vista como uma literatura significativa. Os temas abordados também não ajudavam, já que primavam pela fantasia e imaginação, abordando temas muito dispares da realidade dos homens comuns. Parece que não víamos nenhum nexo entre o que escrevia e o que era a realidade, talvez pela tendência que a literatura Modernista  hegemonica naquele momento fazia com que o público leitor não considerasse aquele tipo de leitura significativa.

        Muitos autores geniais de revistas Pulp do começo do século 20 surgiram nesse meio de divulgação e de entretenimento. Mas era um período difícil e bastante duro para esse tipo de escritor, pois pagava-se pouco e era tida como uma sub arte no meio literário. Alguns autore
s de grande envergadura surgiram nesse período, como por exemplo, Henry Rider Haggard, Talbot Mundy e Edgar Rice Burroughs, Isacc Asimov e H.P. Lovecraft. Em relação a este último, durante muito tempo Lovecraft ficou esquecido pelo público . Isso, talvez, tenha se devido aos filmes, também, Pulp, que tomaram como base sua obra como foco, o que não ajudou muito, devido o baixo orçamento e desses serem considerados de segundo escalão. Nesse sentido, a filmografia de baixo orçamento feito por autores obscuros, antes de ajudar a dar credibilidade a obra lovecrafteana, faziam o contrário, aumentavam a sensação de infantilidade e descrédito da obra. 

        A obra lovecrafteana começou a ganhar aos poucos notoriedade, com o grande público, pela divulgação através de três mídias que tiveram sua origem também nas revistas Pulp. Os escritos de Lovecraft assim,  começaram a ser recebidos como obra relevante e importantes por outras mídias como as HQs, RPG e Musica que dentro de seus leitores e ouvintes começaram a chamar atenção para a escrita do seu autor e de sua obra. Lovecraft passou a ser, finalmente, reconhecido como um dos maiores escritores do século vinte.

Contudo, se verificarmos a literatura especializada sobre o autor, notaremos a total ausência de livros de especialistas e biografia sobre sua obra e sua vida. No Brasil, a literatura nesse sentido é praticamente inexistente salvo uma ou outra monográfica e tese feita por estudantes de literatura, o que existe em questão de livro sobre o autor e sua obra é insuficiente para se entender o significado e o impacto da obra de Lovecraft na literatura de terror e de ficção científica. Sua obra tornou-se fonte de inspiração para muitos e o que encontramos hoje é um crescente interesse pela literatura lovecrafteana.

  Penso que essa ausência de uma pesquisa mais profunda sobre a literatura e vida de Lovecraft faz-se urgente, já que não se justifica esperar a produção de um filme ou coisa parecida para poder termos alguma coisa ou comentário sobre sua literatura e sobre o autor. Em minhas poucas pesquisas, observei que a falta dessa literatura a respeito de Lovecraft talvez seja ainda, ecos da falta da credibilidade que ainda esta vinculada ao autor por sua origem nas revistas Pulp, o que acho uma tremenda besteira haja vista que a clareza na escrita e a incrível forma narrativa utilizada pelo autor o põe certamente como um grande expoente da literatura universal. Espero que em um futuro próximo, seja saneada essa falta, já que um autor como Lovecraft e sua relevância, deve e possui relevância ímpar na literatura e, por isso, se faz necessário uma melhor abordagem do assunto. Nesse sentido, talvez, se não haver nada nesse tempo que seja seriamente produzido nesse sentido, que aborde esse tema, farei um pequeno ensaio que fale brevemente da obra e da vida do autor, se tiver fôlego e saúde uma analise por menorizada de sua literatura. Mas como disse, se não houver nada feito até então.



Agradecido a quem leu essa pequena missiva.

R.M.J



domingo, 14 de julho de 2013

A TRISTE LUTA DOS VENCIDOS EM UMA COMPETIÇÃO QUE SÓ OS DE "FORA" GANHAM OS LOUROS: Um relato do submundo dos quadrinhos alternativos.

        


Já faz mais de duas décadas que venho acompanhando o mercado interno de quadrinhos em Natal e no Brasil. Principalmente, aqueles ditos alternativos. Venho com o decorrer do tempo constatando uma triste realidade, a saber, autores de quadrinhos alternativo nunca tem ou terão valor para aqueles que lê quadrinhos seja em Natal ou no Brasil, haja vista a própria valorização que damos pelos chamados desenhistas e roteiristas estrangeiros em detrimento daqueles que a duras penas produzem hqs muito boas em território nacional. Não adianta discutirmos aqui a falta de distribuição, de uma forma que represente adequadamente o nosso produto, da falta de incentivo financeiro e editorial, do amadorismo de muitos autores e etc., isso todos nós sabemos! Contudo, a dificuldade maior no meu modo de ver esta na falta de reconhecimento até mesmo daqueles que trabalham e convivem conosco. Basta ver isso nos eventos e na quantidade de pessoas que comparecem as palestras desses autores que é mínima para não dizer irrisória, uma pena, realmente. Além disso, sabemos que não há como sobreviver somente de quadrinho em Natal assim como no Brasil e isso é um fato. O que dizer, então, quando se compete com as super estrelas que residem no país, mas trabalham para fora. Principalmente, com os super heróis americanos e agora o manga! Mesmo possuindo ótimos trabalhos, em que o material desses autores alternativos não deixa nada a desejar para qualquer autor que trabalhe para fora. Pois bem, entre nós do meio alternativo, há o adágio de que se queres ser reconhecido e ter o tratamento igual aos autores que trabalham para fora tens de produzir para fora também, pois só assim terás salas cheias e reconhecimento, do contrário, continuaríamos a nos rastejar pelas sobras do anonimato e continuar vendendo nas feiras e para parentes e colegas nossos desqualificados quadrinhos underground.

Certa vez, em um evento aqui em Natal, estava lá eu com outros três na mesma mesa que "grandes" ilustradores de comics de fora estavam e que nos antecederam, quero reiterar que não tenho nada contra ninguém e nem contra eles, aliás admiro muito deles, mas o que me chamou a atenção foi simplesmente por que os mesmos por trabalham para fora possuem tratamento diferenciado, além de ter gente em pé assistindo sua palestra enquanto que, quem trabalha com HQs alternativas no país são completamente ignorados pelo leitores e por isso de termos minguadas 08 pessoas . Foi impossível de fazer uma comparação da presença massiva que nossos antecessores tinham enquanto no nosso debate tinham de 40 lugares apenas 08 cadeiras ocupadas. Não tínhamos grandes autores trabalhando para grandes, médias, pequenas ou seja o que for  Editoras de fora, pois essas são mais importante do que os autores locais e seus simplórios trabalhos. Nesse sentido seremos eternamente colonizados por nossa descriminação patente por aquilo que é produzido internamente no pais. Sei que existem exceções como a "Turma da Mônica" e etc, mas como se diz são exceções e não a considero quadrinho alternativo, por que ela já possui parâmetros parecidos com o que encontramos no mercado externo como distribuição, linha definida de títulos e etc. Ainda mais por que vende até mesmo mais do que os quadrinhos estrangeiros, nesse ponto me sinto orgulhoso de ter essa fonte de resistência, mas o que sinto falta é alternativas de leituras além dessa!

        Fico muito surpreendido quando vejo o anuncio de um evento de quadrinho e escuto e observo nomes conhecido do mercado exterior e o mais completo silêncio sobre os quadrinhos alternativos e seus autores nacionais, apesar, deles serem mencionados na programação. Fico pensando que de fato não vale a pena pô-los em destaque mesmo que produzam historias que mencionem a cidade do evento ou a cultura do seu país, pois eles não são famosos e seu quadrinho deve ser considerado tanto materialmente como narrativamente inferior graficamente.  Constato, tristemente,  que nossa leitura sempre foi subserviente ao olhar estrangeiro do outro em vez de voltarmos a olhar para nossos próprios relatos e crônicas.


      Uma outra coisa que observo nos eventos que participei é que não podemos por dois autores de HQs que trabalhem em mercados diferentes, a saber, um ilustrador que trabalha para fora e um ilustrador que trabalha internamente para dá autográfos, por que, com certeza, este último esta fadado a ficar pacientemente esperando algum incauto que não saiba que ali, do outro lado da feira, esta fulano ou beltrano que trabalha para a editora fulano de tal, do exterior. Vi algumas vezes isso acontecer!  Ainda temos as entrevistas que só procuram os quadrinistas ditos "alternativos" quando não tem ninguém com nome mais conhecido do que ele ou que nem precise ser mais conhecido, mas que baste trabalhar para uma editora qualquer de fora, que nem precisa ser das médias para logo ganhar relevância sobre um autor local.


Certa vez quando estava na Fliq do ano de 2012 escutei de um autor da Bahia e outro da Paraíba, no Evento do TOP TOP na própria Paraíba, que era muito difícil divulgar  e produzir hq no Brasil, e era um desestimulo o fazê-lo, devido a pouca divulgação e o pouco valor que se dá ao produto nacional, a nossa cultura. Imagina quando você vai a um debate em um evento de HQ e constata na realidade o valor que damos aos autores nacionais de hqs , mostrando isso através da presença do poucos  gatos pingados que vem a esse debate. Então, o que podemos fazer para  melhorar isso, e ao mesmo tempo conseguir algum tipo espaço entre os leitores brasileiros, na mídia e o respeito dos artistas que trabalham para fora. 

      Talvez a saída que encontro é começar a produzir pequenos eventos que tenham a temática apenas de quadrinhos "alternativo" ou "underground", pois poderíamos mostrar também que há alternativas possíveis de leitura que não somente o quadrinho convencional que encontramos no mercado nacional. Penso, que devemos incentivar a leitura e a produção tanto local quanto nacional para produzir hqs que tenham temas ou uma visão sobre assuntos tipicamente nacionais. Entendo, que esse discurso ainda esta no âmbito da utopia mas já é hora de encararmos essa possibilidade de frente e deixarmos de apenas achar o olhar estrangeiro mais atrativo e procurarmos, mesmo sabendo que é mais difícil e que muitas vezes  em vez de ganharmos dinheiro pagamos pela produção de nossa própria hq isso não desmerece em nada nosso trabalho, pelo contrário, nos orgulha fazê-lo e gostaria muito que esse sentimento fosse compartilhado por todos os brasileiros. Também sabemos que muitos de nós temos não trabalhamos diretamente de HQs, ou melhor, vivemos de quadrinhos, mas enquanto os artistas estrangeiros estão submissos a temáticas restritas a cultura daquele país. Imagina, temos muitos ilustradores que desenham os prédios e cenários dos EUA do que mesmo não fez em sua vida uma linha na mesma proporção de lugares e coisas de seu pais. Nisso o autor alternativo tem muito a trabalhar e quem sabe, em um futuro próximo, possa realmente encontrar um mercado mais aberto e favorável a seu olhar. Enquanto isso continuamos a trabalhar ocultamente e incognitamente nos porões dos quadrinhos, enquanto essa consciência não seja tomada.



 Saudações mil desse autor




R.M.J

quinta-feira, 11 de julho de 2013

LICANTROPIA: O CONFLITO ENTRE A RAZÃO E A EMOÇÃO NA CONDENÁVEL VIDA DE GRISWOLD

O lançamento de uma Historia em Quadrinhos é sempre um evento maravilhoso, em que a obra criada e os seus criadores compartilham em cumplicidade com amigos e apreciadores da nona arte de seu nascimento. Parece ser um filho que damos a luz e nos vem reunir os amigos e admiradores a seu redor. Assim o foi com a HQ " A Condenável Vida de Griswold" da qual fiz o prefácio. Nesse momento, penso que novamente a Kótica acertou a mão nesse novo empreendimento. E como não acertaria, com o texto poético e visceral do grande escritor Marcos Guerra, além da arte do Paulo Silva que nos faz sentir um frio na espinha, assim como nos evoca o medo, resgatado das entranhas de nosso subconsciente que achávamos que não havia como algo provocar esse sentimento.

De fato, a Historia parte de um pressuposto brilhante e instigante, a saber, de que o dito Griswold  Übel realmente existiu e foi julgado, admitindo no julgamento sofrer de licantropia e de ter sido realmente o assassino de jovens e crianças do seu vilarejo. A época desse julgamento se situa lá no século XVI e foi  talvez o único documento registrado que menciona alguém  sofrer desse mau. Se considerarmos ao longo da historia humana que a lenda do lobisomem é tão persistente a nossa memória quanto a do vampirismo, logo notaremos que esta se torna fonte de inspiração para tantas mídias e meios de comunicação como, por exemplo, o folclore, a literatura, cinema, rádio, poesia e demais artes.

Se considerarmos o cinema e a literatura, sem levar em consideração as diversas teses e livros de folclore e antropologia que fazem uma reflexão sobre a licantropia, que não são ligados ao entretenimento e ficção da lenda, o que constatamos é sua perversão e por que não dizer degeneração para a violência gratuita e sem sentido. O que vale é o mostrar a violência pela mera violência, contribuindo assim para uma estética da violência sem o vinculo proeminente da reflexão sobre sua natureza selvagem que põe o homem lado a lado com o seu lado negro e cruel, por que não dizer irracional? Nesse sentido, perde-se o foco da lenda sobre o lobisomem e nada de novo podemos encontrar sobre a lenda. O que nos leva a perder a razão em um momento de furia. O que nós faz adorar um belo jantar que em aparência é horrível, mas o olfato nos leva a imaginar que é delicioso.  Por que minto e sinto vontade de arrasar com alguém que não me fez nenhum mau aparentemente? As dúvidas são muitas, mas uma rápida analise da lenda em livros sérios nos leva a observar que o homem não esta assim tão distante da fera quanto os séculos de estudo nos fez e faz imaginar.

Nesse sentido, "A Condenável Vida de Griswold" é uma obra que deve ser considerada da mais extrema
relevância e mais ainda, digna de ser lida, devido o texto seguir uma graciosa métrica entre poesia e relato imagético que são bem equacionado no percurso da historia. Além disso, devemos destacar que apesar de ser uma ficção, possui uma pesquisa bastante aprofundada sobre o caso, mas que teve que ser criada vários subtramas com vista a dá um contexto ao julgamento já que o relato do dito documento sobre o caso esta restrito a penas aos  recônditos de seu julgamento. Esse é o desafio do grande escritor Marcos Guerra, criar uma atmosfera compreensível entre o julgamento que é o final do processo e as ações do personagem que o levaram a cometer o crime. Também existe dentro da historia da "Condenável" uma disputa não implícita ou será que não entre o catolicismo romano e os protestantes, algo já existente no império germânico que o dividia imensamente tanto sobre a égide da religião quanto sobre o âmbito da política. O texto de Guerra, na CONDENÁVEL,  igualmente me faz pensar que o personagem possui acessos a delírios esquizofrênicos que ora o faz escutar vozes de um lado vindas de um cordeiro e de outra vinda de uma voz onipresente e obsessiva. Realmente, o texto da "Condenável Vida de Griswold" vai ao longo das páginas revelando uma trama nada convencional que destoa da maioria das historias de comics e até mesmo de literatura convencional que podemos imaginar. Nesse ponto, demos parabéns ao ilustre escritor.

Outro ponto positivo é a arte fantástica em muitos momentos de Paulo Sergio que dá movimento e credito a narrativa gráfica da historia e compõe equilibradamente com o texto do Marcos Guerra uma magnifica narrativa. Seus tons de cinza assim como a bruma que permeia toda a historia parece sempre levar o leitor a tentar encontrar a narrativa, alguns leitores podem até ter dificuldade na leitura e na compreensão gráfica da historia, principalmente creio por que a impressão não ajudou muito, mas isso antes de atrapalhar, funciona maravilhosamente bem na narrativa por que faz o leitor prestar redobrada atenção na narração e desperta seu interessa na tentativa de descobrir o que esta se passando entre as brumas. Isso o faz também viajar dentro do subconsciente de Griswold além de ver a partir de sua perspectiva a linha de acontecimento que se desenrola na historia. Desse modo aquilo que poderia depor contra a narração se mostra, ao contrário, um estimulo a leitura tanto do texto como da narração gráfica. Por conseguinte, a arte de Paulo Sergio contribui e muito para a narração da Condenável e sua composição narrativa mostra que é possível contar boas historias sem cair na armadilha dos clichês e etc. Nesse sentido, creio que Marcos Guerra e Paulo Sergio conseguiram contar uma bela historia que mistura o tom sombrio e soturno em uma ode a inteligência. Parabéns a seus idealizadores e a toda a equipe da Kótica.



Postado por Renato Medeiros