O MÁGICO

Confira essa nova animação do diretor de Bicicletas de Belleville.

BALADA DO AMOR E ÓDIO

Confira nossa crítica sobre o mais novo filme do cineasta espanhol Álex de la Iglesia.

FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS

O projeto de extensão “cores” nos convida inicialmente a um espetáculo sobre a vida da artista plástica, mexicana, Frida Kahlo.

ARTEROTISMO - UM CONVITE

Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...

"A CULPA É DA SOCIEDADE"

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

OS CONTOS DE HORROR DO MESTRE ARTHUR MACHEN SERÃO PUBLICADOS FINALMENTE NO BRASIL...NÃO PERCAM!

A editora Clock Tower busca publicar escritores clássicos com foco no Terror que dificilmente "outras" editoras no Brasil não se interessam como H.P. Lovecraft,  Robert E. Howard e agora Arthur Machen. Suas publicações são feitas com cuidado e excelência que vão desde uma pesquisa pormenorizada da biografia do autor até um apanhado e apresentação, contendo notas de rodapé explicando curiosidades de alguns contos. Na maioria das vezes os contos contidos nos volumes publicados são inéditos no pais e dificilmente seriam impressos. Vale salientar que é um fato notório que o terror em nosso pais esta ainda engatinhando em termos de publicações e imaginem  no que se refere a impressão e divulgação dos grandes mestres desse nicho como os supra citados acima. O cuidado maravilhoso que os volumes da Clock Tower dá a suas publicações são fantásticos e bem cuidados que fazem muitas vezes invejas as raposas editoriais de nosso país. Dito tudo isso penso que não é preciso dizer que vale muito apena adquirir este impresso e deverá-lo a cada noite. Recomendo demais a todos. Segue abaixo as principais características da publicação desse maravilhoso autor.



ARTHUR MACHEN – O MESTRE DO OCULTO

(livro disponível até 31/12/2016)
Edição limitada reunirá 9 contos do autor galês, incluindo sua obra mais conhecida, ‘O Grande Deus Pã’ e uma série de extras incríveis!
A Editora Clock Tower, responsável pelo lançamento de O Rei de Amarelo e O Mundo Fantástico de H.P. Lovecraft, estar terminando o financiamento de Arthur Machen – O Mestre do Oculto, primeira obra mais completa em português reunindo obras do autor. E a editora tem planos no futuro de seguir com livros de Machen, uma vez que eles tem material já traduzido para mais 2 livros.
Assim como em seus lançamentos anteriores, a Clock Tower define este novo projeto como um “livro participativo”: quanto mais pessoas adquirirem a obra, mais extras poderão ser adicionados. O livro só poderá ser comprado na pré-venda, e depois disso não será mais vendido.
Arthur Machen foi um escritor e jornalista galês, conhecido por suas obras sobrenaturais e de fantasia. Seu conto mais conhecido, a novela O Grande Deus Pã, estará no livro da Clock Tower junto com outras obras inéditas em nosso idioma.
Arthur Machen – O Mestre do Oculto pode ser adquirido com todas as facilidades possíveis no link:
Mais informações sobre o livro:
Lista de contos:
1 – A luz interior
2 – A mão vermelha
3 – A pirâmide de fogo
4 – Ao abrir a porta
5 – O povo branco
6 – O pó branco
7 – O sinete negro
8 – O grande deus Pã (novela)
9 – Um jovem brilhante
APÊNDICE
- Artigo Machen x Lovecraft
- Biografia da Equipe Editorial
- Nome dos colaboradores
- Endereços web dos parceiros da editora


FLIQ 2016 O EVENTO QUE MUDOU OS QUADRINHOS POTIGUARES





Passado o sexto  Fliq - Feira de Livros e Quadrinhos realizado no Estado do RN, podemos fazer algumas considerações sobre o evento. Primeiro ponto em termos monetários foi fraco em relação ao ano anterior. Outra coisa a ressaltar foi algumas falhas que dificultaram no meu modo de ver a divulgação do evento através da comunicação de sua realização e tudo o mais e que não chamou tanto a população para comparecer ao evento.  As falhas que houve, imagino sempre ocorrem em eventos como esse e que penso melhorará com certeza em eventos futuros. Tais falhas me parece se centralizaram na má divulgação do próprio evento que foi no meu modo de pensar feito em cima da hora e em poucos meios de comunicação ou quase nenhum, só faltando uns poucos dias. Reparem bem, eventos de cultura são raros e o pessoal de Natal por terem pouco ou nada de eventos desse tipo já nem esperam que os mesmos aconteçam dado o histórico de "descaso" dos governos com a cultura. Sei que o FLIQ já é o sexto e parece meio que consolidado no calendário assim como a CIENTEC, mas a situação econômica do país e o desdém e descaso que a mídia ( em meu modo de ver isso) tratam eventos culturais em Natal/RN que não tenham um político envolvido é um caso sério, só contribui para tornar o evento mais distante da população de modo em geral. 

Desejo destacar também no FLIQ a falta de alguém que trabalhasse na coordenação que respondesse
por divulgar a mesa de bate papo de autor e eventos dos Estandes sejam eles de quadrinhos ou de livros, para mim foi complicado saber quando seria,  já que eles é que são as principais estrelas do evento, pessoal vamos atentar para isso ok? Outra coisa para chamar atenção do pessoal responsável pelo evento é a distribuição dos artistas pelo corredor da cidade da criança chamado de artistas Alley pessoal tudo bem terem botado o pessoal junto próximo ao lago, mas existia ali uma sala climatizada ao lado  com dois ar condicionados que "torrava" o pessoal por jogar o calor do ar nos próprios artistas e que espantavam os possíveis fregueses. O lugar apesar de mais confortável e com uma boa vista tinha esse problema que recomendo repensarem no próximo ano (espero que ainda tenha já que há tanto corte de gasto e a cultura sempre é a primeira a entrar na faca, principalmente  para o povo). Outra sugestão é a distribuição das mesas e cadeiras que achei poucas e o revezamento ficou estranho, pois a todo o momento se tinha artista tendo que tirar rapidamente o material para que outro pudesse "montar" material e vender o que ficou bastante estranho e atrapalhado, vamos atentar para isso no próximo evento que o pessoal foi uma das atrações desse ano além dos quadrinistas é claro. O ponto positivo de muitos é que houve para mim uma evolução na forma como foi distribuída as mesas nos artistas Alley que ficou melhor tirando é claro, o problema com o tempo das mesas para cada pessoa. Além dos espaços das editoras que ficou mais bem distribuído e que permitia o melhor transito dos leitores pelas prateleiras. Os estandes também estavam muito bem montados e dispostos o que dava para se observar de longe. O evento em geral foi bacana, mesmo sentindo a ausência das escolas no local, conseguiu mostrar que o Fliq se torna um evento cada vez melhor e deve ser um ponto de encontro para aqueles que adoram a cultura de modo em geral.


Agora posso falar do lado positivo que são muitos a meu modo de ver. Primeiramente, apesar de pouco movimentado, senti falta das Escolas no local, e isso foi estranho, os lançamentos, palestras e as conversas com poetas, literatos e cordelistas foi fantástico. O Estandes nem se fala muito sortido e sempre bem servido de material interessante que só abrilhantou o evento. Estandes como dos Jovens  Escribas, do Erivan, Livraria Câmara Cascudo e Sebos foram destaque, sempre movimentados e com palestras. Outros Estandes como dos cordelistas e poetas do RN sempre com eventos de recitais e contos de história abrilhantaram e tornaram os quatro dias magníficos e lindos. Os quadrinistas foi outro destaque sempre alegres e dispostos com material farto (como era impressionante ver tanto veteranos do Traço como o Ivan Cabral, Márcio Coelho, Luiz Elson, Gilvan Lira, Carlos Alberto (Galego), Marcos Garcia e outros junto com jovens e promissores talentos como Leandro Moura, Cristal, Rodrigo Xavier, Gabriel, Jú, Analu e tantos outros foi um sopro de alento e uma promessa de futuro. Aliás tem de se destacar o clima animado que reinou em todo evento no corredor dos artistas Alley era impressionante o material e a vontade de mostrar como os quadrinhos pode ser uma midia tão promissora que vem se destacando ano a ano no Fliq. Imagino que nesse sexto Fliq o material e os lançamentos foram maiores do que os dos anos anteriores e me parece que virá muito mais pela disposição dos participantes.


É importante ressaltar o que já estava ficando evidente a cada ano, esse evento se torna melhor
em termos de publicações e lançamentos. Tendo inclusive, a característica principal de fazer algo que há muito tempo não era possível, a saber, definitivamente reuniu e possibilitou a troca de experiência não só do Cordelistas, Poetas e Literatos como dos Quadrinistas Potiguares. Muito discussão sobre como se poderia melhorar o que já estava ótimo foi possível de se constatar nas rodas de conversas dos autores, além de promover a interação entre público e autor, contribuiu o evento por surgir novos coletivos como o caso do "Tinta Negra" formado por Marcio Coelho ( finalmente nos mostrou material inédito que escondia hehehe), Gilvan Lira ( O virtuose), Ivan Cabral ( A lenda da Charge) e o magnifico Williandi. Mostrou igualmente que podemos sim ter uma produção independente, no caso dos quadrinhos, com temas inteligentes e diversificados. Os temas das hqs tinham para todos os gostos indo do cômico ao da ficção cientifica. Tendo lançamento de charges e webtirinhas como os da tiraninha,

 Devemos também ressaltar pontos positivos como a realização por si mesma de uma feira como essa já é uma vitória sem tamanho no meio de tanta aridez cultural que existe na capital potiguar. Como é impressionante ver tantos autores potiguares escrevendo e outros produzindo quadrinhos de forma independente sem incentivo do Governo e de órgãos responsáveis pela cultura, foi de fato a impressão mais destacada que poderíamos ter do evento.

Fico com muita esperança que o próximo ano venha outros FLIQs melhores ainda do que houve esse ano. A produção de cada autor vem crescendo em qualidade e criatividade, mesmo com todos os obstáculos surgidos esse ano deu para se ver selos e coletivos surgirem como o Tinta negra com a magnifica públicação Vôtz! e o Coletivo Quadro9 que lançou junto com os jovens escribas a quadrinização do Maldito Sertão. Tivemos muita coisa boa sendo lançada como o Livro Ilustrado "O Assassino de um milhão de dolares" e "Não é uma dupla Dinâmica" do Wanderline Freitas. Além das Edições especiais da Maturi do Luiz Elson e Lampião da dupla Carlos Alberto e Garcia, a também magnifica edição de Boca do Lixo de Jamal Sigh e Wendell Cavalcante que recomendo demais a leitura. Se pudesse ficaria aqui o tempo todo falando dos autores e do evento, mas penso que a mensagem que desejaria deixar seria que OS QUADRINHOS POTIGUARES TENHAM VIDA LONGA..... valeu pelo evento pessoal.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

ENTREVISTA COM JÚLIO EMILIO BRAZ
PARA O BLOG FASEAFASE.BLOGSPOT.COM
EXPEDIENTE: Weynna Doria, Ceres Lima e Renato Medeiros


EMENTA: O objetivo dessas entrevistas visa mostrar o panorâma em que se encontra os Roteiristas de Historias em Quadrinhos que contribuíram de forma geral para a formação de um público leitor e consumidor dessa mídia. Nesse sentido, procuramos saber o que pensam os grandes mestres e escritores desse universo sobre o momento atual, procurando igualmente traçar um perfil do pensamento e das influências tanto de Roteiristas “consagrados” como dos noviços na perspectiva da saber quais os rumos que podemos esperar para as HQs na contemporaneidade.




BIOGRAFIA:
Júlio Emílio Braz nasceu em 16 de Abril de 1959, na pequena cidade de Manhumirim, Aos pés da Serra de Caparaó. Aos cinco anos mudou-se para o Rio de Janeiro, cidade que adotou como lar. É considerado um autodidata, aprendendo as coisas com extrema facilidade. Adquiriu o hábito de leitura aos seis anos.
CARREIRA:
Iniciou sua carreira como Escritor de roteiros para histórias em quadrinhos, publicadas no Brasil Portugal, Bélgica, França, Cuba e EUA. Já publicou mais de cem títulos.
   Em 1988 recebeu o Prêmio Jabuti pela publicação de seu primeiro livro infanto-juvenil: SAGUAIRU.

Em 1990 escreveu roteiros para o programa Os trapalhões, da TV Globo, e algumas mini novelas para a televisão do Paraguai. Em 1997 ganhou o Austrian Children Book Award, na Áustria, pela versão alemã do livro CRIANÇAS NA ESCURIDÃO (Kinder im Dulkern) e o Blue Cobra Award, no Swiss Institute for Children-s Book.

ENTREVISTA:
1 – Fico muito honrado por iniciar essa seção de entrevistas com um dos maiores roteiristas brasileiros de HQ´s, na minha opinião, Julio Emilio Braz, e começo nossa conversa perguntando sobre o início de sua carreira como roteirista de Historias em Quadrinhos na década de oitenta, me diz do que você se lembra daquela época, dos ilustradores, mercado, roteiristas e a relação com as editoras?
Resposta: Foi realmente engraçado. Estávamos no último trimestre de 1980 e eu acabara de perder o emprego, gerente de retífica. Não conseguia emprego e estava meio desesperado. Foi nessa época queum amigo de meu irmão, que trabalhava na Editora Vecchi, falou que a editora estava publicando autores nacionais e como eu escrevia, deveria levar meus trabalhos lá. Ele me deu o nome do editor, Otacílio Barros, e eu, como não tinha nada a perder, fui lá. Cresci lendo quadrinhos e tinha um monte de ideias para personagens e as sinopses de várias histórias. Levei as minhas ideias e o Ota realmente foi muito legal. Leu tudo pacientemente, mas me disse que as revistas que publicavam, noves fora Ken Parker e Tex (entre outros), que eram western e material importado da Italia, se destinava ao público leitor de terror. Não sei se ele notou meu desânimo, mas pinçou um dos personagens que eu levara (um capa & espada que se passava no Recife, durante a Invasão Holandesa no século XVII), e sugeriu que eu o transformasse num personagem de terror. Na hora que o Ota estava sendo apenas gentil ou estivesse fazendo jus a cara de louco que eu imputara a ele desde que entrei em sua sala. Mesmo assim topei e foi deste modo que o Pedro Salvaterra, nome do meu personagem, se transformou em Jesuíno Boamorte, um morto-vivo que lutava contra os holandeses. Naquela época a revista Spektro, onde a história foi publicada, tinha uma pesquisa no final de cada número e os leitores gostaram da história e o Ota pediu mais. Vale salientar que grande parte do sucesso da série se deve ao excelente Zenival Ferraz, cujo traço refinado e a sólida pesquisa iconográfica, deram um plus no trabalho. Dali em diante fui escrevendo e sendo aceito nas outras revistas da Vecchi. Trabalhei com gente boa de verdade como Otto, o próprio Zenival, Julio Shimamoto, Colin, e através desses trabalhos e contatos fui alcançando as editoras paulistas e a curitibana Grafipar, onde, inclusive, comecei a fazer roteiros eróticos. Naqueles anos 80 e até meados de 90, havia muitas publicações (muitas, bem efêmeras, vale salientar) abrindo as portas para gente do quilate do Mozart Couto, Rodval Matias, Bené Nascimento, Deodato Filho, entre tantos, muitos deles que acabariam alcançando até o mercado estrangeiro, particularmente o norte-americano, como é o caso do Bené (Joe Bennett) e o Deodato (Mike Deodato). Havia certo amadorísmo na coisa toda, mas muita criatividade e imaginação. Existiam maravilhosas impossibilidades como as revistas da Editora D’Arte, do grande Rodolfo Zalla, produzidas sabe-se lá como, mas que realmente sustentou muitos caras de talento (ouso dizer aqui que Zalla foi um dos caras mais honestos com que lidei até hoje; os chequinhos que mandava pelos trabalhos chegavam direitinho e em todas as ocasiões que precisei, ele me ajudou imensamente, aoponto de, acredito, ter comprado mais roteiros meus que conseguiu efetivamente ilustrar e publicar), ou o entusiasmo juvenil do Franco de Rosa, outro grande acrobata daquela indústria meio louca mas muito produtiva. Outra coisa interessante era a enorme quantidade de fanzines que em muitas regiões do país, como o Nordeste, serviam de espaço para a divulgação de autores locais.
2 – Bem considerando que naquele tempo, e creio como agora continua sendo muito difícil roteirista de quadrinhos viver somente disso, era natural você buscar outros meios de sobrevivência que não se resumisse as Hqs, Isso nos leva a perguntar se a transição das Hqs para a literatura, especificamente a adolescente em que você se destaca notadamente aconteceu naturalmente ou teve alguma dificuldade?
Resposta: Nem tanto. Escrever é escrever. Salvo as necessárias adaptações a cada gênero, a fórmula é sempre a mesma: ter a ideia e tirá-la da cabeça para aprisionar no papel. Realmente, para o roteirista e principalmente naqueles tempos, era difícil viver apenas da venda dos roteiros até porque as editoras também lidavam com muitas dificuldades na busca de espaço e aceitação num mercado majoritariamente dominado pela produção estrangeira. Por isso, enveredei inicialmente paraa produção de livros de bolso. Escrevia basicamente western para editores como Monterey, Cedibra, Nova Leitura, entre outros, e cheguei a me valer de 39 pseudônimos diferentes. Aliás, foi exatamente por conta deste tipo de trabalho que acabei na literatura infanto-juvenil. Eu estava saturado de escrever bang bang e pior ainda, um dia me peguei frente a constatação de que sabia mais sobre o índio norte-americano (ainda sei, confesso) do que sobre o índio brasileiro, ou seja, eu “estava” (geograficamente) no Brasil mas não “era” brasileiro. Filosofias aparte, comecei a ficar encafifado. Adoro enviar cartões de Natal (mesmo hoje, com essas tecnologias modernas, meus amigos mais íntimos recebem o bom e velho cartão) e estávamos no Natal. Fui a uma papelaria do meu bairro para comprar alguns e encontrei um cesto onde havia vários livros infanto-juvenis em promoção. Comprei por curiosidade e nem cheguei a lê-los. Ao mesmo tempo, estava em São Paulo e um grande amigo da época (e sumido) Roberto Kussumoto, que ilustrava muitos de meus roteiros, principalmente erótico, e foi meu guia quando eu ainda não sabia andar por São Paulo, me apresentou ao então editor da Editora FTD, Lino de Albergaria, pois havia falado com ele que pretendia escrever juvenis e o Roberto ilustrava para eles. Fomos apresentados e o Lino pediu que eu mandasse alguma coisa. Eu havia lido no Jornal do Brasil um artigo sobre animais brasileiros em extinção e era fã de Jack London, cujo livro que mais me impressionou fora “Chamado Selvagem”. Na matéria falava sobre o lobo-guará e eu pensei na história do London. Uma não tem nada a ver com a outra, mas falavam de cães, lobos e eu escrevi SAGUAIRU, meu primeiro juvenil. Não deu certo na FTD, pois quando mandei o livro, o Lino não estava mais lá e a editora que se encontrava em seu lugar não se interessou pelo original. No entanto, eu já tinha o livro pronto e comecei a procurar uma editora para ele. Acabei na Atual Editora (curiosamente a editora que publicara os livros que euhavia comprado na papelaria no Natal), onde um sujeito muito gente fina, Paulo Condini, acreditou no texto e o publicou. Bom, o livro saiu, em 1989 me deu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro de autor revelação e eu me entusiasmei e resolvi me dedicar mais ao gênero. Hoje são quase duzentos títulos publicados e prêmios  (e publicações)também fora do Brasil. 
3 – Nessa perspectiva sinto a necessidade de saber sua opinião a respeito da possibilidade de considerarmos quadrinhos uma espécie de literatura?
Eu aprendi a ler com quadrinhos. Portanto, quadrinhos é literatura, hoje mais do que nunca. Talvez a mais indicada para o público iniciante, pois alia o visual à escrita. Para quem ainda teima em não aceitá-los como tal, vale a pena citar nomes de autores como Neil Gaiman, Allan Moore, entre outros, que hoje estão entre os grandes autores de sua época de literatura fantástica.
4 – Pois bem, gostaria nesse momento de lhe perguntar se tem lido alguma das Histórias em quadrinhos produzidas no país na atualidade, e se leu qual foi sua impressão?
Resposta: Algo que tem me impressionado sobremaneira é a nova tendência de adaptação de clássicos da literatura para os quadrinhos. Não que seja uma grande novidade. A Editora EBAL, lá para os idos de 40/50 do século XX já fizera muitas adaptações. No entanto, o que espanta agradavelmente é a qualidade dos trabalhos.
5 – Considerando que a evolução dos roteiros complexos já tem um tempo, como podemos notar nas HQs atuais, em termos de roteiros de Histórias em Quadrinhos você tem algum roteirista preferido seja ele atual ou do passado que te influenciou?
Resposta: Sempre adorei Neil Gaiman e continuarei fã de carteirinha do cara. No entanto, um roteirista que me impressionou desde que li a primeira de suas histórias foi Giancarlo Berardi, autor, junto com Ivo Milazzo, do western Ken Parker. Suas histórias são impressionantes. “Adah”, bem como outras tantas (chega a ser difícil escolher), ficaram para sempre em minha memória. Lamentavelmente, em uma de minhas mudanças, eu perdi toda a minha coleção dos tempos da Editora Vecchi (e gostaria de readquiri-la) bem como todos os 412 bolsolivros de western que escrevi (estou recuperando agora, adquirindo em sebos pelo país).

6 – Muito bem, sinto a necessidade de lhe perguntar como era o processo de construção de seus roteiros de histórias em quadrinhos. Havia muita pesquisa, utilizava referências, ou era mais intuitivo mesmo?
Resposta: Sou apaixonado por História e inclusive acabo de concluir meu curso de Licenciatura em História na Unirio. Além de gostar de trabalhar com temática histórica, gosto de pesquisar muito, o que faço e mesmo ao fazer, já gosto de pensar em termos do estilo de desenho que gostaria de ver associado ao que estou escrevendo. Anoto tudo o tempo todo (nomes, sugestões de títulos, apelidos que ouço, sou um colecionador de coisas). Portanto, sou metódico ao bolar um roteiro. Obviamente começo com uma ideia e faço igual a um camelo, fico ruminando a ideia até por anos, construindo-a pacientemente na cabeça. Anotada a ideia em uma sinopse resumida, construo o que chamo de esqueleto. Trata-se de uma ficha onde anoto os nomes dos personagens e locais onde ocorrerá a história. Descrevo física e psicologicamente os personagens e fisicamente os locais (por vezes, arrisco até fazer plantas e desenhos). Posteriormente, calculo mais ou menos quantas partes ou capítulos terá a história e em cada número descrevo a ação principal em torno da qual vou paulatinamente desevolvendo não só a história quanto a hipótese dos vários diálogos e situações. Finalmente escrevo a primeira história, ou seja, capturo a ideia. É o texto bruto sobre o qual ireitrabalhar para tirar excessos, redundâncias, amarrar bem a narrativa. Estando satisfeito, envio o material para a editora ou diretamente para o desenhista/ilustrador.
7 – Sei que você trabalhou com muitos Desenhistas fantásticos nos anos 80  e gostaria de conhecer como era o processo de criação de historias em quadrinhos com eles e também gostaria de saber se tinha algum desenhista preferido daquela época que trabalhou contigo e lhe causou uma boa impressão?
Meu preferido desde sempre foi o Mozart Couto. Fizemos muitas coisas juntos e mesmohoje, eu o chamo para ilustrar muitos de meus livros. No entanto, lidei com uma turma bem legal como o Flávio Colin, o Shimamoto, Rodval Matias, Seabra, Kussumoto, Otto e por aí vai. Muitas vezes eu escrevia os roteiros e mandava para a editora que aí sim enviava para eles. No entanto, em alguns casos, o trabalho foi direto. Fiz com o Mozart um personagem infantil chamado Tambatajá, para um editor belga, e tínhamos longos papos pelo telefone em cima do que eu escrevia. Lembro também que fiz um material legal com o Rodval Matias para o mesmo editor, Aventureiros da Solidão, sobre bandeirantes, e uma vez passei um tempão discutindo com o Rodval sobre uma cena onde um dos bandeirantes matava uma sentinela índio antes de seu grupo atacar a aldeia. Acontece que a sentinela era um menino e aquilo tocou a sensibilidade paterna do Rodval. Nós ficamos mais de horano telefone discutindo, ele querendo que eu tirasse a cena ou aumentasse a idade da sentinela, e eu fincando pé. Hoje é engraçada, legítima discussão entre esquizofrênicos, mas foi tenso. De qualquer forma, foi um trabalho lindo e até hoje inédito no Brasil. Fiz também um trabalho legal com Arthur Garcia da Rosa, Cruzadinhos, que era uma espécie de Asterix português que ficou bem bacana (este chegou a ser publicado no Brasil, mas a edição fora do Brasil eu não cheguei a ver).
8 – Se possível for você poderia comentar como era o contexto de produção das hqs naquela época e qual a diferente com a produção atual?
 Resposta: Como disse no início, as coisas eram menos profissionais nas editoras que publicavam 100% de material nacional. A estrutura era pequena, a distribuição problemática e as dificuldades, enormes. Muitas revistas tinham vida curta e os pagamentos eram irregulares. Havia o mercado de produção nacional, mas associada a personagens estrangeiros como os personagens da Disney publicados pela Abril (Zé Carioca, entre outros) eo Recruta Zero (escrevi roteiros para ele). Havia o Maurício de Souza e o Ziraldo, mais profissionais. No entanto, a coisa era incipiente, para dizer o mínimo. Hoje tudo é bem mais profissional até pelo fato de muita gente boa brasileira estar publicando fora e os meios de produção permitirem produções independentes de qualidade. A tecnologia também conspira a favor com grandes autores publicando seu material diretamente na Internet ou se valendo de mecanismos de autoprodução como crodwfunding.
9 – Sabemos que você é um grande roteirista além de ter contribuído para as HQs e influênciou muitos roteiristas atuais e que também trabalhou como roteirista em series e programas de tv, mas gostaria de saber se há diferença em escrever em uma mídia ou em outra e como foi a transição de uma para outra?
Resposta: Nenhuma diferença. Existem adaptações a serem feitas, mas não vejo muita dificuldades para, por exemplo, um roteirista de quadrinhos escrever roteiros para a televisão e o cinema. Pelo contrário, tal experiência agrega valores, pois o roteirista de quadrinhos em certa medida ilustra (pelo menos mentalmente) o roteiro que está escrevendo. Realmente não há diferença.

10 – Esta última pergunta é algo que algumas pessoas como eu gostaríamos de fazer, mas que nunca temos a oportunidade adequada para peguntar, sobre ainda podemos ter a esperança de Júlio Emilio Braz voltar pelo menos uma vez a fazer roteiros de HQs? Isso é Possível?
Resposta: Claro. Minhas primeiras leituras foram os gibis que minha tia, empregada doméstica, levava da casa do patrão dela para mim. Foram os gibis que uma vizinha, dona Bela, levava do filho dela (eram gibis de autores brasileiros de editoras como Taika). Adoro quadrinhos. Consumo ferozmente até hoje. Tenho muitas ideias arquivadas e roteiros prontos, deixados em algum lugar de meu escritório. Agora mesmo terminei um texto que mistura literatura e quadrinhos que o Mozart está ilustrando para mim, lembranças e influência de Moonshadow, outro texto deslumbrante que as novas gerações deveriam conhecer.


Agradeço desde já a imensa honra que tive de entrevistar esse grande e fantástico escritor que há muito me influenciou e me ajudou a ler e escrever, foi e é o formador de vários leitores e ainda continua sendo, graças aos céus. Por isso que digo, considerando que o universo dos quadrinhos em termos de ganhos materiais é ingrato e até mesmo perverso. Sei disso já tenho a minha cota de consciência sobre o assunto. Entretanto, vendo agora quando estou diante de alguém como o Julio Emilio Braz que só conheço de foto e de ter lido muita coisa sobre ele e de ter amigos lá dos idos anos oitenta que me falaram sobre esse grande escritor me faz acreditar que esse “universo” ainda é mágico e lindo. Talvez por isso, pelo quadrinho me lembrar épocas mais inocentes e até mesmo ter me ensinado muitas coisas através daqueles roteiristas maravilhosos que mesmo sendo mau pagos e não tendo o reconhecimento que mereciam faziam e ainda fazem por amor a arte de contar historias e fazer as pessoas sonharem com ele. Valeu a todos por conhecerem um pouco sobre esse ícone das HQs nacionais.  

domingo, 26 de junho de 2016






   As tirinhas da vovó mais divertida já publicadas , Marieta, esta no Catarse buscando apoio para sua publicação. Criação de José Verissimo e Ju Verissimo a tirinha online busca financiamento para se tornar um belo impresso com historias inéditas mostrando toda a jovialidade que ultrapassa a barreira da idade.
 
     Me Lembro quando li pela primeira vez esse experimento tão falado pelo amigo José Verissimo com a sua Filha Ju Verissimo, jovem promessa dos quadrinhos ao que me parece, seja bem vinda. Fiquei, a princípio pensando o que o valoroso e criativo Verissimo e sua filha queriam falar através daquela tirinha. Sempre quando leio qualquer coisa falo para mim: "ok, o que esse ou essa autor (a) deseja passar como mensagem para o leitor?" E foi essa minha primeira impressão.
 
     A primeira coisa que constatei foi a leveza e a busca da diversão como mote de toda a tira. Isso para mim é importante para dá o tom de diversão e atrair à atenção do leitor para uma leitura agradável e alegre, mesmo quando trata de temas como a proximidade da morte, o Stress do cotidiano, as questões de diferenças de opiniões e de cor são temas "complicados" tratados nas tirinhas, mas a forma como  é feita mostra-se brilhante. José Verissimo e Ju conseguem dá um tom bem humorado para Marieta que contagia a quem lê. A  netinha de Marieta é outra personagem bastante bacana e torna-se contraponto essencial para nos fazer pensar que o conflito de gerações, afinal, é apenas um ponto de vista já que os velhos seriam apenas um reflexo nosso após anos de experiência e caminho percorrido.
     Aliás, a "química" entre a vó e neta é o que mostra como a tirinha funciona e empolga a quem lê, já que os personagens secundários também são importantíssimos como a dita dona "morte" que é tratada como tudo na tirinha de maneira divertida e sagaz. A leveza, o foco como são passadas as mensagens dos temas tratados, tornam a tirinha uma das mais agradáveis surpresas que já li nos últimos tempos. 
 
     O elenco de apoio, os personagens secundários, também ajudam na trama dos temas abordados pela tirinha. Temos a Morte representada de maneira leve e bem bacana, temos um alienígena que trás a tona questões de diferenças seja de ideias ou de crenças,  de raça, tratando sempre esses temas de forma inteligente e com sensibilidade. Assim o elenco de apoio dos personagens principais também são personagens bem caracterizados, contribuindo para a alegria da tira e para a sua mensagem.
 
     Isso nos leva a pensar que mesmo representando uma anciã, a tirinha tem personagens bastantes icônicos e engraçados que retratam de forma irreverente os conflitos da adolescência, a complexidade de se crescer, a perspectiva diferente de mundo, a finitude da vida e a acolhida do diferente. Realmente, é difícil não observar como é tratada de forma delicada e sensível temas que nem um pouco pareceriam fáceis de serem abordados como a relação vida/morte. Existem ainda as questões de diferenças de cultura e de afinidades entre Marieta e a sua neta que mesmo considerando as diferenças de gerações mostram mais proximidades do que distancias.
 
     Outro ponto positivo nas tirinhas de Verissimo e Ju é a capacidade de falar das diferenças de ideias e dialogar com elas de forma divertida e sem stress. Mostrando que podemos tratar de coisas complexas e polêmicas, mas que mostra ser possível abordar esses temas de maneira divertida sem polemizar o assunto e mostrar que o engraçado é que nada disso vale a pena ser vivido quando no fim, o que resta é apenas opiniões. Pelo contrário sabiamente os autores tratam de temas complicados recorrendo a uma espécie de meta linguagem e simbologia através de outros personagens como um extra terrestre para falar daquilo que nos parece diferente ( e por isso pôde nos causar medo?), mas que no fundo é necessário para que cresçamos como pessoa. Assim, para crescermos devemos acolher e dialogar com o que a primeira vista não estamos habituados, mas que no fim torna-se, justamente por nos diferenciarmos, uma experiência valiosa para a vida.
 
     Enfim, Peço a todos os que leram esse pequeno artigo que confiram essa preciosidade no site https://www.facebook.com/tirasdamarieta/?fref=ts e convoco desde já à todos para CONTRIBUIREM para a realização desse fantástico impresso que acredito será mais uma bela aquisição de bom senso e gosto apurado para sua sensibilidade.
 
PARA CONTRIBUIR PARA O IMPRESSO BASTA ACESSAR ESSE LINK https://www.catarse.me/Marieta
 
 

domingo, 20 de março de 2016

ENTREVISTA COM ROTEIRISTAS E QUADRINISTAS POTIGUARES APRESENTANDO GILVAN LIRA


 
 
 
EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.
 

Gilvan Lira de Medeiros nasceu em São Rafael, RN, em 1963. Trabalha profissionalmente com histórias em quadrinhos desde 1985, quando publicou seus primeiros trabalhos pelas editoras Press e Maciota (ambas extintas). É membro do GRUPEHQ - Grupo de Pesquisa e História em Quadrinhos de 1985, data em que começou a colaborar com a revista  Maturi. Gilvan criou o personagem Zé do Mouse, que foi publicado no jornal Diário de Natal de outubro de 2001 a fevereiro de 2003.
 
 
 
 
ENTREVISTA:

 

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

O que me levou a fazer roteiros  profissionalmente foi o desejo de desenhar minhas próprias histórias. Desenhei roteiros de outros sem nenhum problema, mas percebi que me sentia mais confortável quando ilustrava meus próprios roteiros. Quando eu ainda era garoto, já criava e desenhava minhas HQs, sem ter noção alguma do que fosse um roteiro. Ia desenhando e criando a história ao mesmo tempo. Não planejava nada. Mesmo depois de passar a trabalhar profissionalmente com HQ, meus roteiros eram feitos de forma intuitiva. Emanoel Amaral me deu dicas preciosas sobre a escrita do roteiro e me sugeriu alguns bons livros sobre o assunto. Percebi que a construção da história/roteiro, exige muito estudo e prática assim como o desenho.

 

2 –Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

Fui alfabetizado lendo HQs. A primeira vez que vi uma revista de histórias em quadrinhos, foi nas mãos de minha mãe, no final da década de 1960. Ela estava lendo uma revista do Mickey (da Disney), à luz de lamparina. Eu fiquei  curioso e enchi minha mãe de perguntas. Na época eu não sabia ler e ela foi pacientemente me explicando algumas coisas como: o que eram os balões de fala, de pensamento, o que os personagens falavam entre si, etc. A partir desse momento, me esforcei para aprender a ler e entender o que diziam aquelas letras dentro daqueles balões brancos. Aprendi a ler com as histórias em quadrinhos, que passaram a ser minha leitura preferida.

Depois tive contato com quadrinhos da Editora Ebal, entre eles a revista do Batman, Zorro, Super-Homem e Tarzan, esse sim, foi meu herói de infância. Alguns anos depois conheci o Príncipe Valente, de Harold Foster e Ken Parker, de Ivo Milazzo e Berardi, que simplesmente me fez largar os quadrinhos Disney que eu colecionava há bastante tempo. Harold Foster,  Burne Hogart, Ivo Milazo, Russ Manning, Joe Kubert, entre outros, foram minhas maiores influências no início.

Em 1980, aos 16 anos vim morar em Natal. Três anos depois conheci Marcio Coelho que me apresentou a “nata” do quadrinho europeu naquela época. Isso virou minha cabeça de vez. Até então eu não pensava seriamente em ser quadrinista profissional (queria ser médico), mas a partir desse momento eu não desejava outra coisa. Queria desenhar como aqueles caras. Então, essas foram minhas influências mais marcantes, que me estimularam a querer ser quadrinista.

 

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Meu objetivo sempre é poder contar boas histórias. Não me importa o gênero. Gostaria de escrever HQs que possam despertar o interesse do leitor e que ao final ele se sinta satisfeito com o que leu. Se eu conseguir isso, terá valido a pena o empenho.

 

4 – Muito bem,  você poderia falar um pouco sobre a forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre é um tema muito fácil de ser abordado e aceito pelo grande público leitor?

Geralmente quando vou escrever uma HQ curta, eu a desenvolvo mentalmente e depois faço alguns esboços planejando a diagramação da página, mas sem me preocupar muito com o desenho e sim com a estrutura da história, como o ritmo, a tensão, etc. Algumas vezes a história surge simplesmente, sem uma ideia inicial, como foi no caso da HQ Feira Livre que saiu na Revista Maturi número 1. Eu sabia que teria que fazer uma HQ com tema urbano mas não tinha ideia do que seria e ao passar próximo à feira do Alecrim a história surgiu inteira sem que eu precisasse planejar. Quando voltei para casa rascunhei a história tentando encaixá-la no número de páginas. Depois eu fui pesquisar como eram as barracas, fazer algumas fotos, conversar com alguns feirantes, etc.

Outras vezes eu parto de uma ideia básica e vou construindo situações, personagens, cenas, sequências e vou anotando. Geralmente eu escrevo e faço alguns rascunhos de cenas ou de alguns personagens da HQ. Quando o roteiro é longo, o processo é mais demorado. Antes de escrever eu preciso saber como irá terminar a história. Tendo um começo e um fim, vou construindo a trama até conduzí-la ao final. Nesse tipo de roteiro costumo criar uma ficha dos personagens. Há roteiros em que planejo tudo, sei como começa e termina a história, mas ao escrever, a trama muda de rumo e o final acaba sendo modificado. Mesmo que eu desenvolva a história mentalmente, no processo da escrita ela pode tomar rumos diferentes.

Costumo fazer esboços, estudos rápidos das páginas, já com texto, e mostro para alguns amigos para ver se a história está funcionando, se tem furos. Se houver ajustes a serem feitos, todo o processo é repetido e somente depois que eu achar que o roteiro está bem estruturado é que eu começo a desenhá-lo já no formato definitivo.

Alguns roteiros (muitos deles) eu escrevo em prosa e depois esboço as páginas e construo a HQ, acrescentando ou suprimindo informações. Ando sempre com um bloquinho para anotar as ideias  que me ocorrem quando estou fora de casa. Também costumo gravar em áudio ideias de roteiros, cenas e sequências inteiras. Às vezes durmo com o gravador de mp3 por perto (eu perdi algumas ideias que considerava relevantes para um determinado roteiro por confiar somente em minha memória, que acabou por me deixar na mão).

Com relação a abordar temas delicados, eu procuro ser cuidadoso, mas é sempre complicado pois você pode ser mal interpretado, ainda mais se a HQ for de humor, onde é possível que algo engraçado possa ser entendido como ofensa.

 

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Eu acho que quando escrevemos, ainda que inconscientemente, tentamos desenvolver um texto que tenha nossa cara, que possa ser reconhecido a autoria só pelo estilo da escrita. Experimentações faço o tempo todo, mas dentro de uma área segura e o meu objetivo sempre é tentar contar uma boa história. Todo o resto tem que servir a esse propósito.

 6 – Essa pergunta é cabeciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Eu me considero, no momento, um roteirista independente, mas escrevo pensando em vender. No entanto, nada impede que possa produzir roteiros “alternativos”, como experimentação. O que quero dizer, enfim, é que esses rótulos não me incomodam. O importante é você está consciente do público para quem está produzindo para não se frustrar. Acredito que quem trabalha com HQs quer mesmo é ser lido.  

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há décadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

A situação das HQs atualmente é bem diferente da época em que comecei, participando da Maturi na década de 1980. Havia muita dificuldade para se conseguir imprimir as revistas. Nos anos 90 o pessoal do Reverbo lutou bravamente tentando emplacar seu material em bancas, competindo com o material estrangeiro.

Depois veio o projeto Revista Maturi, com a publicação em formato grande, impressão em offset e com páginas em cores, o Projeto Primeira Impressão, Marcos Guerra e o selo  K-Ótica com inúmeros títulos publicados, o selo de Milena Azevedo e Brum. Percebe-se pelo volume de publicações e de Grupos envolvidos com a produção de HQ no Estado, que o Quadrinho potiguar vem evoluindo e se fortalecendo cada vez mais. Os artistas estão mais articulados, há mais facilidade de se editar e, se ainda não temos um mercado consumidor, por outro lado a parte de produção está muito mais organizada e se profissionalizando. Esse é o caminho.

Com relação ao mercado, hoje com a internet as vendas acontecem mais facilmente. Festivais e feiras de HQs ajudam na divulgação da produção local. É preciso mais eventos, exposições, revistas para veicular nossa produção. Tem muito artista (desenhista/roteirista) e pouco espaço para publicar. É preciso se pensar em estratégias de divulgação e distribuição do material produzido e, acima de tudo, é preciso  estar atento com a qualidade da produção.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as  hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?

Muita coisa boa tem sido produzida no Rio Grande do Norte. O pessoal mais novo, cheio de gás, tem produzido muito. Alguns trabalhos ainda não atingiram a qualidade desejada, mas com o tempo isso acontecerá, sem dúvida.

Uma das HQs que mais me surpreenderam foram os Guerreiros das Dunas, que eu considero um marco do quadrinho potiguar. As HQs da parceria Beto Potygura e Wolclenes na revista Maturi são fantásticas, roteiro e desenhos. Ivan Cabral com seu texto certeiro e desenhos primorosos, também na Maturi, foram uma grata surpresa, uma vez que HQ não era muito sua praia. Gostei muito de Cajun, de Jamal Singh e Wendell Calvacanti... e tantas outras HQs, que enumerá-las aqui tornaria essa lista longa demais.

 

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possível, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

Eu tenho visto muita coisa boa dessa nova e promissora geração de quadrinhistas potiguares, como Marcos Guerra, Jamal, Milena Azevedo, Jozeniz, Mario Rasec, Deuslir, José Veríssimo, Wolclenes, Carlos Alberto, Gabriel Andrade e tantos outros. Além desses autores, tem muita gente boa envolvida com quadrinhos no RN, alguns ainda não estão totalmente prontos, mas com grande potencial.

Vou falar então de artistas que conheço há mais tempo e cujo trabalho venho acompanhando mais de perto.  Existem, no entanto, vários outros autores cujos trabalhos admiro e sem dúvida fariam parte de uma listagem mais abragente.

-Eu gosto muito do trabalho de Emanoel Amaral, tanto  roteiros quanto desenhos. Os Guerreiros das Dunas é uma “senhora” HQ, repleta de ação, suspense, reviravoltas. Emanoel escreve roteiros com uma facilidade de dar inveja. O cara é muito criativo e tem muito conhecimento da estrutura do roteiro, sabe como construir uma boa trama. Tenho aprendido muito com ele.  Pena que não se dedique tanto aos quadrinhos.

-Marcio Coelho é um artista completo que escreve e desenha em qualquer gênero e utiliza variados estilos de desenhos. Marcio amadureceu muito como roteirista e seus roteiros estão cada vez mais enxutos, fruto do estudo constante. Eu tive o prazer de ler em primeira mão inúmeras HQs suas ainda inéditas. São histórias curtas, verdadeiras crônicas visuais, algumas sem uso de balões. Quem sabe um dia, para nossa alegria, ele publica esse material.

-Beto Potiguara é um roteirista criativo e eficiente. A estrutura de suas HQs é coesa, sintética, tudo muito bem encaixado. O ritmo narrativo, os diálogos convincentes nos  prendem e nos conduzem ao desfecho da trama. A prova disso é o material publicado na revista Maturi no projeto Primeira Edição.

Teria muitos outros autores que eu gostaria de citar aqui, mas como você disse, você foi sacana (risos).

 

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?

Como já disse, eu gosto de contar histórias, seja de ficção, fantasia, terror, humor. Venho trabalhando em alguns projetos de HQs já há bastante tempo, desenvolvendo roteiros e planejando a quadrinização, nos gêneros acima citados. Espero em breve concluir parte desse material e publicá-lo.

Quero agradecer pelo convite e espero ter contribuído de alguma maneira.