O MÁGICO

Confira essa nova animação do diretor de Bicicletas de Belleville.

BALADA DO AMOR E ÓDIO

Confira nossa crítica sobre o mais novo filme do cineasta espanhol Álex de la Iglesia.

FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS

O projeto de extensão “cores” nos convida inicialmente a um espetáculo sobre a vida da artista plástica, mexicana, Frida Kahlo.

ARTEROTISMO - UM CONVITE

Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...

"A CULPA É DA SOCIEDADE"

A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...

sábado, 29 de fevereiro de 2020

ASFIXIA E PENSAMENTO UMA RESENHA DE JÁDSON SILVA



Finalmente vou postando por aqui algumas impressões sobre hqs de convidados do blog. Dessa vez, não serei eu a fazer à análise, mas temos o amigo Jadson fazendo. Aí esta sua analise!
 Finalmente, depois de ter me atrasado a ler, consegui dedicar a tarde de hoje para ler A Cidade Asfixiada, e então vim lhe dar minhas conclusões, e espero que com elas eu possa estar ajudando (como leitor) a compreender a visão de alguém sem muito conhecimento de quadrinhos, mas que adora ler. =)
OBS: Serei completamente honesto, então não se preocupe que não fingirei nenhuma resposta. Considere real de minha opinião tudo que aqui expressar. ^^

De início, verdadeiramente, adorei o quadrinho! Tanto em arte como em roteiro. Achei incrível como vocês conseguiram embasar bem, e tornar algo tão palpável. Toda a criação tecnológica, científica, cultural e mudanças sociais, além da adaptação da espécie ao meio. Achei muito bom mesmo! A arte do Rodrigo é impecável! Belíssima! Então, já estou aguardando o volume dois, pois vocês me deixaram querendo muitos mais volumes. kkkk.

Agora gostaria de entrar mais afundo, sobre pontos que acredito que seria bom eu falar minha opinião. Apesar de ter gostado do andamento das conversas, senti que do início do quadrinho até
a página 28, acho, o roteiro não estava tão envolvente, pois seguia basicamente pela narração do Daniel, isso facilitou a explicação de muitas coisas do mundo (ponto positivo), mas deixou um pouco desempolgante por se tratar de muita informação de maneira narrativa, e não como se fosse natural. Contudo, da página 28 adiante o negócio engatou a quinta macha e foi naturalmente fluindo de maneira muito boa, com diálogos bem bolados e detalhes do mundo bem diluídos na conversa. Aquele final poético do "será que ainda somos humanos", me tocou bastante. adorei! Inclusive, gostei muito da pegada de ter uma narração eletrônica sobre "como estava aquele dia" (sua atmosfera, política, qualidade do ar, etc.) que ocorre na história como se fosse um sistema que auxilia os habitantes, além de ser o segundo narrador por um tempo. parecia uma cena de filme sendo narrada. Desse modo passou muito do mundo de forma natural.

Imagino que vocês pretendiam pôr mais ação no quadrinho, no entanto, digo-lhe, na minha visão, que gostei dele do jeito que está. Mais ação pode ser bem
vindo, mas acredito que a pouca ação deu brecha para um embasamento bem mais profundo do mundo que vocês criaram, além do mais, histórias que se prendem em mais ação geralmente peca no roteiro ou na profundidade dos personagens e suas relações. Contudo, senti que esse quadrinho é apenas o primeiro volume de uma longa história. Senti como se ele fosse um episódio piloto, que nos revela um dedo do mundo mas que ainda haverão vários outros que completaram o corpo inteiro. Então, estou aguardando os próximos! O teor filosófico e crítico social tá dando um tempero a mais na história. =)

A impressão realmente não ficou muito boa. Possui alguns textos que dificulta levemente a leitura. Porém, eu tô ligado que foi o problema com o arquivo em PDF.

Obrigado pelo ótimo trabalho que tive o prazer de ler! Comprarei os próximos com certeza!
Um grande abraço, Renato! Parabéns pra você e pro Rodrigo! \o/

Resenha de Jádson Silva

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O HORROR SERTANEJO DE MARCIO BENJAMIN




O HORROR SERTANEJO DE MARCIO BENJAMIN

            Hoje em dia não precisamos procurar muito entre os escritores potiguares quem trate do tema terror/horror, pois logo aparece o escritor Márcio Benjamin como referência. Caboclo arretado e as vezes surtado nas letras do abissal, que faz do gênero terror, cadafalso para nossos medos mais medonhos. Consegue até evoca-los como mágica, a partir de um tantinho de medo de coisas incompreensíveis para o cidadão não sertanejo. Tenho medo disso, mas sou teimoso e sempre volto a lê-lo. Oh homem condenado de bom em escrever essas coisas que reviram o estômago e congela os ossos, fico arrepiado só de pensar.
            A carreira desse menino começa por gostar do gênero, novidade isso?! Mas o simples gostar não é requisito suficiente para ser um bom escritor, isso tem muito de esforço, coragem e estômago (quem escreve sobre o tema sabe disso!), talvez de talento. Sua carreira livresca começa com a primeira edição da obra que apelidei “aquela pálida, desgraceira daquelas coisas da caatinga esturricada”, Maldito Sertão, depois republicado em tons verdes e ampliado e na qual renomeei posteriormente de “ Contos do agreste (ou seria infernal trocadilho com infernal?), que congela alma”. Tirando essa pequena intimidade minha com a obra, descrever os sentimentos ao ler a literatura de terror desse caboclo medonho, me faz concluir que tenho uma simpatia por ele porque é doido. Mas não é doido aqueles de jogar pedra em gente frechada e rasgar dinheiro (quanto a rasgar dinheiro dúvido que o Márcio faça, só se for pra tormar umas cervejinhas ou tomar uma meiota de cachaça), a doideira é de conseguir tirar em poucas palavras o medo. Reparem bem, o homem é a síntese em pessoa, igualável ao Robert Louis Stevensen o escritor de O homem invisível, A ilha do tesouro e outras obras magnificas. O que falo aqui não é pra puxar o saco de ninguém, Márcio não precisa disso e menos ainda necessita disso, mas é apenas constatar um fato. Sua escrita econômica maximiza o medo minguado escondido lá no poço da consciência. Tenho medo disso, já disse!
            Agora repare bem, Maldito Sertão é um conjunto de contos escritos que evocam O folclore  de um Brasil esquecido no nordeste do país, surgido lá no interior longe das capitais. Muitos desses relatos são encontrado na roda de gente humilde do interior e seus causos sobre mitos e lendas, talvez muitos deles surgidos de conversas perto do fogão ou fogueira de lenha com os causos de mitos de malassombro que  as pessoas vivenciaram ou pensaram ter visto. É um relato de histórias ouvidas no silêncio da madeira queimando e do fumo passeando na frente do nariz sobre mitos indígenas, da mata, da vivência do homem e seu meio. E Márcio fica lá só escutando com ouvido de tuberculoso – não deixa uma só palavra passar. As vezes acrescenta uma coisa ou outra só pra apimentar, como dona Zulmira minha avó fazia com a canjica em Cruzeta, ah cidade boa!!
            Aí veio o danado do Livro Fome, que foi outro jeito torto (modo de dizer pra diferente) de interpretar uma mitologia tão gasta quando dos zumbi, Márcio deu seu jeito, e que Jeito!! Aliou uma situação social tão presente a caatinga nordestina quanto a seca e religiosidade tendo como fundamento para suas histórias duas coisas que não faltam no sertão, fome e sede, penúria e fartura, seca e sol. Baseou-se na sabedoria dualista sertaneja e na ambiguidade existente em cada um de nós, viventes. A exemplo de George Romero utiliza o pano de fundo dos zumbis para contar uma história que denuncia a miséria não só material mas também humana. Costurando como um alfaiate de curtume linhas de histórias individuais que se cruzam até chegar a um clima non sense, oh omi arretado esse Márcio Bejamin!! As histórias são arretadas demais!!
            Sua escrita evolui um tiquinho mais, dessa vez para contar as histórias de mau assombro tendo a oralidade do povo do interior como liame para suas histórias e causos. Faz isso através de seu livro Agouro contendo 13 contos que fazem os joelhos amolecerem e o estômago embrulhar levando o condenado a quase se brear de medo. Esse livro é mais um acerto do Márcio, narração rápida e econômica sem deixar de atiçar a curiosidade e tocar aquelas cordas escondidas entre as vertebras da espinha, dá frio nela. Cada história penetra em um canto escondido, sombreado da alma, lançando luz de candeeiro em cada canto revelando a criatura terrível que a treva procurou esconder. Nos 13 contos encontramos peculiaridades que são apenas deles, responsáveis pelos sustos e sobressaltos encontrados nas cem páginas  dessa obra e que nem por isso perde sua unidade, pois o medo é sua costura.
            Fico pensando na cozinha, encostado na janela tomando café e olhando o pé de cajá encharcado pela chuva que não passa. Fico encucado refletindo: o que o Márcio Benjamin esta planejando agora? Qual assunto será tema do seu próximo livro, faço a pergunta só por fazer porque sei que o caboclo não vai me dizer, “o segredo é a alma do negócio, nê Márcio?”. Mas tão certo quanto o sol nasce toda manhã, é que ele vai tirar da manga alguma carta magnifica que se transformará em livro! O problema de leitor curioso é a impaciência, o vicio do susto tão exercitado na leitura da obra bejaminiana que deixa o condenado mau acostumado. Fazer o quê, tem de esperar. Procurando preencher essa brecha com alguma coisa parecida, sempre no mesmo nível ou melhor! Quem dera mas não é assim. Leitor de terror tem mesmo de passear mau, ler e chafurdar mesmo na leitura do gênero. Claro que muitas vezes vai encontrar obras boas, muitas outras ruins, e algumas poucas, excepcionais, capazes de arrancar o ar, dá febre e pesadelos a noite. Essa sim é leitura da boa. Só o gênero do terror tem como oficio causar o mau estar, porque ele terá como efeito o medo, seu objetivo.
            Nessa pegada Márcio Benjamin é a referência, escritor notável que abraçou a bagaceira do terror, talvez porque desde pixototinho gostava de sentir o calafrio na espinha e esbugaiar os oio quando ouvia história de assombração ou se enfiava embaixo da cama com filme de horror. Nem tão diferente de quem gosta do gênero como eu, adoro sentir essa sensação e fico arretado quando assisto filme ruim do gênero e saio rindo ao invés de cara de assustado, olhando para o lado esperando o coisa ruim aparecer.
            É bom ver um potiguar conseguindo inovar em um gênero que parece engessado em um determinado nicho como o terror/horror, geralmente ligado a influência de Howard Phillipe Lovecraft e depois pela dupla Sthepen King e Clive Backer. Na minha humilde opinião, Márcio Benjamin consegue descolar-se dessa influência, mesmo admirando-a. Aliás se podemos definir o que torna o terror/horror brasileiro destoante da temática que domina os escritores estrangeiros do gênero é o isolamento e a distância da influência do próprio gênero sobre os escritores. Obviamente tivemos escritores geniais que passearam pelo gênero, mas sempre eram histórias curtas, realizadas através de contos e só. Romances e algo mais longevo ou seriado eram praticamente inexistentes no Brasil algumas décadas atrás, não agora. Creio que a produção sempre foi esporádica e misturada com outras vertentes e gêneros literários o que fez o terror/horror brasileiro ser pouco explorado nessa área.
            É nesse contexto, de germinação ocorrida na década de oitenta, noventa e chegando a segunda metade da década do século vinte e um que podemos observar uma abordagem direta do terror/horror como mais ênfase sobre o assunto. Márcio Benjamin faz parte dessa inovação e, quem sabe, criação do gênero com sotaque e adornos brasileiros e melhor ainda nordestino. Ele aproveitando-se de sua fauna, flora, folclore e cenário para contar histórias inéditas para os aficionados por essa literatura. Nesse quesito a cultura potiguar esta cheia e Márcio Benjamin vem despontando como referência para o gênero. Termino por aqui minha resenha, mas sem antes desejar a vocês boas leituras e escolham seus livros e histórias com carinho. Leiam as obras de Márcio Benjamin e sintam as pernas lhes faltar e evitem lugares escuros depois da leitura.   Abração a todos!

Renato de Medeiros Jota
           

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

O HORROR NOS QUADRINHOS PRECISA SE REINVENTAR


            Estava no Mahalila, esperando meus camaradas, Leandro, Cristiane e Mário para prestigiarmos uma exposição que aconteceria lá de algum conhecido que não me lembro agora. Estava com o costumeiro bom humor de quem esta prestes a completar seus 47 anos. Pensava comigo mesmo: "bem um ano mais próximo da morte e longe da sabedoria...", enquanto me distraia com esse pensamento, as pessoas ao redor mantinham suas relações estreitas, conversas animadas sobre a vida, relações amorosas, religião, política e demais assuntos. Nada daquilo me fazia esquecer meu egoísmo intimo. Mas em um lugar tão animado e próximo da universidade haveria de surgir um assunto mais interessante do que meu próprio ego? Haveria de existir algo capaz de me tirar de meu próprio auto interesse... e aconteceu! O assunto era sobre o medo. O relato partia de dois jovens de cursos diversos. Acredito que a moça estudava matemática e o rapaz letras, mas isso não me importava, o assunto era o que me interessava! O medo, foi ele que me fez refletir sobre o seu percurso e estudá-lo de um tempo para casa. Comecei os estudos sobre isso correlato ao estudo sobre folclores e horror brasileiro e as reflexões que tive é o motivo desse artigo!
          Observando o cenário antigo e atual em que o fenômeno do tema Terror/Horror, assunto marginal em décadas anteriores, vem tornando na última década o centro de muitas discussão tanto do audio visual  como na literatura. Tema periférico sempre abordado nas sombras, renegado as cercanias da cultura, veio para a superfície na última década, especialmente no Brasil.
 deveríamos refletir por que isso acontece agora e não antes, já que em séculos anteriores e mais recentemente em décadas passadas como as de 70, 80, 90, 2000, houve incursões relativamente promissoras e inventivas que tinham o Terror/Horror como tema. Por isso perguntar: qual o motivo,  de  no fim da segunda década do século 21 o Terror/ Horror emergir com tanta força agora, algo análogo ao dos séculos XVII e entrando no começo do século XX (vale salientar, guardadas suas devidas proporções), e perdendo sua força ao longo até a virada do século XXI. Este é o mote dessa reflexão. Talvez a segunda questão a ser discutida aqui é a respeito do terror/horror atrair tanto a atenção de leitores e espectadores das películas primeiramente na literatura e depois cinematográficas já que tem-se tantos assuntos que chamam atenção nesse universo de temas espalhados por aí. 
            Tais questões discutiremos no decorrer de alguns artigos em que falaremos de três eixos centrais importantes para o tema terror/horror que são Literatura, História em Quadrinhos e Cinema . Essa ordem cronológica visa apenas ressaltar o desenvolvimento do tema desde seu aparecimento até desenvolvimento em outras mídias e formas de arte. Dentro de cada uma delas, que abrange muitos assuntos desde revistas, cartazes, relatos históricos, Folclore local, passando por diversos temas  temas variados envolvendo o terror/horror nas Histórias em Quadrinhos culminando em vertentes que passeiam pelo imaginário e experimentalismo lisérgico. A literatura até certo ponto, foi por um longo tempo, o reduto e principal repositório do tema do medo e horror para o público, apesar de tema bastante discutido, sua relevância sempre esteve no imaginário dos leitores e telespectadores, mas nunca como motivo de analise sincera e profunda de pesquisa tanto fora como dentro do país. Talvez atualmente essa falta venha sendo sanada, principalmente na literatura desde a segunda metade do século 20 e inicio do 21.
               No Brasil a pesquisa sobre o assunto, até onde eu saiba carece de fontes confiáveis que faça uma geografia dos autores -, e se existem são tímidas e mau divulgadas. Tais temas e estilos que tenham sua centralidade no assunto terror/horror não atrai a atenção de imediato, sempre acontece perifericamente, por noticias da violência quotidiana ou por doenças que se alastram e despertam o medo do fim humano. Essa ambiguidade em relação ao medo em que uma ora a evitamos e na outra a abraçamos,  talvez aconteça devido a humanidade ter chegado tão longe guiados por ela, seja desviando de bairros perigosos, evitando guerras, o clima e intempéries que tragam algum mau a pessoa ou o simples fato do sobrenatural ocorrer em sua vida.
             Decorrente disso, para o noviço no assunto se faz necessário explorarmos o significado das palavras Terror e Horror em questão e reiterar que o objetivo nesse artigo é estudar em que sentido o medo contribui para a produção na literatura de histórias de horror/terror, também para as HQS e Cinema. Comecemos por definir o que cada uma significa e o que as difere. Primeiramente começaremos por:

Horror segundo o Dicionário Aurélio significa:


Sm. 
1.  sensação arrepiante de medo, pavor. 2. Receio, temor, 3. Repulsa, aversão. 4. Aquilo que inspira horror.

Já o significado de Terror segundo o mesmo Dicionário é:
Sm. 1. Estado de grande pavor. 2. grande medo ou susto.

            Observando as duas palavras não nos parece existir grandes diferenças entre uma e outra já que ambas parecem palavras homônimas que se escrevem com sentidos semelhantes, mas na realidade possui sutis diferenças, mas onde estaria a diferença? Talvez se consultássemos outras fontes para nos aprofundarmos no entendimento do assunto poderíamos chegar a uma definição melhor. Recorramos a duas explicações que estão muito interligada, o mito e a psicologia.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

FOLCLORE NAS HQS NORDESTINAS COMO SINTESE DA VIDA.


         
          O cenário nacional mais interessante, na minha muito humilde opinião, esta na produção das hqs alternativas, a preocupação dos autores que objetivam narrar uma história, representando nossa cultura de certa forma. Realmente, é louvável e até mesmo inovador essa ideia. Essa perspectiva é destoante do que vem se apresentado ao leitor. Somos essencialmente habituados a consumir publicações que vem de fora, de outros lugares, como EUA, Europa e Japão. 
        Pouco são os leitores que deixam de consumir algo desse cardápio para prestigiar o que se produz nacionalmente. A invasão de conteúdo externo também é uma invasão cultural, pois sempre “preferimos o que é produzido de fora porque o nacional deixa a desejar” – assim diz um leitor a mim.
            Fiquei em casa remoendo essa última frase e me perguntando – onde raios essa criatura andou nas últimas duas décadas? O quadrinho independente e alternativo é tão bom é de qualidade excelente quanto qualquer hq externa, isso é um fato! Obviamente, existe muitas que não o são, como também existe nas hqs estrangeiras. O fato é que existe na produção nacional qualidade e diversidade magníficas capazes de rivalizar com o as novelas gráficas expostas por aí.
            Refletindo a partir de constatações como essa, pensei mais um pouco e conclui que se os quadrinhos nacionais estão em nível de igualdade com os estrangeiros o que seria necessário para diferenciá-lo da concorrência?  Penso que temos aqui um motivo para nos aprofundarmos um pouco mais em nossas considerações sobre um aspecto relevante da enorme produção nacional, a saber, hqs que tenham como tema o folclore nacional. Não pretendo listar aqui as várias publicações que abordam esse tema específico, pois temos blogs que fazem isso melhor do que eu. Mas minha pretensão esta em considerar o assunto e indicar três obras nacionais que tenham esse tema e fazer minha breve resenha sobre elas, depois expor algumas considerações a respeito.
            A primeira obra que vou indicar chama-se Maldito Sertão – Já, sei, já sei de novo falando sobre o Maldito Sertão!! Vai confessa que está ganhando um trocado pela propaganda nê? Não, não estou, mas o objetivo aqui é fazer uma análise da relevância do tema para a produção nacional e mostrar que esse pode ser um caminho viável de alternativa para o material homogêneo que está aí.
            Maldito Sertão é uma adaptação da obra de mesmo nome do escritor potiguar Márcio Benjamin. São contos que tem como tema o folclores brasileiro e seus causos. A Novela Gráfica tem como autores Cristal Moura, Mário Rasec, Leander Moura, Renato de Medeiros Jota e Rodrigo Xavier, todos eles fazem parte do coletivo Quadro9 responsável por transformar o livro de Márcio Benjamin em quadrinhos. Nesse sentido, vale salientar uma importante contribuição do grupo a produção da hq ao mesmo tempo que esta em sintonia com o autor original, no caso Márcio Benjamin; os contos adaptados para hq são adaptações não transliterações iguais. Algumas vezes bem mais sombrias. A parceria com o escritor potiguar deixa a interpretação dos mitos e dos escritos submissos a imaginação do grupo o que rendeu uma obra impar e totalmente independente. Vale a pena ler e constata até onde os mitos podem reder histórias de arrepiar o cabelo da espinha.
            A segunda hq que pretendo abordar aqui é a hq Mapiguari de Deuslir. Essa hq fez parte da primeira leva de quadrinhos publicados sobre o projeto primeira edição supervisionada por Luiz Elson. Nessa hq Deuslir aborda a figura folclórica do Mapinguari que segundo o dicionário cascudeano “É um animal fabuloso semelhando-se ao homem, mas todo cabeludo. Os seus grandes pelos o tornam invulnerável”. Na história o autor da hq aborda a história de forma fantasiosa no qual o mito e uma criança possuem uma interação bastante peculiar. A história transcorre com uma narração fluída e concisa, até porque penso que foi projetada para ser assim. Não é uma edição luxuosa, a capa é couche mas o miolo é de papel pisa-bright penso, o que pode incomodar alguns leitores mais melindrosos, mas recomendo a leitura fortemente.
            O terceiro quadrinho que desejo recomendar tendo como tema o folclore, só que sob o aspecto do cangaço, é O olho do diabo. Obra magnifica tendo o autor Monzart Couto como escritor e ilustrador, considerado o Miguelangelo dos quadrinhos.  Nessa hq podemos mostrar a versatilidade de Monzart ao brincar com o folclore e o cangaço em suas histórias. Ele visa explorar os limites dos mitos brasileiro ao mesmo tempo que o autor mineiro busca aprofundar o horizonte do cangaço, não como narrativa congelada em um momento histórico, mas de expor sua elasticidade como tema possível de ser tratado de diversas maneiras.  Sempre gosto dos trabalhos competentes de Monzart Couto, ele é genial e um dos poucos que sabe trabalhar com o cangaço e o folclore no qual está envolto.
            Todos esses quadrinhos acima descritos pretendem descrever o ambiente e cultura nordestina. Por isso a fauna, a caatinga, a vida do sertanejo e seus mitos e...monstros, isso mesmo monstros, são motivos e temas de suas histórias! A região nordeste com suas peculiaridades são um lugar efervescente de histórias prontas para ser contadas, sejam elas escritas ou descritas por hqs. Os autores teem nessa cultura um manancial promissor e bastante fértil para tomar como base para suas histórias em quadrinhos. Atualmente o tema que aborda esse cenário nordestino, como pano de fundo de suas histórias, vem sendo feitas com regularidade.
            É maravilhoso perceber como esse cenário desértico, inóspito e árido que deveria ser motivo de resistência dos autores a evitar o assunto, fez o contrário, tornou-se uma força motora responsável pela ascensão do tema entre os autores. Mas nem tudo são flores, pois aqueles que se dignam explorar esse tema, ainda fazem timidamente e poucos são os que realmente entendem do tema. Considerando a irregularidade de autores de outros estados e até mesmo do próprio nordeste que não centraliza suas histórias nesse cenário. Fica evidente que explorar o folclore nordestino, o cenário e os mitos podem proporcionar histórias maravilhosas e bastante interessantes. Seja como for, posteriormente pretendo retornar esse assunto, devido  existir muitos exemplos de autores que abordaram brilhantemente esse tema. Fico por aqui e abração a todos!!!


Renato de Medeiros Jota