BALADA DO AMOR E ÓDIO
Confira nossa crítica sobre o mais novo filme do cineasta espanhol Álex de la Iglesia.
FRIDA KAHLO EM SEIS SENTIDOS
O projeto de extensão “cores” nos convida inicialmente a um espetáculo sobre a vida da artista plástica, mexicana, Frida Kahlo.
ARTEROTISMO - UM CONVITE
Gente! Ontem eu fui ao evento #OqueDjaboÉIsso, onde tive o prazer de assistir ao ótimo espetáculo "As cores avessas de Frida Kahlo"...
"A CULPA É DA SOCIEDADE"
A sociedade é culpada: Esse foi um entre outros discursos gritados nesses dias que sucederam a “tragédia do realengo”...
quinta-feira, 29 de outubro de 2020
quinta-feira, 9 de julho de 2020
PUBLICAÇÃO INÉDITA NO BRASIL DO ESCRITOR CLARK ASHTON SMITH ELEVA O TERROR A OUTRO NÍVEL
Gostaria de começar relatando as minhas conclusões com a pesquisa da literatura de terror desde os anos 90 e posso afirmar que agora estamos vivendo o melhor momento desse gênero, não é ideal, mas melhorou muito. Como venho lendo e estudando esse gênero a tanto tempo, só parando quando entrei na universidade. Nesse periodo, durante um estudo ou outro do curso, pude conferir o reaparecimento de escritores fundamentais de terror em nosso país. Mas isso só aconteceu pouco a pouco devagar, como Edgar Allan Poe que quase foi esquecido se não fosse outro gênio da literatura francesa Baudelaire, responsável por divulgá-lo e evitar o seu esquecimento. Infelizmente outros não tiveram a mesma sorte como Howard Phillipe Lovecraft, Robert Erwin Howard, William Hope Hodgson, Arthur Machen e Clark Ashton Smith. Posteriormente, alguns autores esquecidos como Lovecraft, Arthur Machen e William Hope Hodgson vem sendo aos poucos resgatados e redescobertos. No caso de Lovecraft, autor de literatura de terror, publicadas em revistas pulp muito baratas e populares na época. Talvez por isso que autores que trabalharam nessas revistas eram esquecidos pelo público especializado, principalmente por serem autores do gênero de terror, literatura tão marginal e detratada, diante do esteticeismo literário admitido pelos ditos entendidos.
Nesse momento, vários autores ditos"malditos" representantes do gênro terror vem sendo resgatados e tendo seu merecido reconhecimento no Brasil por editoras pequenas que vem fazendo trabalhos magnificos e competente de sua publicação. A maioria das publicações vem dessas pequenas editoras que se especializam nessa área reconhecida como literatura gótica, terror e horror como um gênero promissor e em ascenção. Em minhas pesquisas observo que autores novos junto com antigos vem sendo lidos cada vez mais e o cinema brasileiro vem se destacando justamente por se especializar nesse nicho como o diretor Rodrigo Aragão e o lendário José Mojica Marins. O que nos leva a questão, porque um gênero tão menosprezado pela cupula literária atrai tantos fieis para lê-lo? A resposta é bem simples o medo. Esse sentimento de susto e de eminente perigo que pode ser representado na ameaça física ou psicológica, existente em cada ser humano e que contribuiu para nossa sobrevivência e a linha que emenda toda esse gênero.
Observando o cenário literário brasileiro podemos notar nitidamente que alguns autores vem se destacando no gênero de terror, desde os anos oitenta como o norte americano Stephen King, junto com o inglês Clive Barker autores contemporâneos, mas quem vem ganhando na atualidade relevância é o também americano Howard Phillips Lovecraft e seus mitos Chutulhu criador de toda uma mitologia medonha e inaugurou um tipo de horror apelidado de cosmico. Como sempre acontece com publicações quando um autor ganha relevância e suas obras passam a serem vendidas e seu sucesso e subsequente vendagem é garantida todas as editoras passam a explorar esse fenômenos. Mas não devemos esquecer para que isso acontecesse foi necessário haver a junção do tempo da obra com o da publicação e ráro é aquele que acerta o time, um desses casos foi a Clock Tower uma das primeiras editoras a apostarem do autor de Providence e agora aposta em outro autor igualmente genial Clark Aston Smith.
Chegamos então ao ano de 2020 e temos o prazer de termos outro autor até então inédito no país publicado, Clark Ashton Smith é anunciado pela Editora Clock Tower e pelo seu Editor Denilson Reis. Esses lançamentos dependem do apoio dos leitores e admiradores do generos para sua publicação e que geralmente conseguem exito possibilitando para que novas obras inéditas, ganhem possibilidade de publicação e por isso penso que é muito válido o apoio a tais publicações. Como mostrado acima no folder de propaganda, o livro contendo os melhores contos de Clark Astohn Smith esta no Catarse esperando para o apoio de todos nós. Eu já dei o meu apoio e recomendo a todos que admiram Locevraft e sua literatura a apoiarem e conhecerem essa obra.
Para apoiar basta ir: www.catarse.me/casmith
sábado, 28 de março de 2020
DISTOPIAS EM HISTORIAS EM QUADRINHOS E SUAS DIVERSAS REPRESENTAÇÕES.
Está
bem, vamos falar sobre Histórias em Quadrinhos distopicas que se intitulam de
esquerda ou de direita, isso existe? Estou quase vendo agora Mário, amigo meu,
balançar a cabeça de um lado para o outro negativamente rindo com o canto da
boca dizendo – isso é imbecilidade, pura imbecilidade! Concordo com ele achando
graça, depois tomamos umas duas cervejas para começar a conversa e que
conversa.
A compreensão sobre a escrita de ficção cientificas mais
notoriamente chamadas distopias reside na neutralidade do tema por parte do
escritor de hq ou de contos. No Brasil esse tema virou fonte de inúmeras
controvérsias na qual a criação de um quadrinho nomeado direita, vem em
resposta as distopias de esquerda? Isso já mostra o total desconhecimento do
tema em geral dos produtores dessas hqs. E o motivo de afirmar isso é que
geralmente distopias não tem lados, ou conceitos políticos, o objetivo é ser um
tema capaz de se encaixar em qualquer sistema que tenha o viés fascista,
autoritário ou totalitário, seja em que regime político for. Por isso falta
estudo para essas pessoas e leitura acima de tudo do tema que desejam abordar.
Fico aqui pensando sobre a dificuldade que tenho para
escrever uma HQ ou mesmo conto para coletâneas sobre o tema distopia. Fazer
isso exige estudo e aprofundamento a respeito do assunto. Não é simplesmente
discordar de posicionamento A ou B, mas ter em mente que tanto um como outro
posicionamento pode tender a ser reacionário e opressor a quem quer que seja.
Observemos uma coisa, tomando como exemplo dois grandes escritores de livros,
Ievguêni Zamiátin e George Orwell, o primeiro escreveu o livro Nós e, o segundo
1984, sendo que Zamiátin influenciou notoriamente Orwell, mas qual o ponto
aqui, simples o escritor de Nós era russo e representante da esquerda
comunista, enquanto Orwell era de
direita democrática inglesa. Dois polos opostos que escreveram sobre o mesmo
tema, denunciando em ambos os casos o autoritarismo, fascismo e totalitarismo
de ambos os sistemas. Deixe-me fazer entender nesse ponto, escrever como fez
Zamiátin denunciando o totalitarismo e brutalidade do sistema russo, falando
isso por experiência própria devido mostrar que tal sistema é um erro. Do mesmo
modo, George Orwell quando escreve 1984 como muito atribuem que ele também está
falando do regime totalitário da União Socialista Soviética de Stalin é uma
interpretação errônea! Como assim? Esta louco!
Repare bem, o foco tanto de Zamiátin como de Orwell não é
posicionamentos políticos que se auto intitulam de esquerda ou direita, mas o
personalismo que adquiri nesses regimes autoritários, fascistas e totalitários
entre o poder Estatal e o pessoal, como nos casos extremos de Hitler
representado pela direita (não se enganem pelo partido Nacional Socialista
Nazista que de nada tem de “social”) e por Stalin que representa a esquerda,
ambos extremistas e altamente letais, a liberdade e democracia. Como diz Luiz
XIV “L´état ce moi” ( O estado sou eu) mostra o quanto o Estado se confunde com
o Pessoal e vivemos confundindo um com o outro. Essa confusão não é nova na
democracia já que lá no século IV e V a.c, Platão e Aristóteles denunciavam
essa relação simétrica entre o pessoal e o estatal. Obviamente, Platão e
Aristóteles e a sua democracia não pode ser comparada as democracias atuais, considerando
suas idiossincrasias e complexidades.
Nesse contexto explicado acima o que dizer de um
roteirista de Quadrinhos que afirma fazer uma hq distopica autenticamente de
direita ou autenticamente de esquerda, o que raios dizer disso? A única
resposta possível é o total desconhecimento do que se escreve e se fala. Não
sabe nada do assunto e menos ainda domina o que escreve, já que para fazer
crível e capaz de “extrair” o máximo potencial de uma história é necessário
estudo sobre o que se escreve, definir limites, parâmetros, aprofundamento de
personagens, conflitos que podem ora fazer avançar a história ora suavizá-la.
Tender para um lado ou para o outro é limitar o horizonte do que pode ser
extraído da história e da HQ que deseja escrever. Como vimos acima, histórias
que abordam a distopia tem o claro objetivo de explorar mundos e situações
extremas, suas causas e consequências independe de “tendência” política do
autor ou escritor. Mais ainda, os roteiristas ou escritores quando abordam o assunto
objetivam expor o caráter tendencioso autoritário, fascista e totalitário de um
pensamento personalista, regime político, ou ideal de grupos reacionários, seja
ele qual for independente de quem seja.
Por isso escrever uma distopia já rotulando algo como
imperativamente “esquerda” ou de “direita” já nasce natimorta no prelo. Quando
um roteirista como o Alan Moore, Brian K. Vaughan, Mathieu Bablet, Chuck Dixon,
Monzart Couto abordam o assunto não estão preocupados em discutir as opções
políticas do personagem. O foco dos autores está no tipo de abordagem, nas
consequências decorrentes de causas puramente egoístas e autoritárias exercidas
sobre as pessoas. Os resultados dessas ações sobre as pessoas e o mundo, na
situação em que as pessoas estão envolvidas e as situações em que nascem dessa
veia autoritária. O objetivo de cada escritor está na situação que a utiliza
para narrar sua história em quadrinhos e desenvolver o psicológico do personagem,
questionar sua moral conservadora ou progressista e daí desenvolver a sua
história. O problema são as limitações desses rótulos imbecis que se põe,
matando e reduzindo o escopo da história deixando-a de ser universal e servir
de inspiração pra todos e ficar restrita a um séquito de seguidores, pra que
serve isso? Nada! A não ser que deseje agradar alguma pessoa, grupo ou políticos
que tenham interesses na publicação, deixando-a de ser uma história em
quadrinhos acessível a todos e fica restrita apenas a poucos.
Infelizmente
a história é implacável Zamiátin e Orwell são lidos até hoje porque suas obras
vão além dos parâmetros políticos e do binômio, onde foram escritos, já escritores que escreveram distopias declaradamente tendenciosas alguém se lembra do nome? Eu pelo menos não ainda. Ah por favor, antes que digam que Ayn Rand, escritora de a Revolta de Atlas considerada mais a direita assim como o Frank Miller tinha um vertente de esquerda, mas que ambos os autores tem obras relevantes. O anarquista Alan Moore utiliza as discussões políticas para aprofundar suas analises subjetivas da psicologia de cada um. Devemos valorizar qualidades individuais como Ayn Rand o faz em sua obra, do mesmo jeito que a violência trabalhada por Frank Miller pode nos levar uma interpretação diferenciada sobre sua obra. Isso nos leva também a interpretar a vigilância irrestrita na escrita de Alan Moore de forma diferenciada. Como refletimos acima, as distopias são situações utilizadas para denunciar regimes, Estados ou atitudes de grupos que se encaixam em situações de autoritarismo, totalitarismo e fascistas não importa de que lado sejam. Obviamente, que isso é apenas uma reflexão de um escritor sobre o que escreve, mas faz-se necessário esclarecer o assunto para quem deseja abordar o assunto. Muito agradecido para quem leu esse texto até aqui. Abração a todos!!!
Renato
de Medeiros Jota
sábado, 29 de fevereiro de 2020
ASFIXIA E PENSAMENTO UMA RESENHA DE JÁDSON SILVA
Finalmente vou postando por aqui algumas impressões sobre hqs de convidados do blog. Dessa vez, não serei eu a fazer à análise, mas temos o amigo Jadson fazendo. Aí esta sua analise!
Finalmente, depois de ter me atrasado a ler, consegui dedicar a tarde de hoje para ler A Cidade Asfixiada, e então vim lhe dar minhas conclusões, e espero que com elas eu possa estar ajudando (como leitor) a compreender a visão de alguém sem muito conhecimento de quadrinhos, mas que adora ler. =)OBS: Serei completamente honesto, então não se preocupe que não fingirei nenhuma resposta. Considere real de minha opinião tudo que aqui expressar. ^^
De início, verdadeiramente, adorei o quadrinho! Tanto em arte como em roteiro. Achei incrível como vocês conseguiram embasar bem, e tornar algo tão palpável. Toda a criação tecnológica, científica, cultural e mudanças sociais, além da adaptação da espécie ao meio. Achei muito bom mesmo! A arte do Rodrigo é impecável! Belíssima! Então, já estou aguardando o volume dois, pois vocês me deixaram querendo muitos mais volumes. kkkk.Agora gostaria de entrar mais afundo, sobre pontos que acredito que seria bom eu falar minha opinião. Apesar de ter gostado do andamento das conversas, senti que do início do quadrinho até
a página 28, acho, o roteiro não estava tão envolvente, pois seguia basicamente pela narração do Daniel, isso facilitou a explicação de muitas coisas do mundo (ponto positivo), mas deixou um pouco desempolgante por se tratar de muita informação de maneira narrativa, e não como se fosse natural. Contudo, da página 28 adiante o negócio engatou a quinta macha e foi naturalmente fluindo de maneira muito boa, com diálogos bem bolados e detalhes do mundo bem diluídos na conversa. Aquele final poético do "será que ainda somos humanos", me tocou bastante. adorei! Inclusive, gostei muito da pegada de ter uma narração eletrônica sobre "como estava aquele dia" (sua atmosfera, política, qualidade do ar, etc.) que ocorre na história como se fosse um sistema que auxilia os habitantes, além de ser o segundo narrador por um tempo. parecia uma cena de filme sendo narrada. Desse modo passou muito do mundo de forma natural.Imagino que vocês pretendiam pôr mais ação no quadrinho, no entanto, digo-lhe, na minha visão, que gostei dele do jeito que está. Mais ação pode ser bem
vindo, mas acredito que a pouca ação deu brecha para um embasamento bem mais profundo do mundo que vocês criaram, além do mais, histórias que se prendem em mais ação geralmente peca no roteiro ou na profundidade dos personagens e suas relações. Contudo, senti que esse quadrinho é apenas o primeiro volume de uma longa história. Senti como se ele fosse um episódio piloto, que nos revela um dedo do mundo mas que ainda haverão vários outros que completaram o corpo inteiro. Então, estou aguardando os próximos! O teor filosófico e crítico social tá dando um tempero a mais na história. =)A impressão realmente não ficou muito boa. Possui alguns textos que dificulta levemente a leitura. Porém, eu tô ligado que foi o problema com o arquivo em PDF.Obrigado pelo ótimo trabalho que tive o prazer de ler! Comprarei os próximos com certeza!Um grande abraço, Renato! Parabéns pra você e pro Rodrigo! \o/
Resenha de Jádson Silva
terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
O HORROR SERTANEJO DE MARCIO BENJAMIN
O HORROR SERTANEJO DE MARCIO BENJAMIN
Hoje em dia não precisamos procurar muito entre os
escritores potiguares quem trate do tema terror/horror, pois logo aparece o
escritor Márcio Benjamin como referência. Caboclo arretado e as vezes surtado
nas letras do abissal, que faz do gênero terror, cadafalso para nossos medos
mais medonhos. Consegue até evoca-los como mágica, a partir de um tantinho de
medo de coisas incompreensíveis para o cidadão não sertanejo. Tenho medo disso,
mas sou teimoso e sempre volto a lê-lo. Oh homem condenado de bom em escrever
essas coisas que reviram o estômago e congela os ossos, fico arrepiado só de
pensar.
A carreira desse menino começa por gostar do gênero,
novidade isso?! Mas o simples gostar não é requisito suficiente para ser um bom
escritor, isso tem muito de esforço, coragem e estômago (quem escreve sobre o
tema sabe disso!), talvez de talento. Sua carreira livresca começa com a primeira edição da obra
que apelidei “aquela pálida, desgraceira daquelas coisas da caatinga esturricada”, Maldito Sertão, depois republicado em tons verdes e
ampliado e na qual renomeei posteriormente de “ Contos do agreste (ou
seria infernal trocadilho com infernal?), que congela alma”. Tirando essa pequena intimidade minha com
a obra, descrever os sentimentos ao ler a literatura de terror desse caboclo
medonho, me faz concluir que tenho uma simpatia por ele porque é doido. Mas não
é doido aqueles de jogar pedra em gente frechada e rasgar dinheiro (quanto a
rasgar dinheiro dúvido que o Márcio faça, só se for pra tormar umas cervejinhas
ou tomar uma meiota de cachaça), a doideira é de conseguir tirar em poucas
palavras o medo. Reparem bem, o homem é a síntese em pessoa, igualável ao
Robert Louis Stevensen o escritor de O homem invisível, A ilha do tesouro e outras
obras magnificas. O que falo aqui não é pra puxar o saco de ninguém, Márcio não
precisa disso e menos ainda necessita disso, mas é apenas constatar um fato. Sua
escrita econômica maximiza o medo minguado escondido lá no poço da consciência.
Tenho medo disso, já disse!
Agora repare bem, Maldito Sertão é um conjunto de
contos escritos que evocam O folclore de um Brasil esquecido no nordeste do país, surgido lá no interior longe das capitais. Muitos desses
relatos são encontrado na roda de gente humilde do interior e seus causos sobre mitos e
lendas, talvez muitos deles surgidos de conversas perto do fogão ou fogueira de lenha com
os causos de mitos de malassombro que as
pessoas vivenciaram ou pensaram ter visto. É um relato de histórias ouvidas no
silêncio da madeira queimando e do fumo passeando na frente do nariz sobre
mitos indígenas, da mata, da vivência do homem e seu meio. E Márcio fica lá só
escutando com ouvido de tuberculoso – não deixa uma só palavra passar. As vezes
acrescenta uma coisa ou outra só pra apimentar, como dona Zulmira minha avó fazia com a
canjica em Cruzeta, ah cidade boa!!
Aí veio o danado do Livro Fome, que foi outro jeito
torto (modo de dizer pra diferente) de interpretar uma mitologia tão gasta
quando dos zumbi, Márcio deu seu jeito, e que Jeito!! Aliou uma situação social
tão presente a caatinga nordestina quanto a seca e religiosidade tendo como fundamento para suas
histórias duas coisas que não faltam no sertão, fome e sede, penúria e fartura,
seca e sol. Baseou-se na sabedoria dualista sertaneja e na ambiguidade existente
em cada um de nós, viventes. A exemplo de George Romero utiliza o pano de fundo
dos zumbis para contar uma história que denuncia a miséria não só material mas
também humana. Costurando como um alfaiate de curtume linhas de histórias
individuais que se cruzam até chegar a um clima non sense, oh omi arretado esse
Márcio Bejamin!! As histórias são arretadas demais!!
Sua escrita evolui um tiquinho mais, dessa vez para
contar as histórias de mau assombro tendo a oralidade do povo do interior como
liame para suas histórias e causos. Faz isso através de seu livro Agouro
contendo 13 contos que fazem os joelhos amolecerem e o estômago embrulhar
levando o condenado a quase se brear de medo. Esse livro é mais um acerto do Márcio,
narração rápida e econômica sem deixar de atiçar a curiosidade e tocar aquelas
cordas escondidas entre as vertebras da espinha, dá frio nela. Cada história penetra em um
canto escondido, sombreado da alma, lançando luz de candeeiro em cada canto
revelando a criatura terrível que a treva procurou esconder. Nos 13 contos
encontramos peculiaridades que são apenas deles, responsáveis pelos sustos e
sobressaltos encontrados nas cem páginas dessa obra e que nem por isso perde sua
unidade, pois o medo é sua costura.
Fico pensando na cozinha, encostado na janela tomando
café e olhando o pé de cajá encharcado pela chuva que não passa. Fico encucado
refletindo: o que o Márcio Benjamin esta planejando agora? Qual assunto será
tema do seu próximo livro, faço a pergunta só por fazer porque sei que o
caboclo não vai me dizer, “o segredo é a alma do negócio, nê Márcio?”. Mas tão
certo quanto o sol nasce toda manhã, é que ele vai tirar da manga alguma carta
magnifica que se transformará em livro! O problema de leitor curioso é a
impaciência, o vicio do susto tão exercitado na leitura da obra bejaminiana que
deixa o condenado mau acostumado. Fazer o quê, tem de esperar. Procurando
preencher essa brecha com alguma coisa parecida, sempre no mesmo nível ou
melhor! Quem dera mas não é assim. Leitor de terror tem mesmo de passear mau, ler e
chafurdar mesmo na leitura do gênero. Claro que muitas vezes vai encontrar
obras boas, muitas outras ruins, e algumas poucas, excepcionais, capazes de arrancar o
ar, dá febre e pesadelos a noite. Essa sim é leitura da boa. Só o gênero do
terror tem como oficio causar o mau estar, porque ele terá como efeito o medo,
seu objetivo.
Nessa pegada Márcio Benjamin é a referência, escritor
notável que abraçou a bagaceira do terror, talvez porque desde pixototinho
gostava de sentir o calafrio na espinha e esbugaiar os oio quando ouvia
história de assombração ou se enfiava embaixo da cama com filme de horror. Nem
tão diferente de quem gosta do gênero como eu, adoro sentir essa sensação e
fico arretado quando assisto filme ruim do gênero e saio rindo ao invés de cara
de assustado, olhando para o lado esperando o coisa ruim aparecer.
É bom ver um potiguar conseguindo inovar em um gênero que
parece engessado em um determinado nicho como o terror/horror, geralmente
ligado a influência de Howard Phillipe Lovecraft e depois pela dupla Sthepen
King e Clive Backer. Na minha humilde opinião, Márcio Benjamin consegue descolar-se
dessa influência, mesmo admirando-a. Aliás se podemos definir o que torna o
terror/horror brasileiro destoante da temática que domina os escritores
estrangeiros do gênero é o isolamento e a distância da influência do próprio
gênero sobre os escritores. Obviamente tivemos escritores geniais que passearam
pelo gênero, mas sempre eram histórias curtas, realizadas através de contos e
só. Romances e algo mais longevo ou seriado eram praticamente inexistentes no
Brasil algumas décadas atrás, não agora. Creio que a produção sempre foi esporádica e misturada com outras
vertentes e gêneros literários o que fez o terror/horror brasileiro ser pouco
explorado nessa área.
É nesse contexto, de germinação ocorrida na década de
oitenta, noventa e chegando a segunda metade da década do século vinte e um que podemos
observar uma abordagem direta do terror/horror como mais ênfase sobre o
assunto. Márcio Benjamin faz parte dessa inovação e, quem sabe, criação do
gênero com sotaque e adornos brasileiros e melhor ainda nordestino. Ele aproveitando-se de sua fauna, flora,
folclore e cenário para contar histórias inéditas para os aficionados por essa
literatura. Nesse quesito a cultura potiguar esta cheia e Márcio Benjamin vem
despontando como referência para o gênero. Termino por aqui minha resenha, mas
sem antes desejar a vocês boas leituras e escolham seus livros e histórias com
carinho. Leiam as obras de Márcio Benjamin e sintam as pernas lhes faltar e evitem lugares escuros depois da leitura. Abração a todos!
Renato de Medeiros Jota