quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

TURMA DA TRIBO: UMA HQ QUE ENCANTA E ACALENTA A ALMA DO LEITOR



É um fato inegável que os quadrinhos brasileiros que possuam temáticas totalmente voltadas para a nossa cultura e "jeito" de ver o mundo é escassa, e quando existe pouco divulgada. Imagina saber que existe quadrinhos feitos aqui que são de ótima qualidade e muitas das vezes melhores do que os quadrinhos encontrados no mercado atual. Nesse sentido é com grata surpresa que li recentemente uma hq do grande Gian Dantons  (Pseudônimo de Ivan Carlos  Andrade de Oliveira) e do talentoso Ilustrador Ricardo Manhães chamada Turma da Tribo. Essa hq me fez sentir imensa satisfação com sua leitura, pois me fez lembrar com sua narrativa que mistura  humor e critica de forma inteligente que podemos produzir historias em quadrinhos sem necessariamente apelar para o senso comum. O impresso me surpreendeu em dois sentidos específicos, a saber, primeiro mostrou a grande maturidade com que os autores (quando falo de autores me refiro ao ilustrador e ao roteirista) produziu e conduziu a narrativa gráfica. As apresentações dos personagens dá-se logo no inicio, mas sem perder o foco da historia, cada um vai se apresentando conforme sua entrada se faz necessária. A historia é enxuta e direta, não perde tempo com solilóquios ou mera retórica busca a exatidão por que a mesma tem um tema a explorar que é a denuncia do desmatamento e do conflito entre civilização de um lado, e a resistência da cultura indígena de outro lado. Também podemos encontrar outra analise válida nas entrelinhas da historia em quadrinhos que é a denuncia do desmatamento em prol da riqueza ilícita e irresponsável em que sempre esta associada a violência. Entretanto, o roteiro trata dos temas de forma bem humorada e leve, mas isso não quer dizer que não leva à sério os conflitos que envolve os dois lados. O segundo sentido é a responsabilidade e cuidado em produzir uma narrativa que foque, justamente naquilo que os personagens propõe a denunciar um determinado conflito de maneira lúdica e divertida sem se preocupar com o humor panfletário que se instaurou em algumas mídias. Nesse sentido, Gian Danton e Ricardo Manhães estão de parabéns.

    O roteirista Gian Danton sabe bem disso, pois toda a historia denuncia o descaso das autoridades com a questão indígena e a sua cegueira para a guerra que acontece entre extratores de madeira ilegal e índios.  A escolha da narrativa bem humorada ao mesmo tempo delicada veio mostrar que o roteirista Gian Danton, domina como ninguém a arte do roteiro ( considerado um dos maiores roteiristas do Pais em atividade); o texto dele mostra que temas delicados em nosso país pode ser explorado de maneira prazerosa e lúdica, mas sem perder o tom critico e analítico das situações em conflito. Já o grande Ilustrador Ricardo Manhães me surpreendeu positivamente na medida em que me fez lembrar o grande Uderzo ilustrador do Asterix, com seu traço estiloso e competente consegue nos trazer a leveza e seriedade do tema escapando de qualquer estereotipo que possamos encontrar em mãos menos competentes. Sua arte consegue nos alegrar e passar todo o sentimento de humor que a historia se propõe, por isso dou os meus parabéns ao Ricardo Manhães, gratíssima surpresa.


Claro que essa competência dos autores nos leva a simpatizarmos logo de cara com os s personagens da turma da Tribo, que são aliás uma outra atração à parte. Cada um deles possui  uma personalidade e características próprias. Por exemplo temos o chefe da tribo, o Abaeté que é um homem honrado e de palavra, temos o Baquara o menino mais criativo da tribo, e o pequeno Poti  herói da tribo e a sua igualmente pequena Jaciara, existe ainda Toró que é o personagem adulto e que também é o índio mais forte da tribo e amigo de poti e assim por diante. Até mesmo os vilões da historia são cativantes e engraçados como por exemplo o inescrupuloso madeireiro doutor "Malino", e seus rapazes   Desse modo,  Gian Danton vai apresentando tantos outros personagens da tribo cativantes e fantásticos que se perderia um dia inteiro falando deles. Nesse sentido, posteriormente, a medida em que avançamos na historia notamos que cada personagem possui uma habilidade característica que se encaixa perfeitamente com as habilidades dos demais e que só funciona quando utilizada juntamente com os outros personagens. Desse modo, encontramos através da leitura da turma da tribo a mensagem de que só podemos enfrentar determinada situações em união e fraternidade algo muito em desuso hoje em dia diante de tanto individualismo e egoísmo extremo em que o homem civilizado (?) vive.
Toda a historia como é de se esperar passa no ambiente da selva fechada, onde os personagens da Tribo vivem em comunhão com a natureza. A historia se inicia como um dia qualquer na rotina dos habitantes da tribo, isso até ser abalada por um estranho acontecimento, descobre-se uma clareira no meio da selva e que madeireiros inescrupulosos estão derrubando arvores de forma indiscriminada próxima da aldeia, não é preciso muita imaginação para se adivinhar que os índios da Tribo vão lutar para fazê-los parar. E nesse clima de comedia vai-se desenrolar o conflito e as aventuras dessa agradável e maravilhosa historia em quadrinhos provando mais uma vez que a competência dos autores conseguem transformar e maravilhar qualquer leitor, seja adulto (pois eu já sou adulto há muito tempo) como crianças, os temas são tratados de maneira lúdica e serena e é recomendável a leitores de todas as idades.


Por fim, termino recomendando essa hq, que já em seu primeiro número nos faz esperar pelo próximo e mostra a força da produção nacional despontando cada vez mais forte e penso que sua vida será longeva, dado a competência e a historia divertida do primeiro número. Valeu aos autores Gian Danton e ao Ricardo Manhães por essa maravilhosa publicação. Parabéns a todos os que participaram dessa edição;



Grato pela leitura e na espera de mais uma edição da Turma da Tribo


Renato Medeiros 

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