sábado, 13 de novembro de 2010

A MORTE DO MANGUE - DESTRUIÇÃO E OMISSÃO QUEM PROTEGERÁ O MANGUE DE NÓS


Quem vem da Zona Norte e passa pela ponte que a separa de Natal, no sentido Tomaz Landin, observando do final do viaduto, do seu alto, perceberá um grande trecho do lado esquerdo da ponte, onde deveria existir uma grande quantidade de vegetação que cobrisse toda a extensão e que servisse de viveiro para peixes e para todo o eco sistema daquele local, viabilizando para os ribeirinhos mais uma fonte de subsistência para sua família. Todavia, o mangue do Rio Potengy, que encontramos hoje em dia, esta totalmente degradado e devastado, parecendo uma ferida exposta a nossos olhos, mostrando todo o nosso descaso e despreparo para cuidarmos da natureza e como falhamos em fiscalizar e cobrar das autoridades a aplicação da lei ambiental e da emissão de licenças para estas atrocidades. Este desdém permite que observemos, no mesmo lugar, por vários quilómetros rio a dentro, piscinas de criação de Camarão que foram fabricados e com o passar do tempo ampliados para fins de lucro e exploração. O argumento, para estes, esta no fundamento de que a criação do camarão trás não só a geração de dividendos para o "Estado" como de geração de empregos para os próprios habitantes da Zona Norte.

Mas será que era necessário, para fazer isso, haver uma degradação tão acentuada da vegetação quanto a que encontramos não só na margem esquerda que pertence a Natal, mas que já encontramos, igualmente, na parte direita do Rio em um claro processo de calterização dos rizomas e vegetação para se fazer mais piscinas de criação de Camarão na parte de São Gonçalo. Até onde o comércio desmedido e a busca de lucros cada vez mais acentuados serve de desculpa para nós com vista a ter a natureza como um recurso sempre disponível e inesgotável sem que assumamos uma posição mais responsável e ético da exploração de seus recursos? Sei que a destruição dos mangues de Natal e Zona Norte é um fato e São Gonçalo do Amarante esta indo no mesmo caminho. A destruição do Mangue acontece silenciosamente e pouco a pouco. Este processo deve ser assim, para não chamar a atenção tanto das autoridades quanto da população. Não obstante, basta para constatar os danos já presentes a toda uma comunidade minoritária representada pela figura dos pescadores e caçadores de caranguejo que já encontram dificuldade para encontrar alimento e sustento para suas famílias. O desaparecimento de determinados peixes e caranguejos é apenas uma dos muitos indícios que demonstra o futuro negro que esta porvir em nosso Estado.

A morte do Mangue da Zona Norte acontece pouco a pouco e silenciosamente, porque tem um motivo bastante pertinente, os seus algozes não querem chamar a atenção das autoridades, imprensa e nem do público. Interesses escusos visam, apenas, o lucro e crescimento do consumo e para isso utiliza toda a linha capitalista de argumentação para justificar o aumento da degradação do mangue e a construção de mais piscinas de criação de camarão. Mas eles trabalham e contam, igualmente, com a apatia e perfídia da própria população local que "fechados" em suas vidinhas medíocres, só se importam com a chegada do fim de semana para ir as festas e consumir sua cerveja, vivendo, comendo e bebendo como verdadeiros carneirinhos guiados, adormecidos em um plácido sonho que quando acordarem descobriram estarem em um pesadelo. O pesadelo e terem descoberto que aquilo que havia de maior valor foi consumido por um punhado de indivíduos que acham que lucrar é o único sentido que a vida tem. E assim o povo continua a ser povo, ou melhor, semelhante a bois continuam a ser guiado por um ou dois peões tendo por trás os seus donos.

Realmente esta vida é uma ilusão. Basta vê os artifícios que encontramos nos criadores de Camarões que para não escandalizar a população da Zona Norte, deixam um pequeno muro mequetrefe e ridículo de arbustos que separam o rio da grande área desolada das piscinas para nos passar uma impressão de natureza intocada. Não é preciso fazer um esforço muito grande para constatar a perfídia que estes senhores utilizam para freiar a possível indignação e ofensa que os cidadãos da Zona Norte pudessem externar (como se isso fosse preciso para uma região tão esquecida para Natal que só é lembrada no dia das eleições, que possui pessoas de memória tão curta e de índole tão submissa).

Existe outro fator que não consigo me acostumar; relacionado a permissão dada pelos órgãos ambientais a estes criadores, como por exemplo o IDEMA, que é o órgão regulador ambiental do Estado que consentiu que estes senhores, donos das piscinas de camarão, fizessem uso das antigas salinas que não tomavam antes deles, tanto espaço e isso pode-se constatar pelas muitas fotos que temos de quinze ou vinte anos atrás, quanto a quantidade de devastação e desmatamento que encontramos hoje. Não sei se é ingerência, omissão, falta de pessoal para fiscalizar ou qualquer outro fator. O fato é que estamos perdendo o nosso Mangue (e que diga-se é um bem de todos) para um ou dois empresários que justificam a destruição e degradação ambiental através de números de geração de empregos, pagamento de impostos e que não esta ai nem para a região quanto mais para a cidade. O que esta em jogo afinal? O que esta em jogo nada mais é do que o lucro e o custo-beneficio, pois é muito mais difícil e custoso utilizar de técnicas de criação de camarão obedecendo determinados parâmetros ambientais que só seriam restituídos depois de um certo tempo de investimento quando, de outro modo, pode se obter lucro rapidamente, mesmo que para isso alguma coisa seja destruída pelo caminho. Ora isso nada mais é do que a lógica capitalista, lucrar desmedidamente e sem responsabilidade com outro quanto mais com a natureza.

Desta forma constatamos que a humanidade continua em sua caminhada megalomaníaca, sem se preocupar consigo e nem com o outro, imagina com o mundo em que ele esta inserido. É por isso que se faz urgente "nós" da Zona Norte, devemos acordar e sairmos desta completa sonolência que nos dominou, desde sempre, para nos movermos em direção a um novo tempo em que somos constantemente convocados a tomar uma posição sobre nossos motivos, sobre nossa opinião, sobre a vida. Deixemos todo o ranço, a bebedeira, as festas fúteis, as torcidas partidárias e assumamos uma postura desafiadores frente ao mundo e frente a vida. Não é só a natureza que precisa de uma atitude e um posicionamento ético claramente definido, nós também necessitamos nos posicionar contra toda e qualquer tentativa de alguém achar que só porque tem alguma coisa que gera empregos e contribui para a receita do estado, que esta mesma pessoa se ache no direito de cobrar das autoridades algum beneficio e que tenha a tendência de sempre achar que pode fazer o que bem entender. O momento urge, então, para uma tomada de decisão, nós escolheremos entre ficar omisso e deixar que outros tome a decisão por nós ou de começarmos a exigir e "lutar" pela defesa do bem comum e consequentemente o nosso próprio bem.


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