domingo, 21 de novembro de 2010

Devaneio Literário [Parte 1]

Quando decidi ler literatura erótica, mandei um e-mail ao meu consultor de literatura e cinema e também professor Eduardo Pellejero, perguntando que livros ele indicava de inicio para eu começar minha saga literária pelo erotismo. Era recesso, eu lia A casa dos Budas Ditosos do João Ubaldo Ribeiro, emprestado da minha amiga Ceres, livro esse que em uma semana foi lido quase que a cada dia por uma mulher diferente. Encantei-me com a forma simples e corriqueira com a qual Ubaldo tratava temas margeados de tabu em seu livro. E como nos deixava a vontade para sentir-se amiga, fã, seguidora, confidente da “Velha” como ele mesmo chama. Em nenhum momento sabemos se é real ou fictícia, dada a verdade das palavras desenfreadamente ditas por ela sobre pura putaria.

Fui ao sebo com10 livros para trocar por novas perspectivas literárias, livros da minha juventude e adolescência, foi estranho ver como eu não me apegava àquelas histórias que havia lido outras épocas, até ria de mim mesma por ler autores como, Paulo Coelho, Marion Zimmer Bradley, e outros que nem lembro.
Enfim meu gosto literário estava se apurando, mudando ou mesmo se reconstruindo. Vi que toda minha vida li influenciada por pessoas da minha convivência, amigos, namorado, etc. Mas só agora na academia começava a dar meus primeiros passos, a decidir que tipo de literatura eu gosto, quais autores lerei, quais obras são essenciais, tudo isso fazia parte do que eu era agora, e podia sentir a força que tudo isso tinha.
Dos livros que o Eduardo me indicou, não achei absolutamente nada nos Sebos da cidade alta, mas sabia dos autores mais “famosos”, e fui procurar alternativas em suas obras, um deles foi Henry Miller. Depois de muito procurar, achei uma edição antiga de Sexus o primeiro livro da trilogia Crucificação encarnada, pensei, “num tem tu, vai tu mesmo”, troquei 5 livros meus em um único volume de 500 páginas, que realmente valeu muito à pena, pelo menos inicialmente em numero de páginas eu sai ganhando. Comecei a ler no ônibus voltando pra casa, seduzida por Henry Miller, porque para que eu goste da leitura tenho que me sentir atraída por quem escreveu e ele me deixava confortável pra isso, “ nem parece com os americanos que a velha da A casa dos Budas Ditosos descrevia, nem os estereótipos que eu costumo ver na TV”.
Miller era um americano atípico, quem sabe por isso simpatizeu com ele, nada de patriotismos, nem o orgulho americano se via presente naquelas páginas. Seus livros são autobiográficos, mas parecem, a meu ver, margeados  de fantasias e delírios dele, de qualquer modo Miller negou algum tempo que fossem experiências pessoais.
Na trilogia crucificação encarnada, Miller começa a expor seu anseio por querer escrever, a pesar de não ser seu primeiro livro é em Sexus que descreve a experiência de largar tudo, para somente escrever, madrugadas em claro esperando algo no papel. Em A Hora dos assassinos se compara a Rimbaud, mas nisso eles diferenciam totalmente, pois Miller diz ter largado a vida pra escrever, enquanto Rimbaud largou a escrita para viver.

“Temperado pela loucura e desperdício da mera experiência, dei um basta e concentrei minhas energias na criação. Mergulhei no ato de escrever” (Miller, p. 13).

Inclusive Crucificação encarnada se dá pelo fato do despertar literário de Miller acontecer aos 33 anos, idade da crucificação de cristo, é quando já no fundo do poço ele morre para o mundo e renasce para a literatura.
É em meio à pornografia e filosofia que nos excitados com a obra de Henry Miller.  

Serviço: 

A casa dos budas ditosos [pdf]:

Principais obras de Henry Miller:
  • Trópico de Câncer, 1934.
  • Primavera negra, 1936.
  • Trópico de Capricórnio, 1939.
  • Dias de paz em Clichy, 1939.
  • O Mundo do Sexo, 1940.
  • O Colosso de Marússia, 1941.
  • Sabedoria do Coração (ensaios), 1941.
  • Pesadelo Refrigerado, 1945.
  • O Sorriso ao pé da escada, 1948
  • Sexus [Crucificação Encarnada vol. 1, 1949.
  • Os Livros da Minha Vida, 1952
  • Plexus [Crucificação Encarnada vol. 2, 1953.
  • Big-Sur e as laranjas de Hieronymus Bosch, 1957
  • Nexus [Crucificação Encarnada vol. 3, 1960.
  • A Hora dos Assassinos (Um Estudo sobre Rimbaud).


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