sábado, 9 de outubro de 2010

PSICOLOGIA E ÉTICA NA ARTE SEQUÊNCIAL E QUADRINHOS ADULTO


Os quadrinhos, em sua maior parte, vem se firmando como uma das mais inovadoras artes na contemporaneidade. O cinema, a pintura, a aquitetura, a escultura, a literatura e outros modos de expressão estão sendo influenciados por esta nova forma de ver o mundo e de como o interpretá-lo. Isto parece denotar certa tendência e influência dos meios em que surgiu esta nova forma de observar as coisas que fazem parte do cotidiano e que aparentemente, parecem não possuir significado algum. Através de seu ponto de vista e de sua arte começou-se a influenciar cada vez mais as opiniões do público, que antes era de um pequeno punhado de NERD´S que para escapar de um mundo incompreensível, criaram o seu próprio mundo e passaram a atingir uma fatia cada vez maior de público exigente que não se contentava mais com o mais do mesmo em que se encontrava as artes e o conhecimento artístico.

Todavia, a origem das historias em quadrinhos ou historia sequencial, como acho o nome mais apropriado, começou de maneira ingénua e lúdica. Tinha função apenas de divertir e não necessariamente de formar opiniões. As historias podiam trazer alguma lição de moral embutida, mas não necessariamente que fosse o suficiente para fazer alguém refletir sobre o que seja moral e qual o seu valor, para cada um de nós, e qual seria o beneficio que poderíamos obter através destas historias. Elas eram mais uma forma de propagar uma ideologia de Classe (capitalismo?), com o fim de enquadramento a determinado pressupostos sociais do que nos fazer parar para refletir e pensar em mudar, pelo menos, nós mesmos e quem sabe, como consequência, o mundo.

Os heróis, neste momento, surgem como uma forma de propagar determinado ideal a ser seguido, seja de uma nação hegemonia ou propagar uma mensagem seja de esperança ou um desejo, pela liberdade, por exemplo. Sabe-se que a ideia do herói esta ligada a capacidade e desejo (psicológico) que o homem comum tem, de ser alguém especial e que se destaque e seja motivo de admiração e exemplo a ser seguido por outros que são como este. Ele é o ideal e o caminho a ser atingido. Isto é muito semelhante à aqueles heróis que encontramos na Ilíada de Homero e nos escritos de Virgílio. Os heróis destes últimos foram, com certeza a principal fonte, no inicio do século 20, para o surgimento dos super-heróis que conhecemos hoje. Tais heróis, no entanto, são diferente quanto aos heróis da antiguidade em determinados aspectos. Por exemplo, Aquiles é conhecido por sua beleza, força, invulnerabilidade e destreza. Entretanto, possuía defeitos muito parecidos com os que encontramos em qualquer pessoa de carne e osso, que não possuíam poderes ou força descomunal como este herói. Igualmente encontramos nele falhas de carácter e personalidade, como o que encontramos na famosa passagem em que ele, após derrotar seu inimigo Heitor amarrou o seu corpo no carro e saiu descontroladamente o arrastando em seu carro, o humilhando em público, o que para os gregos era um dos crimes mais hediondo que um ser humano ou deus poderia cometer a um indivíduo. Dava-se o nome para este descontrole do herói de Hebrys que significa, descomedimento. Seria a parte irracional e menos heróica para assim dizer daquele que deveria ser o mais comedido dos comedidos. Encontramos, assim, um profundo desvio na conduta moral e ética nos heróis da antiguidade, pois eles estão sujeitos a falhas tão atrozes e imperfeições no caráter tão comuns como o que podemos encontrar em qualquer pessoa comum.

Em contra partida, os super-heróis das historias em quadrinhos, da época áurea de seu surgimento, não possuíam esta contradição. Eles eram a perfeição e representavam o que mais de nobre poderia existir em termos de dignidade e valores morais que poderíamos encontrar. Assuntos como liberdade, igualdade, compromisso com a sociedade, altos valores morais, companheirismo e defesa dos mais necessitados eram a premissa de suas historias. Os super-heróis das tiras de jornais e depois das historias em quadrinhos até meados do fim da década de 1980 não possuíam nenhum dilema moral ou questões relevantes a seus desvios psicológicos, salvo claro, algumas historias ocasionais e pontuais, como as que a DC produziu na década de 60 e 70 e a Marvel na mesma época, como por exemplo, a famosa historia em que unia Laterna verde e Arqueiro verde em uma viagem ao redor dos estados Unidos na distante década de 70 ou as historia da do Hulk que possuía uma clara dualidade entre um ego psicológico e atormentado do doutor Banner ou o ódio e a incompreensão do mundo perante um ser que esta totalmente deslocado do mundo como o Hulk que possui um poder de um deus e uma fúria incontralavel tão grande quanto seu poder, sendo, este, encarado como um ser totalmente deslocado no mundo e por isso repudiado por ele. Não obstante, esta historia e outras que fugia totalmente a normalidade e ao controle, eram raras . A maioria era fundamentada nos mais altos princípios e valores morais com o fito fim de propagar a mensagem difundida por todo um pensamento maniqueísta de um mundo que parecia está alienado de si mesmo. Os quadrinhos desta época era bastante "certinhos" e "politicamente correto", mesmo assim, ainda foram caçados e censurados por entenderem que em suas páginas existiam um conteúdo subversivo e que desviava as criança e os jovens da conduta moral e dos bons costumes, era o período da guerra fria.

Vale salientar, que aqui em nosso país os quadrinhos nunca foram considerados ingénuos, pelo contrário, os mesmos foram encarados como subversivos e que ocasionavam pensamentos impuros e rebaixavam os valores morais da sociedade brasileira. Estas criticas eram feitas tanto pelos sensores militares quanto por pessoas privadas e que apoiavam o atual regime. Elas em sua maioria eram donas de determinados meios de comunicações poderosos e tinham bastante influência para impedir a entrada das tiras de quadrinhos nos jornais , como bem mostrou Gonçalo Junior em seu Livro sobre o assunto intitulado "A Guerra dos Gibis", vale apena comprar e ler. O autor mostra que determinados indivíduos donos destes meios de comunicação combateu com bastante veemência a publicação em jornais e revistas das tiras de heróis e suas aventuras. Mas qual o interesse disso vocês podiam me perguntar? Ora o teor das historias em quadrinhos, apesar de meu ponto de vista ser bastante ingénua, ainda assim tinham o determinado poder de fazer as pessoas sonharem, principalmente em regimes totalitários como o Brasil passou até meados do fim da década de 80, que versavam sobre temas como o direito de se expressar, de direitos, de democracia e de liberdade da comunicação. Tudo isso era para uma sociedade e para aqueles que a apoiam, um verdadeiro problema a ser solucionado, porque causavam com a sua permanência e aquisição um verdadeiro objeto de incitação a revolta, para a sociedade o que tornaria esta difícil de controlar. Deste modo constata-se que em nenhum momento de sua historia a historia em quadrinhos pode ser tida como ingénua ou desmerecedora de determinada atenção. Ela é uma midia poderosa, justamente, por sua aparente ingenuidade e é muita mais rápida para convencer do que pode se esperar de qualquer meio de comunicação.

Assim, neste ambiente, tão impróprio para a origem de qualquer coisa, surgiu por assim dizer o quadrinho. Mas como podemos constatar, posteriormente, de ingénuo a historia em quadrinho não tinha nada. Ora basta observar que ela surgiu sobre a chancela de uma mescla de artes, como a pintura, a literatura, a fotografia e o cinema. Era praticamente inevitável e até uma consequência bastante esperada o seu surgimento. O que acredito não ser esperado era o grau de importância que hoje verificamos e a dependência quase viciosa que as artes começaram a ter através dela. Isto é explicado, acredito, através da falta de imaginação, dos chavões, de pseudo ideais que vendem com um verniz de originalidade e que de original não se tem nada, enfim, estamos no que Nietzsche falou de um completo e profunda síndrome de "Niilismo", ou seja, de falta de sentido de tudo, incluindo de imaginação. Ele mais do que todos já tinha verificado isso lá no século 19, em sua época. A arte havia decaido e parecia que sua queda não pararia, se não vinhesse alguma coisa a lhe socorrer. Esta critica parte da constatação de já haver na arte alemã esta propensão, podemos ter como exemplo, a música wagneriana que segundo Nietzsche estava inserida neste processo de decadência. Assim, esta dependência, das artes contemporaneas, da historia em quadrinhos, não seria novidade para o filosofo Alemão. Para ele antes de tudo , esta é apenas a constatação de que determinados valores morais e espírituais (e neste sentido temos de entender o espírito como o espírito de uma época, nos termos hegelianos) devem vir a ser repensados e quiça reformulados.

Neste sentido, podemos antecipar, antes de haver maiores criticas sobre este pensamento que esta nova arte em ascensão chamada antigamente de historia em quadrinos ou Gibi( HQ) e para usar um termo mais contemporâneo arte sequencial, Banda desenhada ou historias em Quadros, que estas são apenas a decorrência da decadência de determinados pressupostos da arte, como a falta de uma critica estética, como a banalização do que é arte (hoje há até quadros pintados por fezes de pombos e criança de 2 meses pintam quadros e chamam isso de arte!?) e a falta de um critério minimo para podermos estabelecer o que arte para aquilo que não é. O que ao meu modo de ver parece não está bem claro quais criterios seriam estes.

Por enquanto paramos por aqui, Mas posteriormente retornaremos a nossa análise sobre este tópico enfocando, sobremente, os aspectos evolutivos das historias em quadrinhos e como foi que de uma arte ingênua chegamos a transformá-la em uma nova mídia tão poderosa.

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