segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O MEDO COMO CATARSE PARA O DESCONHECIDO - PARTE 1


A literatura Gótica é um ramo deverás fértil para as mentes mais delirantes e febris, para não usar palavras como: o reduto de mentes geniais, capazes de surpreender com a força visceral de sua imaginação, a força sagaz e criativa capaz de vasculhar e resgatar na psique humana, lembranças embaraçosas e horrores que preferimos não lembrar e por isso esconder ou varrer para debaixo do tapete. Em suma, os escritores deste ramo de literatura, que tem no medo a sua matéria prima. Podem ser comparados a verdadeiros escultores da mente humana. Eles são artistas de uma estética refinada que tem no medo o seu substrato para sua arte. Através de suas belas linhas, encontramos muitos "Eus" que desconhecíamos. Horrores que havíamos esquecido e que geralmente por imaturidade ou por falta de uma orientação mais profunda deixaram que tivéssemos experiências, muito enriquecedoras através de sua chancela. Este género de literatura, todavia, não é fácil e tão pouco destituída de refino. Temos os autores mais variados e de tendências as mais ramificadas. De autores que abordam o ramo detivesco, como Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes ou sua amiga a escritora Agatha Cristie até Escritures de Romances mais refinados que abordavam e criticavam uma sociedade estabelecida em bases tão pueris, como Charles Dickens e Baudelaire. Todos eles em um ou outro momento, flertavam com este ramo de conto gótico ou de terror, com o objetivo de talvez escapar de um mundo tão materialista e pouco espiritualizado, que parece ter se esquecido que continuamos, sendo, ainda, de carne e osso e que podemos está sujeito a qualquer momento a violência e morte, quem sabe até de loucura!

O conto é um género bastante instigante, porque não precisa se estender por longas páginas para explicar algo que aparentemente pode ser di
ta em algumas poucas linhas. Além disso ele não tem um determinado padrão ou forma estética definida. Um autor pode iniciar uma historia falando em primeira pessoa como o exemplo de Edgar Allan Poe ou Harold Philipe Lovecraft. Pode ser também em terceira pessoa como alguns autores escrevem como Clive Backer ou Stephen King. Existem também aqueles que se apropriam destas duas formas narrativas em suas obras. Em suma, o que conta é a liberdade do autor para contar uma boa historia e que ela seja suficiente para resgatar ou instigar determinados sentimentos de estranheza e desvarios psicológicos, como por exemplo, a claustro fobia, o medo da morte, o medo da loucura, a apatia diante do inevitável, o medo de altura, a estranheza diante daquilo que nos é desconhecido, em fim de tudo aquilo que foge de nosso controle e que não tem como os entendê-los a não ser vasculhando aqueles cantos mais obscuros de nossa mente.

De fato, escrever sobre o medo parece ser uma forma de catarse que fazemos em nós mesmos. É a maneira com que cada autor tem de se redimir consigo mesmo e com os outros através de suas historias. Buscando, através delas, resgatar e mostrar que sentir pavor ou temer algo que não conseguimos explicar é uma forma natural de busca que tentamos costumeiramente fazer com o objetivo de nos encontrarmos nela. Sentir medo não é uma novidade estabelecida no homem. Psicologicamente, Freud observou que é através dele que conseguimos sobreviver e continuar vivendo. Nós somos, frutos mais originários do medo do que da coragem propriamente dita. Alias, assim como a morte e a vida são faces da mesma moeda, a coragem e o medo são partes constituintes uma da outra e estão constantemente juntas. Uma não subsiste independente da outra são leis antropologicas universais, pois são aquilo que caracteriza unicamente o homem e talvez, por isso, que tememos tanto determinados pensamentos e medos que os ocultamos no porão de nosso subconsciente.

O escritor quando aborda este tema, em particular, busca antes de tudo, e isto é uma teoria que tenho, estabelecer um diálogo com estes pensamentos obscuros que estão encerrados no porão do subconsciente e que em situações normais "nós" não ousamos expor ou mostrar ao mundo. Pois como Freud mesmo mostrou, todos nós temos determinados mecanismos que gerenciam aquilo que deve ser exposto ou não para os outros. Seguimos assim leis que são , na realidade ditadas externamente, e internamente devemos adequa-las em nosso consciente. Quando não fazemos isso ficamos no limiar da loucura e da insensatez, não conseguimos diferenciar o que real para o que não é e por isso somos capazes dos maiores disparates e dos feitos mais hediondo. No fundo todos nós temos uma parte de "loucura" em nossa constituição cognitiva e Freud observou vários casos em que isso é bastante constatado. Não obstante, o escritor consegue fazer esta passagem de forma bastante sútil e consegue resgatar muito do conteúdo cognitivo que estava armazenado em sua psique o expondo através de seus escritos. Na realidade, escrever não é só um ato imaginativo que o autor põe em uma historia hipotética e que visa o divertimento e passatempo do público. Na maioria das vezes ele utiliza sua arte para contar uma historia que tem haver com algum requisio de seu subconsciente seu e que se faz necessário dá, por assim dizer, vida a este conteúdo.

Os nossos mecanismos psicológicos são deverás complicados e difíceis de ser compreendidos, principalmente no que se refere aos nossos sentimentos. O homem apesar de se julgar superior aos animais, ainda é escravo dos sentimentos, como o bem o diz o filosofo Escocês David Hume. E por isso suas ações e inferências são menos um produto da reta razão do que de qualquer outra forma cognitiva de pensamento. Nossas emoções são instáveis e nossas ações muitas vezes pode tomar rumos totalmente inesperados. Por isso que a maioria das ciências que buscam uma determinada constância nas ações humanas padecem de um critério único que fosse capaz de sintetizar nossas ações em um único objetivo, o que se constatou ser impossível. Assim muitas vezes, os homens constatam, nas ações humanas, principalmente naquelas ditas morais, uma dualidade e por isso uma inconstância. quanto o seu critério de verificabilidade. Encontramos deste modo uma boa amostra desta constatação na obra de Robert Louis Stevenson intituladada " O misterioso caso do Doutor Henry Jeckel e Mister Hyde (que no brasil é geralmente conhecida como O médico e o Monstro). Em que a premissa básica da historia é justamente levantada sobre o problema da falta de limites morais estabelecidos a partir da total ausência de uma forma subjetiva que venha a filtrar e impedir que nossos desejos mais obscuros venham a tona e tornem-se realizáveis. Esta obra é emblemática, pois antes de Freud falar de ID, EGO e Super EGO, ( os três estados do subconsciente), o escritor Robert Louis Stevenson parecia já ter observado que em nossa mente já existia um embate entre forças contrárias na psique.

Ora, podemos finalizar dizendo que este é apenas uma amostra de que muitos escritores como Robert Louis Stevenson, Edgar Alan Poe, H. P. Lovecraft anteviram e mostraram de maneira genial determinados conhecimentos que só descobriríamos mais tarde. Na obra citada acima, não temos somente um dilema moral, religioso e quem sabe uma critica a cientificidade da era vitoriana (pois a historia é ambienta justamente neste período, que é a época em que o autor viveu), mas também encontramos já uma clara demonstração do que viríamos a ver na figura de Freud , uma análise do psíquico.


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