quarta-feira, 28 de março de 2012

OS CRIADORES E SUA CRIATURA - KÓTICA NO CAMINHO DA CONTRA CULTURA

 
Difícil encontrar em um universo hostil como o de produtor de HQ neste país um quadrinho que reúna arte e historia com a medida certa de genialidade no roteiro e ótimas imagens na diagramação. Nesse sentido a revista on line Kótica vem ganhando destaque não só no Estado do Rio Grande do Norte como no cenário nacional. Por conseguinte, uma pergunta se faz pertinente de ser feita. Qual o motivo disso acontecer agora e não antes, mesmo com a tentativa de outros empreendimentos passados como a Maturi ou a Reverbo não ter tido uma revolução tão grande na forma de narrar uma historia e de abordar o conteúdo cultural, artístico e histórico de nosso Estado.

De fato, a revista on line Kótica diferencia-se por sua proposta de mostrar que é possível contar historias inteligentes com boas ilustrações assim como buscar mostrar outras formas estéticas experimentalmente, abrindo seu espaço a poesia e a outras formas de culturas que possam ser traduzidas para o casamento de imagem e linguagem em uma simbiose perfeita. Não obstante, o que torna a revista Kótica interessante é sua capacidade de reunir artistas e ilustradores das mais variadas tendências e que possuam uma forma poética de contar uma boa historia em seu núcleo. Deve-se ressaltar que não busca-se através de seu roteiro elaborado uma conversão ou propagação de uma ideologia ou forma de pensamento, mas visa-se, antes, a liberdade criativa em detrimento a ferrenha vontade do mercado editorial a qual tantos autores estão presos criativamente e portanto submissos a seus "cascos". É triste notar que esta tendência é quase uma doença crônica nos quadrinistas natalenses haja vista seus heróis falarem inglês e seus ídolos serem atrizes ou atores de países que não tem nenhum vinculo emocional e histórico conosco. 

Além disso, a proposta dessa nova geração é de natureza mais artística-filosófica do que propriamente seguir uma estrutura já sedimentada e caduca de se fazer quadrinhos.  Os autores Marcos Guerra, Leandro Moura, Paulo Sérgio, Renoir, Cristal, Renato, Israel entre outros propõem-se a remover o veu da ignomia e ignorância em que esta fixado a mente tacanha e mofina dos quadrinhos no país. E que parecem vislumbrar unidimensionalmente o universo dos super heróis sem levar em consideração o que realmente importa, contar uma boa historia sem necessariamente ser sobre um mundo em que homens de capa flutuante e heróis milionários pululam a mente tacanha e sonolenta dos leitores brasileiros. Me pergunto se estas pessoas nunca leram Avenida Dropsie ou o Contrato com Deus do grande mestre Will Eisner e suspeito que menos ainda tenham lido AS INIMIGO de Kubert e Knigleth, SANDMAN de Neil Gaiman, V de Vingança, From Hell, A liga extraordinaria, estes últimos de Alan Moore.

Como visto as influências dessa turma é de qualidade, mas a qualidade não se baseia em uma formula caduca e ultrapassada de se contar historia. Eles também, tampouco escolhem chutar o pau da barraca e aderir a contar uma historia do tipo Gore que prime pela perversão e demais masoquismos com o intuito de despertar antes a repugnação das pessoas do que incultir algum sentimento mais elevado nelas. Sua intensão, portanto, objetiva resgatar a beleza de uma historia bem contada, de  preferência com pessoas humanas capazes de serem emocionadas e emocionar pelas ações dos personagens. Por isso suas influências serem fruto de leituras de autores como Maupassant, Marcel Proust, Kafka, Oscar Wilde, Edgar Alan Poe, Harold Philliphe Lovecraft, Homero, Carlos Drummond de Andrande, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, Jorge Luis Borges e outros. Alista é grande pois grandes são suas intensões. 

Os temas das historias na revista on line Kótica visam compreender uma vasta gama de assuntos, não possuindo assim um tema específico como linha demarcatoria e limitrofe. O objetivo através dessa ausência de um tema especifico é a liberdade criativa e a busca pela melhor historia a ser contada. Constatamos em suas páginas diversos assuntos tratados, alguns são pura abstração, como a rosa artificial, outros mais complexos e intrigantes como concreto. Isso é claro, não fecha as possibilidades de existir séries, aliás o carro chefe da kótica são duas ótimas séries chamadas de O Evangelho Segundo o Sangue e a outra chamada de A Condenável Vida de Greenwold que serão publicadas como impresso. O Evangelho já esta na segunda impressão enquanto A Condenável vai ganhar a sua em meados de Julho.

De qualquer forma, já é um grande feito para o nosso Estado a existência de uma revista on line regular que tragam criações de artistas locais e que abordem especificamente historias que tenham haver conosco, com nossa cultura, nosso estado, nosso país e nosso povo. A mera tentativa de resistir a invasão ianque dos quadrinhos americanos e buscar criar uma Hq com a linguagem e o jeito de nosso povo que valorize nossa cultura, historia e linguagem já é válido. Os esforços dos quadrinistas, roteiristas, letristas, coloristas da Kótica nos faz sentir que existe a esperança de reformulação da maneira como a arte sequencial é tratada no País. Devemos, antes, dá importância ao que é nosso para depois verificarmos o que de bom pode vir do outro e não fazer o caminho contrário. Seja como form Guerra, Leandro, Paulo Sergio e os demais membros que compõem este fantástico grupo e faz esta incrível revista on line estão de parabéns e espero muitos e muitos números dessa revista que vem se tornando pouco a pouco um dos focos de resistência e liberdade da expressão do quadrinho do Brasil. Parabéns a todos.

Por fim quero agradecer a todos os que foram ao evento de sábado passado prestigiar o lançamento da HQ o Evangelho Segundo o Sangue, faz tempo que não vi tanta gente reunida para prestigiar um impresso de quadrinhos. Parabéns a todos pelo ótimo gosto. Esperemos que venham mais.

AVE EST KÓTICA.


RENATO DE MEDEIROS JOTA


Comentários
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Ótima mateira e muito boa analise destes herois anônimos e esquecidos dos quadrinhos potiguares. Sua presença é mais reconhecida no underground potiguar e por gente que não tem nada haver com a arte sequêncial do que por seus pares. É como se diz o santo de sua terra não opera milagre ou mesmo afirmar que em casa de ferreiro espeto de pau.

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