Dificilmente em nosso dia a dia somos intimados a enfrentar nossos monstros, escondidos em nossa alma. O problema do mal no século 20 e 21, parece ter perdido o significado diante das atrocidades constatadas em duas guerras mundiais e na realidade dos campos de concentração. Ou será que ela apenas virou outro tipo de “mal” só que admitido por nós e absorvidos como algo que faz parte de nossa alma. Seja como for convencionou-se de dizer que o mal tornou-se banal e corriqueiro como postula Hannah Arendt, porque os homens não se identificavam com ele e por isso alienavam-se de sua presença.
Mas talvez esta alienação não se dê devido o fato de finalmente percebermos que somos propensos ao mal e, constatando isso, surja o “pathos” (espanto) por reconhecer esta verdade que realmente somos maus e capazes dos atos mais atrozes e descabidos diante da tendência incessante por satisfazer os desejos mais baixos e errôneos de nossa alma. Sócrates diz que erramos por ignorância, porque desconhecemos a verdade residente em nossa razão, em um mundo mais que perfeito. Mas nós não somos guiados pela razão, porém por nossas paixões e o mal nada mais é do que os sentimentos desmedidos de nossas emoções mais egocêntricas como postula Hume.
Seja como for, no Brasil, estamos caminhando perigosamente para a banalização do mal postulado por Hannah Arendt, isto se dá através de leis ineficazes, da corrupção escancarada, das emoções desmedidas entre muitas outras coisas. De outra forma, penso que já ultrapassamos este pensamento, à medida que o mal é apenas a constatação tácita de nossos piores pesadelos que esta na obscuridade da alma humana. Mas isso nos levaria a perguntar então, se o mal já é banal e que já estamos propensos a fazê-lo de qualquer forma o que podemos fazer para evitá-lo? Ora a resposta não é simples o mal não é uma entidade aquém de nós muito menos um fato isolado na historia humana será que os homens não eram desde sempre propensos a banalizá-lo. O que acontece hoje em dia é a pura constatação de nossa total admissão do mal em nossa sociedade, a sua contraparte, o bem, parece ser um objetivo inalcançável e somente com muito sacrifício é que chegamos próximos de alcançá-lo, entretanto o mal é bem mais fácil é quase tentador.
Por fim, poderíamos dizer que o mal seria, então, constituinte de nossa natureza? Não podemos saber, mas parece ser bem mais fácil atingi-lo do que o bem. Esta discussão parece distante das pessoas comuns, mas ela é frutífera e nos faz indagar e perguntar até que ponto estamos dispostos a evitá-lo e abrir mão de suas tentações e do desejo egoísta que a ele esta atrelado. Ir contra este desejo parece nos levar a nadar contra a correnteza, ir de encontro a nossa própria tendência, mas é um puro fato de sobrevivência como o diz Hobbes. Temos que anular nossa natureza e a tendência para o mal em busca do bem comum que é o nosso próprio bem. Seja como for, apenas exercitando este lado humano, retirando a parte boa que quase todo o tempo ela esta mergulhada na sombra do mal é que nossa humanidade será capaz de resgatar aquilo que denominamos de bom ou de sumo bem como bem falou Santo Agostinho.
Humildemente agradeço a todos, Renato.