sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

ENTREVISTAS COM ROTEIRISTAS DE HQS POTIGUARES

EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.

Para o nossa segunda seção de entrevistas sobre os roteiristas potiguares temos a satisfação de conversar um pouco e saber da carreira e pensamentos do grande  poeta, contista, autor de novela gráfica, roteirista e ilustrador Mário Rasec sobre projetos, ofícios e a arte de escrever roteiros de HQs. Iniciamos com uma pequena e resumida biografia do entrevistado.

Biografia:
Designer gráfico, artista visual, cartunista e escritor com dois livros publicados.








ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

Pode parecer clichê, mas, em primeiro lugar, foi o desejo de se expressar de uma forma que pudesse unir o meu lado literário com as artes visuais. Contar uma história original utilizando recursos visuais e literários. E, o mais clichê de todos: eu não poderia suportar esse mundo se não encontrasse na arte uma maneira de transubstanciar todas as minhas frustrações e tédios diante de uma realidade tão cheia de absurdos e sem sentido.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

Como provavelmente a maioria dos quadrinistas, comecei lendo quadrinhos de super-heróis, Marvel, DC, esse tipo de coisa. Li coisas do tipo que me fascinaram, como a fase dos X-Men de Claremont e Byrne, e Demolidor de Frank Miller, assim como Adam Warlock de Jim Starlim. Entretanto a grande “evolução” chegou quando conheci as obras de Alan Moore e Neil Gaiman, e agora consumo publicações do selo Vertigo como Hellblazer e coisas como Planetary e os Invisíveis. Mas também sempre fui chegado numa boa história de terror e de ficção cientifica.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Algo dentro do gênero de ficção cientifica ou terror, mas, quando possível, com fortes elementos filosóficos e poéticos. Tenho a pretensão de tornar minhas histórias com abordagens mais filosóficas, existencialistas. Que não sejam um simples quadrinho de entretenimento, mas que façam questionar a porra do mundo que o cerca, que exponha sem pudor toda a merda que cerca um individuo a cada dia mais consciente da sua fragilidade e insignificância, cercado pelo exibicionismo dos poderes religiosos, políticos e econômicos que controlam e influenciam sua existência.

4 – Muito bem, gostaria de saber como é sua forma de escrever roteiros que abordem os mais diversos temas, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito fáceis de serem abordados e aceito pelo grande público leitor?

Acho que o roteirista de quadrinhos não deve ter medo dos assuntos. Ele pode até ter um pouco de medo de não deixar claro sua verdadeira opinião sobre algo polêmico. Ele deve ter medo da covardia. Mas se for tocar em algum assunto delicado, que ele saiba o que está falando, que ele leia bastante sobre o assunto, e não jogue simplesmente a esmo somente para provocar. Mas que não tenha medo de perder o público, nem tenha medo de explorar algum tema pouco usual, simplesmente porque ninguém tentou antes.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Sim. Mas ainda não tenho ideia de quando começar a fazer isso.

 6 – Essa pergunta é capciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Não vamos ser bobos em querer desenhar de graça a vida inteira, somente pela arte. A não ser que o cara tenha outra forma de ganho financeiro que não lhe impede de produzir sua arte. Mas se puder fazer algo que agrade a si mesmo e conseguir vender isso ao mesmo tempo, sem que se submeter ao encarceramento da criatividade pelo marcado... melhor ainda.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina, em que temos a carência de tudo há décadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

Acho que nunca estivemos numa fase tão boa e com tantas facilidades de publicação. Porem ainda falta, e muito, uma forma mais eficaz de distribuição. Lançar é fácil, difícil é vender. Não é que não tenha consumidores, mas eles estão espalhados pelo país e não sabem o que estamos fazendo aqui.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido esse ou em outros anos?

O Evangelho Segundo o Sangue de Marcos Guerra e Leander Moura é ainda, para mim, a obra mais importante, mais robusta, e mais inteligente e criativa produzida em Natal. Um marco na história das histórias de quadrinhos potiguares, tanto por sua quebra de paradigma em termos de formato como de tema.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possível, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

Marcos Guerra, Renato Medeiros, e gosto também do estilo narrativo de Jamal (?). Falando resumidamente de cada um, eu diria que de Guerra eu gosto da poética; de Renato, a trama e de Jamal, da ação (embora eu só tenha lido uma obra deste).

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?


Rs. Como disse anteriormente, pretendo explorar a ficção e o terror com uma forte carga poética, filosófica e existencialista. Além de tentar evitar os clichês do gênero, o lugar comum em que muitos roteiristas de quadrinhos caem. Esta é minha pretensão. Se eu conseguir fazer algo original, honesto e bom de ler, tá valendo!

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