sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

ENTREVISTAS COM ROTEIRISTAS POTIGUARES



O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.

O nosso quinto convidado para nossa seção de entrevistas de roteiristas potiguares temos a satisfação de conversar um pouco e saber da carreira e pensamentos do grande quadrinista, roteirista e ilustrador Luiz Elson sobre projetos, oficios e a arte de escrever roteiros de HQs. Iniciamos com uma pequena  biografia do entrevistado.

Natural de Angicos, residindo atualmente em Natal. É integrante do grupq, Maturi e foi responsável pelo projeto primeira edição.

ENTREVISTA:

1
Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

O que me levou a escrever roteiros de quadrinhos foi a necessidade de criar histórias para o tipo de desenho que eu queria publicar, na época meu desejo de desenhar histórias com temática regional e local, histórias do cotidiano, política com critica social e sobre história e a cultura potiguar.

2- Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

Primeiro veio o gosto pelo desenho, desenhando o universo infantil , com as influências das revistas em quadrinhos da Disney e Mônica, dos heróis de TV e das revistas de faroeste , das ilustrações de enciclopédias e dos bordados feitos por minha tia e a minha mãe,a vontade de  criar roteiros  foi a partir da ideia de se desenhar histórias  de faroeste, que eram criadas a partir da leitura de livros de bolso ,  que comecei a ler pelas capas desenhadas por Benicio, eu lia o livro e depois criava os desenhos , mas a certeza de que dedicaria minha  vida a esse oficio foi quando passei a conviver com outros artistas que já trabalhavam , como Emanoel Amaral  e Aucides Sales.

3-Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Os temas de histórias são variados, a historia e a cultura do meu Estado é um dos temas que eu mais  gosto de trabalhar , a política, o cotidiano  e as questões que merecem uma reflexão sobre o comportamento da sociedade também são   temas  importante que gosto de  abordar em quadrinhos.

 4- Muito bem, gostaria de saber como é sua forma de escrever roteiros que abordem os mais diversos temas, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito fáceis de serem abordados e aceito pelo grande público leitor?

As ideias surgem de diferentes situações , para mim a mais comum é eu ir psicografando as ideias, elas surgem e eu vou anotando e desenhando ao mesmo tempo, tem histórias que nascem prontas, outras sem sentido algum , sem um final, surgem em pedaços, as vezes se concluem outras não são fragmentos  por si só.as historias são também frutos de leituras, pensamentos , vivencias e experiência que a pessoa realiza, e o resultado de um conjunto de coisas que interferem em seu pensamento. Quando se tem um trabalho encomendado, ai se necessita  de  mais planejamento e de se pensar sobre o tema a ser abordado. Temas delicados, devem sim serem objetos de produções , a vida e feita de conflitos , e é papel do artista se posicionar sobre as questões que a sociedade discute, o trabalho de um artista reflete um pouco de quem ele é , de sua forma de pensar, ele não tem obrigação de  seguir o senso comum, de querer parecer bem na foto, mas de expor suas ideias mesmo que elas não sejam o que a maioria pensa, ou o mercado exige, se tem um trabalho autoral deve seguir seu desejo e a verdade de sua arte.

5-Você possui alguma pretensão de desenvolver uma estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Acho que cada trabalho tem uma escrita diferente , uma estética própria é mais visível quando se trabalha em uma serie, ou com um personagem em varias edições, cada trabalho as vezes exige uma forma nova de se contar uma história, cabe ao roteirista escolher qual a melhor, para isso deve estar  preparado, uma estética pessoal vai surgindo com o tempo.

6-Essa pergunta é capciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Acho que quem se propõe  a ser roteirista deve esta preparado para trabalhar tanto com roteiros mais comerciais como para alternativo ou independente.deve se estudar para que seu trabalho tenha uma boa aceitação nos diferentes tipos de leitores, um estilo próprio de escreve r e algo que leva muito tempo para se definir, anos de trabalho, então é importante que a pessoa que deseja viver de produzir roteiros se capacite para essa tarefa,que exige muita leitura, conhecimento, percepção sensibilidade e principalmente muito esforço para se escrever diariamente , se praticar constantemente, e isso que se  leva a se realizar obras que provocam no leitor uma emoção e um prazer com sua leitura.
a pratica leva ao escritor realizar experiências com seu texto, a soltar a imaginação, a conhecer e quebrar as regras, a não seguir a mesma formula em seus textos, mesmo que ele tenha sucesso em um determinado trabalho, aquela solução pode não ser a ideal para outro, o roteirista deve estar preparado para lidar com reações diferentes dos leitores pois as vezes textos que eles nem levavam muita fé fazem sucessos em detrimentos s outros que ele cria grandes expectativas e não tem grande aceitação.
Por isso o sucesso deve ser visto com cautela, pois com diz cascudo os ventos de ontem não movem os moinhos de hoje, e na indústria cultural se observa o sucesso de muita produção ruim , fraca,de péssimo gosto de um valor literário ou artístico  de uma qualidade   sofrível , mais que fazem enorme sucesso, sendo só o  fruto de uma forte campanha de mídia publicitária e de valores impostos pela industria do mercado  cultural  .
Cabe ao artista escolher o que ele quer, o sucesso fazendo qualquer coisa que o mercado diz que é boa, e que vende ou fazer tiragens menores , mas dedicados a um público mais exigente , que hoje tem crescido bastante , mais trabalhos que revelam um pouco do que ele pensa, da sua verdade, se sua visão de mundo que ele quer compartilhar.
Fazer trabalhos mais experimentais,com mais liberdade estética e gráfica  mais lúdicos tem seu valor e seus problemas ,os trabalhos comerciais rendem dinheiro mais rápido e fácil, embora hoje tenha mais concorrentes no mercado, o autoral tem menos visibilidade, e muitos que optam por essa forma de trabalhar  acabam ate desistindo do oficio de desenhista ou roteirista diante das dificuldades , por isso é importante se esta preparado para em determinados momentos se realizar os diferentes tipos de trabalhos, pois com a pratica ate em trabalhos comerciais um bom roteirista coloca sua visão de mundo, sua ótica, o algo diferente que toca as pessoas que as fazer ver aquilo que ele já conhece de uma forma diferente, essa é a verdadeira arte do escritor.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina, em que temos a carência de tudo há décadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

Discordo um pouco da citação que diz que há uma carência em tudo , há décadas , acho um exagero, o  nosso estado tem suas limitações  financeiras, educacionais, culturais e quanto ao seu parque gráfico, porém há muito se produz quadrinhos , com tiragens maiores que as produzidas atualmente, pois a revista Maturi  já teve uma edição de dez mil exemplares, e nos anos oitenta chegou a ter circulação bimensal. Outro exemplo  a Jesuino brilhante teve na sua  primeira edição editadas  cinco mil exemplares,já foram feitas 4 edições,  e a a História do RN  já em 8 edições somam mais de dez mil exemplares, coisas realizadas apesar do parque gráfico da cidade na época não oferecer as condições de hoje, bem melhores em preços e qualidade  gráfica .
As perspectivas  hoje são as melhores possíveis, pois temos um publico consumidor crescente, que valorizam os diferentes temas e gêneros de quadrinhos, lojas especializadas , grupos de artistas atuantes produzindo seu próprio trabalho e realizando parcerias com editoras, espero que chegue a ter vendedores ambulantes como se vende cd.
No nordeste acho que se deva ter um maior intercambio entre as produções e os artistas, lançamentos coletivos em diferentes estados e encontros são hoje uma realidade que pode ser ampliada como também a circulação da revistas em quadrinhos pelas cidades do interior do nosso estado  , ate em diferentes bairros da cidade falta uma maior divulgação, nesse sentido ainda existe uma carência a ser suprida e um espaço a ser conquistado.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido esse ou em outros anos?

Na nova geração de quadrinistas os trabalhos que me chamaram a atenção, que despertaram a minha curiosidade  foram os desenhos de Gabriel Andrade, a poética de Marcos Guerra e a ironia de Mario Rasec, na geração mais antiga o trabalho de Aucides Sales é sempre supreendente , seja na sua produção ainda inédita de quadrinhos underground , histórica ou cômica.


9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possível, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

O trabalho de parceria de Beto potiguara e Wolclenes rendeu belos trabalhos, o melhor na minha opinião uma adaptação de um conto publicada na revista Maturi numero 3, o bem com o bem se paga, gosto também dos roteiros  de Joseniz , principalmente quando ele utiliza fotografia e desenho  em histórias que reflete sobre seu universo urbano, apesar de ainda se exceder nos textos, mesmo sendo um estilo  da sua produção, acredito que com o tempo ele encontrara o equilíbrio entre imagem e texto , e por fim os textos de Marcos Guerra e sua poética onde ele brinca com as palavras entre os diálogos hora expressos pelos  seus personagens, as vezes   pelo narrador,e sempre exigindo uma leitura cuidadosa do leitor , também gostaria de ver como ele se sai escrevendo em diferentes gêneros , também vem se destacando em seus roteiros para animação  o Lula Borges e o Carlos Alberto em quadrinhos voltados a fins publicitários .

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?


Tenho me dedicado a três trabalhos , que já há um bom tempo tenho protelado, são 3 roteiros bem distintos e com temáticas  bem diferentes, um sobre o passado , outro o presente e um terceiro sobre o futuro . O primeiro é um tema histórico, mas com linguagem poética , é sobre Henrique Castriciano, poeta potiguar, uma historia sobre os conflitos e as angustias de um começo de século,  como agora vivenciamos, o segundo e sobre a atualidade, a cidade de natal, as pessoas comuns  e seus personagens folclóricos , sua paisagem urbana e locais que constroem a identidade da cidade e o terceiro roteiro  e uma ficção sobre as transformações que a tecnologia, a genética e as mudanças climáticas provocaram na forma de se  viver neste planeta .

Comentários
0 Comentários

0 comentários:

Postar um comentário