quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Yin-Yang: Os nomes do amor


Os nomes do amor (Le noms des gens) é um filme inteligente e sagaz. Um romance autobiográfico vivido pelo próprio diretor Michel Leclerc e sua mulher Baya Kasmi, que também roteiriza o longa em parceria com o marido. Juntos transportam para a comédia detalhes de suas vidas pessoais, misturando realidade e ficção, fazem o particular em seus detalhes tornar-se universal, o que talvez seja a verdadeira magia do cinemaSegundo o próprio Michel comédia parece ser a única maneira elegante de falar sobre assuntos pessoais, sem se tornar egocêntrico. Lembrou-me muito as novelas do Henry Miller e sua forma irônica de tratar da rotina, das relações e relacionamentos.

O roteiro tem como ferramenta, graciosamente usada pelo diretor, personagens fortes e caricatos, numa trama romântica/cômica que permite ousar de temas polêmicos sem parecer piegas. 

Bem apresentados:
A impulsiva Bahia (Sara Forestier) torna todos seus ideais políticos compromissos pessoais, acredita seriamente que sua atitude pode mudar o mundo e para ela tomar uma atitude é sempre melhor que não fazer nada. Seu lema “faça amor não faça guerra” é levado ao pé dá letra, ativista de esquerda ela defende que sexo e política caminham juntos, e com seus métodos empíricos tem por objetivo converter os homens de direita que cruzem seu caminho. Suas convicções a tornam autêntica e chocante, ao mesmo tempo que, genuína e apaixonante.
Arthur (Jacques Gamblin) veste o uniforme de conservador, um típico francês moralista e reservado, sem dúvida um alvo fácil para a destemida Bahia. Tendo a chance de ser apenas mais uma foto no álbum da garota o quarentão aventura-se numa viagem de autoconhecimento e de abertura de novos horizontes.  Juntos, Arthur e Bahia descobrem que suas origens e ideais são pouco importantes diante do amor. 

Uma espécie de “noivo neurótico, noiva nervosa” dos dias atuais, diga-se de passagem, não perde em nada pra um Woody Allen, (sem essa bobagem de que filme bom é filme antigo), considero "Os nomes do amor" tão bom quanto o próprio clássico em que se inspirou, pois consegue reunir as boas referências e ainda criar sobre elas uma nova perspectiva. Os diálogos são inteligentes e dinâmicos, a montagem nos dá ares de crônicas da vida moderna. Os detalhes da fotografia são uma atração a parte, que vão de planos geral e médio em sua maioria à mescla de closes numa rica película instagram.



"Os nomes das pessoas" na tradução literal trata de origem, identidade, política, racismo, intolerância, rótulos, relacionamento e relações humanas, com muito bom humor, autenticidade, livre de hipocrisia ou falso moralismo. Nos trazendo reflexões sobre as "diferenças". Nos fazendo questionar essencialmente: qual a diferença entre um homem branco e um negro, um Artur e uma Bahia, um muçulmano e um judeu? 
No filme percebemos que essas “diferenças” que categorizam os homens vão, em sua maioria, para debaixo das cobertas, onde reconhecemos no sexo um verdadeiro ato político. Raças, cores e nomes se misturam. O que revela que nossa origem não necessariamente está pautada nas árvores genealógicas ou medida em fronteiras territoriais, religiosas ou sociais. Dessa maneira o filme expõe política e sexo na mesma bandeja, de forma articulada e provocante.

Mesmo abarcando todos esses “tabus”, o filme não cai no clichê, nem muito menos necessita de um clima tenso para trabalha-los, tudo é feito com a mais criativa e bem humorada das formas. Seu tom irônico trás uma simplicidade na "liberdade de expressão" pouco vista no cinema. 

Os Nomes do Amor (Les Noms des Gens) – 104 min
França – 2010

Trailer:


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