quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O homem com uma câmera de filmar: Uma poética do cinema


Iniciamos nosso ciclo de filmes clássicos com a obra que considero o maior documento cinematográfico sobre a arte do cinema: Человек с Киноаппаратом, O homem com uma câmera de filmar em português, com técnicas revolucionárias para sua época, influenciou a estética e a história do cinema como um todo.



Ficha técnica:
Direção:Dziga Vertov
Ano:1929
País:Rússia
Gênero:Documentário
Duração:80 min. / p&b / mudo
Título Original:Chelovek s Kinoapparatom
Título em inglês:The Man with a Movie Camera

Sinopse:
Um experimento cinematográfico que foi considerado inovador para a sua época por utilizar várias técnicas até então pouco ou nada vistas. É um documentário que mostra um dia normal, totalmente típico, na cidade de Moscou.

Crítica:
Em O homem com a câmera (1929) o cineastarusso Dziga Vertov promove a criação de um cinema de revelação: do que estáoculto sob a aparência do processo social, que capte e reelabore a visãoindustrial dos acontecimentos do mundo. Vertov era incisivo em sua recusa daficção cinematográfica. Sua proposta é captar os fatos. A máquina “cine-olho”quer captar a orquestração do mundo e, para isto está mais equipada do que oolhar natural do homem enredado em deformações psicológicas na percepção dofato. Para o diretor “o ‘psicológico’impede o homem de ser tão preciso quanto o cronômetro, limita o seu anseio dese assemelhar a maquina”. O que nos revele uma utopia da perfeição industrial esocialista. O otimismo industrialista e a estética da máquina estão vinculadoso seu engajamento no projeto desenvolvimentista da nova sociedade socialista deLenin.
Os filmes soviéticosadotam uma postura construtivista inclusa no contexto das vanguardas, que semanifesta no seu interesse em mostrar a ideia do cineasta-proletário, nainserção da arte na vida cotidiana, nos materiais de construção do filme (câmera,filmagem, montagem). Porém, Vertov vai mais além “ao revelar a alma da máquina,promovendo o amor do operário por seu instrumento, da camponesa por seu trator,do maquinista por sua locomotiva”. Defendiaque a câmera era o mecanismo capaz de filtrar as interferências subjetivas. Comcenas reais, sem atuação, propõem o cinema verdade [kino-pravda]. Trazendoconsigo de forma poética as matrizes características do realismo e umaexaltação da máquina.
Ohomem com a câmeraé um marco no cinema mundial, nos mostra o olhar do homem sobre a modernidade esobre si. Ao mesmo tempo uma obra futurista, uma enciclopédia de técnicascinematográficas com seus close-ups, slow motion, travelings e panorâmicas, ângulos eenquadramentos, recortes, transições e a animação de objetos, sendo pioneiro emmuitas dessas.
Desde seu início ofilme nos mostra a que veio: romper com a literatura e dramaturgia no cinema. Emum cinema sem atores e sem encenação, no qual talvez os únicos e possíveis atoresseja o próprio “homem da câmera”, representado por Mikhail Kaufman irmão deVertov, “o realizador” que passa pelas ruas a capturar o movimento da vida. EYelizaveta Svilova, esposa de Vertov, representando a assistente de montagem,ambos filmados em seus papeis da vida real. Para o diretor a câmera em seusmovimentos e artifícios únicos e a montagem como motora do processo já é amarca estética da arte cinematográfica por excelência não sendo necessário umespetáculo encenado.
A intenção em buscarconsciência por parte dos espectadores e revelar através do cine-olho uma visãonitidamente transformadora do universo fílmico, revelando uma verdade que nãodeve sofrer manipulação que destruam sua autenticidade, resgata as característicasdo primeiro cinema e constrói a ideia do que hoje chamamos de documentário.
Um filme mudo,orquestrado magnificamente por sugestão do próprio Vertov pela The AlloyOrchestra (versão de 1996). Uma obra prima da história do cinema, um documentoimagético e uma verdadeira aula de cinema.


Filme completo:


Comentários
0 Comentários

0 comentários:

Postar um comentário