domingo, 23 de outubro de 2011

Gainsbourg: Um homem Vanguarda



Um talento precoce, um alter ego, uma caricatura, um galanteador, artista em todas as suas máximas, esse é Gainsbourg – O homem que amava as mulheres, em uma biografia/musical cinematográfica. A fantasia foi a forma encontrada pelo cineasta e quadrinista Joann Sfar para transpor à tela o ícone francês Serge Gainsbourg,  entre diversos elementos oníricos, gato falante e um voo pela "noite estrelada" de Paris, nos imerge em toda sua magnitude, talentos, romances e polêmicas do artista. 

Desde a precoce infância de Lucien Ginzburg aos altos e baixos da vida e carreira de Serge Gainsbourg, cercado de grandes e mais belas mulheres, entre elas a símbolo sexual Brigitte Bardot e a atriz Jane Birkin (Blow-up). O "filme sinfonia" se desenrola em uma perfeita cronologia, através de sutis e bem montadas passagens de tempo da vida do compositor, no qual a trilha sonora composta de seus clássicos nos faz lembrar muitas vezes um grande musical. O cenário da Paris dos anos 50 aos 80, em um clima boêmio enublado das fumaças dos cigarros e boa música nos conquista despretensiosamente.

Estrangeiro em seu próprio país, como ilustra os cartazes nos muros "um judeu na França", em sua mal resolvida origem judia, Gainsbourg desde sempre procurou subverter, em seus desenhos infantis e seu gosto musical desmerecido por seu pai, estão os primeiros sintomas da excentricidade do grande artista.  Lamentava não ter nascido na época das grandes vanguardas, dadaísmo e surrealismo e nelas ter sido pintor, põe fogo em seus quadros abandona a pintura e dedica-se a música. 

Sempre guiado por La Gueule, seu alter ego, uma criatura fantástica de madeira que o acompanha por todo o filme como uma caricatura, uma clara representação de seu inconsciente e uma marca do roteirista Sfar, lhe motiva a desfrutar excessivamente do que a vida na burguesia lhe oferece, a excentricidade da vida de músico, seguindo suas próprias regras e desconhecendo “limites” para o prazer.
O humor e o clima de sedução compõem a trama imbuída de romances. Ainda recheada de cenas cômicas e surreais como a dos quatro caras de bigodes e roupas coloridas (Les Fréres Jacques) cantando enquanto preparam seu café da manhã, parecendo os “oompa loompas” da “Fantástica fabrica de chocolates” e cena da cabeça de repolho em sua metamorfose Kafkiana.

Com o grande sucesso Je t'aime moi non plus, escrita para Brigitte e gravada por Jane Gainsbourg põe seu nome para sempre na história, o que para ele não parecia importar muito. Então por influência feminina de suas amantes e de sua nova posição burguesa, abre os botões da camisa, deixa a barba de 3 dias, o cabelo grande e óculos escuro traduzir seu novo estilo musical e de vida. Ao mesmo tempo entregue mais que nunca ao álcool e ao tabaco, torna-se Gainsbarre, o perverso e mais excessivo das suas faces, afastando de si seu pervertido alter ego aristocrata. 


Todas essas mudanças, ambiguidades e desventuras foram brilhantemente construídas por Sfar através de uma fábula, nos tirando do cliché das cinebiografias, ele transporta-nos para o mundo fantástico de Serge Gainsbourg suas músicas, cigarros e mulheres. 

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