segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Do coração das trevas a apocalipse now - A estranha relação entre leitor e leitura


Não é caso raro o cortejo entre uma forma de arte como a literária e outro ramo de arte como a sétima arte, o cinema. Exemplos deste flerte são vários, mas neste último caso a premissa tem sido bem frequente. Outro exemplo deste flerte é o que encontramos entre A arte sequencial (quadrinhos) com o cinema. De fato o cinema tem sido uma fonte de parceria e transição entre os vários tipos de arte e cultura. As parcerias com o cinema são várias e sua inspiração apoia-se na forma como interpreta a obra sem levar necessariamente copiá-las tal como foram concebidas.

Essa tendência do cinema, de relacionar-se com outras formas de arte produziu vários filmes bastante interessante, como Apocalipse now que foi uma interpretação do livro de Joseph Conrad, que aliás é um livro belíssimo. Aqui não me concentrarei em falar da historia do livro de Conrad, mas objetivamos mostrar que um produto de divulgação de massa como o cinema pode buscar inspiração em outras fontes de arte como na pintura, caso exemplar do Gabinete do doutor Caligari, Nosferatu na Literatura e Agora chegou a arte sequencial. Não obstante a literatura foi e ainda é uma fonte de grandes adaptações de filmes para o cinema.

Mas a mensagem que quero deixar e mostrar é que os muitos filmes que assisti e ainda assisto tendo como base a literatura, não se compara a ler o livro que foi fonte principal de inspiração para o filme. Ler um livro não é somente passar a vista em uma certa quantidade de letras ou meramente distrair-se tão só naqueles poucos e raríssimos momentos de tempo livre. Ler é ter emoções e experiências que não passamos. É nos tornarmos por breves instantes personagens que não somos capazes de ser no mundo real. Ser um leitor é bem mais do que a quantidade de livros lidos ou o número de livros estocados em uma estante, ou seja, ser um leitor é ter responsabilidade com o que é lido, principalmente, por saber que todo o esforço por contar uma boa historia ou um bom livro, também é uma historia de vida e ponto de vista de um escritor que vive a sua época.

Ler significa uma relação de amor e ódio a determinada obra ou autor. Tive vários casos, em minhas leituras, em que esta relação se tornou bastante patente em minha vida. Um livro nos proporciona uma rara relação em que existe dois indivíduos que participam de uma conversação mediada é claro, pelo principal instrumento que é o livro. A relação entre leitor e escritor parece ser uma relação suprimida no processo de leitura. Do mesmo modo, que o cinema e a literatura tem esta premissa. O leitor e suas leituras estão inseridos em uma relação de sentimentos e conflitos, mediado pelo livro que nos faz crescer através deste calendoscopio de emoções. Nosso crescimento pode ser obtido, tanto cronologicamente, como pela avaliação da experiência adquirida através das muitas leituras e amadurecimento intelectual que delas possam advir.

Enfim, a relação ambígua entre o livro e o leitor, assim como literatura e cinema são casos em que devemos observá-los sobre visões distintas sem nos deixar levarmos pela opinião baseada, apenas, em um olhar unidimensional de suas mídias. A literatura continua, como a principal fonte de conhecimento e fundamento para a maioria de nossos juízos acerca de valores estéticos e psicológicos. Ler não é só estabelecer uma relação passiva e despreocupada com a literatura, mas busca incomodar e vencer preconceitos que muitas vezes resistem a sua época, como no caso de Madame Bovary de Gustave Flaubert ou Moby Dick de Herman Melville. A nossa visão de mundo depende daquilo que se é lido e interpretado ensejando uma tomada de posição a medida que somos incomodados por aquilo que nos é exposto pela obra. Assim como diz adagio "somos aquilo que lemos e nos tornamos aquilo o que escrevemos a medida que sonhamos". Continuemos a ler sempre em frente.

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