Temos a grande satisfação de trazer para vocês mais um
entrevistado, desta vez nossa Vitima, ops, entrevistado é o chargista e
quadrinista Rodrigo Brum que nos da a honra de conceder um dedo de proza
com a gente sobre o que pensa e o que faz elaborar roteiros divertida e
prazeirosa, sendo ainda um ótimo passa tempo para a cuca. Valeu Brum pela
força, vamos em frente que tem muita conversa para pôr em dia ......
MINI BIOGRAFIA:
Natural de Maricá (RJ), reside há nove anos em Natal. Conhecido entre os chargistas e admiradores de quadrinhos como Brum. Responsável pelas tirinhas com o mesmo sobrenome BRUMMMMM!!!, publicadas semanalmente no jornal O Mossoroense e O MENINO DA LAJE 8, publicada no jornal Expresso (do grupo O Globo-RJ). Formado em publicidade com especialização em redação e direção de arte pela ESPM-RIO. Atualmente trabalha como ilustrador e diagramador free-lancer, além de assinar as charges diárias do jornal TRIBUNA DO NORTE e ser um dos redatores/ilustradores da revista MAD. Junto com Milena Azevedo, criou o selo de quadrinho MBP, com diversos livros lançados, dentre eles suas coletâneas (BRUMMMMM!!! 1 e 2), o Vizualizando Citações (finalista do HQMIX 2014) e o Fonteira Livre (que ficou entre as 30 coletâneas de banda desenhada do festival de Angouleme – França)
ENTREVISTA:
1 – Bem agradeço
a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já
começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?
A
necessidade. Sempre trabalhei com ilustrações e direção de arte, e um serviço
muito pedido era pra fazer quadrinhos institucionais para empresas, e
simplesmente não encontrava ninguém que pegasse um texto sério ou com uma
linguagem didática e o transformasse em um roteiro de hq. E pra completar, do
nada fui surpreendido com um pedido de fazer o lançamento dos quadrinhos com as
Aventuras do Didizinho, e novamente não tinha roteirista. Daí, como eu já tinha
uma certa paixão pelo gênero, e pra não ficar sem dinheiro, meti as caras e tô
nessa de roteirizar até hoje.
2 – Ok, então
sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as
hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?
Sempre
preferi quadrinhos brasileiros e de humor, raramente comprava herois da Marvel
e DC, sempre fui mais de colecionar a MAD, Chilete com Banana, Geraldão...
Minhas influencias foram Laerte, Ota, Ed, Angeli, Glauco, e outros cartunistas.
Esse pessoal de textos curtos mais super
afiados. Tanto que se me perguntar o nome de um roteirista que não seja desse
grupo, eu nem saberei te responder.
3 – Então,
observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias
você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.
O que
eu faço hoje: humor. Apesar de que, meu maior projeto atualmente não é
humorístico, é um texto mais cotidiano, que tô super envolvido e curtindo
bastante a experiência. Tanto que antes mesmo de sair o primeiro número, eu já
tenho anotado em papéis perdidos pelo estúdio rascunhos de mais dois números
que darão continuidade a este projeto. O lado mais sério eu deixo pra quando as
empresas pedem pros seus materias de marketing.
4 – Muito bem, você poderia falar um pouco sobre a forma de
escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder
qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você
venha ou tenha escrito e que nem sempre
são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?
Uma
coisa importante que procuro ver, é onde esse roteiro será publicado, qual é a
forma de linguágem do veículo, pra poder fazer que este texto, tenha a cara de
onde será impresso, facilitando assim o entendimento do leitor. Geralmente pego
o assunto pedido pelo meu editor e passo horas pesquisando na internet sobre o
assunto. Depois, crio um rascunho, onde jogo tópicos soltos sobre tudo o que eu
quero que esteja presente no roteiro, frases soltas mesmo. Depois procuro
organizar a ordem que esses tópicos serão apresentados aos leitores de maneira
que eles tenham uma lógica, com início, meio e fim. E no fim, é só colocar a
cabeça pra funcionar e tranformar cada tópico desses num texto criativo e
atrativo. Claro que antes de ser desenhado, passa pelo pente fino do editor que
algumas vezes pede uma alteração aqui ou acolá. A preferencia já respondi
acima, procuro sempre que possível colocar o bom humor em meus textos. Com
relação a temas delicados, acho um grande hipocrisia rotular determinados
assuntos como intocáveis. Por que é que eu posso fazer uma crítica sobre uma
religião e não posso fazer sobre outra? Porque posso fazer uma piada com uma
etinia e não com outra? O tempo todo lutamos por direitos iguais, e acredito,
claro, somos iguais. Preto, branco, amarelo, hetero, homo, bi, vasco, flamengo,
pobre, rico, maioria, minoria... mas na hora de criticar, as diferenças
aparecem. Por que? Acredito que criticar e tocar num assunto delicado só pra
aparecer é uma grande bobagem. Tem gente que pega esse tipo de assunto só pra
ofender, que muitos casos pode ate ser considerado um crime. Mas se existe um
embasamento por trás, um conhecimento e um motivo pra aquilo ser debatido, por
que se calar? Se vai ser pesado, leve, bom ou ruim, é outra história. O que não pode é ser considerado um bicho de
sete cabeças falar de A ou B. Lutamos tanto por liberdade e agora parece que
estamos retrocedendo. Isso é o que não pode. Como chargista, as vezes aparece
esses tipos de temas pra serem abordados. É meio complicado? Sim, não nego, tem
que ter um certo cuidado ao falar, pra não ser grosseiro e nem ofender ninguém
gratuitamente. Mas deixar de falar é que não pode. E com relação ao que o
leitor vai achar, sempre vai ter alguém do contra, ainda mais hoje, no mundo
que vivemos, o mundo virtual, onde (infelizmente) todos acham ser os donos da
verdade, onde todos se acham no direito de invadir a privacidade do outro só
pra ofender, onde não existe mais o meio termo, ou você é a favor ou contra.
Então, essas criticas não me afetam, pelo contrário, no caso das charges, se eu
agradar a todos, parece que elas não funcionaram. Criticas e assuntos delicados
fazem parte da vida de todo mundo que tem um trabalho a expor.
5 – Você possui
alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha
como objetivo experimentar através de seus roteiros?
Não.
Roteirizar pra mim é um grande prazer. Sem pretensão nenhuma. Na verdade eu nem
curto muito este lado mais “estudado”, “pensado” dos roteiros/desenhos.
Respeito que vai por este caminho, mas no meu caso o intuito é unicamente agradar
o leitor (e o editor, é claro). Sem regras.
6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer
sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial
que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva
escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação
ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a
liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma
consequência e não o objetivo principal?
Cara, é
uma grande mistura dos três. Comercial, é claro, afinal roteirizar é uma
das coisas que garante a grana aqui de casa, então se não for pra ter um lucro,
eu não escrevo, vou fazer outra coisa. Independente, não no sentido de
atingir um “determinado” público, afinal, eu quero atingir todo mundo, mas se
enquadra muito bem nesse perfil, devido a liberdade de criação que tenho,
principalmente em minhas tiras. E alternativo (talvez esse seja o que
menos me enquadre) no sentido de não ter medo de experimentar, de me expressar.
Outro dia mesmo criei um roteiro pra Mad que pra facilitar o entendimento a
pessoa tinha que ter um leitor de Qr-Code (que inseri no meio do texto), se deu
certo ou não, ainda não sei, mas arrisquei, experimentei.
7 – Muito bem,
considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina
em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado
de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?
Eu acho
que esse papo de carência é um pouco de desculpa pra quem é acomodado. Vivemos
na era digital. Não existem mais barreiras. Existe sim o bom e o ruim, eu acho
que é isso que determina o futuro do profissional atualmente. Se ele é do
Nordeste e não do Sudeste, isso é uma barreira tão facil de ser quebrada quando
se tem talento que acho que nem pode ser vista como algo negativo. Até poque o
nordeste é berço de talentosos nomes em várias áreas com destaque não só no
Brasil, mas mundial. O Gabriel, lá de Macáu e o Mike Deodato, de João Pessoa,
são excelentes exemplos de que se pode sim ser um grande vencedor vivendo no
nordeste. Com relação ao quadrinho potiguar, acho que temos exelentes nomes por
aqui, com a capacidade de ganharem o mundo. Só acho (aí é uma opinião pessoal)
que ainda falta um pouco mais de união. Quadrinhos potiguares só se unem em ano
de FIQ e próximo a FLIQ. Infeliezmente, por mais que a gente fale que não,
ainda estamos subdivididos em grupos que em muitas situações (nem sempre) tomam
uma posição de que o outro profissional é um concorrente. Somos super amigos na
hora do “chope” mas na hora do “papel” ainda rola uma distancia. Distancia essa,
que na minha opinião é a maior barreira pros quadrinhos potiguares ganharem
força. Pois se um determinado quadrinista local fizer sucesso, isso vai
aumentar o numero de gente conhecendo esta arte, e indiretamente, acaba
beneficiando a todos os outros que estão por aqui. Mas ainda vivemos na cultura
de preferir deixar de ganhar mil só pra que o outro não ganhe cem.
8 – Nessa perspectiva,
gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma
curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?
Algo
que me surpreendeu foi o quadrinho que fizeram sobre a história de Parnamirim.
Confesso que coisas mais didáticas não me atraem, mas aquele trabalho tava bem
amarradinho: roteiro, desenhos, cores, finalização, acabamento... tudo
perfeito. Gostei bastante. E sou super fã de três quadrinistas locais, o
Geraldo, o Wendell e o Gabriel, se eu tivesse o talento desses caras e a cara
de pau que tenho, eu tava desenhando em Marte, pro universo todo ver.
9 – Confesso que
já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e
restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos
que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno
comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?
Jamal
Sing: Tudo o que eu li dele eu gostei.
Textos bacanas que prendem o leitor do início ao fim. Só acho que falta um pouco de continuidade,
sei lá, talvez esperar pra lançar uma hq quando já tiver a certeza da
publicação do outro número ou que em um único exemplar tenha a história
completa. Tem duas histórias dele que li, e tô curioso pra ver a continuação há
mais de ano, que é a do Cajun e a que saiu no Máquina Zero. Dê uma prensa aí em
Wendell e coloca esse material na rua, Jamal.
Milena
Azevedo: Dona de um conhecimento na área
sensacional. Querida pelos profissionais da área em qualquer parte do Brasil.
Super “certinha” e cuidadosa no que escreve. Quem já desenhou pra ela, sabe que
ela entrega o roteiro super detalhado, facilitando muito o trabalho do artista.
Acho que tá na hora de dar uma parada momentanea nas coletâneas e se dedicar ao
seu trabalho autoral (que o pouco que vi, vai vir com tudo).
Beto
Potyguara: O roteiro que ele fez para “Os
Notáveis” e “Carcará” me agradaram muito. É o típico quadrinho que gosto de
ler. Apesar de ter um embasamento (no caso dos Notáveis), é totalmente
descompromissado e de fácil entendimento, visa apenas divertir. Quaquer um, de
qualquer idade e com qualquer carga de conhecimento, pode ler que vai sair satisfeito. Não é um
roteiro pra determinado grupo, e sim pra todos. É o típico quadrinho que gosto
de pegar quando vou ao banheiro ou pego um ônibus (acredite, esses dois lugares
me renderam excelentes leituras).
10 – Não precisa
dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma
promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes
historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas fora essa pressão psicológica qual suas
perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria
de escrever?
Pretendo
continuar roteirizando e desenhando pra MAD, com minhas tiras e as charges. E é
claro, colocar o CHANCE na rua, que pretendo tranformar numa série de livros.
Outros gêneros? Nada em mente ainda, mas quem sabe no futuro.
Agradeço
imensamente ao Rodrigo Brum e a todos os entrevistados que cedem e dispensam o
pouco tempo que têm para responder essas perguntas, mas que sei que como todos
nós que acompanhamos sua trajetoria como roteirista e quadrinista, profissão
tão dificil e pouco valorizada é sempre bom conhecer os “outros” herois que
fazem parte dessa mesma busca de contar boas historias e narrar suas aventuras
em forma dessa mídia.