sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

ENTREVISTA COM ROTEIRISTAS DE HQS POTIGUARES




EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.

Mini biografia:

Formado em Educação Artística: Artes plásticas. Fundou a K-ótica, como revista on line  em 2009 e posteriormente como Loja e curso de quadrinhos. No começo de 2014, lança a Graphic Novel “Evangelho Segundo o Sangue” ( a primeira do Estado do RN). É roteirista e ilustrador de HQs, também exerce a função de editor na equipe K-ótica, além de já ter públicado outras obras em quadrinhos tais como “Titanocracia”, “Condenável vida de Griswold” entre outras públicações.



ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

O roteiro e a escrita me aconteceram de forma bem aberta. A prática do RPG, teatro e produção de texto dramático me interesseram desde cedo. Culminá-los no universo dos quadrinhos provavelmente se deu por ser uma área muito querida, que se mistura profundamente com minha formação de leitor e artista visual, pois também ilustro minhas histórias.

2 –Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

Vejamos... A primeira história que li, do Rei Kull, do Roy Thomas e John Buscema, é a imagem primordial que tenho à cabeça, cheia de mágica e mistério, sem dúvida responsável pelo meu gosto recorrente pela temática medieval. Logo em seguida, aponto a fase de Walt Simonson para o Poderoso Thor, onde o assunto se aprofunda até um raro teor épico ser alcançado! Depois, os quadrinhos adultos me aconteceram! Nessa transição, conhecer o Monstro do Pântano de Moore foi fundamental, e o Sandman de Gaiman, igualmente! Mas foi com Promethea, do Mago Inglês que eu senti que realmente poderia fazer quadrinhos como os que faço hoje em dia. Sinto que o que faltava de experimentalismo em mim, depois desses anteriores, só se tornou seguro depois de ler as obras do mestre Jodorowsky, como A casta dos Metabarões e O Incal.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Épicos regionais e trabalhos surreais ou poéticos. Tenho uns montes de Quadrinhos ambientados em certos períodos da História da Arte que desejo muito lançar em 2016.

4 – Muito bem, gostaria de saber como é sua forma de escrever roteiros que abordem os mais diversos temas, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceito pelo grande público leitor?

Pergunta complicada. Meu metódo é imaginar a história primeiro, conversar com alguém e sentir se é animador, se cria ansiedade. Eu desenvolvo o resto a partir dessa energia, como se com um apoio, e eu normalmente busco me animar também! Desenvolvo pesquisa e organizo manuscritos, digitações e arquivos de pesquisa numa pasta bem organizada, de onde vou decupando elementos. Reviso até o último momento, por isso sou eu que faço o baloneamento e letreiramento de todas as minhas histórias, sempre revisando até o instante final. Quanto aos tais assuntos delicados, tento ter liberdade criativa dentro de um argumento no mínimo razoável. Creio que o ser criativo tem que ter preponderância perante o choque entre sua realidade imaginada e a dita verdade consensual caso ele mantenha essa distância no tom da aplicação artistíca como fim.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Como disse antes, me interesso exatamente por essa categoria de roteiro, com uma certa fusão entre palavra e imagem que transcenda os balões e narrativa visual linear. Claro que cada história tem sua especificidade, por isso, estou guardando algumas coisas realmente malucas para futuros trabalhos! (risos).

 6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Alternativo. Mas eu acredito que essa linha pode trazer interesse de um grande público, porque creio em sua qualidade. Os padrões não servem para enquadrar tudo nem todos. Algo escapa. Creio que nosso público é assim, bem como nossos quadrinhos.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

Não há um mercado relevante, mas há um, digamos, proto mercado. Como não tenho tendência direta ao teor mais comercial em meu trabalho, creio que é esse perfil novo que está se inflando em discurso e prática vai mudar ainda muito do que se entende sobre as possibilidades do Quadrinho potiguar, para melhor, mas dificilmente para uma realidade mercadológica atrelada imediatamente aos moldes pré-prontos do Sudeste.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido esse ou em outros anos?

"Os Notáveis", de Beto Potyguara é divertidíssimo e competente. "O boneco", do projeto primeira edição, me impressionou. A história "Caim e Abel", de Carlos Alberto "Galego", embora mais conhecido como ilustrador, tem um roteiro igualmente inquietante e surpreendente.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

A Revista Avoante, de João Antonio e colaboradores, lançada em Currais Novos, tem na assinatura de seu roteiro não só a crítica inteligente, como um senso de humor quase mórbido, assinada pelo mesmo, que indico como número 1 na minha lista. Um segundo a citar seria Mário Rasec, que tem afinado seu texto com uma sensibilidade esquizóide diferenciada, estando ele também explorando novas possibilidades visuais. E cito, em igual patamar de importância, o roteirista Renato Medeiros, pela sua somatória de criatividade com diálogos vivazes e repletos de regionalismo. Sua pesquisa pelo quadrinho regional fez com que se debruçasse sobre personagens de um povo a quem raramente dão voz.

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?


Este ano pretendo fechar os seguintes roteiros: "Quando os Anjos queimaram", uma história de Ficção histórica que trata de um ataque nazista à cidade de Natal, "Ametisto Pó-de-estrela e os escorpiões de júpiter", uma ficção cientifíca surreal livremente inspirada na obra musical de David Bowie, quero produzir meu primeiro trabalho de humor na K-ótica, chamado de "Gogoboy".  

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