O objetivo dessas entrevistas é
ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do
roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando
mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do
desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso,
responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por
contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas
reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas
especificidades.
O nosso quinto convidado para nossa
seção de entrevistas de roteiristas potiguares temos a satisfação de conversar
um pouco e saber da carreira e pensamentos do grande quadrinista, roteirista e
ilustrador Luiz Elson sobre projetos, oficios e a arte de escrever
roteiros de HQs. Iniciamos com uma pequena biografia do entrevistado.
Natural de Angicos, residindo atualmente em Natal. É
integrante do grupq, Maturi e foi responsável pelo projeto primeira edição.
ENTREVISTA:
1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?
O que me levou a
escrever roteiros de quadrinhos foi a necessidade de criar histórias para o
tipo de desenho que eu queria publicar, na época meu desejo de desenhar
histórias com temática regional e local, histórias do cotidiano, política com
critica social e sobre história e a cultura potiguar.
2- Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar
mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para
esse universo dos quadrinhos?
Primeiro veio o
gosto pelo desenho, desenhando o universo infantil , com as influências das
revistas em quadrinhos da Disney e Mônica, dos heróis de TV e das revistas de
faroeste , das ilustrações de enciclopédias e dos bordados feitos por minha tia
e a minha mãe,a vontade de criar
roteiros foi a partir da ideia de se
desenhar histórias de faroeste, que eram
criadas a partir da leitura de livros de bolso , que comecei a ler pelas capas desenhadas por
Benicio, eu lia o livro e depois criava os desenhos , mas a certeza de que
dedicaria minha vida a esse oficio foi
quando passei a conviver com outros artistas que já trabalhavam , como Emanoel
Amaral e Aucides Sales.
3-Então, observando suas motivações e influências
quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros
leitores de seus quadrinhos.
Os temas de
histórias são variados, a historia e a cultura do meu Estado é um dos temas que
eu mais gosto de trabalhar , a política,
o cotidiano e as questões que merecem
uma reflexão sobre o comportamento da sociedade também são temas importante que gosto de abordar em quadrinhos.
4- Muito bem, gostaria de saber como é sua forma de
escrever roteiros que abordem os mais diversos temas, além de se possível for,
me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por
acaso você venha ou tenha escrito e que nem sempre são temas muito fáceis
de serem abordados e aceito pelo grande público leitor?
As ideias surgem de
diferentes situações , para mim a mais comum é eu ir psicografando as ideias,
elas surgem e eu vou anotando e desenhando ao mesmo tempo, tem histórias que
nascem prontas, outras sem sentido algum , sem um final, surgem em pedaços, as
vezes se concluem outras não são fragmentos
por si só.as historias são também frutos de leituras, pensamentos ,
vivencias e experiência que a pessoa realiza, e o resultado de um conjunto de
coisas que interferem em seu pensamento. Quando se tem um trabalho encomendado,
ai se necessita de mais planejamento e de se pensar sobre o tema
a ser abordado. Temas delicados, devem sim serem objetos de produções , a vida
e feita de conflitos , e é papel do artista se posicionar sobre as questões que
a sociedade discute, o trabalho de um artista reflete um pouco de quem ele é ,
de sua forma de pensar, ele não tem obrigação de seguir o senso comum, de querer parecer bem
na foto, mas de expor suas ideias mesmo que elas não sejam o que a maioria
pensa, ou o mercado exige, se tem um trabalho autoral deve seguir seu desejo e
a verdade de sua arte.
5-Você possui alguma pretensão de
desenvolver uma estética própria em sua escrita que tenha como objetivo
experimentar através de seus roteiros?
Acho que cada trabalho
tem uma escrita diferente , uma estética própria é mais visível quando se
trabalha em uma serie, ou com um personagem em varias edições, cada trabalho as
vezes exige uma forma nova de se contar uma história, cabe ao roteirista
escolher qual a melhor, para isso deve estar preparado, uma estética pessoal vai surgindo
com o tempo.
6-Essa pergunta é capciosa, para não dizer sacana,
mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que
escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que
objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de
criação ou ser Alternativo (underground) que procura a
experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público
consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?
Acho que quem se
propõe a ser roteirista deve esta
preparado para trabalhar tanto com roteiros mais comerciais como para
alternativo ou independente.deve se estudar para que seu trabalho tenha uma boa
aceitação nos diferentes tipos de leitores, um estilo próprio de escreve r e
algo que leva muito tempo para se definir, anos de trabalho, então é importante
que a pessoa que deseja viver de produzir roteiros se capacite para essa
tarefa,que exige muita leitura, conhecimento, percepção sensibilidade e
principalmente muito esforço para se escrever diariamente , se praticar
constantemente, e isso que se leva a se
realizar obras que provocam no leitor uma emoção e um prazer com sua leitura.
a pratica leva ao escritor
realizar experiências com seu texto, a soltar a imaginação, a conhecer e
quebrar as regras, a não seguir a mesma formula em seus textos, mesmo que ele
tenha sucesso em um determinado trabalho, aquela solução pode não ser a ideal
para outro, o roteirista deve estar preparado para lidar com reações diferentes
dos leitores pois as vezes textos que eles nem levavam muita fé fazem sucessos
em detrimentos s outros que ele cria grandes expectativas e não tem grande
aceitação.
Por isso o sucesso
deve ser visto com cautela, pois com diz cascudo os ventos de ontem não movem
os moinhos de hoje, e na indústria cultural se observa o sucesso de muita
produção ruim , fraca,de péssimo gosto de um valor literário ou artístico de uma qualidade sofrível , mais que fazem enorme sucesso,
sendo só o fruto de uma forte campanha
de mídia publicitária e de valores impostos pela industria do mercado cultural
.
Cabe ao artista
escolher o que ele quer, o sucesso fazendo qualquer coisa que o mercado diz que
é boa, e que vende ou fazer tiragens menores , mas dedicados a um público mais
exigente , que hoje tem crescido bastante , mais trabalhos que revelam um pouco
do que ele pensa, da sua verdade, se sua visão de mundo que ele quer
compartilhar.
Fazer trabalhos mais
experimentais,com mais liberdade estética e gráfica mais lúdicos tem seu valor e seus problemas
,os trabalhos comerciais rendem dinheiro mais rápido e fácil, embora hoje tenha
mais concorrentes no mercado, o autoral tem menos visibilidade, e muitos que optam
por essa forma de trabalhar acabam ate
desistindo do oficio de desenhista ou roteirista diante das dificuldades , por
isso é importante se esta preparado para em determinados momentos se realizar
os diferentes tipos de trabalhos, pois com a pratica ate em trabalhos
comerciais um bom roteirista coloca sua visão de mundo, sua ótica, o algo
diferente que toca as pessoas que as fazer ver aquilo que ele já conhece de uma
forma diferente, essa é a verdadeira arte do escritor.
7 – Muito bem, considerando que como
quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina, em que temos a
carência de tudo há décadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa
região e especificamente, o quadrinho potiguar?
Discordo um pouco da
citação que diz que há uma carência em tudo , há décadas , acho um exagero,
o nosso estado tem suas limitações financeiras, educacionais, culturais e quanto
ao seu parque gráfico, porém há muito se produz quadrinhos , com tiragens
maiores que as produzidas atualmente, pois a revista Maturi já teve uma edição de dez mil exemplares, e
nos anos oitenta chegou a ter circulação bimensal. Outro exemplo a Jesuino brilhante teve na sua primeira edição editadas cinco mil exemplares,já foram feitas 4
edições, e a a História do RN já em 8 edições somam mais de dez mil
exemplares, coisas realizadas apesar do parque gráfico da cidade na época não
oferecer as condições de hoje, bem melhores em preços e qualidade gráfica .
As perspectivas hoje são as melhores possíveis, pois temos um
publico consumidor crescente, que valorizam os diferentes temas e gêneros de
quadrinhos, lojas especializadas , grupos de artistas atuantes produzindo seu
próprio trabalho e realizando parcerias com editoras, espero que chegue a ter
vendedores ambulantes como se vende cd.
No nordeste acho que
se deva ter um maior intercambio entre as produções e os artistas, lançamentos
coletivos em diferentes estados e encontros são hoje uma realidade que pode ser
ampliada como também a circulação da revistas em quadrinhos pelas cidades do interior
do nosso estado , ate em diferentes
bairros da cidade falta uma maior divulgação, nesse sentido ainda existe uma
carência a ser suprida e um espaço a ser conquistado.
8 – Nessa
perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES lhe despertaram alguma
curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido esse ou em outros anos?
Na nova geração de
quadrinistas os trabalhos que me chamaram a atenção, que despertaram a minha
curiosidade foram os desenhos de Gabriel
Andrade, a poética de Marcos Guerra e a ironia de Mario Rasec, na geração mais
antiga o trabalho de Aucides Sales é sempre supreendente , seja na sua produção
ainda inédita de quadrinhos underground , histórica ou cômica.
9 – Confesso
que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e
restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos
que produziram historias interessantes e se possível, fizesse um pequeno
comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?
O trabalho de
parceria de Beto potiguara e Wolclenes rendeu belos trabalhos, o melhor na
minha opinião uma adaptação de um conto publicada na revista Maturi numero 3, o
bem com o bem se paga, gosto também dos roteiros de Joseniz , principalmente quando ele
utiliza fotografia e desenho em
histórias que reflete sobre seu universo urbano, apesar de ainda se exceder nos
textos, mesmo sendo um estilo da sua
produção, acredito que com o tempo ele encontrara o equilíbrio entre imagem e
texto , e por fim os textos de Marcos Guerra e sua poética onde ele brinca com
as palavras entre os diálogos hora expressos pelos seus personagens, as vezes pelo narrador,e sempre exigindo uma leitura
cuidadosa do leitor , também gostaria de ver como ele se sai escrevendo em
diferentes gêneros , também vem se destacando em seus roteiros para animação o Lula Borges e o Carlos Alberto em quadrinhos
voltados a fins publicitários .
10 – Não precisa dizer que se você esta sendo
entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos
roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além
disso espero muito de você, mas fora essa pressão psicológica qual suas
perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria
de escrever?
Tenho me dedicado a
três trabalhos , que já há um bom tempo tenho protelado, são 3 roteiros bem
distintos e com temáticas bem
diferentes, um sobre o passado , outro o presente e um terceiro sobre o futuro
. O primeiro é um tema histórico, mas com linguagem poética , é sobre Henrique
Castriciano, poeta potiguar, uma historia sobre os conflitos e as angustias de
um começo de século, como agora
vivenciamos, o segundo e sobre a atualidade, a cidade de natal, as pessoas comuns
e seus personagens folclóricos , sua
paisagem urbana e locais que constroem a identidade da cidade e o terceiro
roteiro e uma ficção sobre as
transformações que a tecnologia, a genética e as mudanças climáticas provocaram
na forma de se viver neste planeta .