EMENTA: O
objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e
trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN,
procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em
detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com
isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz
optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de
compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e
suas especificidades.
MIGUEL RUDE
Natural da maternidade Januário
de Natal mesmo. Produção:Reverbo :
Bio47 #2 a #8; Revistas
infantis como Team Kids e GACC- RN; Natal:
Terra de Ninguém; Maturi n°
5 - hq a alma pede carona. Coletânea
Máquina Zero - hq acordo;Diversos Pornôs para sites
gringos.
ENTREVISTA:
1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre
roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer
roteiros sobre quadrinhos?
A incapacidade de
escrever livros. Tentei muito na pré-adolescência, adolescência e por fim, quando adulto, percebi que me perdia demais ao escrever livro.
Quadrinho
esquematizei de um jeito que fluía mais fácil. Com livro não consegui até hoje.
2 – Ok, então
sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as
hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?
Na verdade não foram
hqs em si, mas personagens, seja na hq ou em outras mídias. Quando criança
curtia muito personalidades fortes, assistia desenho animado da Mulher-Aranha, o seriado do Hulk do Lou Ferrigno e Bill Bixby e folheava aqueles albuns do Tarzam que eram
deitados, sem saber ler ainda. Então desde criança onde tivesse personalidades fortes eu estava lá de camarote observando.
3 – Então,
observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias
você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.
Magia. Não ficar
viajando na batatinha como Doutor estranho porque acho isso estranho (sompbras
de shogot, umbral de mendabot , sei la...). Nem coisas bobas
como zatanna e deixar o personagem suave quando ele começa a adquirir fama como
mudar "hellblazer" para 'Constantine'. Magia mesmo, adulta,
séria e desbravando o mito e o misticismo, os rituais e as crenças mundiais. Poder do Mito, de
Joseph Campbell já desbravou o homem como corpo físico , carnal e pretenso a
aventura , e desbravar o mundo físico. Com magia
voltáriamos para dentro de si mesmos e enxergaríamos novas formas de ver os fatos.
4 – Muito
bem, você poderia falar um pouco sobre a
forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me
responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por
acaso você venha ou tenha escrito e que
nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande
público leitor?
A forma varia, se é
paga , se é "inspiração" , se é parceria com amigos. Depende também de
quem é o desenhista. O Roteiro de Natal: Terra de ninguém, foi entregue numa
folha de caderno escrita a lápis e o Wendell me devolveu mais de 25 páginas
desenhadas e arte finalizadas para eu "inventar" balões. Quando é pago faço
no estilo texto em "t" , quadro com ação do personagens e quadro com
diálogos dos personagens , qualquer bronca se resolve mostrando as provas do
roteiro. Não sei qual tema
seria delicado, quem seria afetado ? Leio Garth Ennis há muito tempo, Jamie
Delano e outros e eles me mostram a direção que devo seguir, do que o que
deveria me doutrinar. a facilidade de qualquer coisa vem da sua paixão por ela,
já vi quadrinhos europeus de humor sobre motos que você fica maravilhado, mesmo
eu nem sabendo andar de moto.
Acho que esse
politicamente correto atual deixou pessoas muito afetadinhas e burras, é burras
mesmo, as coisas estão tão certinhas que você nem pode ofender alguém de burro
mesmo ela sendo um completo tapado nas redes sociais. E essa de
"grande público" é relativo, quando postei os quadrinhos de Clarisse
- 7 , um cara comentou no orkut na época que eu deveria tirar os palavrões se
quizesse que ela fosse aceita em alguma editora. Ah faça me o favor! Tem
palavrão em seriado hoje, em game , e quadrinhos sempre teve. E não estou
desesperado nem nunca estive pra ser aceito por grandes editoras, só faço algo
se tenho algo a dizer, se não tiver eu fico calado. Editora e grande público
não interfere nesse processo.
5 – Você possui
alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha
como objetivo experimentar através de seus roteiros?
Já tenho... Com
muito caderno escrito a lápis, muito caderno inédito de poesia, muito roteiro
pornô pra gringas, muito roteiro que desistimos por falta de desenhistas, muito
arquivo de computador perdido a ser formatado... Consegui. Pessoal já reconhece
minha escrita, como reconhecem os traços de artistas ...(mas livro que é bom
até agora nada)
6 – Essa pergunta
é cabciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um
roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e
divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever
para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo
(underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas,
sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo
principal?
Os três. Porque fiz e faço os três. Não achei
capciosa.
7 – Muito bem,
considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina
em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado
de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?
A gente nunca teve
carência de nada, sempre nos fizemos de coitado. Já recebi esboço em papel com
texto impresso atras porque desenhista tem pena de gastar papel branco
esperando usa-lo em 'ocasiões especiais' , temos pena de gastar material, temos
pena de entregar no prazo e se sentir bem e damos desculpas. Por isso que gosto
de trabalhos de artistas como Fernando Paiva e Sandro Freitas, que mergulha com
o que tiver e gasta o que não tem. Carência temos de
responsabilidades e de avançar pra estágios maiores.
8 – Nessa
perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram
alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros
anos?
Gosto de qualquer coisa feita pelo mestre Laércio Eugênio, qualquer coisa mesmo ! Uma vez parei o que tava fazendo em Mossoró e
corri pra ver uma mini-oficina ministrada por ele de quadrinhos. Acho que o boneco a Hq do Wagner Oliveira que foi feito no projeto 1° primeira edição também me chamou atenção. Essa Hq, o Boneco, e outra feita pelo Deuslir Cabral que só conseguiu publicar Mapinguari, também pelo mesmo projeto.
Li muita coisa dele (Deuslir) que não foi publicado infelizmente, e confesso que atualmente ele é o melhor. Os atuais ainda estão verdes para chegar no patamar dele.
Falta se desprenderem dessa de quererem ser "o artista", "o
escritor".... são nada, somos nada, ninguém aqui é, ninguém vive da
escrita e principalmente de produzir seus próprio textos, vamos ser mais
humildes e deixar fluir. Seja sendo, fazendo e produzindo. Não se intitulando e
produzindo pouco (e produzir não foi publicar que quis dizer).
9 – Confesso que
já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e
restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos
que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno
comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?
vixi, me
empolguei e respondi na oito. O cara que
fez o boneco (Wagner Oliveira), Deuslir ( que fez Mapinguari) e o chargista/cartunista Laércio Eugênio.
10 – Não precisa
dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma
promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes
historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas fora essa pressão psicológica qual suas
perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria
de escrever?
hahaha bagunçou
legal...
ok. Desenho animado.
Vejo Elson elogiar demais os alunos da UNP , mas até agora só vi trabalho
obrigado a fechar o curso, pomposo pra tirar nota. Desenho animado,
cadê, que preste, feito a ferro e fogo, de madrugadas fazendo clean up, trilha
sonora, edição... Não tem. Que preste mesmo, tem não. Gostaria de ver
desenho sobre algo medieval, ficção cientifica e porque não cangaço, desde que
seja bem construida qualquer coisa é válida.
Na verdade , já
escrevi mangás... Mas preciso voltar a escrever, não mangá comum , algo como
All you Nedd is kill, algo que as pessoas perguntem e peçam continuação como me
perguntaram e pediram quando natal: terra de ninguém esgotou a tiragem. Lógico. preciso
escrever um livro. E manuais de
desenho, mas isso será em conjunto com colegas artistas (não posso nem revelar
o peso dos nomes, droga).
Agradecido o convite
e desculpe a demora pra responder, sem word em casa e preguiça de ir em lan
house responder por lá. :p
PS: Este articulista agradece e muito a entrevista sincera e o esforço de grande Miguel Rude, por que mesmo sem Word e as dificuldades do pouco tempo que teve (um sintoma da contemporaneidade) nos privilegiou com suas opiniões e analises sobre o modo próprio de fazer roteiros e, mais especificamente do universo dos Quadrinhos.