sexta-feira, 20 de março de 2015

ENTREVISTAS COM ROTEIRISTAS POTIGUARES



EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.





MIGUEL RUDE

 Mini biografia
Natural da maternidade Januário de Natal mesmo. Produção:Reverbo : Bio47 #2 a #8; Revistas infantis como Team Kids e GACC- RN; Natal: Terra de Ninguém; Maturi n° 5 - hq a alma pede carona. Coletânea Máquina Zero - hq acordo;Diversos Pornôs para sites gringos.



ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

A incapacidade de escrever livros. Tentei muito na pré-adolescência, adolescência e por fim, quando adulto, percebi que me perdia demais ao escrever livro.
Quadrinho esquematizei de um jeito que fluía mais fácil. Com livro não consegui até hoje.

2 – Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

Na verdade não foram hqs em si, mas personagens, seja na hq ou em outras mídias. Quando criança curtia muito personalidades fortes, assistia desenho animado da Mulher-Aranha, o seriado do Hulk do Lou Ferrigno e Bill Bixby e folheava aqueles albuns do Tarzam que eram deitados, sem saber ler ainda. Então desde criança onde tivesse personalidades fortes eu estava lá de camarote observando.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.

Magia. Não ficar viajando na batatinha como Doutor estranho porque acho isso estranho (sompbras de shogot, umbral de mendabot , sei la...). Nem coisas bobas como zatanna e deixar o personagem suave quando ele começa a adquirir fama como mudar "hellblazer" para 'Constantine'. Magia mesmo, adulta, séria e desbravando o mito e o misticismo, os rituais e as crenças mundiais. Poder do Mito, de Joseph Campbell já desbravou o homem como corpo físico , carnal e pretenso a aventura , e desbravar o mundo físico. Com magia voltáriamos para dentro de si mesmos e enxergaríamos novas formas de ver os fatos.

4 – Muito bem,  você poderia falar um pouco sobre a forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito  e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?

A forma varia, se é paga , se é "inspiração" , se é parceria com amigos. Depende também de quem é o desenhista. O Roteiro de Natal: Terra de ninguém, foi entregue numa folha de caderno escrita a lápis e o Wendell me devolveu mais de 25 páginas desenhadas e arte finalizadas para eu "inventar" balões. Quando é pago faço no estilo texto em "t" , quadro com ação do personagens e quadro com diálogos dos personagens , qualquer bronca se resolve mostrando as provas do roteiro. Não sei qual tema seria delicado, quem seria afetado ? Leio Garth Ennis há muito tempo, Jamie Delano e outros e eles me mostram a direção que devo seguir, do que o que deveria me doutrinar. a facilidade de qualquer coisa vem da sua paixão por ela, já vi quadrinhos europeus de humor sobre motos que você fica maravilhado, mesmo eu nem sabendo andar de moto.

Acho que esse politicamente correto atual deixou pessoas muito afetadinhas e burras, é burras mesmo, as coisas estão tão certinhas que você nem pode ofender alguém de burro mesmo ela sendo um completo tapado nas redes sociais. E essa de "grande público" é relativo, quando postei os quadrinhos de Clarisse - 7 , um cara comentou no orkut na época que eu deveria tirar os palavrões se quizesse que ela fosse aceita em alguma editora. Ah faça me o favor! Tem palavrão em seriado hoje, em game , e quadrinhos sempre teve. E não estou desesperado nem nunca estive pra ser aceito por grandes editoras, só faço algo se tenho algo a dizer, se não tiver eu fico calado. Editora e grande público não interfere nesse processo.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

Já tenho... Com muito caderno escrito a lápis, muito caderno inédito de poesia, muito roteiro pornô pra gringas, muito roteiro que desistimos por falta de desenhistas, muito arquivo de computador perdido a ser formatado... Consegui. Pessoal já reconhece minha escrita, como reconhecem os traços de artistas ...(mas livro que é bom até agora nada)

6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?

Os  três. Porque fiz e faço os três. Não achei capciosa.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

A gente nunca teve carência de nada, sempre nos fizemos de coitado. Já recebi esboço em papel com texto impresso atras porque desenhista tem pena de gastar papel branco esperando usa-lo em 'ocasiões especiais' , temos pena de gastar material, temos pena de entregar no prazo e se sentir bem e damos desculpas. Por isso que gosto de trabalhos de artistas como Fernando Paiva e Sandro Freitas, que mergulha com o que tiver e gasta o que não tem. Carência temos de responsabilidades e de avançar pra estágios maiores.


8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?


Gosto de qualquer coisa feita pelo mestre Laércio Eugênio, qualquer coisa mesmo ! Uma vez parei o que tava fazendo em Mossoró e corri pra ver uma mini-oficina ministrada por ele de quadrinhos. Acho que o boneco a Hq do Wagner Oliveira que foi  feito no projeto 1° primeira edição também me chamou atenção. Essa Hq, o Boneco, e outra feita pelo Deuslir Cabral que só conseguiu publicar Mapinguari, também pelo mesmo projeto. Li muita coisa dele (Deuslir) que não foi publicado infelizmente, e confesso que atualmente ele é o melhor. Os atuais ainda estão verdes para chegar no patamar dele. Falta se desprenderem dessa de quererem ser "o artista", "o escritor".... são nada, somos nada, ninguém aqui é, ninguém vive da escrita e principalmente de produzir seus próprio textos, vamos ser mais humildes e deixar fluir. Seja sendo, fazendo e produzindo. Não se intitulando e produzindo pouco (e produzir não foi publicar que quis dizer).


9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

vixi, me empolguei  e respondi na oito. O cara que fez o boneco (Wagner Oliveira), Deuslir  ( que fez Mapinguari) e o chargista/cartunista Laércio Eugênio.


10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas  fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?


hahaha bagunçou legal...

ok. Desenho animado. Vejo Elson elogiar demais os alunos da UNP , mas até agora só vi trabalho obrigado a fechar o curso, pomposo pra tirar nota. Desenho animado, cadê, que preste, feito a ferro e fogo, de madrugadas fazendo clean up, trilha sonora, edição... Não tem. Que preste mesmo, tem não. Gostaria de ver desenho sobre algo medieval, ficção cientifica e porque não cangaço, desde que seja bem construida qualquer coisa é válida.
Na verdade , já escrevi mangás... Mas preciso voltar a escrever, não mangá comum , algo como All you Nedd is kill, algo que as pessoas perguntem e peçam continuação como me perguntaram e pediram quando natal: terra de ninguém esgotou a tiragem. Lógico. preciso escrever um livro. E manuais de desenho, mas isso será em conjunto com colegas artistas (não posso nem revelar o peso dos nomes, droga). 

Agradecido o convite e desculpe a demora pra responder, sem word em casa e preguiça de ir em lan house responder por lá. :p


PS: Este articulista agradece e muito a entrevista sincera e o esforço de grande Miguel Rude, por que mesmo sem Word e as dificuldades do pouco tempo que teve (um sintoma da contemporaneidade) nos privilegiou com suas opiniões e analises sobre o modo próprio de fazer roteiros e, mais especificamente do universo dos Quadrinhos.





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