EMENTA: O
objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e
trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN,
procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em
detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com
isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz
optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de
compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e
suas especificidades.
Formado em Marketing pela UnP, começou sua carreira nos anos 80 como ilustrador de publicidade. Atuando em várias agências de Natal. Nos quadrinho, ingressou na Maturi onde teve diversas histórias publicadas. Criou o heroi Asa Psiquê que teve suas aventuras editadas na revista Epopéia Potiguar (do próprio Carlos Alberto), que chegou a contar quatro números. Ilustrou livros como "Uma feira livre" da escritora Elizabeth Rose de Macêdo Gomes; "Matrix e administração Transpessoal" de Júlio F. D. Resende; "A Turma da casa do Telhado Branco - A história das Minhocas", das autoras Gilka da Mata e Marize Duarte e foi o autor do livro "As sátiras em quadrinhos de Zé Areia".
ENTREVISTA:
1 – Bem agradeço
a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já
começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?
Bom, na
verdade não sou um roteirista, embora tenha feito alguma coisa nessa área. No
início de minha “carreira” como desenhista de quadrinhos, era extremamente
difícil contar com os roteiristas. Poderia até dizer que não existia
roteirista, pois todo aquele que queria fazer quadrinhos tinha que se virar
para criar suas próprias histórias. Eu, porém, na ausência destes, resolvia
recorrer às histórias bíblicas, por estar mais à “disposição” e por propiciar
um cenário farto de detalhes pitorescos da época antiga.
2 – Ok, então
sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as
hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?
Eu curtia
desenhistas antigos como Alex Raymond, Harold Foster e Burne Hogarth. Mas minha
forte influência dos quadrinhos americanos aconteceu no fim dos anos 70 e
começo dos 80, especialmente os desenhos do Jonh Buscema/Alfredo Alcala, Frank
Miller até conhecer a francesa Metal Hurlant e o estilo artístico europeu.
3 – Então,
observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias
você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.
Eu
procuro ser o mais versátil possível. Deste ficção/aventura.. regional... me
coloco à disposição para qualquer projeto. Mas eu gostaria de tentar uma ficção
fantasia.
4 – Muito bem, você poderia falar um pouco sobre a forma de
escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder
qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você
venha ou tenha escrito e que nem sempre
são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?
O
roteiro, quando eu faço, é de maneira intuitiva. A partir de uma ideia inicial
é que vou desenvolvendo toda o enredo. Quanto aos temas delicados, eu procuro
sempre me certificar se realmente é válido trabalhar com o referido tema, pois
já sofri algumas críticas ao tentar algo, como por exemplo, na área de sexo.
5 – Você possui
alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha
como objetivo experimentar através de seus roteiros?
Sim.
Uma abordagem em que a fantasia surreal seja o elemento predominante.
6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer
sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial
que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva
escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação
ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a
liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma
consequência e não o objetivo principal?
De fato
é uma pergunta intrigante, pois tenho feito muitos trabalhos com apelos
comerciais, mas também tenho feito bastante coisa para um determinado tipo de
público, no caso, cartilhas e revistas cuja abordagem é primordialmente educativa.
Mas fiz algumas coisas no circuito underground, portanto, sou bastante
eclético.
7 – Muito bem,
considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina
em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado
de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?
Mercado
de quadrinhos não existe no Nordeste. Mas Existe alguns estúdios que conseguem
com muita persistência e determinação estabelecer o sonho de trabalhar com
quadrinhos. O pessoal da Paraíba e Recife dão bons exemplos nesse sentido.
8 – Nessa perspectiva,
gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma
curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?
Das hqs
que marcaram eu cito o Ataque de Lampião a Mossoró, de Emanuel Amaral/ Aucides
Sales, Os episódios do cangaceiro Labareda, cujo roteiro e desenhos são do Luíz
Elson, e a série Trombstone City (publicados na revista Maturí) de Aucides
Sales.
9 – Confesso que
já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e
restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos
que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno
comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?
O
próprio Emanuel Amaral é um dos que figuram na minha lista. Dois trabalhos
dele: O ataque de Lampião a Mossoró e Os guerreiros das Dunas mostram a
desenvoltura deste artista. Porém, nos últimos tempos ví surgir gente boa que
vem pra ficar. Entre esses, eu destaco o brilhante trabalho do Marcos Guerra em
Parnamirim, contruindo uma história! Temos
também um ótimo roteirista/desenhista que nos chega com uma forma bem pessoal
de pensar e desenhar... estou falando de Mário Rasec e o que falo pode ser
conferido nas páginas de Os Black.
Há ainda um outro nome que também começa “bem tranquilo” a mostrar suas
qualidades, não só como roteirista, mas também um excelente desenhista. Seu
nome: Renato Medeiros. Uma obra? Tempestade
mental!
10 – Não precisa
dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma
promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes
historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas fora essa pressão psicológica qual suas
perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria
de escrever?
Bom, eu
tenho me repetido em dizer que tenho vontade de desenhar histórias com
tematicas fantasiosas, e talvez algo numa linha surrealista à la Moebious, pois
como trabalho numa linha muito próxima ao acadêmico, considero o estilo de arte
surrealista europeu um desafio interessante a se realizar. Vamos pra frente!!