EMENTA: O
objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e
trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN,
procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em
detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com
isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz
optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de
compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e
suas especificidades.
MINI BIOGRAFIA:
Ivan Cabral, nasceu em Areia Branca/RN. Publica charges na imprensa do Rio Grande do Norte desde 1983. Foi chargista do Diário de Natal(Diários Associados) durante 21 anos. Hoje publica no Novo Jornal. Também é membro do Grupehq - Grupo de Pesquisa de História em Quadrinhos, entidade fundada em 1971 e em plena atividade, responsável pela publicação da revista de quadrinhos Maturi, da qual Ivan participa desde a década de 1980. Ivan é autor do personagem Mosca Zezé e já produziu ilustrações para publicidade e diversos livros. Suas charges têm sido utilizadas em livros didáticos de editoras como FTD, Saraiva, Positivo, Escala Educacional, Scipione, Opet, Fundação Padre Anchieta, Kroton Educacional, SEDIS/UFRN, COC, Poliedro, etc.
Ivan já foi premidado em diversos salões de humor no Brasil, entre eles: UnaconDF-1997(1º lugar), Volta Redonda/RJ-1997(1º lugar), Volta Redonda/RJ-1998(1º lugar), Natal/RN-1999-(2º lugar), e diversas menções honrosas.
Ivan é Mestre em Educação pela UFRN, pesquisando a relação entre o humor gráfico e a formação do leitor. Já publicou 2 livros: Já era Collor (1991), em parceria com Cláudio Oliveira, Edmar Viana e Emanoel Amaral, e Humor Diário(2005).
Atualmente, chefia o setor de Criação e Arte da Superintendência de Comunicação da UFRN e realiza charges ao vivo durante o programa de debates Grandes Temas, da TVU/UFRN.
Fonte: http://www.ivancabral.com/p/ivan-cabral-nasceu-em-areia-brancarn.html
ENTREVISTA:
1 – Bem agradeço
a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já
começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?
Antes de tudo, quadrinhos não é a atividade mais presente em
minhas produções. Produzo quadrinhos desde a adolescência mas profissionalmente
meu enfoque é o humor gráfico, em particular a charge. Mas a linguagem da
charge tem um laço umbilica com os quadrinhos, em especial os quadrinhos de
humor. Minhas primeiras histórias, inclusive, foram de humor. Comecei fazendo
tiras e pequenas histórias, às vezes de uma página. Nunca produzi histórias
médias ou longas. Como no início (falo do início da década de 1980) não havia
formação técnica para roteiristas, tudo acontecia de forma autodidata. A gente
lia quadrinhos e sabia desenhar. Sempre fiz roteiro e desenhos. Lia muita HQ e
aquela formação informal me levava a produzir minhas próprias histórias. O
convívio com a turma do Grupehq (Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos)
trouxe aperfeiçoamento técnico e a troca de experiências influenciou uma
maturação no traço e roteiro.
2 – Ok, então
sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as
hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?
Naquela época os
americanos reinavam soberanamente. Disney, Hana Barbera, heróis e super-herois
eram o prato do dia, da semana, do mês... da vida. Mickey, Pateta, Tio
Patinhas, Pato Donald e seus respectivos inimigos Mancha Negra, Bafo de Onça, Os
irmãos Metralha, Maga Patalógica, e demais personagens marcaram minha geração.
Tinha os que não permaneceram no auge do sucesso como Miudinho, Fantasma Lelo,
Riquinho, Morcego Vermelho (pra mim um dos melhores), Brasinha e outros
esquecidos. No desenho clássico impossível não citar os também clássicos
Fantasma, Tarzan, Mandrake, Zorro, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Capitão
América, Demolidor, Namor, Thor e outros.
Os brasileiros que heroicamente conseguiram marcar seu nome e
que mais se destacaram ou repercutiram foram o Ziraldo com a Turma do Saci e o
Maurício. Certamente outros artistas deram sua contribuição, mas cito esses a
partir do acesso que eu tinha a seus materiais e não como uma análise
mercadológica precisa.
3 – Então,
observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias
você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.
Histórias que fizessem pensar, mesmo usando o humor. Não sou
contra super-herois, por exemplo. Apenas acho que eles tem que dizer algo mais
além de derreter aço com raios que saem dos olhos. Também não se trata de fazer
cartilhinhas didáticas e moralistas, mas produzir algo que leve a pessoas a se
questionarem. Já seria um bom começo.
4 – Muito bem, você poderia falar um pouco sobre a forma de
escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder
qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você
venha ou tenha escrito e que nem sempre
são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?
Como falei, minhas histórias são curtas. Talvez pela
influência de produzir charges, que por natureza são extremamente condensadas,
sintéticas. Geralmente tenho um tema central, uma problematização qualquer, e a
partir dele construo o ambiente que cerca essa questão, desenvolvo os
personagens envolvidos e a trama, dando uma atenção para o desfecho. Faço isso
intuitivamente e não a partir de um esboço ou esqueleto temático. Tudo começa
com a ideia principal. Naturalmente a concatenação com as outras partes vai
surgindo, vai sendo costurada e ajustada até se constituir uma história com um
começo atraente, um desenvolvimento dinâmico e um desfecho que leve a
possibilidades de reflexão sobre o que se leu.
5 – Você possui
alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha
como objetivo experimentar através de seus roteiros?
Essa questão da estética própria é fruto da experiência. A
maneira como você constroi um história reflete como você é. Mesmo que seja uma
ficção acho que o autor se coloca na trama. A seleção do que dizer e como deve
ser dito é muito pessoal. Quando o autor do roteiro é o próprio desenhista isso
é mais fácil, embora trabalhar em parceria produza coisas interessantes, pois
existe a leitura que o desenhista faz do roteiro e ele pode surpreender,
enriquecendo muito o produto final. Como os quadrinhos são constituidos de uma
linguagem híbrida (textos verbal e imagético) creio que seus elementos
constitutivos precisam dialogar e contribuir de forma eficaz para a construção
de uma boa história.
6 – Essa pergunta é capciosa, para não dizer
sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial
que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva
escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação
ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a
liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma
consequência e não o objetivo principal?
Indentifico-me mais com o Alternativo. Não penso em fazer sucesso com quadrinhos, mas me
sentiria feliz se soubesse que pessoas que leram meus quadrinhos foram de
alguma forma impactadas.
7 – Muito bem,
considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina
em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado
de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?
Sinceramente, tenho dificuldade em responder. O mercado de
quadrinhos nacionais não é lá essas coisas. Existem experimentos nos grandes
centros e em cidades do nordeste que revelam a força e o talento de nossos
desenhistas, mas penso que falta motivação, organização e apoio. A falta de um
elemento desse tripé compromente o todo. Mas não sou um grande conhecedor da
realidade mercadologica da imprensa nacional para emitir uma opinião mais
confiável. Mas nem tudo está perdido e a arte dos quadrinhos teima em não
morrer!
8 – Nessa perspectiva,
gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma
curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?
No passado não dá pra ignorar o pioneirismo da Maturi (que
teve um destaque recente com o projeto apoiado pela Fundação José Augusto que
gerou seis edições da revista em um novo formato, inclusive com cores). Não
podesmos esquecer do Edmar Viana e seu Pivete. Recentemente tivemos a belíssima
Guerreiro das Dunas, de Emanoel Amaral. Nossos arte-finalistas potiguares têm
produzido coisas bonitas para a Brado Retumbante. Tem o humor joia do
Kovalevsky com o The Negão. Recentemente
o Gabriel tá publicando nos EUA. Claro, é coisa de gringo, mas o talento é da
terrinha.
E tem o Brum, carioca radicalizado aqui, que tem feito muita
coisas boa na área do quadrinho de humor. É aquela coisa: depois da esperança
morrer ainda tem os quadrinhos.
9 – Confesso que
já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e
restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos
que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno
comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?
- Emanoel
Amaral – esse é um pioneiro, um guerreiro dos lápis e pincéis. Sua experiência
garante a qualidade de sua produção. A temática indígena e do cangaço está bem
representada em suas obras.
-
Márcio Coelho – Outro cabra experiente. Uma amostra do reconhecimento do seu
talento foi sua convocação para publicar em uma das ediçoes especiais dos
estúdios Maurício de Sousa.
-
Gilvan Lira – Uma excelente cabeça, um artista maravilhoso e competente. Lê
muita coisa de todo lugar. Outro cuja experiência produziu um artista maduro. O
cara é muito versátil; desenha e escreve
ficção, humor, aventura e história com a mesma desenvoltura.
10 – Não precisa
dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma
promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes
historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas fora essa pressão psicológica qual suas
perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria
de escrever?
- Tenho
uma ou outra história engavetada. Não sobra muito tempo para desenvolvê-las e
por enquanto resta apenas a ideia central delas.