EMENTA: O
objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e
trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN,
procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em
detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com
isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz
optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de
compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e
suas especificidades.
Mini biográfia de Leonardo Feitoza:
O Contador
de Lorotas é uma revista em quadrinhos composta por duas histórias contendo
humor, aventura e um ligeiro acréscimo de sensualidade, além de incluir
elementos estéticos e narrativos inspirados nos quadrinhos japoneses, os
mangás. Esta HQ também é a primeira publicação de Leo Feitoza, que já foi
técnico em informática e arte-finalista para agências de propaganda em Natal,
Rio Grande do Norte. Atualmente, ele é um historiador não-praticante e
ilustrador em tempo integral contratado pela Fundação Norte-Riograndense de
Pesquisa e Cultura (FUNPEC) para o setor de editoração de materiais didáticos
da Secretaria de Educação a Distância - SEDIS-UFRN. Quando consegue abrir mão
de algumas horas de sono, Leo Feitoza encontra tempo para fazer suas histórias
em quadrinhos.
fonte: http://4stand.blogspot.com.br/2011/11/essa-nao-e-lorota-leo-feitosa-e-o.html
ENTREVISTA
1 – Bem agradeço
a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já
começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?
Leio
quadrinhos desde criança, então, desde aquela época, eu já escrevia e desenhava
minhas próprias HQs, geralmente inspiradas (quando não decalcadas mesmo) em minhas
obras preferidas.
2 – Ok, então
sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as
hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?
Comecei
a ler quadrinhos com revistas da Turma da Mônica e da Disney (minhas preferidas
então). Por influência de meu irmão mais velho, conheci o mundo dos comics de
super herois, como Batman, Graphic Novels diversas e X-Men (a franquia dos
personagens mutantes se tornariam a minha preferida nas HQs por vários anos).
Apenas no final da adolescência foi que eu pude ter contato com os quadrinhos
japoneses, os mangás, o que não impediu que eles viessem a se transformar nas
minhas principais influências na escrita e no desenho.
3 – Então,
observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias
você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.
Quadrinhos
de aventura e humor, que são os gêneros com os quais possuo maior
familiaridade.
4 – Muito bem, você poderia falar um pouco sobre a forma de
escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder
qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você
venha ou tenha escrito e que nem sempre
são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?
Desenvolvo
uma ideia básica, com começo, meio e fim compreendidos em um páragrafo. A
partir daí, desenvolvo o roteiro mais detalhado, com descrições de situações e
acontecimentos alternadas aos diálogos, de modo semelhante a um roteiro
elaborado para encenações em teatro. Minha terceira e última etapa de
roteirização envolve a elaboração de um storyboard a fim de delimitar a
narrativa visual, mesmo nas ocasiões em que eu próprio faço os desenhos.
Não
creio ter abordado algum tema muito polêmico em minha única HQ publicada há
alguns anos (O Contador de Lorotas), mas atualmente eu seria bem mais duro em
descrever condutas negativas.
5 – Você possui
alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha
como objetivo experimentar através de seus roteiros?
Quando
eu voltar a roteirizar HQs regularmente, gostaria de desenvolver gradualmente
uma narrativa textual que fizesse com que o leitor, mesmo sem saber de minha
autoria, pudesse identificar o meu estilo em poucas páginas.
6 – Essa pergunta é capciosa, para não dizer
sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial
que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva
escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação
ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a
liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma
consequência e não o objetivo principal?
Independente,
pois ainda que eu nunca tenha tido um ritmo de produção digno de um
profissional das HQs (o autor comercial), não chego a ter como objetivo a
exploração dos limites da linguagem quadrinística, como ocorre com os autores
alternativos.
7 – Muito bem,
considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina, em que temos a carência de tudo há decadas, qual a
perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho
potiguar?
Vejo um
cenário promissor. No final dos anos 1990, não havia publicação regular de
quadrinhos potiguares. Mas, nessa época, houve uma profusão de novos artistas
que vieram a se conhecer em espaços culturais e através de eventos de cultura
pop. A troca de ideias que surgiu desses encontros fez aparecer uma nova
geração de quadrinistas que conseguiram publicar suas revistas durante alguns
anos, conforme ocorreu com o selo Reverbo de quadrinhos.
Após um novo hiato em meados dos anos 2000,
iniciativas culturais como a revista Maturi e o projeto Nona Arte trouxeram às
bancas e livrarias uma gama bastante diversificada de roteiros e desenhos para
quadrinhos. Ao mesmo tempo, sites como a República dos Quadrinhos e a GHQ
realizavam a divulgação dos autores locais e suas HQs.
O
cenário do quadrinho potiguar vem melhorando continuamente desde então: o
retorno de lojas especializadas, selos de quadrinhos como a K-Ótica e a MBP com
um ritmo constante de lançamentos, divulgação das HQs em eventos nacionais e
internacionais... Acredito que a tendência é sempre termos publicações de
autores potiguares a cada ano, sem contar com os quadrinistas locais que
publicam online e/ou no exterior.
8 – Nessa perspectiva,
gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma
curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentido nesse ou em outros anos?
O
Evangelho segundo o sangue, de Marcos Guerra e Leander Moura; Natal Terra de
Ninguém, de Wendell Cavalcanti e Miguel Rude; A Jornada de Julia, de Gabriel Andrade
Jr.; Mapinguari, de Deuslir U. Cabral; e Cajun o bom franjou, de DiorgeTrindade
e Wendell Cavalcanti.
9 – Confesso que
já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e
restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos
que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno
comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?
Deuslir
U. Cabral – conseguiu aliar com habilidade temas folclóricos a uma história
infantil de aventura como poucos autores conseguem fazer;
Marcos
Guerra – seu texto, em conjunto com as imagens lúgubres de Leander Moura,
produziu um cenário de horror inédito em terras potiguares;
Miguel
Rude – os cenários de seus roteiros de aventura retratam uma extrapolação dos
problemas urbanos que os habitantes das maiores cidades do RN conhecem bem.
10 – Não precisa
dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma
promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes
historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas fora essa pressão psicológica qual suas
perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria
de escrever?
Por
força de compromissos de minha profissão e formação acadêmica, não prossegui
com a produção de quadrinhos. Como ainda não realizei a transição exitosa que
alguns dos meus colegas quadrinistas fizeram para viver exclusivamente de sua
produção de HQs, acho que devem se passar uns cinco anos até que eu volte a
roteirizar e, quem sabe, desenhar quadrinhos. Mas parar de ler HQs, isso nunca
passou pela minha cabeça.