EMENTA: O objetivo dessas
entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do
roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando
mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento
de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande
público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que
ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e
opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.
Para o nossa segunda seção de entrevistas sobre os
roteiristas potiguares temos a satisfação de conversar um pouco e saber da
carreira e pensamentos do grande poeta, contista, autor de novela gráfica, roteirista e ilustrador Mário
Rasec sobre projetos, ofícios e a arte de escrever roteiros de
HQs. Iniciamos com uma pequena e resumida biografia do entrevistado.
Biografia:
Designer
gráfico, artista visual, cartunista e escritor com dois livros publicados.
ENTREVISTA:
1 – Bem agradeço a
disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já
começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?
Pode parecer clichê,
mas, em primeiro lugar, foi o desejo de se expressar de uma forma que pudesse
unir o meu lado literário com as artes visuais. Contar uma história original
utilizando recursos visuais e literários. E, o mais clichê de todos: eu não
poderia suportar esse mundo se não encontrasse na arte uma maneira de
transubstanciar todas as minhas frustrações e tédios diante de uma realidade
tão cheia de absurdos e sem sentido.
2 – Ok, então sabendo de suas
motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te
influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?
Como provavelmente a
maioria dos quadrinistas, comecei lendo quadrinhos de super-heróis, Marvel, DC,
esse tipo de coisa. Li coisas do tipo que me fascinaram, como a fase dos X-Men
de Claremont e Byrne, e Demolidor de Frank Miller, assim como Adam Warlock de
Jim Starlim. Entretanto a grande “evolução” chegou quando conheci as obras de
Alan Moore e Neil Gaiman, e agora consumo publicações do selo Vertigo como
Hellblazer e coisas como Planetary e os Invisíveis. Mas também sempre fui
chegado numa boa história de terror e de ficção cientifica.
3 – Então, observando suas
motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria
escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos.
Algo dentro do
gênero de ficção cientifica ou terror, mas, quando possível, com fortes
elementos filosóficos e poéticos. Tenho a pretensão de tornar minhas histórias
com abordagens mais filosóficas, existencialistas. Que não sejam um simples
quadrinho de entretenimento, mas que façam questionar a porra do mundo que o
cerca, que exponha sem pudor toda a merda que cerca um individuo a cada dia
mais consciente da sua fragilidade e insignificância, cercado pelo
exibicionismo dos poderes religiosos, políticos e econômicos que controlam e
influenciam sua existência.
4 – Muito bem, gostaria de
saber como é sua forma de escrever roteiros que abordem os mais diversos temas,
além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de
temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito e que nem sempre são temas muito fáceis de
serem abordados e aceito pelo grande público leitor?
Acho que o
roteirista de quadrinhos não deve ter medo dos assuntos. Ele pode até ter um
pouco de medo de não deixar claro sua verdadeira opinião sobre algo polêmico.
Ele deve ter medo da covardia. Mas se for tocar em algum assunto delicado, que
ele saiba o que está falando, que ele leia bastante sobre o assunto, e não
jogue simplesmente a esmo somente para provocar. Mas que não tenha medo de
perder o público, nem tenha medo de explorar algum tema pouco usual,
simplesmente porque ninguém tentou antes.
5 – Você possui alguma
pretensão de desenvolver uma estética própria em sua escrita que tenha como
objetivo experimentar através de seus roteiros?
Sim. Mas ainda não
tenho ideia de quando começar a fazer isso.
6 – Essa pergunta é capciosa, para não dizer
sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo?
Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas,
Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma
liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a
experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público
consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?
Não vamos ser bobos
em querer desenhar de graça a vida inteira, somente pela arte. A não ser que o
cara tenha outra forma de ganho financeiro que não lhe impede de produzir sua
arte. Mas se puder fazer algo que agrade a si mesmo e conseguir vender isso ao
mesmo tempo, sem que se submeter ao encarceramento da criatividade pelo
marcado... melhor ainda.
7 – Muito bem, considerando
que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina, em que temos
a carência de tudo há décadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa
região e especificamente, o quadrinho potiguar?
Acho que nunca
estivemos numa fase tão boa e com tantas facilidades de publicação. Porem ainda
falta, e muito, uma forma mais eficaz de distribuição. Lançar é fácil, difícil
é vender. Não é que não tenha consumidores, mas eles estão espalhados pelo país
e não sabem o que estamos fazendo aqui.
8 – Nessa perspectiva,
gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES lhe despertaram alguma curiosidade e
lhe surpreenderam em algum sentido esse ou em outros anos?
O Evangelho Segundo
o Sangue de Marcos Guerra e Leander Moura é ainda, para mim, a obra mais
importante, mais robusta, e mais inteligente e criativa produzida em Natal. Um
marco na história das histórias de quadrinhos potiguares, tanto por sua quebra
de paradigma em termos de formato como de tema.
9 – Confesso que já fiz uma
lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a
lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram
historias interessantes e se possível, fizesse um pequeno comentário sobre sua
opinião a cada um deles e suas obras?
Marcos Guerra,
Renato Medeiros, e gosto também do estilo narrativo de Jamal (?). Falando
resumidamente de cada um, eu diria que de Guerra eu gosto da poética; de
Renato, a trama e de Jamal, da ação (embora eu só tenha lido uma obra deste).
10 – Não precisa dizer que se
você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para
o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o
futuro, além disso espero muito de você, mas
fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros
e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?
Rs. Como disse
anteriormente, pretendo explorar a ficção e o terror com uma forte carga
poética, filosófica e existencialista. Além de tentar evitar os clichês do
gênero, o lugar comum em que muitos roteiristas de quadrinhos caem. Esta é
minha pretensão. Se eu conseguir fazer algo original, honesto e bom de ler, tá
valendo!