O HORROR SERTANEJO DE MARCIO BENJAMIN
Hoje em dia não precisamos procurar muito entre os
escritores potiguares quem trate do tema terror/horror, pois logo aparece o
escritor Márcio Benjamin como referência. Caboclo arretado e as vezes surtado
nas letras do abissal, que faz do gênero terror, cadafalso para nossos medos
mais medonhos. Consegue até evoca-los como mágica, a partir de um tantinho de
medo de coisas incompreensíveis para o cidadão não sertanejo. Tenho medo disso,
mas sou teimoso e sempre volto a lê-lo. Oh homem condenado de bom em escrever
essas coisas que reviram o estômago e congela os ossos, fico arrepiado só de
pensar.


Aí veio o danado do Livro Fome, que foi outro jeito
torto (modo de dizer pra diferente) de interpretar uma mitologia tão gasta
quando dos zumbi, Márcio deu seu jeito, e que Jeito!! Aliou uma situação social
tão presente a caatinga nordestina quanto a seca e religiosidade tendo como fundamento para suas
histórias duas coisas que não faltam no sertão, fome e sede, penúria e fartura,
seca e sol. Baseou-se na sabedoria dualista sertaneja e na ambiguidade existente
em cada um de nós, viventes. A exemplo de George Romero utiliza o pano de fundo
dos zumbis para contar uma história que denuncia a miséria não só material mas
também humana. Costurando como um alfaiate de curtume linhas de histórias
individuais que se cruzam até chegar a um clima non sense, oh omi arretado esse
Márcio Bejamin!! As histórias são arretadas demais!!

Fico pensando na cozinha, encostado na janela tomando
café e olhando o pé de cajá encharcado pela chuva que não passa. Fico encucado
refletindo: o que o Márcio Benjamin esta planejando agora? Qual assunto será
tema do seu próximo livro, faço a pergunta só por fazer porque sei que o
caboclo não vai me dizer, “o segredo é a alma do negócio, nê Márcio?”. Mas tão
certo quanto o sol nasce toda manhã, é que ele vai tirar da manga alguma carta
magnifica que se transformará em livro! O problema de leitor curioso é a
impaciência, o vicio do susto tão exercitado na leitura da obra bejaminiana que
deixa o condenado mau acostumado. Fazer o quê, tem de esperar. Procurando
preencher essa brecha com alguma coisa parecida, sempre no mesmo nível ou
melhor! Quem dera mas não é assim. Leitor de terror tem mesmo de passear mau, ler e
chafurdar mesmo na leitura do gênero. Claro que muitas vezes vai encontrar
obras boas, muitas outras ruins, e algumas poucas, excepcionais, capazes de arrancar o
ar, dá febre e pesadelos a noite. Essa sim é leitura da boa. Só o gênero do
terror tem como oficio causar o mau estar, porque ele terá como efeito o medo,
seu objetivo.
Nessa pegada Márcio Benjamin é a referência, escritor
notável que abraçou a bagaceira do terror, talvez porque desde pixototinho
gostava de sentir o calafrio na espinha e esbugaiar os oio quando ouvia
história de assombração ou se enfiava embaixo da cama com filme de horror. Nem
tão diferente de quem gosta do gênero como eu, adoro sentir essa sensação e
fico arretado quando assisto filme ruim do gênero e saio rindo ao invés de cara
de assustado, olhando para o lado esperando o coisa ruim aparecer.
É bom ver um potiguar conseguindo inovar em um gênero que
parece engessado em um determinado nicho como o terror/horror, geralmente
ligado a influência de Howard Phillipe Lovecraft e depois pela dupla Sthepen
King e Clive Backer. Na minha humilde opinião, Márcio Benjamin consegue descolar-se
dessa influência, mesmo admirando-a. Aliás se podemos definir o que torna o
terror/horror brasileiro destoante da temática que domina os escritores
estrangeiros do gênero é o isolamento e a distância da influência do próprio
gênero sobre os escritores. Obviamente tivemos escritores geniais que passearam
pelo gênero, mas sempre eram histórias curtas, realizadas através de contos e
só. Romances e algo mais longevo ou seriado eram praticamente inexistentes no
Brasil algumas décadas atrás, não agora. Creio que a produção sempre foi esporádica e misturada com outras
vertentes e gêneros literários o que fez o terror/horror brasileiro ser pouco
explorado nessa área.
É nesse contexto, de germinação ocorrida na década de
oitenta, noventa e chegando a segunda metade da década do século vinte e um que podemos
observar uma abordagem direta do terror/horror como mais ênfase sobre o
assunto. Márcio Benjamin faz parte dessa inovação e, quem sabe, criação do
gênero com sotaque e adornos brasileiros e melhor ainda nordestino. Ele aproveitando-se de sua fauna, flora,
folclore e cenário para contar histórias inéditas para os aficionados por essa
literatura. Nesse quesito a cultura potiguar esta cheia e Márcio Benjamin vem
despontando como referência para o gênero. Termino por aqui minha resenha, mas
sem antes desejar a vocês boas leituras e escolham seus livros e histórias com
carinho. Leiam as obras de Márcio Benjamin e sintam as pernas lhes faltar e evitem lugares escuros depois da leitura. Abração a todos!
Renato de Medeiros Jota