O cenário nacional mais interessante, na minha muito humilde opinião, esta na produção das hqs alternativas, a preocupação dos autores que objetivam narrar uma história, representando nossa cultura de certa forma. Realmente, é louvável e até mesmo inovador essa ideia. Essa perspectiva é destoante do que vem se apresentado ao leitor. Somos essencialmente habituados a consumir publicações que vem de fora, de outros lugares, como EUA, Europa e Japão.
Pouco são os leitores que deixam de consumir algo desse cardápio para prestigiar o que se produz nacionalmente. A invasão de conteúdo externo também é uma invasão cultural, pois sempre “preferimos o que é produzido de fora porque o nacional deixa a desejar” – assim diz um leitor a mim.
Fiquei em casa remoendo essa última frase e me
perguntando – onde raios essa criatura andou nas últimas duas décadas? O
quadrinho independente e alternativo é tão bom é de qualidade excelente quanto
qualquer hq externa, isso é um fato! Obviamente, existe muitas que não o são,
como também existe nas hqs estrangeiras. O fato é que existe na produção
nacional qualidade e diversidade magníficas capazes de rivalizar com o as
novelas gráficas expostas por aí.
Refletindo a partir de constatações como essa, pensei
mais um pouco e conclui que se os quadrinhos nacionais estão em nível de
igualdade com os estrangeiros o que seria necessário para diferenciá-lo da
concorrência? Penso que temos aqui um
motivo para nos aprofundarmos um pouco mais em nossas considerações sobre um
aspecto relevante da enorme produção nacional, a saber, hqs que tenham como
tema o folclore nacional. Não
pretendo listar aqui as várias publicações que abordam esse tema específico,
pois temos blogs que fazem isso melhor do que eu. Mas minha pretensão esta em
considerar o assunto e indicar três obras nacionais que tenham esse tema e
fazer minha breve resenha sobre elas, depois expor algumas considerações a
respeito.

Maldito Sertão é uma adaptação da obra de mesmo nome do
escritor potiguar Márcio Benjamin. São contos que tem como tema o folclores
brasileiro e seus causos. A Novela Gráfica tem como autores Cristal Moura,
Mário Rasec, Leander Moura, Renato de Medeiros Jota e Rodrigo Xavier, todos
eles fazem parte do coletivo Quadro9 responsável por transformar o livro de Márcio
Benjamin em quadrinhos. Nesse sentido, vale salientar uma importante
contribuição do grupo a produção da hq ao mesmo tempo que esta em sintonia com
o autor original, no caso Márcio Benjamin; os contos adaptados para hq são
adaptações não transliterações iguais. Algumas vezes bem mais sombrias. A
parceria com o escritor potiguar deixa a interpretação dos mitos e dos escritos
submissos a imaginação do grupo o que rendeu uma obra impar e totalmente
independente. Vale a pena ler e constata até onde os mitos podem reder
histórias de arrepiar o cabelo da espinha.
A segunda hq que pretendo abordar aqui é a hq Mapiguari
de Deuslir. Essa hq fez parte da primeira leva de quadrinhos publicados sobre o
projeto primeira edição supervisionada por Luiz Elson. Nessa hq Deuslir aborda
a figura folclórica do Mapinguari que segundo o dicionário cascudeano “É um
animal fabuloso semelhando-se ao homem, mas todo cabeludo. Os seus grandes
pelos o tornam invulnerável”. Na história o autor da hq aborda a história de
forma fantasiosa no qual o mito e uma criança possuem uma interação bastante
peculiar. A história transcorre com uma narração fluída e concisa, até porque
penso que foi projetada para ser assim. Não é uma edição luxuosa, a capa é
couche mas o miolo é de papel pisa-bright penso, o que pode incomodar alguns
leitores mais melindrosos, mas recomendo a leitura fortemente.

Todos esses quadrinhos acima descritos pretendem descrever
o ambiente e cultura nordestina. Por isso a fauna, a caatinga, a vida do sertanejo
e seus mitos e...monstros, isso mesmo monstros, são motivos e temas de suas
histórias! A região nordeste com suas peculiaridades são um lugar efervescente
de histórias prontas para ser contadas, sejam elas escritas ou descritas por
hqs. Os autores teem nessa cultura um manancial promissor e bastante fértil para
tomar como base para suas histórias em quadrinhos. Atualmente o tema que aborda
esse cenário nordestino, como pano de fundo de suas histórias, vem sendo feitas
com regularidade.
É maravilhoso perceber como esse cenário desértico,
inóspito e árido que deveria ser motivo de resistência dos autores a evitar o
assunto, fez o contrário, tornou-se uma força motora responsável pela ascensão
do tema entre os autores. Mas nem tudo são flores, pois aqueles que se dignam
explorar esse tema, ainda fazem timidamente e poucos são os que realmente
entendem do tema. Considerando a irregularidade de autores de outros estados e
até mesmo do próprio nordeste que não centraliza suas histórias nesse cenário.
Fica evidente que explorar o folclore nordestino, o cenário e os mitos podem
proporcionar histórias maravilhosas e bastante interessantes. Seja como for,
posteriormente pretendo retornar esse assunto, devido existir muitos exemplos de autores que
abordaram brilhantemente esse tema. Fico por aqui e abração a todos!!!
Renato de Medeiros Jota