segunda-feira, 18 de maio de 2015

ENTREVISTAS COM ROTEIRISTAS DE HQS POTIGUARES

ENTREVISTAS COM ROTEIRISTAS DE HQS SOBRE SUAS CRIAÇÕES, INFLUÊNCIAS E PERSPECTIVAS.


EMENTA: O objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN, procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e suas especificidades.

Mini biografia Wagner de Oliveira


Wagner de Oliveira nasceu em Assu no dia 09 de maio de 1976, filho de pintor, Barrinha. Desenha desde os 6 anos de idade, cresceu lendo os mestres, Mozart Couto, Eugênio Colonesse, Flávio Colin, Emir Ribeiro e outros. Sob convite de Luiz Elson, fez seu primeiro trabalho em quadrinhos, que na verdade, servirá como um storyboard, de um roteiro desenvolvido por ele, de um filme homônimo que esta sendo desenvolvido pela equipe de cinema de Assu, na qual faz parte. Wagner de Oliveira é artista plástico, desenhista, poeta, escultor, chargista e escreve nas horas vagas. Trabalha à 8 anos como oficineiro com crianças e adolescentes na sua cidade natal. Para maiores contatos www. fotolog.terra.com.br/acaverna.
    
ENTREVISTA:

1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?

Antes de mais nada, obrigado pelo convite de participar, de ser um dos alvos dessa série de entrevistas, O que sinceramente me deixou muito honrado, ser inserido no meio de tantos feras. Posso me definir como alguém que curtiu muito ler quadrinhos na sua adolescência, e por possuir uma certa habilidade no desenho, resolveu brincar de fazer quadrinhos. Comecei aos nove anos de idade fazendo gibis usando canetas esferográficas com personagens “próprios”, clones de He-man e demais desenhos animados da época. 

E histórias “próprias”, por exemplo como o personagem guerreiro que vem de um lugarejo para cidade grande, vingar a morte do pai... Clichês de uma época. Depois de um tempo, tinha um acervo de desenhos e ideias mais aperfeiçoados que me rendiam alguns elogios. Cheguei a participar de uma reunião com o Grupeq, seria uma oportunidade de realizar o sonho de se enturmar com profissionais da área que eu almejava em meus sonhos, mas infelizmente nada aconteceu. Até os 18 anos fiz alguns trabalhos como hobbies. Então veio o casamento, trabalho, e eu me afastei de tudo isso. Seguindo meus instintos, ou a falta deles, enveredei por um caminho tão difícil quanto o dos quadrinhos, o das artes plásticas. O luiz Elson, de alguma forma, sabia sobre esses trabalhos que eu fazia e me convidou para colocar uma dessas histórias que eu tinha, no seu projeto Primeira edição. Achei não ter nada á perder e resolvi participar usando uma de minhas histórias. O Boneco foi descoberto pelos caras da K-ótica, e aqui estou eu sendo entrevistado em meio de tanta gente boa.

2 –Ok, então sabendo de suas motivações gostaria de aprofundar mais o conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo dos quadrinhos?

O quadrinho Nacional dos anos 80, foram o primeiro passo, Mozart Couto, Eugênio Colonesse, Rodoufo Zalla, Flavio Colin, Edmundo Rodrigues, foram os primeiros idolos. A revista mais incrível, logo de cara, o primeiro nome que vem à cabeça, Transubstanciação do gênio Lourênço Mutarelli. A possibilidade de unir poesia, beleza, feiura, amor, ódio, personagens fortes e caricatos, e um texto de uma sensibilidade arrepiante, mudou minha visão dos limites do que o quadrinho poderia ultrapassar.

3 – Então, observando suas motivações e influências quais os gêneros ou tipos de historias você desejaria escrever para os futuros leitores de seus quadrinhos?

Tenho a vontade de escrever algo que não seja descartável. Algo que tenha alma, que possa ser lido por você em diferentes fases de sua vida e que te dê diferentes significados para o que você leu. Que signifique algo como Transubstanciação de Mutarelli significou para mim. Em relação ao gênero, gosto de histórias que envolvam várias pitadas de temperos característicos de cada gênero. Lovecraft por exemplo, usa com maestria pitadas de ficção cientifica nos seus contos de terror. Sinto que existe um certo preconceito no erótico. Acho o erotismo um tempero muito bacana a ser usado em minhas histórias, O Boneco era uma história erótica, a força motriz que desencadeava todo o resto da história eram os desejos sexuais e afetivos em uma menina especial desaflorando e modificando o seu cotidiano. Tanto que na primeira versão, no primeiro quadrinho, uma mão liga um rádio velho, e enquanto o ambiente de sua casa é mostrado, toca a música do Luiz: “Mandacaru quando fulôra na seca, é sinal que a chuva chega no sertão, moça bonita quando enjoa da boneca é sinal que o amor já chegou no coração.”

4 – Muito bem, você poderia falar um pouco sobre a forma de escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicados que por acaso você venha ou tenha escrito e que nem sempre são temas muito faceis de serem abordados e aceitos pelo grande público leitor?

Gosto de temas fantásticos e surreais. A história precisa formar vários caminhos e saidas mas não necessariamente conclui-las da forma que todos esperavam.Criar dúvidas Ter vilões que horas teem atitudes heróicas, e heróis que horas teem atitudes duvidosas.Escrevi uma história onde as pessoas acordavam com uma pedra enorme em cima da terra, nela, descrevo unicamente sobre a reação das pessoas, e o que isso mudaria em suas vidas, sem me preocupar o que era essa bendita era, fui assim até 90% do texto de 60 páginas, até hoje as pesoas me perguntam o que realmente ea a “pedra”.

5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma a estética própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus roteiros?

O desenvolvimento de uma técnica é algo que eu acho que vem com a prática. Você pode observar nos trabalhos iniciais de qualquer grande artista, você vai notar suas influencias, com o tempo ele vai tornando o seu trabalho uma mistura homogênea e pessoal, e quando podemos ver a sua maturidade. Eu deixo a coisa ir se formando livremente.

6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer sacana, mas necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e divulgar o seu trabalho apenas, Independente que objetiva escrever para um determinado público, desejando uma liberdade maior de criação ou ser Alternativo (underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas, sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo principal?


Sempre fui o Alternativo, mas no meu ponto de vista não vejo problema em ser o independente. Vai depender muito da situação.

7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há decadas, qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o quadrinho potiguar?

Não especificamente o dos quadrinhos, mas o das artes em geral, considero quadrinho uma arte, existe todo um universo de dificuldades, da mesa de desenho até ao consumidor final. Uma realidade desmotivadora que não incentiva o surgimento de sangue novo. Dava aulas de desenho em projetos sociais, e em uma das aulas levei um monte de revistas do Projeto Primeira Edição que o Luiz Elson me conseguiu, para as crianças lerem, seria legal que as prefeituras comprassem essas revistas para incentivar a leitura das crianças e aos desenhistas á produzir. Nas bancas de revistas poderiam ter expositores especiais para revistas produzidas aqui, espositores patrocinados por algum tipo de lei ou edital, não sei. Os profissionais estão ai, precisam só de visibilidade, foco, e de um jeito atual de divulgar o seu trabalho. Lógico, posso até está falando besteira, mas é o meu ponto de vista.

8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum sentidonesse ou em outros anos?

As ultimas revistas que tive a oportunidade de ler foram as publicações do projeto “Primeira Edição”, Nesses gostei do trabalho de Beto Potyguara, Luiz Elson e Marcos Guerra.

9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você considera nos últimos tempos que produziram historias interessantes e se possivel, fizesse um pequeno comentário sobre sua opinião a cada um deles e suas obras?

Gosto muito do Luis Elson com seu trabalho sobre o cangaço (Labareda). Gilvan lira é um artista que sempre tenho a oportunidade de observar o seu trabalho, e notar sua evolução ao longo dos anos. Marcos Guerra, como desenhista é um cara versatil gostei de “O Homem da Ilha de Lixo” de sua autoria fez me lembrar das coisas boas dos anos oitenta.

10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas Potiguares e promessa de grandes historias para o futuro, além disso espero muito de você, mas fora essa pressão psicológica qual suas perspectivas de roteiros futuros e qual os outros gêneros de historias gostaria de escrever?



Obrigado,Pretendo fazer uma versãocompleta de “O Boneco” em quadrinhos, com desenhos mais bem trabalhados, nela serão mostradas as três partesda história juntas.Pretendo também concluir o meu livro A Pedra, e quem sabe, lança-lo. Quanto ao gênero,qualquer um, Sinceramente tenho minhas preferencias mas acho que dá pra desenrolar nos outros, vai depender da inspiração e um pouco de pesquisa para poder me adaptar a cada um.

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