EMENTA: O
objetivo dessas entrevistas é ressaltar o modo próprio de ser da profissão e
trabalho do roteirista/argumentista nas obras de Historias em quadrinhos do RN,
procurando mostrar como e o por quê o roteirista faz suas escolhas em
detrimento do desenvolvimento de uma historia ao invés de outras. Buscando com
isso, responder para o grande público leitor de hqs o que os motiva ou faz
optar por contar historias do que ser um mero reprodutor delas. Além de
compreender suas reflexões, anseios e opiniões sobre os quadrinhos potiguares e
suas especificidades.
Mini
biografia.
Dickson de Oliveira Tavares Nascido em Natal/RN, Desenhista por vocação, Designer por profissão e Jornalista por formação. Desde os cinco anos de idade dividia o fascínio pelos desenhos animados como He-man, Thundercats, Super Amigos com as histórias em quadrinhos do Batman, Superman e Liga da Justiça. Registrava com desenhos tudo a sua volta, mais tarde aos 13 anos focou no aprendizado dos desenhos de super-heróis. Fez cursos de Histórias em Quadrinhos com os Mestres Evaldo Oliveira e Watson Portela. Lançou sua primeira revista em parceria com o amigo e ilustrador Napoleão Nunes, apresentando ilustrações e histórias curtas em 2011 - a revista Núcleo Base Quadrinhos pelo projeto Primeira Edição, pela Fundação José Augusto. Atualmente é mestrando em Estudos da Mídia (2015), especialista em Propaganda e Marketing na Gestão de Marcas pela UFRN (2014), bacharel em Jornalismo no Curso de Comunicação Social pela UFRN (2012) e licenciado em Educação Artística com Habilitação em Desenho pela UFRN (2003) . Co-autor do jornal laboratório O Periódico do Curso de Jornalismo. Atuou como ilustrador, cartunista, webdesigner, arte-finalista no mercado publicitário natalense entre os anos de 1999 a 2008. Exerceu o cargo de Arte-educador na condição de servidor público, integrando a equipe multidisciplinar de educadores sociais da Secretaria Municipal do Trabalho e Assistência Social - SEMTAS, na cidade do Natal/RN, de 2007 a 2010. Na condição de servidor público cedido, atuou como designer na Seção de Editoração e Publicações do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte, de 2009 a 2010. Seu vínculo atual, desde 2010, é de servidor público, do quadro efetivo, no cargo de Programador Visual na Secretaria de Educação a Distância SEDIS, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
ENTREVISTA:
1 – Bem agradeço a disponibilidade de tempo, do ilustre roteirista para essa entrevista
e já começo perguntando o que o levou a fazer roteiros sobre quadrinhos?
Posso dizer que foi o desejo natural de contar minhas próprias histórias, de maneira
livre, para que eu mesmo pudesse
desenhá‐las. Creio que o jeito de
fazer dos
quadrinhistas autoriais tenha me influenciado.
2 – Ok, então sabendo de
suas motivações, gostaria de aprofundar
mais o
conhecimento sobre as hqs que te influenciaram, despertando você para esse universo
dos quadrinhos?
Minha formação basicamente
vem da televisão. Assistia e assisto muito TV, e sempre gostei de analisar a
forma como as histórias se desenvolvem, nos diferentes modos narrativos, como
telenovelas, seriados, filmes e animações. O contato com a narrativa gráfica
das HQ´s se deu em minha adolescência no contato com as revistas dos
personagens da DC e da Marcel Comics. O universo do Batman e suas conexões com
super heróis do Universo DC me influenciaram como leitor. Posso destacar a hq
Reino do Amanhã como a mais marcante para mim; sem menosprezar os clássicos
como o Retorno do Cavaleiro das Trevas e Watchmen.
3 – Então, observando suas motivações e influências quais os
gêneros ou tipos de histórias você desejaria escrever para os futuros leitores
de seus quadrinhos.
Contrariando a lógica de
minha preferência pelo universo do Batman/Liga da Justiça como leitor; as
histórias que gosto de escrever encontram-se dentro do gênero Aventura
Fantástica. Gosto da atmosfera que mistura tecnologia com o medieval. Conan,
Flash Gordon, He-man e os Mestres do Universo, Star Wars, Thundercats, Senhor
dos Anéis e atualmente a série de televisão Game of Thrones são o que gosto de
identificar minha linha criativa.
4 – Muito, bem você poderia falar um pouco sobre a forma de
escrever roteiros e suas preferências, além de se possível for, me responder
qual a sua posição quanto a abordagem de temas delicaso que por acaso você
venha ou tenha escrito e que nem sempre são temas muito fáceis de serem
abordados e aceitos pelo grande público leitor?
Não acredito em tema
delicado a ser trabalhado, mas em falta de habilidade para trabalhar com um
tema e contar uma boa história. Contar histórias é algo nato do ser humano.
Desde os primórdios o saber e o conhecimento forma transmitidos de indivíduo
para seu (s) semelhante (s) por meio de narrativas orais, ilustradas e
escritas.
O cinema, o jornal, o
Rádio, a TV e as HQ´s são meios; com linguagens específicas. O conhecimento da
linguagem e seus sinais e códigos permitem uma maior fluidez na adaptação e
contação de uma história.
O mercado editorial atual é
segmentado, voc~e tem a liberdade de alcançar um público específico, sem o
compromisso de agradar a todos. Há muitas coisas sendo produzidas, liberdade de
produção e escolha. Se existe uma dificuldade hoje, é a de se destacar diante
de tanta oferta.
5 – Você possui alguma pretensão de desenvolver uma estética
própria em sua escrita que tenha como objetivo experimentar através de seus
roteiros?
Não pensei sobre isso. Acredito que um pouco do jornalismo
acaba influenciando na escrita do roteiro.
6 – Essa pergunta é cabciosa, para não dizer sacana, mas
necessito fazê-la, você se considera um roteirista de que tipo? Comercial que escreve para vender e
divulgar o seu trabalho apenas, Independent
que objetica escrever para um determinado público, desejando uma liberdade
maior de criação ou ser Alternativo
(Underground) que procura a experimentação e a liberdade de expressão, apenas,
sendo que o público consumidor seria apenas uma consequência e não o objetivo
principal?
Por mais que ame a liberdade, tenho a convicção de que as
histórias em quadrinhos são comerciais. E devem ser encaradas com
profissionalismo. O exemplo de sucesso e modelo a ser seguido são os quadrinhos
norte-americanos, sem dúvida. Os quadrinistas brasileiros deveriam pensar as
narrativas gráficas além da arte e mais como um canal potencial de massificação
de nossa cultura. Sem ser nacionalista,
mas encarando que nós sabemos muito pouco sobre raízes, e me incluo no bolo, e
deveríamos usar as HQ´s como canal de divulgação e identidade de nosso país. Já
pensou em contar a história do Brasil Colônia com um quê de Game of Thrones?
Somos
muito talentosos e criativos e podemos contar nossa história com o melhor da
narrativa e linguagem gráfica que abosorvemos e tanto admiramos em nossos
ídolos gringos. Precisamos falar nossas verdades. Não importa se será
Comercial, Independente ou Alternativo.
7 – Muito bem, considerando que como quadrinista inserido em
uma região do país, a nordestina em que temos a carência de tudo há décadas,
qual a perspectiva atual do mercado de Hqs nessa região e especificamente, o
quadrinho potiguar?
Primeiramente, não existe Mercado Potiguar de Quadrinhos.
Existe público potiguar leitor de quadrinhos; histórias em quadrinhos
contemplam também as produzidas por autores locais. A carência em nossa região
é em educação, o canal de contato com a cultura em geral. Se a criança não
recebe em sua formação o estímulo à leitura, certamente apresentará deficiência
no interesse por obter informação/conhecimento/entretenimento através da
leitura.
As
histórias em quadrinhos potiguares como qualquer outra HQ produzida
mundialmente, estão num mercado que requer amadurecimento em se reconhecer como
um produto cultural. A produção das
revistas em quadrinhos deve ser planejada e executada como um negócio.
Temáticas livres, sem obrigatoriedade de ser patriota ou nacionalista, mas com
qualidade técnica e artística que se destaquem das demais publicações do
gênero. Só assim, com uma maior qualidade, maior produção e maior alcance de
leitores/consumidores, é que teremos volume suficiente para afirmar a
existência de um Mercado Potiguar de Quadrinhos.
8 – Nessa perspectiva, gostaria de saber quais as hqs
POTIGUARES que lhe despertaram alguma curiosidade e lhe surpreenderam em algum
sentido nesse ou em outros anos?
Na verdade, conheço muito
mais os autores que suas HQs. É uma característica do quadrinho autoral
nacional. Posso citar quadrinistas que admiro, como: Márcio Coelho, Emanoel
Amaral, Luiz Elso, Wanderline Freitas, Wendell Cavalcanti, Gabriel Andrade,
entre outros mestres potiguares.
9 – Confesso que já fiz uma lista de roteiristas potiguares
que gosto, mas serei sacana e restringirei a lista a três roteiristas que você
considera nos últimos tempos que produziram histórias interessantes e se
possível, fizesse um pequeno comentário sobre a opinião de cada um deles e suas
obras?
Posso destacar a Milena Azevedo, o Wagner Michael e Jamal
Singh. Criatividade, qualidade da narrativa e talento em contar boas histórias.
10 – Não precisa dizer que se você esta sendo entrevistado
por mim é por que já o considero uma promessa para o panteão dos roteiristas
Potiguares e promessa de grandes histórias para o futuro, além disso espero
muito de você, mas fora essa pressão psicológica, qual suas perspectivas de
roteiros futuros e qual os outros gêneros de histórias gostaria de escrever?