Há várias formas de começar um texto. Começarei este pelos números que envolveram os últimos acontecimentos até o fenômeno que lotou as salas de cinema cult nesse mês, o filme "Ninfomaníaca". Farei esse texto dividido em duas partes. A primeira, esta que você lê agora, prima pela experiencia do filme em si, de vê-lo pela metade... sem ironias. Mas também diante da repercussão que ele teve nas mídias e as reações que acompanhei pós sessão de cinema. Essa primeira parte, será como uma reflexão quantitativa, que acaba por levantar hipóteses que justifiquem a aparente tediosa parte 1 do filme Ninfomaníaca até (quem sabe) chegarmos ao "ponto G", um orgasmo, ou não.
De 2000 a 2013 o diretor dinamarquês Lars Von Trier dirigiu pelo menos 6 longa metragens de ficção tendo mulheres e seus transtornos como protagonistas. Desses, 3 parecem ter uma ligação "intuitiva", pelo menos. A suposta trilogia de Trier começa com Anticristo (2009), dividido em 4 capítulos (luto, dor, desespero e os três mendigos), mais um prólogo e um epílogo. Charlotte Gainsbourg encorpora a angustiada mãe em luto e seus estágios à caminho do caos. Em 2011, o filme Melancolia se apresentou na forma de um drama apocalíptico composto de prólogo e 2 capítulos (Justine e Claire ou respectivamente, melancolia e luto), trazendo Kirsten Dunst na pele da noiva trágica, Justine. E mais uma vez Charlotte Gainsbourg, dessa vez no papel de sua irmã. Finalmente 2013 e o tão esperado Ninfomaníaca, com suas mais de 4 horas, foi dividido em 2 partes principais, sendo a primeira reconfigurada em 8 capítulos, que contam a trajetória (infancia e juventude) por uma ninfomaníaca protagonizada, já adulta, por ninguém menos que a própria, Charlotte Gainsbourg. Antes disso, Trier ficaria famoso com Dogville (2003) e Manderlay (2005) que compartilhavam da mesma estética cenográfica, única na história do cinema. Ainda antes um pouco ganhou reconhecimento pelo drama/musical estrelado pela cantora Bjork (2000). Todos esses, seguindo o padrão de capítulos e tendo mulheres em papel principal.
O cinema de Lars von Trier é arquitetado com muita erudição e domínio pleno da arte cinematográfica. As referências filosóficas, literárias e culturais de seus filmes não nos deixam mentir. Imbuído de deboche, sarcasmo, um certo niilismo moral e uma poética trágica, o cineasta busca algum sentido pra essa coisa toda, que é estar vivo. Deixando o pudor de lado para expor a animalidade humana na sua forma mais didática. Tendo na fragilidade da figura feminina o portal para o abismo que nos rodeia.
De 2000 a 2013 o diretor dinamarquês Lars Von Trier dirigiu pelo menos 6 longa metragens de ficção tendo mulheres e seus transtornos como protagonistas. Desses, 3 parecem ter uma ligação "intuitiva", pelo menos. A suposta trilogia de Trier começa com Anticristo (2009), dividido em 4 capítulos (luto, dor, desespero e os três mendigos), mais um prólogo e um epílogo. Charlotte Gainsbourg encorpora a angustiada mãe em luto e seus estágios à caminho do caos. Em 2011, o filme Melancolia se apresentou na forma de um drama apocalíptico composto de prólogo e 2 capítulos (Justine e Claire ou respectivamente, melancolia e luto), trazendo Kirsten Dunst na pele da noiva trágica, Justine. E mais uma vez Charlotte Gainsbourg, dessa vez no papel de sua irmã. Finalmente 2013 e o tão esperado Ninfomaníaca, com suas mais de 4 horas, foi dividido em 2 partes principais, sendo a primeira reconfigurada em 8 capítulos, que contam a trajetória (infancia e juventude) por uma ninfomaníaca protagonizada, já adulta, por ninguém menos que a própria, Charlotte Gainsbourg. Antes disso, Trier ficaria famoso com Dogville (2003) e Manderlay (2005) que compartilhavam da mesma estética cenográfica, única na história do cinema. Ainda antes um pouco ganhou reconhecimento pelo drama/musical estrelado pela cantora Bjork (2000). Todos esses, seguindo o padrão de capítulos e tendo mulheres em papel principal.
O cinema de Lars von Trier é arquitetado com muita erudição e domínio pleno da arte cinematográfica. As referências filosóficas, literárias e culturais de seus filmes não nos deixam mentir. Imbuído de deboche, sarcasmo, um certo niilismo moral e uma poética trágica, o cineasta busca algum sentido pra essa coisa toda, que é estar vivo. Deixando o pudor de lado para expor a animalidade humana na sua forma mais didática. Tendo na fragilidade da figura feminina o portal para o abismo que nos rodeia.
Onde estou querendo chegar com essa ladainha "retrospectiva" toda? Talvez, apenas suscitar uma questão aos pouco avisados ou totalmente desavisados. O que é Ninfomaníaca no jogo do bicho e o que justifica tanto alarde? Um filme erótico? Pornô?
O fato é que esse filme faz parte de um trabalho grande, que vem evoluindo com a linguagem do cinema e a mente doentia do polêmico/ gênio cineasta Lars Von Trier.
Reconheço que cada filme é uma obra em si, e não é necessário fazer um curso de cinema dinamarquês para que exista fruição diante do filme. Por isso vocês podem desconsiderar tudo o que eu digo. Como diria Benjamin, "convencer é infecundo". Mas, confesso que uma obra "pela metade", como é o caso de Ninfomaníaca - parte 1, e sua forma bela e inteligente de abordar sexo, dor e a vida como um todo, merece ainda mais uma justificativa para existir, em nós. E seu passado, realmente o condena.
Em seus anos de produção, trouxe uma divulgação escandalosa e o óbvio esteriótipo de uma mero filme de "putaria". E é ai que alguns se enganam e se decepcionam ou se sensibilizam. Alguns dizem que para ver Ninfomaníaca é necessário se despir de moral e preconceitos. Eu digo o contrário. Se não pudermos vestir todas as carapuças moralistas durante o filme, não terá valido de nada a experiência. O filme é sensação ou a falta dela, do começo ao não fim. Não defenderei aqui o filme como bom ou ruim, apenas uma experiencia.
Depois de ver Ninfomaníaca, vem sempre aquele mutismo. Um quase aceno de concordância com a cabeça. E a busca pela palavra que descreve esse cinema. E eis que lendo de Fernando Pessoa vem a palavra: Desassossego.
Em seus anos de produção, trouxe uma divulgação escandalosa e o óbvio esteriótipo de uma mero filme de "putaria". E é ai que alguns se enganam e se decepcionam ou se sensibilizam. Alguns dizem que para ver Ninfomaníaca é necessário se despir de moral e preconceitos. Eu digo o contrário. Se não pudermos vestir todas as carapuças moralistas durante o filme, não terá valido de nada a experiência. O filme é sensação ou a falta dela, do começo ao não fim. Não defenderei aqui o filme como bom ou ruim, apenas uma experiencia.
Depois de ver Ninfomaníaca, vem sempre aquele mutismo. Um quase aceno de concordância com a cabeça. E a busca pela palavra que descreve esse cinema. E eis que lendo de Fernando Pessoa vem a palavra: Desassossego.
"Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objetividade ao prazer subjetivo da leitura." (Livro do Desassossego - Fernando Pessoa)