domingo, 27 de outubro de 2013

O Não Lugar ou A vila das árvores (título provisório) - Parte 1

Deveria me apresentar e justificar antes de tudo os motivos que me puseram o desejo de tentar narrar os dias que se sucederam durante minha passagem por Não Lugar, que hoje chamo carinhosamente da Vila das árvores. Mas permita-me adentrar na história descrevendo os personagens desse lugar que habita atmosferas onde a palavra não chegou com prioridade discursiva. Por esse motivo, tive eu mesma que nomear todas as coisas ainda desconhecidas por minha curta e reles experiência, e dar sentidos possíveis aos desacontecimentos. Estudando através da metodologia de observação os processos desses seres tão abastados (para não dizer autossuficientes) que são as arvores. Acredito que sou uma das poucas almas humanas que cruzou essa cidade, por isso, me sinto no dever atrevido de usar do meu arcaico instrumento de linguagem para trazer para vocês; a dimensão do silêncio e de uma existência tão complexa e misteriosa quanto as extra-terrestres. 
Todas elas serão devidamente nomeadas e um A. no início do nome abreviará a palavra arvore, condição dos seres que descrevo. Será necessário fazer referência e comparações com algumas coisas, para que consigam visualizar mentalmente as descrições, peço desculpas se isso parecer cansativo, mas tenho objetivo de ser o mais fiel possível nesse trabalho. 

O primeiro personagem que pretendo apresentá-los batizei de Arvore Toni Ramos, também conhecida hoje por Arvore Que Chora. O apelido parece ficar óbvio aos que viveram na era das telenovelas nas quais o galã peludo enchia de suspiros os corações das senhoras donas de casa. Observei pela primeira vez com atenção, A. Toni Ramos, em derradeiros dias de outono, era além de tudo uma habitante comum, de grande porte na cidade, mas que tinha a aparência curiosa por ser coberta por folhas e ramos em seu caule, lhe dando um aspecto "peludo" e justificando o batismo. Ainda possuía folhas pequenas nas extremidades dos galhos, comum a maioria. Mas, o curioso é que acompanhei ela durante as mudanças de estação até a primavera, onde o calor por lá era insuportável. E a nossa personagem além de exibir sua aparência peluda, agora também desenvolveu também o estranho hábito de chorar... Explico. 
Passeava pela rua quando me deparei com poças d'água no chão, e pingos me molhando os ombros e braços. O que era estranho, já que a dias que não chovia e o céu estava tão azul quanto nunca. Mesmo assim, olhei para cima e não entendia. Continuei o caminho, e sempre que avistava uma Toni Ramos, havia poças embaixo dela, a sensação de chuva. Enfim, parei e observei atentamente, A. Toni Ramos não parava de verter uma substância liquida, aparentemente inodora dos seus galhos mais altos. Ela suava, constatei, devido o calor quase insuportável daquela primavera. Fiquei emocionada, mas minhas lágrimas evaporaram no calor.
Outro personagem curioso, cuja a constituição é de porte médio e folhas compridas e espaçadas, cultivava uma característica interessante, seu fruto, que inicialmente aparecia com uma forma cilíndrica como uma banana e verde como um abacate, desabrochava em uma espécie de chumaço flocado com aparência de algodão bruto. Visto que já conhecia um "pé" de algodão, sabia que não se tratava disso. A Arvore de Pompom, como a nomeei, ficava repleta de tufos fofinhos nas extremidades dos seus galhos, e com vento eles se desmanchavam, fazendo do chão ao redor um fofo tapete que lembrava pelagem de ovelha. 


Continua... 

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