Já faz mais de duas décadas que venho acompanhando o mercado interno de quadrinhos em Natal e no Brasil. Principalmente, aqueles ditos alternativos. Venho com o decorrer do tempo constatando uma triste realidade, a saber, autores de quadrinhos alternativo nunca tem ou terão valor para aqueles que lê quadrinhos seja em Natal ou no Brasil, haja vista a própria valorização que damos pelos chamados desenhistas e roteiristas estrangeiros em detrimento daqueles que a duras penas produzem hqs muito boas em território nacional. Não adianta discutirmos aqui a falta de distribuição, de uma forma que represente adequadamente o nosso produto, da falta de incentivo financeiro e editorial, do amadorismo de muitos autores e etc., isso todos nós sabemos! Contudo, a dificuldade maior no meu modo de ver esta na falta de reconhecimento até mesmo daqueles que trabalham e convivem conosco. Basta ver isso nos eventos e na quantidade de pessoas que comparecem as palestras desses autores que é mínima para não dizer irrisória, uma pena, realmente. Além disso, sabemos que não há como sobreviver somente de quadrinho em Natal assim como no Brasil e isso é um fato. O que dizer, então, quando se compete com as super estrelas que residem no país, mas trabalham para fora. Principalmente, com os super heróis americanos e agora o manga! Mesmo possuindo ótimos trabalhos, em que o material desses autores alternativos não deixa nada a desejar para qualquer autor que trabalhe para fora. Pois bem, entre nós do meio alternativo, há o adágio de que se queres ser reconhecido e ter o tratamento igual aos autores que trabalham para fora tens de produzir para fora também, pois só assim terás salas cheias e reconhecimento, do contrário, continuaríamos a nos rastejar pelas sobras do anonimato e continuar vendendo nas feiras e para parentes e colegas nossos desqualificados quadrinhos underground.


Uma outra coisa que observo nos eventos que participei é que não podemos por dois autores de HQs que trabalhem em mercados diferentes, a saber, um ilustrador que trabalha para fora e um ilustrador que trabalha internamente para dá autográfos, por que, com certeza, este último esta fadado a ficar pacientemente esperando algum incauto que não saiba que ali, do outro lado da feira, esta fulano ou beltrano que trabalha para a editora fulano de tal, do exterior. Vi algumas vezes isso acontecer! Ainda temos as entrevistas que só procuram os quadrinistas ditos "alternativos" quando não tem ninguém com nome mais conhecido do que ele ou que nem precise ser mais conhecido, mas que baste trabalhar para uma editora qualquer de fora, que nem precisa ser das médias para logo ganhar relevância sobre um autor local.

Talvez a saída que encontro é começar a produzir pequenos eventos que tenham a temática apenas de quadrinhos "alternativo" ou "underground", pois poderíamos mostrar também que há alternativas possíveis de leitura que não somente o quadrinho convencional que encontramos no mercado nacional. Penso, que devemos incentivar a leitura e a produção tanto local quanto nacional para produzir hqs que tenham temas ou uma visão sobre assuntos tipicamente nacionais. Entendo, que esse discurso ainda esta no âmbito da utopia mas já é hora de encararmos essa possibilidade de frente e deixarmos de apenas achar o olhar estrangeiro mais atrativo e procurarmos, mesmo sabendo que é mais difícil e que muitas vezes em vez de ganharmos dinheiro pagamos pela produção de nossa própria hq isso não desmerece em nada nosso trabalho, pelo contrário, nos orgulha fazê-lo e gostaria muito que esse sentimento fosse compartilhado por todos os brasileiros. Também sabemos que muitos de nós temos não trabalhamos diretamente de HQs, ou melhor, vivemos de quadrinhos, mas enquanto os artistas estrangeiros estão submissos a temáticas restritas a cultura daquele país. Imagina, temos muitos ilustradores que desenham os prédios e cenários dos EUA do que mesmo não fez em sua vida uma linha na mesma proporção de lugares e coisas de seu pais. Nisso o autor alternativo tem muito a trabalhar e quem sabe, em um futuro próximo, possa realmente encontrar um mercado mais aberto e favorável a seu olhar. Enquanto isso continuamos a trabalhar ocultamente e incognitamente nos porões dos quadrinhos, enquanto essa consciência não seja tomada.
Saudações mil desse autor
R.M.J