Olá, desculpem a ausência esses dias, foi por falta de inspiração. Voltei com crítica nova de um filme não tão novo assim. Mas que me fez ter vontade de escrever. Espero ter mais filmes que me motivem a escrever, as salas de cinema não andam motivando ninguém ultimamente. Enfim, espero que gostem, e desculpem a falta de jeito também, estava ficando enferrujada...
Xêru e boa leitura!
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É um risco falar qualquer coisa
sobre a ultima obra de Stanley Kubrick, o quase filme póstumo, De olhos bem fechados (1999).
Ao mesmo tempo, não dá pra deixar de pensar que foi feito por ele, pois Kubrick aparece em cada sombra e em cada iluminação, mesmo que muitos digam o contrário. De fato, trata-se de um Kubrick despretensioso, mesmo no fim da vida, ainda extremamente caprichoso.
A primeira cena em que Nicole Kidman, de costas, deixa cair seu vestido, expondo seu corpo nu, e perfeito, me faz lembrar das palavras de Agabem em seu artigo "O niilismo e a beleza dos corpos" onde ele defende: "Que a nudez de um corpo bonito pode ocultar ou tornar invisível o rosto..." Mais a frente citando Cármides de Platão, completa: "se ele aceitar despir-se, crerás que ele nem sequer tem um rosto".
E é com esse clima que nos deparamos em grande parte do filme. Rostos famosos e incrivelmente belos como os de Tom Cruise e Nicole Kidman quase que se apagam diante da nudez de inúmeros corpos. Sem contar que o enredo vai muito além de corpos, mesmo tendo neles a ferramente perfeita para direcionar o contexto da história, o suspense psicológico é sem dúvida o fio condutor brilhantemente usado pelo diretor.
Mas tentarei analisar a obra pela obra, sem que o peso do autor sobre o filme venha ganhar mais proporções, mas repito, isso é uma tarefa arriscada.
O filme que a primeira vista me parecia apenas um romance, se revela estranhamente
assustador. Algo que começa com os problemas cotidianos de um casal evidentemente em crise,
passa a se desenrolar como uma trama perigosa e te pega desprevenido, ao ponto de te levar a pensar: "o que me levou a ver esse filme mesmo"? ou até "que filme é esse mesmo"?
Cenas, muitas vezes sem sentido,
sem proposito, confusão, diálogos mortos e muita paranoia. As cenas sem sentido
provocam a sensação de uma grande conspiração e isso torna a trama envolvente,
histórias paralelas, aparentemente sem elo com o eixo do roteiro, tornam tudo um
pouco confuso, mas de forma alguma o filme fica menos atraente. Talvez essa
coisa meio despropositada, seja o que torna essa obra tão interessante. Essa atmosfera estranha faz "De olhos bem fechados" um filme marcante.
A estética dos ambientes com suas
insistentes luzes de natal é intrigante e perturbadora. De uma plasticidade apática que trás um clima constrangedor de “festa”, encobrindo as relações
doentias que as aparências teimam em disfarçar. A trilha sonora é grandiosa e seu ar de ópera dá um ritmo dramático e necessário para as sequencias.
O filme se revela um drama
psicológico dos melhores, e ainda uma crítica à sociedade das mascaras, e a
toda a falsa moral sob o desejo contido. Uma crítica à hipocrisia das convenções
sociais e uma bela homenagem ao corpo nu. Afinal, vemos um desfile de corpos
perfeitos, onde os rostos não podem ser cumplices, para isso trazem uma mascara
que encobre a face rosada pela vergonha da nudez. Voltando novamente a Agabem, parece que só a cumplicidade do rosto dá ao corpo nu a ausência de segredo. E esse jogo é muito bem articulado durante todo o filme. Os corpos que aparecem nus tendo o rosto como cúmplice estão sempre desfalecidos, e isso é no mínimo intrigante.
Não posso falar mais... Nada é explicito nesse filme, exceto algumas cenas de sexo, então não esperem grandes conclusões (muitas vezes você terá que criar-las) e nem finais hollywoodianos. Apenas o sentimento que mesmo após grandes experiências de nossas vidas, tudo tende a seguir o curso...
Eu falo tudo e não quero dizer nada, apenas que é surpreendente. Pode não ser uma obra prima, como fala a maioria, mas sem dúvida é um filme que não devemos deixar de ver. É marcante e perturbador, visivelmente um filme de autor.