quarta-feira, 25 de julho de 2012

Desbiografando o poeta - Só 10% é mentira



"O prego que farfalha"
Entre versos, descobertas, noventa por cento de invenção e só dez por cento de mentira nos encantamos com a cine-desbiografia do poeta sulmatogrossense, Manoel de Barros. Misturando entrevistas exclusivas do escritor, de artistas, admiradores e claro algumas histórias inventadas, o longa nos transporta para o universo fantástico do "poeta da palavra". 

Manoel fala sobre seu processo criativo, suas três infâncias e sobre a virtude de ser inútil, da qual tanto se orgulha. Tudo isso, após comprar o ócio e tornar-se “Vagabundo profissional”. 

Nos dão ainda o ar de sua graça algumas figuras como Palmiro: "O consultor linguístico", Paulo: "O inventor de coisas inúteis" e Salim: "O guia de idioleto manuelês". Sem contar na memória sempre estimada de Bernardo, alterego do escritor. 

Com simplicidade e sutileza o filme encarna o “idioleto manuelês”, e é a prova que “imagens são palavras que nos faltaram”, como já dizia o poeta. Rica em detalhes, hora minimalista, a fotografia retrata cores e texturas comuns ao nosso cotidiano, mas que vistas com olhos atentos, também se transformam em poesia. O que não é imagem, no filme, é “desenho verbal” e vice-versa. Fácil se contagiar e se maravilhar com o “fenômeno da linguagem” que toma conta da tela. Curioso ver como o diretor imerge nessa poética e faz do seu filme não só um documento precioso, mas também um pedacinho de invenção. Dentro desse universo de "Só dez por cento é mentira", tudo que não se inventa é falso, e nessa brincadeira nos perdemos no “deslimite da palavra” pra nos encontrar, no fim. 

O poeta é o ser que inventa, que usa a imaginação, e é a imaginação , segundo Manoel, que “transvê o mundo”. Só através da percepção sensível podemos alcançar a poesia e deixar que ela nos alcance. A razão segundo o poeta pode servir para muita coisa, mas não pra ler poesia. A razão suja a natureza da palavra. Na poesia a palavra toma vários sentidos e significados, dá novos comportamentos, “coisifica o humano, humaniza os vegetais e vegetaliza os animais”. Objetos e paisagens tem liberdade nas palavras do poeta e ficam muito mais interessantes quando fazemos o exercício de imaginar.

Manoel de Barros desenha o mundo com lápis e imaginação, nos mostra um jeito novo de ver o mundo, olhar com olhos atentos, sem a ambição de ver algo, apenas focar no desfoque. Imaginar! Inventar! Transver!

O documentário é um presente aos amantes da literatura, da poesia e da liberdade. Enxergar o mundo com os olhos de uma criança é a liberdade que nos falta, e a poesia do Ser inútil, Manoel de Barros, nos proporciona a sensação de ser livre.


Só dez por cento é Mentira - 2008


Direção: Pedro Cezar
Roteiro: Pedro Cezar

Direção de Fotografia: Stefan Hess'
Gênero: Documentário
Origem: Brasil
Duração: 76 minutos
Site oficial: http://www.sodez.com.br/
trailer:




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