"O prego que farfalha" |
Entre versos, descobertas, noventa por
cento de invenção e só dez por cento de mentira nos encantamos com a
cine-desbiografia do poeta sulmatogrossense, Manoel de Barros.
Misturando entrevistas exclusivas do escritor, de artistas, admiradores e
claro algumas histórias inventadas, o longa nos transporta para o universo
fantástico do "poeta da palavra".
Manoel fala sobre seu processo criativo,
suas três infâncias e sobre a virtude de ser inútil, da qual
tanto se orgulha. Tudo isso, após comprar o ócio e tornar-se “Vagabundo profissional”.
Nos dão ainda o ar de sua graça algumas figuras como Palmiro: "O consultor linguístico", Paulo: "O inventor de coisas inúteis" e Salim: "O guia de idioleto manuelês". Sem contar na memória sempre estimada de Bernardo, alterego do escritor.
Com simplicidade e
sutileza o filme encarna o “idioleto manuelês”, e é a prova que “imagens são
palavras que nos faltaram”, como já dizia o poeta. Rica em detalhes, hora minimalista, a
fotografia retrata cores e texturas comuns ao nosso cotidiano, mas que vistas
com olhos atentos, também se transformam em poesia. O que não é imagem, no
filme, é “desenho verbal” e vice-versa. Fácil se contagiar e se maravilhar com
o “fenômeno da linguagem” que toma conta da tela. Curioso ver como o diretor
imerge nessa poética e faz do seu filme não só um documento precioso, mas
também um pedacinho de invenção. Dentro desse universo de "Só dez por cento é mentira", tudo que não se inventa é falso, e nessa brincadeira nos perdemos no “deslimite da palavra” pra nos
encontrar, no fim.
O
poeta é o ser que inventa, que usa a imaginação, e é
a imaginação , segundo Manoel, que “transvê o mundo”. Só através da percepção sensível podemos
alcançar a poesia e deixar que ela nos alcance. A razão segundo o poeta pode
servir para muita coisa, mas não pra ler poesia. A razão suja a natureza da
palavra. Na poesia a palavra toma vários sentidos e significados, dá novos
comportamentos, “coisifica o humano, humaniza os vegetais e vegetaliza os
animais”. Objetos e paisagens tem liberdade nas palavras do poeta e ficam muito
mais interessantes quando fazemos o exercício de imaginar.
Manoel
de Barros desenha o mundo com lápis e imaginação, nos mostra um jeito
novo de ver o mundo, olhar com olhos atentos, sem a ambição de ver algo, apenas
focar no desfoque. Imaginar! Inventar! Transver!
O
documentário é um presente aos amantes da literatura, da poesia e da liberdade.
Enxergar o mundo com os olhos de uma criança é a liberdade que nos falta, e a
poesia do Ser inútil, Manoel de Barros, nos proporciona a sensação de ser
livre.
Só dez por cento é Mentira - 2008
Direção: Pedro Cezar
Roteiro: Pedro Cezar
Direção de Fotografia: Stefan Hess'
Gênero: Documentário
Origem: Brasil
Duração: 76 minutos
Site oficial: http://www.sodez.com.br/
trailer: