Não ousei escrever uma "crítica" (como manda o figurino) do filme Shame (2011), que a princípio me pareceu uma mistura de David Fincher e Christopher Nolan (início de suas carreiras), um pouco pretensioso e ainda sem muita essência. Eu não sou boa falando de coisas que não me tocam profundamente. Escrever "mas" e "poréns" em excesso, que parecia o que ia fazer, não faz meu estilo. De qualquer maneira, achei o filme provocante, tanto que até vi em seguida seu antecessor, Hunger (2008) (muitos anos mofando no meu HD), na esperança de que me esclarecesse a proposta do cineasta calouro, Steve McQueen.
Sem dúvida McQueen sabe o que está fazendo e usa bem as referências (Gaspar Noé e David Cronenberg) que tem consigo. Seu lado artista, se faz presente todo o tempo durante as cenas e ele brinca com cada enquadramento tornando seu filme uma espécie de ensaio fotográfico dos personagens. Usa temáticas fortes, mas as trabalha de um ponto de vista um pouco moralista demais. Precisei ver Hunger (2008), seu primeiro grande trabalho, para entender melhor seu trabalho, realmente fica nítido que se trata de um cineasta com talento e em processo... Seu cinema no geral é intimista e mesmo tão próximo, nada é oferecido de bandeja, você tem que conquistar a confiança do filme enquanto ele passa e só então ele se mostra. Isso me deixou intrigada e curiosa, sem falar nos personagens viscerais que se apresentam.
O que parece ser mérito mais do ator, que do diretor, nesse caso. Ah, sobre ele que eu queria falar, Michael Fassbender (The Dangerous method), é sem dúvida, uma grande revelação nesses últimos anos. Foi do fundo poço em Hunger para o galã viril de Shame com classe e firmeza, me lembrou Christian Bale em The Machinist (2004) e sua mudança para viver o Bruce Wayne no Batman Begins (2005).
Voltando a McQueen, está em produção seu novo filme, Twelve Years a Slave (2013), novamente com Fassbender como ator e ainda Brad Pitt no elenco. Talvez a ficha que eu preciso ver cair para formar minha opinião. E provavelmente a aposta de consagração do seu trabalho.
Para não ser injusta, prefiro esperar os próximos capítulos... Sei que algumas manifestações artísticas não tem objetivo de serem carismáticas (tive isso com Lars Von Trier), suas propostas são pensadas a longo prazo e de alguma maneira te inquietam, por isso ainda prefiro digerir bem o que contemplei. Espero que entendam. Mas claro, recomendo a experiência.
Shame, trailer:
Hunger, trailer: